A Elfa Reencarnada escrita por King


Capítulo 3
Capítulo 3 - Roupas e briga




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Adrianta encarava o velho Markus há segundos o bastante para saber que ele não estava brincando quando disse há minutos atrás sobre ela poder avançar nele com todo conhecimento de luta que ela tinha. O senhor manteve seus braços cruzados esperando qualquer ação futura da elfa enquanto eram observados por Rusha que assistia com interesse e imaginando como aquilo se desenvolveria.

—Me ataque antes que eu morra. – Markus falou com total impaciência.

“Eu nunca lutei antes” a jovem pensou e por fim se rendeu ao seu objetivo e diminuiu sua distância entre ela e o velho, seu punho esquerdo fechado para um soco que foi bloqueado pela mão esquerda do senhor que arqueou uma das sobrancelhas. A menina a sua frente não era forte, mas tinha uma boa velocidade. Antes de Adrianta reagir ela recebeu um soco do punho direito de Markus em seu estomago e seus joelhos fraquejam, ela só não ficou no chão porque estava sendo erguida pelo homem que ainda segurava seu punho esquerdo. Ela deveria agradecer por não terem tomado café da manhã.

—Fraca. – Markus comentou. —Nem ao menos disfarça de qual lado virá o ataque. Mas você até que tem uma boa velocidade, no entanto não o suficiente se quiser me machucar. –

—Não recebi treinamento. – Adrianta comentou com esforço sentindo dor em seu estomago.

—Percebi. – Markus arqueou uma sobrancelha. —Mas você não é um caso perdido. Irei ensina-la a lutar tanto com suas mãos quanto com espadas. – Ele por fim soltou o punho esquerdo da elfa e levou a mão ao queixo. —Seis horas por dia começando ao nascer do sol. Em um mês você poderá até tentar me ferir. – Ele sorriu. Um sorriso desafiador assim como o tom em sua voz. —Não que vá conseguir, é claro. –

—A aprendiz supera o mestre. – A elfa comentou com os braços envoltos na barriga.

—Bom. – Rusha por fim falou. —Você já a envergonhou o suficiente para um dia. Agora se quiserem pegar os mercadores na cidade vocês deveriam sair agora. –

Rusha estava certa e também era essa a razão de não estarem na casa, mas no celeiro ao lado da carroça com o cavalo já pronto, ao qual Adrianta achou que ele relinchou em divertimento quando a viu receber aquele golpe. A elfa olhou ao senhor que consentiu com sua esposa e lentamente abandonou aquele ar sério de um soldado e tomou uma postura mais tranquila e gentil – do homem que ela conheceu ontem. Tanto Adrianta quanto Markus montaram na carroça e se despediram de Rusha que entregou a eles moedas o suficiente para um dia de gastos na cidade.

—Adrianta não deveria se esconder para o caso de Tom esteja patrulhando os arredores? – A velha perguntou após se lembrar do dia anterior. De como a elfa se escondeu no feno.

—Verdade. – Adrianta sussurrou.

E poucos minutos depois a elfa já estava escondida em baixo de todo o feno na parte de trás da carroça e Markus apenas deu de ombros e balançou as rédeas do cavalo e o animal não se demorou a puxar. Eles abandonaram os arredores da fazenda e seguiram a estrada que levaria para a floresta e depois para a cidade. Enquanto a elfa ficava escondida ouvia o barulho de crianças se divertindo com alguma brincadeira e de talvez adultos conversando entre si, mas nenhum comentário vindo de Markus. Ela iria quebrar aquele silêncio quando ouviu uma voz um pouco familiar.

—Markus. Indo para a cidade? – Tom perguntou.

—Olá. – Markus continuou. —Sim. Devo vender algumas coisas. –

—Me de uma carona até a floresta. – Tom pediu.

Markus não conseguiu negar a aquele pedido a tempo afinal o homem enquanto comentava já ia subindo na carroça e se apossando do lugar ao seu lado. O silêncio retornou, mas geralmente era interrompido por um suspiro daquele homem ou uma reclamação de como estava o tempo para suas caçadas.

—Sabe. – Tom comentou finalmente. —Eu me reviro à noite pensando o porquê da minha mulher não ter sido devolvida para mim. – Ele continuou. —A noites que me imagino esquartejando todos aqueles elfos que invadiram nosso vilarejo. – Um sorriso de canto. —E me imaginando afogando qualquer cria que ela tenha de elfos. –

Markus não respondeu. Não sabia o que responder para Tom que poderia estar instável naquele momento. A floresta já lhes dava boas vindas e a carroça era coberta por uma paisagem repleta de árvores e mato atrás de mato e animais um mais perigoso que o outro. Markus não gostaria de imaginar o que Tom faria se soubesse que uma elfa estava a tão poucos metros atrás dele escondida por todo aquele feno.

—Me encontrei com Hugo, o segundo filho de August, ontem de noite. – Tom disse aquelas palavras com tranquilidade. —Ele estava com outras crianças e falando sobre uma elfa estar na sua casa. – Tom olhou para Markus. Havia um brilho nada amigável em seus olhos. —Falou que viu você com uma elfa enquanto ele saia da sua casa com uma torta. – A voz dele se tornava mais ríspida.

—Uma elfa em minha casa? – Markus gargalhou. —Rusha me mataria se eu levasse outra mulher para casa. – O velho olhou para o companheiro ao seu lado. —Você sabe como crianças costumam inventar histórias. Pelo que me lembro, Hugo falou sobre um fantasma nesta mesma floresta. – Um sorriso no canto dos lábios. —Ao menos a torta é a única verdade da história. –

Tom não disse mais nada e finalmente pediu que o velho parasse a carroça e ele logo desceu e sem dizer nem um agradecimento se afastou e adentrou na floresta em sua caçada. Markus ficou em silêncio até finalmente saírem da floresta e antes de dizer qualquer coisa a elfa se revelou espirrando, e seu comentário tornou-se uma gargalhada que envergonhou Adrianta que tomou o antigo lugar de Tom.

—Hugo não era confiável? – Adrianta perguntou e levantou uma das sobrancelhas.

—Ele é confiável. – Markus sorriu de canto. —Mas também um mentiroso louvável. O fato de ele espalhar sobre uma elfa em minha propriedade será apenas outra história. Se fosse qualquer outra pessoa nós poderíamos estar encrencados. Mas o que você diria se ouvisse uma história de uma pessoa considerada um mentiroso? – Markus levou um dos dedos aos lábios. —Ele é uma ovelha negra. A verdade naquela boca, mas também a mentiras. –

E nada mais entre eles foi dito até chegarem aos arredores da cidade que o velho diariamente frequentava. Adrianta olhou para casas de diferentes tamanhos e formas se estendendo até se misturar a prédios maiores de tijolo e mais alguns abandonados de madeira, depois olhou para as pessoas nas ruas com lojas pequenas e itens que ela nunca tinha visto em sua outra vida, mas deveria ser comum naquele mundo, uma boa parte daqueles mercadores não eram humanos, mas sim elfos ou meio elfos e mais algumas outras coisas que ela não conhecia. Mas todos usavam roupas diferentes e bonitas e chamativas e alguns gritavam sobre os produtos que vendiam. Seus olhos azuis brilhavam com todo aquele movimento e pessoas diferentes que não se incomodavam com uma elfa como ela por aquele lugar.

—Azura é um lar para todas as raças. Um decreto oficial de todos os reis e rainhas de todos os cantos diz que esta cidade é neutra em nível global. Todas as culturas e raças são respeitadas. - Markus sussurrou para Adrianta que pouco prestava atenção no senhor.

—Eu...ouvi falar, mas nunca cheguei a vê-la. – Adrianta disse. Outra mentira para aquele senhor gentil.  

O cavalo os guiou até um lugar costumeiro e assim que sentiu um aperto nas rédeas ele parou e Markus olhou para a elfa que manteve um brilho vivido em seus olhos, à carroça parou em um beco entre uma casa e algo um pouco maior e que cheirava a álcool e mais algumas outras coisas, mas tinha uma boa aparência diferente dos odores. O senhor desceu da carroça e Adrianta fez a mesma coisa e o seguiu pelas ruas de Azura, a elfa olhando ao redor e geralmente sussurrando desculpas para pessoas que estranhavam aquele tipo de observação nada discreta. Markus andava com passos firmes e ritmados, mas com uma postura tranquila e com as mãos nos bolsos de sua calça onde ainda sentia o dinheiro, Azura era tudo, mas também era lar de bandidos, e por isso sua expressão séria de um homem sério com mãos sujas de sangue era evidente, aquele acompanhante da elfa não era um fazendeiro, mas um soldado experiente disposto a sujar novamente suas mãos de sangue.

—Aonde vamos? – Adrianta perguntou ao lado de Markus.

—Loja de roupas. – O senhor respondeu e continuou. —Me parece que você não gosta de vestidos então estamos indo a um lugar mais...especifico. –

“Mais especifico?” a elfa se perguntou, no entanto não fez mais perguntas. Minutos se passam e finalmente param e Adrianta olhou para a construção a sua frente; dois andares, de tijolos o primeiro andar e madeira o segundo, com um mostruário com duas magnificas peças de roupa por um preço justo até mesmo para um fazendeiro, a maçaneta da porta de ferro brilhava como ouro. Os dois adentraram na loja e a elfa olhou para inúmeros tecidos enrolados em todos os lugares possíveis, vestidos de diferentes formas, tamanhos e cores até onde sua vista lhe permitia, mas também tinham camisas de vários tecidos, com ou sem mangas, calças de vários tecidos, e roupas intimas.

—Faus! Apareça de onde estiver. – Markus chamou.

Demorou quase cinco segundos para um homem de estatura baixa sair de trás de alguns vestidos no fundo daquela loja. O homem apesar de baixo era musculoso, seu cabelo ruivo longo estava penteado para trás e sua barba amarrada em tranças, ele vestia apenas uma túnica preta. Ele murmurou alguma coisa e do outro lado da loja outra pessoa da mesma estatura se revelou, uma mulher de cabelo grisalho penteado para trás, assim como seu parceiro usava também uma túnica, mas esta era branca.

—Faus e Oliva. – Markus os apresentou. —Os melhores anões estilistas. –

—Eu sou Adrianta. – “A anões neste mundo então” a elfa pensou enquanto se apresentava ao casal que a avaliou. —Sou uma conhecida de Markus e de sua esposa. Na verdade estou morando na fazenda deles. E minha única peça de roupa não passa de trapos. –

—Vestidos? – Faus perguntou.

—Não. – Adrianta respondeu.

—Então venha comigo. – Faus falou e se afastou.

O anão nem mesmo olhou para trás para saber se a elfa o estava seguindo. Ele apenas andou e parou em frente a algumas roupas que a elfa olhou e viu o preço – alto – por isso negou as primeiras amostras. O anão não tinha certeza se aquela cliente era uma das difíceis de agradar ou se estava com falta de dinheiro. Mas no final depois de algum tempo a elfa se agradou com uma calça, uma camisa sem mangas e um manto com capuz, todos os itens eram escuros e baratos. A elfa continuaria suas escolhas, mas olhou com interesse para a janela da loja, para uma criança de péssima aparência, a magreza era evidente em seu rosto e pelas roupas que poderiam muito bem escapar de seu corpo, a figura tinha orelhas élficas como a sua e uma cicatriz em sua bochecha esquerda. Os dois se encaram por longos segundos até uma pedra voar na cabeça da criança, acertar sua testa e o mesmo correr para longe, não muito depois outra pessoa, um adulto, passou depressa na direção que a criança teria ido. Adrianta não soube se outros viram, mas ninguém a chamou de volta quando ela correu para a porta e foi na mesma direção. A elfa parou de correr depois de pouco mais de duzentos metros e encontrou quem seguia, a criança estava sentada no chão com sangue em sua testa e um homem a sua frente, ele tinha cabelos negros até os ombros e orelhas como as suas, ou seja, era um elfo, seus olhos brilhavam de ódio por aquela criança e ele gargalhava mostrando suas presas, ele usava uma camisa de manga longa com luvas, uma túnica longa de botões e uma calça preta com botas escuras, o homem não mostrava nenhum traço de gentileza.

—Você tem a coragem de me roubar, mestiço desgraçado. – O elfo comentou visivelmente nervoso com a criança.

—Saia. – Adrianta comentou e recebeu a atenção daquele elfo.

—Quem é você? – O elfo perguntou.

—Saia de perto dele. – Adrianta repetiu.

—Não até que ele me devolva o dinheiro. – O elfo falou ríspido.

—Eu comprei pão. – A criança disse com um medo evidente.

O elfo levantou sua mão e daria uma tapa na criança se Adrianta não diminuísse a distância e segurasse a mão do homem e repetisse um olhar de Markus; sem gentileza alguma apenas a seriedade do antigo soldado copiada em sua face élfica. O elfo de cabelo escuro apenas grunhiu uma ofensa. Adrianta continuou a segurar a mão e pela primeira vez sentiu algo em seu corpo, algo vivido e querendo se libertar, de inicio era como um sussurro, mas depois gritando em algum lugar de sua mente.

—Não toque no menino. – Adrianta falou. Seriedade e ordem em sua voz.

—Não me de ordens. – O elfo falou ríspido.

O elfo de cabelo escuro soltou sua mão e com o punho fechado experimentou socar Adrianta, mas ela desviou por milímetros, aquele homem era semelhante a ela quando o assunto era não disfarçar de qual lado seria o golpe, e por isso a elfa desviou mesmo por muito pouco, e logo depois fechou seu punho direito e com toda força que tinha socou o homem em seu rosto bem entre os dentes.


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