BAD BOYS NÃO GOSTAM DE CARINHO — CAPÍTULO ÚNICO

"NÃO ME ENCHA DE ABRAÇOS!".

Mais uma vez acordo sem conseguir mover direito os braços porque Jungkook simplesmente não entende a diferença entre mim e ursos de pelúcia. E por mais que eu diga que isso me dá câimbra, ele continua fazendo.

Jungkook é totalmente o contrário de mim, ama contato físico; já eu, detesto. O pior é que não consigo acordá-lo. Vê-lo dormindo tão sereno com a cabeça encostada sobre o meu peito e tão feliz a ponto de haver um quase sorrisinho em seus lábios, acaba me deixando sem saída.

Respiro fundo. Estou praticamente imóvel. Até mesmo mover uma das pernas é difícil, visto que Jungkook jogou a perna sobre a minha.

— Jungkook… Acorde! — tento chamá-lo, mexendo um pouco os braços para tentar balançá-lo.

Felizmente não demora para ele abrir os olhos preguiçosamente e levantar a cabeça para me olhar com o sorriso mais alegre do mundo. Eu nunca ganho apenas um simples “bom dia”, mas sim um beijo no rosto, dois na testa e mais um no pescoço.

— Bom dia, hyung. — ele diz.

— Quantas vezes eu tenho que falar para não me abraçar assim durante a noite, Jeon Jungkook? Você sabe que me dá câimbra.

— Ah, não me julgue, eu gosto. Você é muito fofinho de abraçar, não dá para resistir.

“Fofinho”, ele diz. Como eu tenho raiva disso, afinal, sou um homem adulto. Não sou “fofinho”.

— Você definitivamente não aprende...

Eu nunca fui bom em cozinhar, a ponto de queimar até mesmo pipoca de micro-ondas, mas em compensação o Jungkook até que gostava, apesar de estar demorando um século para preparar um simples bibimbap. Porém, felizmente, enquanto estou aqui reclamando, ele aparece sorridente com uma bandeja em mãos.

— Aqui está! — ele diz enquanto coloca a tigela em minha frente.

Quando penso que ele está começando a se comportar, acabo me surpreendendo com os seus braços envolvendo o meu pescoço e recebo um forte beijo ao topo da cabeça. Foi um exagero ter me feito quase perder o ar por causa disso.

Às vezes penso que é pedir demais um namorado que respeite o meu espaço. Ele não entende que garotos descolados como eu não devem ser paparicados como se fossem bebês. O pior é o modo como ele me encara enquanto como, como se estivesse assistindo a vídeos de animais fofinhos comendo, mais focado em mim que em sua própria comida.

Era sempre assim e nunca mudava. Mesmo desviando os olhos e me esforçando para não encarar o garoto Jeon, ele não desgrudava o olhar de mim. Isso não está certo, eu preciso impor urgentemente a autoridade aqui e exigir o respeito que mereço.

— Agora já chega! — exclamo — Pare de me tratar como se eu fosse um bebê e de ficar admirando tudo o que eu faço! Isso é muito...

Antes que eu possa terminar a frase, sou interrompido com Jungkook colocando um pedaço de ovo frito na minha boca.

— Não reclame de boca cheia, hyung. — ele avisa, sorrindo.

Claramente o miserável está se divertindo e tirando sarro da minha situação, mas o que mais me dá raiva é que eu não consigo ter raiva. Ao menos, não dele. Quem consegue gritar olhando para essa carinha com rostinho de dez anos fazendo travessuras?

Eu odeio o modo como Jeon Jungkook me sensibiliza. Acabo nem reclamando, mas voltando para a minha comida.

— Você ficou quieto de repente, Yoongi. Ficou bravo?

— Eu...

E me força a comer mais um pouco de comida. Agora é oficial, eu não tenho direito a nenhuma palavra nessa casa.

— Está bem, vou continuar comendo. — reclamo.

— Ah, é melhor assim.

Se isso me deu raiva? Não, imagina, apenas uma leve vontade de socar aquela carinha bonitinha até o olho de Jungkook ficar tão escuro quanto seus cabelos, mas como agressão ainda é crime, é melhor eu ficar na minha.

Acabamos de comer faz pouco tempo e eu, como sempre, fiquei encarregado de lavar a louça. Esse tempo todo a minha boquinha não abriu para nenhum propósito que não fosse comer, e agora não está sendo diferente.

Agora, eu fico pensando, será que vale realmente a pena assistir La Casa de Papel? Porque em todo bueiro que eu passo na rua vejo alguém me chamando e me mandando assistir. Ou será que é só mais uma daquelas séries da Netflix que só adolescente gosta porque parece fanfic, mas na verdade é chato e clichê? Não sei, lavar os pratos me trás uns pensamentos aleatórios. Espero não ser o único a passar por isso.

Do nada sinto braços fortes me abraçarem por trás e ganho um beijo na nuca. Meu Deus, que garoto carente.

— Está zangado comigo? — o Jeon pergunta.

— Você sabe que grude demais me irrita.

— Por quê? Achei que gostasse, hyung.

— Mas precisa ser tanto? Por favor, assim eu não aguento.

Engraçado que nos dias anteriores eu também reclamei, — como diariamente faço — e a reação dele é sempre a mesma, mandando eu parar de ser chato e aceitar o carinho. Desta vez foi diferente, ele não está demonstrando nenhuma reação.

— Está bem. — responde.

Finalmente prevejo um pouco de paz.

Eu não aguento mais os ratos da Coraline saindo do Outro Mundo para me mandar assistir La Casa de Papel, hoje foi a gota d’água. E como eu não tenho nada para fazer mesmo, hoje é sábado, graças a Deus, que mal há em dar uma chance para uma série que explodiu em tão pouco tempo?

O começo é chatinho e não me cativa, mas até que vai ficando um pouco mais interessante à medida que os minutos vão passando. Não está sendo tão empolgante quanto dizem, mas é melhor que 13 Reasons Why.

E lá vem Jungkook com uma xícara de cappuccino em mãos, prestes a se juntar a mim numa maratona de série. Justo quando estou deitado e relaxado no sofá, aposto que ele vai querer, como sempre, ficar deitado em cima de mim e assistir à televisão confortável enquanto eu morro de câimbra.

Min Yoongi tomou no meio da cara.

Meu queixo quase vai ao chão. Como assim Jeon Jungkook preferiu o chão ao meu colo? O c-h-ã-o. Meu Deus, isso é um milagre?

— Você está bem? — questiono.

— Estou sim. — ele responde enquanto encosta as costas no sofá.

— Vai mesmo sentar no chão?

— Mas qual é o problema?

— Algo de errado não está certo.

— Está bem, então.

Eu nunca fiquei tão frustrado assistindo uma série. Não pela própria série, mas sim porque surpreendentemente Jungkook só me olhou nos olhos uma vez para perguntar as horas. Agora, enquanto prepara a cama para ir dormir, ele continua sem olhar para mim.

Será que ele ficou chateado com o que eu disse hoje de manhã? Será que exagerei? Não, não, um bad boy como eu não pode ser tratado assim. Mas se tem uma coisa que eu detesto mais que melosidade, é ser ignorado.

— Você está sendo infantil! — me aproximo do garoto, cruzando os braços.

— Você não disse que não queria grude? Estou atendendo ao seu pedido.

— Nossa, mas é tão estranho.

— Ah, Yoongi, me deixa dormir.

Jamais pensei que fosse fazer isso e acredito que muito menos Jungkook. Todavia, antes que o garoto possa se deitar, agarro-o pelo braço e o puxo para perto de mim, fazendo com que nossos corpos fiquem colados. Ele me olha de maneira confusa, até um pouco corado, mas eu ignoro essa reação e lhe dou um singelo beijo enquanto acaricio suas bochechas. Pelo menos consegui fazê-lo sorrir.

— Você não disse que bad boys não gostam de carinho? — ele comenta.

— E não gostam. Só que eu não consigo agir friamente com você.

— Eu sei que você gosta dos meus abraços , Yoongi. — e me dá um beijo no rosto.

— Ah, cala a boca, garoto. Só você consegue me deixar assim.

Ele confirma com a cabeça e me abraça mais forte. Realmente, bad boys não gostam de carinho, mas eu não vou me importar se vier de Jeon Jungkook.