O Reino. escrita por Carenzinha


Capítulo 1
Prólogo.




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 Era uma noite estrelada, com vagalumes e pirilampos brilhando enquanto voavam com rapidez. Os animaizinhos noturnos vagavam em busca de comida, água ou um abrigo confortável. A grama tremeluzia para esquerda e para a direita, fazendo companhia para um ventinho acolhedor de uma brisa de fim de inverno e começo de primavera. Algumas florezinhas estavam desabrochando aos poucos, outras estavam tentando criar coragem para saírem, já que o clima não era uma primavera completa, algumas estavam radiantes, sem nem se importar com a escura e não tão serena noite. As árvores estavam com folhas vistosas comemorando o fim daquele inverno tão rigoroso que os habitantes do local tiveram que fortemente aguentar.

 Um restinho de neve se espalhava pelo chão. Era costumeiro a limpeza da neve ser feita com magica, pelo menos no lado das fadas, já que, os duendes enfrentavam a lentidão e a boa vontade do mundo para fazer com que a neve derreta. Algumas vezes isso demorava mais do que outas. Gostaria de falar que estava tudo bem, mas a dura realidade é que não estava.

Por mais que os duendes reclamassem e tentassem negociar com as fadas sobre a limpeza do território nada disso era possível. Podemos dizer que as duas raças eram orgulhosas demais. Os verdes não eram simpatizantes de magia, portanto, sempre olhavam torto para os feitiços e encantamentos que aqueles que possuíam asas executavam. Era um fato também que os verdes admiravam em segredo as habilidades formidáveis das fadas, assim como o modo de voar delas.

A inveja dos duendes servia de inspiração para os mesmos, que forjavam utensílios capazes de substituir qualquer forma de mágica que existisse. Tudo o que as fadas faziam como dependentes de magia (isso incluía desde a colheita até a preparação de alimentos), os duendes faziam por conta própria. As fadas os julgavam como inferiores e selvagens. No ponto de vista delas, era uma grande besteira preparar o pão com as próprias mãos, assa-lo em uma fornalha construída por eles mesmos e ter que lidar com as decepções, como por exemplo: o pão queimar.

Na opinião das fadas, a magia facilitava tudo, portanto, os duendes que não a possuíam eram completamente inferiores. Elas não entendiam como os verdes conseguiam continuar existindo sem o uso da magia, os duendes eram para elas um povo incrivelmente vulnerável e digno de pena.

Com o agito das mãos e as palavras certas, elas recebiam pão quente, um pão macio, com casca crocante e torrada, incrivelmente no ponto e sem margem de erros.

O pão dos duendes tinha margem de erro. Poderia sair da fornalha quente demais, muito frio, duro, muito crocante, cru ou queimado. Eles teriam que refazer todo o processo novamente, podendo ocorrer dos outros duendes passarem fome por não ter mais pão.

Aqueles com asas não toleravam errar, portanto, deixavam que palavras mágicas e encantamentos fizessem todo o trabalho. Feitiços não decepcionavam, principalmente porque as fadas sabiam como executa-los. Tudo era feito rápido e fácil, entregue nas mãos daqueles que sabiam recitar as palavras. Com o encantamento correto, as casas eram construídas sem chance de cair, a neve era derretida sem chance de sobrar partes. A comida era feita sem a possibilidade de estragar, a cama era arrumada sem a oportunidade de desmanchar. As fadas não erravam, pois não executavam praticamente nada sozinhas. Os duendes, por outro lado, conseguiam aprender com os próprios tropeços, os deixando mais experientes.

Eles julgavam as fadas como ingênuas por dependerem de mágica para executarem funções simples. Os duendes faziam tudo por conta própria, aprimoravam inventos, funções, comida, bebida. Sabiam o que estavam executando, e quando não sabiam, tentavam de novo e de novo, até acertarem, ou se contentarem com uma solução alternativa.

De qualquer modo, era mais do que óbvio que no fundo os duendes gostariam de ter algum tipo de poder mágico (o que explicaria as dezenas de formulas matemáticas escritas nas paredes de madeira de um peculiar laboratório duende, isso junto com os produtos químicos e um estudo eficiente do sistema neurológico e da magia das fadas), assim como as fadas admiravam os duendes. Mas, as duas raças, como já dito anteriormente, eram orgulhosas para admitirem um para o outro.

As fadas e os duendes moravam em um reino, onde há muito tempo tivera um nome que foi esquecido. Os duendes, primeiros habitantes do local, gostavam de chama-lo de Agthe. Onde, na língua nativa seria: “Terra onde o rio nunca desce”, uma metáfora para as oportunidades que nunca paravam de surgir. Agora, o lugar é apenas chamado de Reino.

Até que as fadas chegaram e conquistaram o lugar, o baixo poder militar dos verdes não foi páreo para o forte potencial mágico dos voadores. Porém, as fadas não dominaram os duendes e muito menos impuseram suas regras para eles, os dotados de mágica dividiram o reino em dois, metade das fadas e metade dos duendes.

As fadas estabeleceram um governo e concordaram com a possibilidade de os duendes terem seu próprio. Nas palavras de muitas fadas “seria extremamente repugnante se incorporassem os duendes como cidadãos no governo das fadas” e os duendes não poderiam estar mais aliviados e confortáveis com isso. Achavam as fadas estranhas e a magia macabra, ter um governo da própria raça os deixavam felizes. De tempos em tempos o governante das fadas se reunia com o governante dos duendes para debater questões de beneficio mútuo.

A verdade é que os dois eram preconceituosos, a outra raça era estranha e os costumes diferentes. Portanto, os dois lados possuíam receio um do outro.

Digamos que nenhuma raça teve realmente paz e muito menos compaixão pela outra. Fadas e duendes viviam em uma relativa tolerância.

Os duendes guardavam também rancor, por causa dos voadores terem invadido seu território e estabelecido um governo. Mas, estavam fracos para revidar. Logo depois, foram descobrindo que elas poderiam ser úteis em inventos baseados em magia.

Acontece que os duendes nunca perderam a verdadeira essência como povo, eles continuaram a chamar o reino de Agthe e guardaram consigo memórias de seu passado glorioso.

Era nítido que os duendes estavam extremamente desconfortáveis com fadas que ocuparam seu espaço e as fadas sabiam disso, pois estavam desconfortáveis com os duendes também (mesmo esses sendo os verdadeiros donos de Agthe), elas gostariam do reino só para elas.

Os duendes, que preferiam chamar o seu lado do Reino de “Recanto” tinha saudade do tempo em que as terras não eram divididas e que o sustento deles não era extraído por palavras mágicas. Onde eram suficientes, sem ninguém fazendo encantamentos perto deles. Tinham saudades da época em que os verdes eram divididos em forma tribal e eram felizes.

As fadas construíram seu lar no lado leste do Reino, onde moravam em casas de pedras com bandeiras rosas nos telhados. No centro do lado leste, estava um grande castelo onde ficava o rei e rainha das fadas.

Já os duendes ficaram com o lado oeste, onde construíram casas de madeira. A maior e mais vistosa casa era o lar do chefe dos duendes, embora se transformava em abrigo em caso de guerras.

Eles gostariam de expulsar as fadas com a mesma vontade que as fadas possuíam em expulsar os duendes.

Até que um dia as fadas decidiram colocar em prática seu plano de expulsa-los, e, o que não passava de palavras acabou virando uma ação concreta de expansionismo. As fadas ameaçavam invadir e os duendes ameaçavam revidar. Porém, essas ameaças se transformaram em algo concreto quando os voadores fabricaram um aço mágico, responsável por ser indestrutível.   

Forjar armas sempre foi especialidade dos duendes, que se sentiram extremamente rebaixados e humilhados em perceber que os voadores além de executarem sua função, deram um jeito de colocar mágica nela.

Portanto, deixando pegadas no restinho de neve e saindo apressada do castelo das fadas nessa noite serena está uma equipe de duendes.

Há alguns meses, uma assembleia secreta foi convocada no Recanto, onde foram escolhidos os mais habilidosos duendes para roubar o aço. Coisa que nesse momento está acontecendo.

Nenhum alarme soou e nenhum guarda apareceu. Os duendes estranharam, mas não hesitaram. Pelo menos não todos eles, já que, o mais alto parou e olhou para trás na direção do castelo. Um frio estava percorrendo o corpo do duende que parecia pressentir que algo daria errado. O verde logo foi desviado de seus pensamentos por seus companheiros, que o alertavam para ele se apressar.

 Os duendes quase nem conversavam apenas continuaram correndo enquanto trocavam olhares animados, pois no momento eles seguravam o tão precioso tesouro, o aço indestrutível.

Aquela equipe estava sorrindo como nunca, nem ligava para o vento e para o barulho dos grilos. Apenas se sentia vitoriosa em saber que tinha consigo o maior pertence das fadas, algo que poderia ajuda-las em sua expansão. Um artefato útil e mágico.

Os verdes se sentiam vencedores e nem imaginavam que, aquele ato de roubo foi o primeiro passo para a vitória das fadas e a grande queda dos duendes.

E quanto ao aço indestrutível? Digamos que era um aço comum que só funcionava com um tipo de magia e os duendes não tinham magia (isso explicava a falta de proteção). Também não foi nenhuma surpresa que as fadas logo suspeitaram do roubo e decidiram revidar, de uma forma que os verdes jamais esqueceriam.


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