i was a mother escrita por wolfnir


Capítulo 1
♡. gérbera




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Dandan é mãe.

Mãe de um menino com estrelas pontilhando suas bochechas gorduchas e de dentes de aço que adoram mordê-la quando a fome bate.

Ela grita e esperneia pior que uma criança com as mordidas, mas sempre carrega as pequenas cicatrizes que ficam, com o orgulho que só uma líder de bandidos da montanha pode ter.

Dandan odeia ser mãe.

É uma responsabilidade que ela nunca quis ter, ela mal pode lidar consigo mesma ou com os bandidos maltrapilhos que lidera no Monte Corvo, quem dirá com um ser humano pequeno demais para caçar sozinho ou que possa ser útil em seus roubos.

Mas Dandan não pode nunca negar que ama ser mãe de Ace.

Talvez seja por isso que, em uma manhã ensolarada demais, ela pega o jornal e espera ler — em seu modo lento e quebrado, porque ela nunca foi boa nessas coisas intelectuais e prefere deixar tudo isso para Dogra — que Ace, seu filho, está seguro nos braços de seus irmãos e pai e que ninguém cortou fora a cabeça do menino que Dandan tantas vezes acariciou quando o infame pirata ainda era um bebê ou quando a criança forte demais se contorcia de febre.

Ela espera ler boas notícias, até espera ver um novo cartaz de recompensa.

O que ela vê a deixa paralisada por dois minutos. Quando Dandan se move é para pegar a garrafa de saquê que um dia alguém roubou — ela sabe quem foi, aqueles meninos nunca foram realmente tão discretos, mas ela não liga, foi aquele saquê que criou um laço que Dandan sempre desejou para seu menino.

Dandan bebe. Ela bebe metade da garrafa em segundos e depois a joga contra a parede de seu pequeno quarto do Reino de Dandan — o nome ainda é estúpido, mas Luffy nunca foi bom nomeando coisas, mas ela gosta, por alguma razão ainda mais idiota que o nome.

Ela não chora. Ela não consegue e é tão estranho dela, porque ela pode negar o quanto quiser, mas ela sempre chora quando se trata de Ace e Luffy — e Sabo, mas ela tenta não pensar no menino loiro que um dia construiu uma casa na árvore com seus dois tesouros precisos, seus filhos.

Magra aparece histérico com o som alto logo cedo de manhã e quando percebe que é só mais uma garrafa quebrada ele suspira e sai, porque é comum de Dandan quebrar garrafas em meio a raiva.

"Ace..." Dandan fala, olhando para o pedaço de jornal jogado na caixa de madeira que lhe serve como mesa, onde uma foto horrenda de seu menino está estampada na primeira página.

Seu menino que está sendo segurado pelos braços de seu outro menino.

Dandan nunca pensou em como o mundo poderia ser tão injusto até aquele momento, porque Ace — seu bebê com estrelas nas bochechas e alma de fogo — está sendo segurado por Luffy — o pirralho chorão que Dandan viu crescer em um homem que vai ser rei um dia — enquanto os dois sangram em meio a uma guerra que nunca deveria ter acontecido.

E a fumaça que se expande do peito de seu menino é negra e deve ter um cheiro tão ruim quanto os cigarros que Dandan costuma sempre fumar.

Dandan ainda não chora. 

Ela quer, quer gritar para o mundo ouvir sua dor até que a garganta sangre, quer que o mundo saiba como eles não mataram Gol D. Ace, filho do Rei Pirata, mas sim que mataram Ace, o filho de Dandan, líder de um grupo bandidos maltrapilhos em um Monte do East Blue.

Ela quer xingar, rugir e rosnar como a leoa que ela é, porque eles mataram seu menino — seu doce e impetuoso menino que tinha sonhos, promessas e memórias para cumprir.

Dandan não chora. 

Em algum ponto, Dogra pega o jornal e lê a mesma notícia e corre chorando alto para mostrar para os outros bandidos a notícia que o filho de Dandan está morto.

Morto nos braços de seu outro filho. Morto nos braços de seu irmão mais novo, fraco e chorão

Dandan se sente vazia e ela passa o dia parada no mesmo lugar. A garrafa de saquê ainda está quebrada e os bandidos ainda choram.

Em algum momento, ela pensa que é um sonho. Ela pensa que foi só um pesadelo ruim e que o choro dos bandidos na verdade são risos.

Mas Dandan olha para a parede a sua frente e vê os cartazes de recompensas de seus filhos — ela repara nas sardas de Ace e as conta, e ela olha para o sorriso de Luffy e pensa em como aquele sorriso sempre parece o sol em meio a nuvens de tempestade — e finalmente percebe que não, isso é tudo, menos um sonho.

Então ela chora, porque a dor é grande, o vazio ainda maior e ela não sabe o que fazer ao perceber que não tem mais dois filhos vivos, livres e tão felizes.

Dandan já foi mãe.

Agora, ela só tem metade da alma, cartazes na parede e a memória quente de dois sorrisos travessos e felizes atrás das pálpebras.

 


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Notas finais do capítulo

↠ gérbera é uma flor considerada um bom presente para as mães de primeira viagem.

a a a a! eu tô bem triste por escrever isso, mas eu sempre quis escrever algo sobre a Dandan e acabou saindo isso ༼ಢ_ಢ༽



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