Quente-Frio escrita por Jude Melody


Capítulo 1
Capítulo único




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Midoriya estava nervoso. Não que isso significasse muita coisa. Afinal, na maior parte do tempo ele estava nervoso, e na outra, estava dormindo. Caminhava pela rua com as pernas tremendo de leve e os dedos apertando as alças da mochila. Parou diante da mansão, e ela era tão incrível quanto imaginara. O tremelique piorou, indo do mindinho do pé até o último fio de cabelo. Marchou como se tivesse um problema na coluna e tentou duas vezes antes de conseguir tocar a campainha.

Uma empregada atendeu com um sorriso. Fez uma mesura, dizendo que aquele deveria ser o senhor Midoriya. O menino ficou sem graça diante do tratamento, mas foi conduzido pelos corredores antes que pudesse protestar. A essa altura, tudo o que mais desejava era estar dormindo mesmo. Ou deitado em sua cama sob os cobertores, tremendo de hesitação. Bem, ele fizera isso durante a noite. Não era algo que pudesse evitar. Quando seu namorado o convida para ir à casa dele pela primeira vez, você fica assim, como se tivesse borboletas no estômago. (Seria uma individualidade romântica cuspir borboletas? Midoriya pensara nisso por quase uma hora, até concluir que a ideia era completamente imbecil.)

Ele ouviu passos, e Todoroki apareceu no mezanino. Sorria. Estava com medo de que Midoriya não aparecesse. Desceu as escadas com pressa e segurou a mão do namorado, exibindo aquele sorriso que faria qualquer um derreter. E Midoriya estava derretendo muito! Suas mãos não paravam de suar! Todoroki agradeceu à empregada e disse que cuidaria de tudo a partir dali. Puxou Midoriya por mais corredores, levando-o a um quarto grande e bem organizado.

— Estou feliz por você ter vindo — disse Todoroki. Eu já mencionei que o sorriso dele derretia tudo?

— E-eu agradeço o convite — respondeu Midoriya, olhando nervoso ao seu redor. — Seu quarto é exatamente como eu imaginei. Muito limpo e organizado. O meu é uma bagunça!

— Adoraria conhecer seu quarto algum dia — provocou Todoroki. — Está com fome?

— Na verdade, ainda, não. Eu trouxe um bolo que a minha mãe fez. Ela está feliz por eu... — Midoriya fitou o chão. — Estar namorando — acrescentou rapidinho.

— Então, ela não se importa de você namorar um garoto?

Midoriya balançou a cabeça com vigor.

— Ela só chorou quando eu disse e respondeu que sempre soube.

Todoroki gargalhou.

— Eu preciso mesmo conhecer sua mãe! O meu quer é me matar. Mas acho que é menos por eu ter me assumido bi e mais por você ser discípulo do... Você sabe.

Midoriya engoliu em seco.

— Então, o que vamos fazer?

— Eu planejei algumas coisas. — Todoroki caminhou até a estante e pegou alguns jogos. — Ganhei um console novo ano passado, mas ainda não aproveitei. Queria estrear com você.

— Puxa, que legal!

— Mas, antes, eu queria testar outro jogo. — Todoroki largou os CDs sobre a cama e sorriu. — Feche os olhos.

Midoriya obedeceu. Felizmente, sua individualidade não era cuspir borboletas. O quarto estaria cheio delas a essa altura.

— Eu vou colocar uma venda pra ter certeza de que você não vai roubar, ok?

O coração do pobre Deku era um doki doki incessante. Ele estremeceu quando as mãos de Shouto tocaram seu rosto. E o maldito ainda aproveitou para beliscar sua bochecha!

— É uma brincadeira simples. Eu tenho um presente para você. Está em algum lugar aqui no quarto. Sua missão é encontrá-lo. Eu vou te guiar. Se você chegar perto do presente, eu direi “quente”. Se você se afastar, eu direi “frio”. Pode começar.

Midoriya deu meia volta e bateu com tudo na estante. Todoroki perguntou se ele estava bem.

— Estou bem! Estou bem! Desculpa... Ouvi o som de alguma coisa caindo.

— Não quebrou nada. Desculpe por isso, Midoriya...

— Tranquilo.

Ele voltou a caminhar pelo quarto, desta vez com mais cuidado. Todoroki ficava dizendo “quente” ou “frio” o tempo todo. Na maior parte do tempo, era apenas “frio”. Até que ele resolveu tornar a brincadeira mais divertida e inventou novas palavras, como “muito frio”, “gelado” e “glacial”. Enquanto isso, Midoriya perambulava pelo quarto, esbarrava nos móveis e quase caía pela janela. Em algum momento, Todoroki disse animado:

— Está esquentando.

“Opa! É a minha chance!”

Midoriya deu um passinho de nada.

— Quente.

Mais um passinho de nada.

— Muito quente.

Mais um passinho com cuidado para não chutar uma quina.

— Está pelando.

Midoriya parou. Sentia que havia algo bem à sua frente. E a voz de Shouto estava próxima. Próxima demais. Ele retirou a venda.

— Queimou — disse Todoroki.

E, antes que Midoriya pudesse responder, entregou-lhe o presente: um beijo doce e cálido. O primeiro beijo de ambos.


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