P.O.V. Lola.

Ela derrubou o maior cara da escola com uma bolada.

—Vocês viram aquilo?

—É. 

—Nenhuma garota tem aquela força.

—Talvez ela esteja tomando alguma coisa.

—Talvez.

Quando tivemos aula de mitologia e o professor começou a falar sobre a caça ás bruxas, ela não reagiu. Não disse nada, mas as feições demonstravam indignação.

—E quanto a você, senhorita MacGyver?

—O que tem?

—Não gostaria de compartilhar?

—Compartilhar o que? O fato incontestável de que existem mortais das trevas também, mas ao invés de ficar falando o diabo me obrigou pelo menos a gente assume. Nós somos criaturas predatórias e dai? Grande coisa. Como se vocês fossem diferente. A única diferença é que nós assumimos enquanto vocês acham outra pessoa pra culpar. O diabo me obrigou, a bruxa me obrigou, vamos massacrar um bando de homens, mulheres e criancinhas porque é a vontade de Deus. Todos os pagãos devem morrer. Espalhe corpos até o horizonte e não vai o tanto de gente que mataram só na época da primeira cruzada.

—Nós e vocês? Você fala como se não fosse humana.

—O que eu quero dizer é que... apesar de tudo, para todos os efeitos os seres humanos são predadores, assassinos e a única diferença entre um herói e um vilão... é só quem está contando a história.

—Muito justo. Os vencedores sempre contam as histórias.

—Sempre. E eles floreiam muito.

A aula continuou por mais vinte minutos, quando o professor acabou nos mandou ler Drácula de Bram Stoker.

—Livro idiota. É engraçado, sempre me faz rir.

—Drácula de Bram Stoker é um livro de terror!

—É? Nunca o vi assim. O que é aquilo?

—O show de talentos anual.

—E como funciona? Quais são as regras?

—Qualquer aluno da escola pode participar. 

—E o que tem de ser feito?

—Demonstrar o seu talento. Dançar, cantar, tocar algum instrumento, magica.

—Magica?! Sério? Vocês conseguem fazer magica?! Não, espera. Há uma diferença entre magica e Magia. Magica é ilusionismo, tirar um coelho duma cartola. Pobre do coelho.

—Você é esquisita. Demais.

—Não concorda? Pobre do coelho ter de ficar preso dentro daquele chapéu, num fundo falso.

—É. Neste quesito você pode ter razão. Vai se inscrever?

—Vou. Vou sim.

—E você vai cantar, tocar?

—Nenhuma das alternativas.

—O que vai fazer então?

—Magia.