Blood Moon escrita por Elysa S Barbosa


Capítulo 8
O vestido de três milhões de dólares




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Olivia Renard conhecia bem aquela parte de Nova York, afinal sua própria agencia de moda localizava-se num dos muitos arranha-céus do condado de Midtown, Manhattan. E ali, a apenas uns quarteirões de distância do seu próprio arranha-céu estava localizada a sede das Industrias Stark.

 Olivia era uma bela mulher, já fazia um tempo que entrara pra lista das mais belas dos Estados Unidos e talvez por isso algumas pessoas que passavam por ali acabavam reparando na loira alta e com uma postura imponente, isso ou pelo fato dela está parada em frente ao edifício por um tempo consideravelmente longo tentando decidir se entrava e acabava logo com aquela agonia que a estava consumindo desde que a filha começara a se interessar por mecânica avançada ao invés de sessões de fotos para a Vogue ou se entrava no carro, dava meia volta e esperava que Tereza nunca descobrisse a verdade.

Mas ela conhecia Tereza muito bem para saber que aquilo não terminaria nada bem se ela proibisse a menina de entrar naquele edifício amanhã, de ficar no mesmo ambiente que aquele homem. Ela sabia que o único jeito de tudo acabar bem no final era entrando naquele edifício e ela mesma dando um fim naquele problema, mas porquê seus pés não se moviam?

Depois de mais uns minutos reunindo toda coragem que tinha, ela caminhou até as portas de vidro que se abriram quando sua presença foi detectada e ela sentiu um frio subir pela espinha e seu estomago revirar, talvez o ar gelado do hall de entrada da torre Stark fosse o motivo, provavelmente não era, mas a mulher preferiu imaginar que sim.

 — Boa noite, posso ajuda-la? — A recepcionista sorriu gentilmente quando Olivia aproximou-se do balcão da recepção.

— Senhora? .... Veio ver alguém? — A mulher perguntou novamente quando não obteve resposta na primeira vez.

— Sim. — Ela balançou a cabeça para clarear a mente. Não tinha para onde fugir, ela tinha que fazer aquilo. E já que tinha que fazer, que fosse com a cabeça limpa e no lugar. — Tony Stark.

— Tem hora marcada? — A recepcionista perguntou voltando sua atenção para o monitor de computador a sua frente.

— Não..., mas minha filha tem, para amanhã à tarde... E eu preciso conversar com ele hoje. — Olivia manteve a voz firme e a postura rígida.

— Desculpe, mas sem hora marcada não vai ser possível. Mas pode ligar para a secretária dele e agendar um horário. — A recepcionista passou um cartão sobre o balcão. Ela não tinha tempo para agendar nada, tivera até sorte quando Tess lhe avisou que iria dormir na casa de Summer naquela noite.

— Por favor, você pode pelo menos avisar que Olivia Renard está aqui... E é urgente?

Uma luz ascendeu na mente da recepcionista quando ela ligou o rosto da mulher parada a sua frente com o nome. Olivia Renard fora um dos casos do seu chefe, já fazia muito tempo, na época nem sonhava em trabalhar ali, mas lembrava vagamente das revistas e programas de fofocas cobrindo todo o caso do bilionário Tony Stark com a supermodelo francesa Olivia Renard, é claro que como todos os outros romances do seu chefe, esse também não durou muito tempo e logo o homem já estava aparecendo em festas com outras mulheres iguaizinhas a Olivia. Talvez pelo olhar de súplica da mulher a sua frente ou só por curiosidade em saber até onde toda aquela história iria chegar, a recepcionista pegou o telefone e passou o recado. Depois de uns segundos, veio a resposta.

— A senhora pode subir. Mas preciso que prenda o crachá num lugar visível — A recepcionista falou lhe entregando um crachá com o logo da empresa e o nome “visitante” impresso no verso do cartão. — O novo chefe de segurança é meio paranoico com relação aos crachás. — A última frase ela falou baixinho para que só Olivia pudesse ouvir. 

— Obrigada. Pode me dizer qual o andar? — Olivia tentou sorri, mas seu rosto parecia ter esquecido o que significava aquilo.

— Ah, basta passar o código de barras do crachá no leitor do elevador que ele irá fazer o resto. — A recepcionista explicou.

Era domingo e já passava das sete horas da noite, o edifício não estava mais tão movimentado, ficou até surpresa por não precisar fazer um escândalo para subir até ali, até que não foi tão difícil. Mas agora, agora ela tinha certeza que não seria fácil, na verdade, seria quase impossível.

A mulher estava tão perdida em pensamentos que só percebeu que já tinha subido muitos andares quando uma voz robótica avisou que ela tinha chegado ao seu destino. As portas do elevador abriram-se revelando uma sala ricamente decorada e uma vista de Manhattan que ela teria adorado admirar se não estivesse a ponto de arrancar os cabelos de tanto nervosismo. Ela segurou a respiração e saiu do elevador. Parada ali, naquela sala ela sentiu-se pequena, indefesa e assustada. E esses são três adjetivos que nunca definiram Olivia, ela não ia permitir que eles a definissem agora. Arrumando a postura e os cabelos loiros atrás dos ombros ela começou a andar, até ver o homem parado atrás do bar.

— Oi, Tony. — Sua voz saiu mais segura do que ela estava.

Tony Stark lembrava perfeitamente da primeira vez que tinha visto Olivia Renard, fazia tanto tempo que ele se pegou perguntando se tinha sido em outra vida. Ele tinha seus vinte anos e estava sentado — e emburrado — na primeira fila ao lado da mãe, Maria, num dos leilões de caridade que ela organizava. Ele nunca se lembrava para onde iam os milhões de dólares que eram arrecadados no fim da noite, pouco importava se ia para algum orfanato na África do Sul ou para hospitais em estado de calamidade no Afeganistão, para ele não fazia diferença, mas era até engraçado como ele lembrava de cada detalhe da mulher que entrou sorrindo no palco. Os cabelos loiros estavam lisos e presos num rabo de cavalo e seu rosto não tinha maquiagem, tudo para não tirar atenção do item a ser leiloado — não tinha dado muito certo, já que toda sua atenção estava voltada para a mulher —, um vestido azul que ele até hoje não sabia a quem tinha pertencido, mas que era belíssimo e ficava inumanamente mais bonito na modelo que sorria e parecia se divertir ali em cima. Ele passara tanto tempo admirando a beleza da mulher que não tinha percebido que os lances já tinham começado, quando que automaticamente ele levantou a plaquinha de lances que segurava e levantou num pulo da cadeira, assustando sua mãe, que não estava entendendo nada.

— Eu dou quinhentos mil dólares. — Ele falou encarando a expressão confusa no rosto da modelo.

— Senhor Stark — Um homem careca e baixinho que estava apresentando o leilão sorriu sem jeito para ele. — Não é bem assim que um leilão funciona... O senhor tem que cobrir o lance mais alto e não o lance mínimo. — O homem falou devagar como se estivesse falando com uma criança e isso o irritou.

— E qual é o lance mais alto? — Tony perguntou. — É que eu não ouvi.... Minha mente estava em outro lugar. — Ele respondeu olhando para a modelo que agora parecia achar graça na cena.

— O último lance foi de um milhão e duzentos dólares, Senhor.

— Ah, então eu dou um milhão e quinhentos. — Ele falou agora sorrindo.

— Um milhão e quinhentos mil dólares para o senhor Stark, alguém da mais?

— Um milhão e seiscentos. — Uma mulher atrás dele levantou a placa.

— Um milhão e oitocentos — Ele falou alto já perdendo a paciência com aquela mulher. Até parece que ela ia caber dentro daquele vestido.

— Dois milhões. — A mulher falou levantando-se da cadeira.

— Fala sério, quem vestiu esse vestido? A mãe de Jesus? Eu dou três milhões de dólares e cubro qualquer lance. — Agora ele olhava bravo para a mulher da fileira de trás. Ela nem sequer piscava os olhos de tão brava que estava com ele. Os dois ficaram se encarando até uma risada cortar aquela briga de olhares.

Eles olharam para a frente e perceberam de onde vinha. A risada da modelo contagiou todos no salão, que logo riam da pequena guerra que tinha acabado de acontecer.

— Vendido para o Sr. Stark por três milhões de dólares. — O homem falou alto. — Agora vamos para o lote de número 2296... — Ele não escutava mais o que o homem falava, a modelo vinha em sua direção com um sorriso divertido nos lábios.

—Não consigo imaginar uma pessoa melhor para usar este vestido do que você, Sr. Stark. — A mulher falou parando em sua frente.

— Eu consigo.

Agora sua mente voou para a última vez que vira Olivia, quase um ano depois da primeira. Até então ela tinha sido seu relacionamento mais duradouro e ele já estava ficando assustado com a proximidade e intimidade que acabaram criando ao longo dos meses, e foi bem aí, quando ele percebeu que talvez pudesse ter um futuro com ela que ele estragou tudo. Infelizmente, aquela lembrança voltava a sua mente com frequência, a voz esganiçada de Olivia gritando com ele quando abriu a porta do quarto e encontrou outra mulher ao seu lado na cama — Ele até forçava a mente a lembrar o nome da mulher, mas sempre era em vão. Talvez fosse alguma outra modelo que conhecera na noite anterior — enquanto Olivia estivera desfilando em algumas das milhares de marcas de grife que ela sempre desfilava. Sua mente ainda estava meio embolada pelo sono e ressaca mais lembrava de ter visto os rostos assustados da mãe e do pai que apareceram na porta do quarto quando ouviram os gritos histéricos da modelo. Quando finalmente percebeu o que estava acontecendo ele levantou num pulo da cama e indo de encontro a namorada. Olivia por sua vez o xingava de várias coisas enquanto chorava e tentava se desvencilhar de seus braços.

— Agora já basta. — A voz da sua mãe soou alta e imponente no local, colocando fim naquela discussão. E isso o assustou, nunca tinha ouvido a mãe falar daquele jeito, sempre quem tomava as rédeas era Howard — Saia de perto dela, Tony. — A mãe falou e automaticamente ele obedeceu, soltando os braços de Olivia, que já estava se recompondo e indo de encontro a Maria Stark. — Venha, querida. Vamos sair daqui. — Maria passou os braços pelas costas da modelo num gesto acolhedor e logo depois tirou-a daquele cômodo.  

Agora, sem as duas mulheres, ele pôde olhar para o pai, que ainda estava parado na porta com uma expressão que ele conhecia muito bem.

— Você vai sair desta casa agora, com suas próprias pernas ou prefere que eu a enxote daqui pessoalmente? — Este era o pai que ele conhecia, a voz do homem saiu grave e sem nenhuma gentileza e a mulher que a muito tempo tinha acordado e ainda estava deitada na cama de lingerie observando assustada o desenrolar da história levantou-se da cama, pegou seus pertences e saiu rápida do quarto sem nem olhar para traz.

— Vai logo, pode começar com os sermões. — Tony esperou a mulher ir embora antes de sentar na cama com as mãos entre os rostos.

— Você já passou da fase de levar sermões, não acha? Mesmo com as atitudes de um moleque, já é um homem adulto e faz o que quiser com sua vida, mas da próxima que vez que fizer merdas... tente lembrar que ainda tem uma mãe que se preocupa com você. Dessa vez ela pensou mesmo que você tinha mudado, ela até se apegou mesmo a garota, bom... — Ele falou sem dá muita importância ao seu filho que ainda estava sentado na cama. — Pelo menos você bateu seu recorde, não é? Quase um ano num relacionamento sério. Parabéns. — Logo depois Howard saiu do quarto, deixando Tony com uma expressão que parecia que tinha acabado de levar um soco bem dado no meio do rosto. Uma semana depois daquele dia seus pais sofreram o acidente de carro e ele acabara perdendo o rumo da vida, se é que um dia tivera um rumo.

— Oi, Livy. Aceita uma bebida? — Mesmo depois de tanto tempo, ela ainda continuava igual. Os mesmos cabelos loiros, — que agora estavam um pouco mais curtos — os olhos azuis brilhantes, a postura perfeita e o corpo de deusa que Tony já tinha visto algumas vezes nas capas de revistas e em eventos de gala em Nova York depois que eles terminaram, mas sempre de longe, ele não se permitia chegar perto.

Para ter aquela conversa, Olivia precisava manter a cabeça no lugar. Mas talvez um gole daquele Whisky forte e puro a ajudasse no quesito coragem. Ela foi até o bar e tomou da mão do homem o copo, bebendo todo o líquido âmbar em um só gole.

— Não estou com muito tempo para ser cordial, Tony. Nós temos que conversar — Ela falou colocando o copo, agora vazio, em cima do balcão e andando de um lado para o outro pela sala.

— Eu percebi. Deve ter acontecido algo sério para vim me procurar depois de... quantos anos? Quinze? — Ele continuava atrás do bar, se servindo novamente do Whisky.

— Dezessete... para ser mais exata. — Ela soltou a bolsa num dos sofás de couro da cobertura e voltou novamente para perto do homem. — Eu.... Minha filha tem uma reunião com você amanhã, preciso que rejeite o acordo dela. — Ela falou sem rodeios.


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