Depois de uns poucos minutos, o taxista parou o carro em frente à minha casa e depois de pagarmos a corrida ele me desejou boa sorte na reunião e seguiu seu caminho indo buscar mais passageiros.

A casa estava em silêncio e com exceção de um ou dois empregados eu não via mais ninguém. Assim que Summer e eu entramos na sala de estar, August nos viu e pediu para levar nossas sacolas para o meu quarto.

— Sabe onde meus pais ou Sarah estão, August? — Summer e eu colocávamos as sacolas em seus braços, que estavam bem esticados para caberem todas.

— Seu pai teve que voltar para Londres, srtª Tereza. Mas a srª Renard está no jardim dos fundos e Sarah... — Ele parou para pensar um segundo. — A última vez que eu a vi estava na cozinha.

— Meu pai já voltou para o Hospital? Qual é... qual a graça de ser o diretor se tem que ir trabalhar num domingo? — Perguntei para ninguém em especial.

— Um rio de dinheiro, o divertimento de... sabe, mandar em todo mundo, as entrevistas, sessões de fotos... — Summer parou de falar quando me virei em sua direção e revirei os olhos.

— Precisam de mais alguma coisa, senhoritas? — Ele perguntou tentado equilibrar as sacolas.

— Não, August. Obrigada. — Dito isso, ele seguiu para o meu quarto.

— Você pode fazer uma surpresa... — Summer veio em minha direção e segurou minhas mãos num gesto gentil. — Digo, para o seu pai. Você vai arrasar na reunião amanhã, vai fechar um acordo com o Tony Stark e quando o Sr. Williams chegar de viagem vai morrer de tanto orgulho de você.

— É que o projeto é nosso, sabe... Eu queria que ele estivesse lá comigo. Não sei se vou conseguir explicar tudo sem ele do meu lado.

— É claro que você vai conseguir explicar tudo, vai arrasar muito. — Eu ri do entusiasmo dela. — Você é a segunda pessoa mais inteligente que conheço. Tenho certeza que vai sair da Torre Stark amanhã com um acordo fechado com o Homem de Ferro em pessoa.

— Tudo beeem, vou deixar você me iludir um pouco. Mas, se eu sou a segunda pessoa mais inteligente que você conhece... quem é a primeira? — Perguntei enquanto seguíamos para o jardim dos fundos encontrar minha mãe.

— A minha mãe. — ela respondeu com a voz esganiçada e com uma expressão que falava “Não é obvio, querida?” — A vadia está morando numa mansão na Suíça com o namorado modelo de vinte e cinco anos, e tudo as custas da fortuna que roubou do papai, enquanto meu velho está aqui, cheio de cabelos brancos, administrando a empresa e cuidando da filhinha que ela finge que não existe. Ela sim é inteligente.

— É, olhando por esse lado...

O assunto sobre a mãe de Summer morreu quando vimos a minha mãe e Veronica Hill sentadas numa das mesas do jardim. Elas estavam prestando muita atenção e discutindo sobre algo que só quando chegamos perto o suficiente pudemos entender.

— Queridas, como foi o dia? — Mamãe perguntou quando paramos ao lado das duas mulheres sentadas.

— Ah, foi tudo bem. — Falei sorrindo e a abraçando.

— Nós estamos atrapalhando vocês? — Summer perguntou chegando mais perto para ver melhor todas as fotos e folhas espalhadas pela mesa e não dando muita importância para o quesito atrapalhar.

— Imagina, vocês nunca atrapalham. Venham, eu adoraria ouvir a opinião de vocês. — Veronica é uma das melhores amigas da minha mãe e sem dúvida uma das estilistas mais queridinhas de Hollywood esse ano. Summer adora as criações dela e se deixar, as duas passam horas trocando ideias. A última vez que elas passaram muito tempo juntas, uma semana depois Summer acabou desfilando na Semana de Moda de NY com um vestido da Veronica, o que resultou no Sr. Graham ficando uma fera quando viu qual exatamente era o tamanho do vestido, e principalmente quando ela acabou ganhando uma matéria num blog de moda famoso, que estipulava quando exatamente Summer M. Graham entraria de vez para o mundo da moda e ganharia as capas da Vogue.

— Claro, não precisa nem pedir. — Summer sorriu sentando ao lado de Veronica e pegando uma das fotos na mesa.

— Coleção da próxima estação? — Perguntei ainda ao lado da minha mãe que estava com várias fotos de modelos no seu campo de visão.

— Sim, estamos escolhendo as modelos. O que acha dessa, Tess? — Mamãe me entregou uma foto de uma garota com cabelos pretos cortados simetricamente acima dos ombros, ela parecia ter em torno dos vinte anos e estava séria para a foto. A pele escura realçava ainda mais os olhos de um tom claro de verde.

— Bom... Se eu a visse na rua iria perguntar se ela quer um hambúrguer, sei lá. É tão magra... — Parei de falar quando levantei os olhos da foto e vi as três mulheres me olhando com uma cara feia. — Mas... Ela é linda. Nossa, esses olhos, ficariam mais lindos ainda com esse vestido, Veronica. — Falei puxando outra foto da mesa, essa era de um vestido num tom fechado de vermelho, como se fosse vinho, longo e soltinho com alças finas e um decote em V que ia até um pouco abaixo dos seios. — Esse vestido é incrível, e ficaria mais incrível ainda vestido na... — Olhei atrás da foto da modelo magrela e achei o nome. — Natalie Edson.

— E esse vestido com esse quimono... — Summer levantou da cadeira e se esticou para pegar outra foto. — É o meu shipp do ano. — Ela entregou todas as fotos para Veronica.

— Não sei porque ainda venho te procurar, Liv. — Ela falou para minha mãe num tom divertido. — Quando na verdade, eu deveria procurar essas duas. — Ela apontou para Summer e eu que estávamos paradas em pé, eu feito uma planta e Summer radiante de felicidade.

— É justo, eu escolhi as modelos e as meninas podem te ajudar a montar os looks. — Mamãe falou sorrindo, entregando uma pasta que provavelmente continha todas as informações das modelos selecionadas para o desfile da Veronica nas mãos de uma Summer que quase desabou de felicidade.

— Ah, mãe. Você não vai acreditar no que aconteceu hoje quando estávamos vindo para casa. — Sentei ao lado da minha mãe que agora me olhava com o rosto sério.

— Tereza Maria Renard Williams, se eu entrar naquela casa e achar mais um gato ou cachorro que você trouxe da rua...

— Ai, mãe. Não foi isso. — A interrompi quando ouvi Summer segurar o riso. — Eu recebi uma ligação, sabe aquele projeto que o papai e eu estamos trabalhando? — Minha mãe balançou a cabeça em concordância depois que se acalmou quando percebeu que eu não tinha trazido mais nenhum bicho da rua para casa. — Então, uma mulher lá das Industrias Stark me ligou, Tony Stark quer me ver para conversarmos sobre o projeto. Não é o máximo? — Despejei tudo de uma vez, o sorriso incontrolável voltou para meu rosto.

 Assim como eu na hora que recebi a ligação, mamãe e Veronica também ficaram paradas me encarando com os olhos quase saindo das órbitas. Depois de uns segundos Veronica tocou o braço da minha mãe gentilmente, que fez ela sair do transe em que estava. Elas trocaram uns olhares bizarros que só pararam quando Summer começo a falar.

— E eu vou ser a responsável por te vestir para a reunião, Tess. Não posso te deixar ir com uma camisa de Game of Thrones ou calçando um chinelo. Você vai ficar apresentável, como uma executiva de sucesso. — Summer sorria para mim.

— Como assim... Você vai se encontrar com o... Tony Stark...? — Minha mãe perguntou depois de quase um minuto em silêncio. Ela ainda estava séria e agora com a postura rígida.

— Pois é. Eu também nem acreditei, quer dizer, dá pra imaginar o Tony Stark se interessando pelo meu projeto com o papai? — Mamãe não respondeu. Tá legal, eu também demorei para processar tudo aquilo, mas minha mãe estava calada tempo demais. Quando eu me imaginei contando aquilo para ela, imaginei que ela soltaria fogos ou comemoraria comigo, sei lá. O papai com certeza já estaria gritando de felicidade.

— Summer, você quer ir tomar um café comigo no Woops? Você poderia me ajudar a montar toda a coleção, o que acha? — Veronica perguntou enquanto recolhia todo o material que estava espalhado sobre a mesa.

— Não brinca com isso, é sério? — Summer perguntou e quando a mulher sorriu em resposta Summer começou a ajudá-la a guardar os papeis. — Eu adoraria, CLARO. Nos vemos mais tarde, Tess? — Summer perguntou levantando-se da mesa acompanhada de Veronica, que abraçou minha mãe e falou algo baixinho em seu ouvido.

— É, claro. Eu passo na sua casa. — Falei levantando e abraçando minha amiga e depois dando um beijo rápido em Veronica.

As duas logo sumiram pela casa deixando apena minha mãe e eu no jardim.

Depois de uns minutos — que me pareceram horas — em silêncio eu finalmente falei.

— Então... você está em silêncio esse tempo todo porque está orgulhosa demais de mim e não está nem conseguindo falar de tanta emoção ou.... Está brava? Porque você não está com uma cara, assim... muito animada. — Perguntei puxando uma das cadeiras vazias e me sentando ao seu lado.

— É claro que estou orgulhosa de você, Tess. — Mamãe apertou gentilmente minhas mãos entre as dela. — Eu só não quero você envolvida com aquele homem.... Não é seguro. — Mesmo com a voz calma e gentil, era perceptível que algo estava errado. Algo que ela não estava falando.

— Mãe, é só uma reunião. Como não pode ser seguro? — Eu sorri tentando amenizar aquele clima bizarro que estava pairando sobre nós duas. — Você falando assim, parece até que eu vou vender minha alma ao Tony Stark. Eu sei com o que está preocupada, mas relaxa, tá bem? Vou apenas mostrar o projeto meu e do papai. — Acho que piorei a situação, quando terminei de falar ela parecia ter visto um fantasma.

—E-eu não estou preocupada, querida. — Ela tentou sorrir.

— Está sim, eu te conheço. — Agora era eu quem segurava suas mãos. — Mas relaxa, eu não vou entrar para a equipe dos Vingadores, mesmo que eles implorem. Eu juro. Vou apenas apresentar o projeto, e se tudo sair como o planejado fechamos um acordo e pronto.... Volto para casa.

Talvez agora eu tenha falado algo certo, ela me olhou incrédula — e... talvez aliviada? Não sei. — por uns segundos antes de gargalhar forte.

— Está bem, Joaninha. — Ela me puxou para um abraço. Seus braços se fecharem ao meu redor e me puxaram para si. Fazia tempo que ela não me abraçava daquele jeito, como se não quisesse me deixar sair dali, dos seus braços. — Eu vejo a mulher incrível que você está se tornando e... tenho tanta, mais tanta alegria em saber que fiz as escolhas certas. Seu pai e eu te amamos mais que tudo, Tess. Nunca esqueça disso. — Por fim, ela me soltou e vi que estava chorando.

Não sei se foi pelas coisas que ela falou ou por vê-la chorar — não consigo ver ninguém chorando que meus olhos já ficam boiando num mar de lágrimas — mas quando me dei conta, já estava chorando também.

— É por isso que não uso rímel, sabe-se lá quando eu vou ter vontade de chorar. — Falei enxugando os olhos.

— É para esses momentos que existem rímeis a prova d’agua, querida. — Ela respondeu sorrindo e fungando o nariz.