Capítulo I – O começo de uma nova história

Ao final de todas as aulas, eu me sento no meio do estúdio e observo minha imagem naquele imenso espelho, tentando compreender melhor quem eu me tornei e se estou no caminho certo.

E hoje não foi diferente, depois de alguns minutos me levantei e mandei mensagem para minha mãe avisando que já estava indo para casa.

Tirei minhas sapatilhas de ponta, meus pés pareciam doer cada vez mais, em seguida fechei tudo para ir embora.

Ouvia uma das música de Tchaikovsky no instante que vi as luzes do farol do caminhão, logo um clarão surgiu e perdi total consciência.

Capítulo II – Desabafos

Completados dois meses desde o meu acidente, minha rotina já não era a mesma. Uma vida baseada em ensaios, apresentações e aulas para as crianças às sextas se transformou em uma rotina limitada a ficar em casa e visitas diárias ao fisioterapeuta.

—  Isso é em vão —  disse ao fim de outra sessão. —  Não vou mais voltar a dançar, mal consigo andar sem sentir dor!

—  Se você quer mesmo voltar à sua vida antiga tem que acreditar.

—  Não sei mais se quero aquela vida que tinha.

Ele hesitou em dizer algo, mas o silêncio prevaleceu, então me virei e fui embora.

Capítulo III – Reflexões

Chegando em casa, fui direto para o meu quarto, olhei as fotos das apresentações na parede, as sapatilhas e os tutus no guarda roupa, me sentei na cama e abri um dos arquivos no notebook. Ali estava uma história que eu escrevi aos 13 anos de idade, uma história boba de criança, mas que me fez repensar o que sempre quis para minha vida e deixei de lado por acreditar que meu sonho era ser bailarina. Mas não era. Aquele era um sonho que minha mãe não conseguiu realizar, e eu fiz isso tudo por ela, nada foi por mim.

Capítulo IV – Decisões de Susan

Peter mal entrou na sala para mais uma sessão de fisioterapia e eu o interrompi.

—  Decidi que não vou mais dançar.

—  Sempre viveu disso, por que mudar agora?

—  Esse acidente me fez pensar sobre minha vida, eu fiz tudo isso pela minha mãe, nunca quis ser bailarina.

—  E o que vai fazer então?

—  Ser escritora é o que sempre quis. O que não consigo me expressar falando, consigo escrevendo, flui tão naturalmente. É o que quero para mim.

—  Espero que agora você seja muito feliz, mas o engraçado é que de fisioterapeuta me tornei seu psicólogo.

Nos olhamos e rimos.

Capítulo V – Febre de mudança

Minha mãe foi me buscar e durante o caminho tentei encontrar as melhores palavras para contar a ela.

—  Mãe...

—  O quê?

—  Não posso mais fazer isso.

—  Do que você está falando, Susan?

—  Ser bailarina era o seu sonho, eu achei que fosse o meu também, mas não é.

Ela ficou em silêncio um bom tempo e respirou fundo.

—  E o que você quer fazer?

—  Ser escritora.

—  Então por que está perdendo tempo? Vá escrever uma nova história para sua vida, e eu estarei do seu lado, sempre.

Olhei para ela e sorri, eu literalmente reescreveria minha história a partir de hoje.