Nem Mais Uma Palavra escrita por Carpe Librum


Capítulo 11
Escravos da Dor


Notas iniciais do capítulo

Autor: Vinícius W. A. Augustinho

Sinopse: Um vislumbre da vida de uma mulher escravizada, vítima de abuso e desprezo, que teve tudo o que era seu roubado, incluindo um filho.

Aviso: Violência sexual e assassinato.



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                  Capítulo 1

Eu vivo no Brasil. Este mesmo país que é elogiado por possuir especiarias e pelo pau-brasil que ajuda a compor seu nome.

Sou eu quem lava, passa, cozinha, mas quando chega visita eles me mandam ir para o quarto. Se me recuso a ir, eles me amarram, me batem, não me alimentam, e muitas vezes sirvo-os como objeto sexual, simplesmente pelo fato de que a escrava não está se comportando como tal.

Amarrada, a dor de cada chicotada parece não ter fim. Lágrimas, sangue e suor escorrem pelo meu corpo. Estou trancada em um quarto sozinha com o próprio diabo.

 

Capítulo 2

Este pesadelo parece não ter fim, mas para ele não é o suficiente.

Desnuda, sinto de novo essas fortes e repugnantes mãos pelo meu corpo. Ver que ele está me tocando e não poder fazer nada desperta um completo sentimento de inabilidade. Estou com aquilo que eu mais temo, esse hostil e cruel homem a quem todos os dias tenho que gentilmente servir.

Embora o medo esteja corroendo meu corpo, sigo firme na esperança de que isso tudo provavelmente irá acabar. E apesar dos pesares, o que mais me aflige é compreender que tudo isso não acontece pela primeira vez.

 

Capítulo 3

Desses abusos que me ocorreram, posso dizer que a única coisa benéfica que sucedeu foi o nascimento do meu primogênito. A princípio, queria que isso nunca houvesse acontecido, pois existia um fruto da violência crescendo dentro de mim.

Mas ele nasceu, e por um tempo olhar sua face me fazia reviver as péssimas lembranças. Até que, em um determinado dia, reparei que todos seus traços me faziam recordar meu pai e, não sei como, a partir daí, comecei a enxergá-lo como meu filho e a amá-lo como deveria.

Contudo, após ele atingir idade considerável foi vendido para servir uma família.

 

Capítulo 4

Desde então nunca mais vi meu filho. A dor e sofrimento eram ainda maiores e o fato de ser escravizada parecia o menor dos problemas.

Mas lembro-me claramente do dia em que isso, ao menos, chegou ao fim. Quando finalmente adquiri minha carta de alforria.

Para ser sincera, no início nem imaginava o que era, mas o dinheiro suado das esmolas de uma vida inteira puderam comprar minha liberdade. E a partir daquele momento, realmente senti na pele o que era estar livre. Aquele deveria ser o dia mais prazeroso da minha vida, mas nada fazia sentido sem meu filho.

 

Capítulo 5

Prossegui em busca do meu filho e descobri que ele ficou conhecido como Zumbi do Quilombo dos Palmares, mas que numa emboscada após ser traído por seu amigo, foi decaptado e exposto em uma praça pública, com intenção de ser exemplo para outros escravos.

Senti na alma a dor e o peso do luto.

O tempo passou e trouxe uma doença, que naquele período ainda não havia recursos para ser tratada. Eu parti, mas mesmo com a alma doída e o coração vazio, o que levei comigo foi a certeza de que o amor é real, e nenhum sofrimento eterno.


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