Crisântemo Vermelho escrita por Crisântemo Lirium


Capítulo 1
Capítulo 1




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04 de abril de 2018, Fukushima- Japão.

 

Quando eu era criança, minha mãe estava no hospital e pedi aos deuses com todo o fervor que habitava meu coração que não levassem-na, mas ela simplesmente parou de falar comigo e o quarto em que estávamos ficou um silêncio mórbido e incômodo. Naquele momento, senti que não a veria mais e apenas meu pai poderia cuidar de mim.

 

 

Meu nome é Mayura Daidouji, tenho dezessete anos e moro com meu pai, o senhor Misao Daidouji, moramos em um templo. Vocês podem achar chato as próximas linhas, não os culparei, afinal é a vida de outra pessoa e isso não importa para alguns. O fato é que não fui à escola hoje, estou realmente indisposta, estou em qualquer lugar da minha cidade, apenas esperando algum sinal, um sinal de que sou realmente necessária, porque até a Yuki Nakagami da minha escola não quer mais saber dos mistérios que eu descubro e simplesmente me tirou do grupo de mistérios, a qual eu era participava.

 

Ainda tenho meu pai, porém minha fé está tão abalada que sequer percebo os sinais que tanto esperei há doze anos, apenas passam despercebidos por mim. A saliva parece ter se esvaído da minha língua e saído de outra forma: em lágrimas, enquanto caminho pela cidade sem um destino certo, totalmente derrotada.

 

Amo aquele grupo de mistérios, vocês nem imaginam o quanto, infelizmente não faço mais parte dele e não sei mais o que fazer. Ignoro as buzinas dos carros, ouço xingamentos pela minha ausência de atenção no próprio caminho que cruzo em alguma direção e ao atravessar a rua, sinto um tremendo baque que me joga para a calçada, não antes sem encontrar o poste, fazendo minhas costas doerem de imediato.

 

Minhas tentativas de levantar são em vão, no entanto ouço uma voz suave dizer no meu ouvido se estou bem e sinto mãos me erguerem, enquanto sou pega no colo e reconheço aquele toque, aqueles orbes, é o ladrão Frey. Digo que ele é um ladrão, porque ele roubou uma joia da joalheria à noite e saiu nos jornais, não é todo ladrão que tem um porco como mascote, não acham?

 

Ele tenta me animar de alguma forma, enquanto caminha comigo nos braços, me leva ao hospital, junto de meus pertences, ele pede para ligarem para o meu pai que ficou desesperado ao saber onde eu estou e o ladrão Frey espera, como ele sempre faz. Ele é gentil e uma boa pessoa, até já me ofereceu uma caixinha com lenços de papel, quando precisei uma vez, embora não tenham sido para mim.

 

Meu pai, preocupado, quis ser o primeiro a me visitar, afinal foi meu primeiro acidente de carro, o motorista não ajudou, porque o ladrão Frey disse que cuidaria de mim, já que sou a Yamato Nadeshiko dele, muito embora eu não me ache a mulher perfeita, entretanto talvez eu seja perfeita para ele. Adormeci com um sorriso aquele dia, observada pelos médicos, meu pai e o ladrão Frey que não saíram de meu lado, sequer percebi o quão fui cega esse tempo todo, sempre tive quem se importasse comigo e me amasse, talvez sempre tenha me negado a ver.

 

Quem sabe, essa seja a minha despedida desse mundo, afinal vivi o que tinha de viver, desfrutei o que pude desfrutar, só lamento não ter me permitido viver mais para cuidar de meu pai. O desespero é a chave para coisas impensadas, um prelúdio da loucura, a loucura é a fresta para o portão do inferno, pois o louco não tem noção de suas atitudes. Vivi por você meu pai, espero que os deuses ouçam minhas preces, dessa vez e eu possa te retribuir todos os anos de cuidado que o senhor me dedicou e te dar todo o amor que uma filha pode dar a um pai.

 

A última coisa que vejo antes de fechar os olhos, são pétalas de crisântemos, não são brancas, nem amarelas ou rosas, são vermelhas, vermelhas como o sangue que corre em minhas veias. Talvez esse seja um sinal, de vida ou morte, não sei, os deuses dirão se devo viver ou morrer, mas não creio que os verei tão cedo, talvez algum dia possa encontrar minha mãe e dar a ela o abraço que não pude dar em todos esses anos.

 


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