O lado vazio do sofá. - Dramione. escrita por Lily Einstein


Capítulo 1
Capítulo único.


Notas iniciais do capítulo

Recomendo que escutem a música:
O lado vazio do sofá.
Enquanto acompanham a fic.
Boa leitura.



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O semblante sério do homem alvo sentado em um sofá elegante fazia o ambiente tornar-se quase sagrado. Draco Malfoy estava só, na sala de sua mansão. Os archotes nos cantos da sala traziam a pouca iluminação que o lugar podia oferecer, tornando os móveis brancos cinzentos ao olhar turvo. O cheiro forte de café poderia ser notado à metros de distância de sua casa, agora sem comensais.

Os sapatos lustrosos do loiro tamborilavam impacientes sobre o chão mogno, enquanto o homem repassava imagens mentais do pergaminho que havia escrito, em uma caligrafia formal.

Olá, Granger.

Espero que neste momento você e seus amigos estejam se recuperando da guerra, ainda em Hogwarts, pois é para onde encaminhei minha coruja.

Diferente de mim, você teve coragem, fedelha.

Meia hora atrás um empregado do ministério veio buscá-los. Graças a seu amigo, permaneço livre, mande lembranças minhas ao Potter.

Espero que saiba o que essa carta significa. Meu malote está pronto e a mansão trancada para não ser mais aberta, consegui sacar todos os galeões que eram meus por direito, e isso nos dará segurança por alguns anos, isso se você vier, claro. Sei que não mereço seu perdão, Granger, mas há muito a explicar, e espero poder fazer isso pessoalmente, tal como me desculpar por minha tremenda falta de coragem.

Sinto muito caso tenha ocorrido alguma perda.

Aguardando impacientemente sua chegada, D.M.

Volta ligeira que eu to te esperando

Eu te pinto um quadro

Tu me ensina um tango

Mas vem depressa que eu passei café

Ao seu lado, um único e grande malote jazia, esperando ser carregado para longe dali.

Draco respirou fundo. A carta havia sido enviada ainda pela manhã, um dia após o final da guerra, e sequer havia tido uma resposta.

Teria que ir só.

Como sempre, estava só.

Podia se lembrar perfeitamente de seus encontros às escondidas com a morena, poucos meses antes de se tornar um comensal. Sequer podia explicar a si mesmo como chegou naquela situação, apaixonado pela sangue-ruim.

Uma onda de nostalgia percorreu seu estômago ao se lembrar do primeiro beijo. O primeiro toque na pele macia da castanha. Foram poucos meses de proveito, afinal não muito tempo depois foi designado a matar Dumbledore, e isso a garota jamais perdoaria.

Mas ele não o fez, não o fez por ela.

Mas afinal, como ela saberia, se sequer lhe deu oportunidade de diálogos ao ver a marca negra sobre seu antebraço?

Mais uma tragada de cigarro.

A fumaça invadiu o ambiente com força, fazendo o platinado tossir violentamente, antes de empurrar em sua garganta mais um gole do líquido amargo que havia preparado para quando a castanha chegasse. Mas ela ainda não havia chegado.

Volta correndo que eu to com saudade

Nem bate na porta

Sinta-se à vontade

Mas vem depressa que eu passei café

Repousou sua cabeça sobre o braço do sofá, recordando seu primeiro momento com a garota. Podia trazer à sua memória perfeitamente a roupa que a morena vestia quando se esbarraram em um corredor, fazendo-o reparar pela primeira vez nas sardas que a pele rosada de Hermione trazia. O castanho amendoado de sua íris lembrava a Draco seus sabores preferidos. Canela, café, chocolate.

Recordava-se perfeitamente como naquele momento sentiu algo novo, um frio peculiar no estômago. A morena trazia consigo tudo que o loiro mais amava.

O perfume cítrico que lembrava morangos voou dos cabelos cacheados, fazendo as narinas de Draco aspirarem involuntariamente aquele aroma o qual ele quis se afogar sobre.

Lembrava-se perfeitamente da forma como segurou com firmeza os pulsos da grifina, impedindo-a de cair, e de como se sentiu idiota ao lhe soltar seu melhor sorriso ladino na intenção de intimida-la, e ser correspondido com um chute nas canelas, que poderia jurar que doía até hoje.

As memórias tornaram-se mais vividas ao se recordar da segunda vez que reparou na garota, encontrando-a chorando em um banheiro qualquer. Podia lembrar perfeitamente do rosto rosado da moça derramando lágrimas de tristeza, ao ser desprezada pelo amado Ronald Weasley. Relembrava do momento em que secou suas lágrimas, de forma involuntária, fazendo-a se tornar ainda mais corada sobre as maças do rosto.

Amentava em sua memória os momentos seguintes, os quais, sem entender, puxou para si os lábios da castanha. Experimentou o salgado das lágrimas que repousavam ali, e ainda assim sentiu o sabor amentado dos lábios de Hermione ao encostá-los sobre os seus. Merlin, como poderia ser tão perfeita?

Rememorou sua insensatez no momento seguinte, brincando com a garota sobre o quanto era irresistível beijar Draco Malfoy. Para sua surpresa, naquele momento, Hermione concordou, com um sorriso tímido em seus lábios doce, os quais o loiro desejou depositar ainda mais beijos.

Os meses seguintes poderiam ser chamados por Draco como os melhores de sua vida, quando teve liberdade para ama-la, mesmo que longe dos olhares pervertidos dos outros estudantes e de seus pais, que jamais tolerariam. Os encontros improvisados nas salas precisas durante os intervalos de aulas, onde aproveitavam um da presença do outro sem se preocupar por mais nada, nem que por instantes.

Recordava das tulipas que levava para a castanha, como forma de presenteá-la.

Mas então o inesperado aconteceu.

Ao mostrar sua marca para Hermione, a morena não lhe concedeu espaço para explicações.

Estava feito, e ele sequer teve escolha sobre o que seria feito.

Apesar de designado para matar Dumbledore, não o fez, não por falta de coragem, mas esperando uma chance da castanha.

A chance jamais chegou.

O que eu estou esperando?

Por que eu corro atrás?

Grande besteira

Ela não volta mais.

Mais uma tragada de cigarro.

Um longe gole de café.

Para acompanhar, uma golada de firewhisky. O álcool trouxe consigo a ardência que o momento pedia.

Maldita sangue-ruim.

Sangue-ruim.

O conjunto de palavras ainda causava um incomodo nas vísceras de Draco, que sequer pode fazer algo ao ver sua castanha sendo torturada na sua frente.

Cada grito, cada olhar de Hermione. Ele sabia que eram destinados à sua pessoa.

Era o culpado por tudo que a castanha havia sofrido, e ainda tinha a audácia de querer sua presença em sua vida? Hipócrita.

Volta correndo que eu comprei agave

Um pouco de canela

Sirva-se à vontade

Mas vem depressa vai esfriar o café

Recordou-se, por um instante, do momento em que Hermione retornou à Hogwarts, e a tranquilidade que trouxe à Draco por saber que a morena estava bem.

 O olhar acusatório que lhe soltou no dia anterior, quando foi chamado por seus pais para se juntar aos comensais. Não tinha escolha, era o que ele era. Um monstro, sem acréscimos ou outros adjetivos, apenas um monstro.

Sequer teve escolha.

Ao desaparatar na tarde anterior, sabia que Azkaban o esperava.

A surpresa lhe socou o estômago ao descobrir que havia sido poupado por ajudar Harry Potter.

Quem diria que o santo Potter o ajudaria um dia, sequer. Sabia que seus pais não seriam poupados como ele, e sentia-se resiliente com a situação, afinal olhar nos olhos vingativos do pai apenas lhe trazia à tona toda a criação preconceituosa e severa à qual havia sido submetido.

Prometeu a si mesmo, que ao ir embora da mansão Malfoy, jamais agiria como seus pais.

E mesmo caso a castanha não o acompanhasse, refaria sua vida da forma certa. Justa

Um longo gole de café fez a xícara se tornar mais leve, deixando-a quase vazia.

Volta ligeira o café ta esfriando

A caneca vazia vem se lamentando:

Faz muito tempo eu não vejo café

Seus orbes azuis fixaram-se no lado vazio do sofá, imaginando como o ambiente estaria diferente na presença de Hermione

Sua própria presença entristecia os móveis, enquanto Hermione poderia alegrar um até mesmo um mero sofá, tornando-o mais útil do que estava sendo no momento.

Observou os móveis ao seu lugar, esbanjando elegância e luxo.

Do que adiantaria, se os próprios dementadores morreriam de tristeza em uma mansão que já havia carregado consigo tanto sangue inocente?

Mais um gole de firewhisky, para aliviar a mente.

A sensação de não mais ter Hermione em seus braços trouxe à Draco sinais de abstinência, deixando sua garganta amarga como o fel amargo que ali dançava, deixando-o enjoado. Haviam quase dois anos que o loiro não sentia o sabor da boca da morena, e apenas isso, afinal havia prometido – o que foi, até para ele, uma surpresa – esperar a moça sentir-se a vontade para ter qualquer tipo de relação.

Draco esperava Hermione ficar à vontade haviam dois anos.

Sua visão tornava-se turva perante as horas de espera, misturadas à fumaça do cigarro.

E eu nem sei por que eu faço café

Já é amargo o sabor de te amar

De gole em gole,

Eu vou enjoando

Vendo o lado vazio do sofá

Besteira, já cansei de esperar

De xícara em xícara

Eu vou me afogar no café

A paciência do loiro chegou ao seu limite, fazendo-o perceber que beirava a insanidade. Levantou-se bruscamente do sofá, e a passos pesados, marchou até o andar de cima, onde adentrou pela última vez seu quarto de criança.

A constelação de Draco flutuava pelo teto, em uma tentativa invejosa de imitar o céu do salão de Hogwarts.

Hogwarts.

Apesar de jamais admitir, o loiro sempre amou aquele lugar, que acabou se tornando sua casa, ainda mais que a mansão.

Apagou os archotes dos corredores, tornando o andar superior totalmente escuro, cegando sua vista.

Adentrou sua biblioteca, onde ainda permaneciam seus livros lidos mais recentemente.

Romeu e Julieta.

A bela e a fera.

Hamlet.

Leituras trouxas, as quais já havia flagrado Hermione lendo após seu término abrupto, a curiosidade havia o perseguido a ponto de ir até Londres arranjar os malditos livros, apenas para sentir um milésimo do que seria estar com a castanha.

Maldito amor.

Ela não viria.

Draco fechou a porta, deixando para trás seus livros e toda sua nostalgia.

Desceu às escadas pesadamente, analisando cada cômodo da casa, em busca de algo que lhe seria útil em sua vida longe da magia negra.

Voltou à sala, onde observou novamente o lado vazio do sofá.

Uma última golada de café trouxe à tona todos os sentimentos de Draco.

Em seus olhos acinzentados, uma tempestade surgia.

Uma pequena gotícula fugiu de sua íris, ignorando toda força que o sonserino havia feito para não derramar esta maldita gota.

O que eu estou esperando

Por que eu corro atrás?

Grande besteira

Ela não volta mais

Um som agudo pareceu estrondar no andar de cima, fazendo o pequeno momento de fraqueza do alvo ser deixado para trás.

Empunhou sua varinha com cuidado, pisando silenciosamente sobre as escadas de madeira, que infelizmente rangeram em resposta.

Se fosse a morte, acataria de bom grado.

O escuro novamente lhe cegou as vistas, fazendo-o murmurar um “lumus” para ter um pequeno ponto de visão à sua frente.

Abriu a porta de seu quarto, se deparando com um vazio ensurdecedor.

Ao se aproximar da biblioteca, um corpo pequeno e sorridente saia de sua porta carregando consigo um livro, e na outra mão uma bolsinha que Draco teve certeza que possuiria algum feitiço extensor.

 Os olhos do platinado brilharam no escuro, em resposta a imagem de Hermione sorrindo, e talvez chorando, à sua frente.

—Anda lendo Romeu e Julieta, Malfoy?

 


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Notas finais do capítulo

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