Allura não sabia como funcionava um ano para os humanos, e ficou sem entender quando Shiro lhe disse que estaria de volta nas férias de verão, exatamente daqui há um ano.

E ela esperou o garoto que, um dia ela impediu de se afogar, aparecer novamente no esconderijo deles.

Por muito tempo depois, que ela considerou ter sido um ano, Shiro voltou e Allura notou a diferença de altura, além dos arranhões nas pernas e dedos - segundo ele, causados pelos seus treinos de carrinho de rolimã.

Aquele longo “um ano” se repetiu até, atualmente o número dezoito, de vezes.

Allura amava ver como Shiro crescia a cada ano que se passava. Os humanos eram criaturas interessantes na sua opinião, ela ficava fascinada com o desenvolvimento de Shiro em apenas 18 anos. Naquele meio tempo, ela envelheceu dois anos e não haviam mudanças aparentes no seu corpo e rosto - além de, no total, Allura ter mais idade do que tinha de escamas.

Allura sabia, entretanto, como funcionava atração, era algo independente de ser e gênero. Aquela coisa inexplicável que ela via em Lance e Keith, e a deixava embaraçada de presenciar, era a mesma coisa que passou a sentir ao ver Shiro com o decorrer dos anos.

O corpo masculino que ficava cada vez mais definido e o charme natural que ele tinha inconscientemente eram detalhes que Allura se via cada vez mais perceptiva e atraída. Ela já não mais esperava a volta do verão para ter a companhia divertida daquele garotinho curioso, Allura esperava pela estação quente por saudades de Shiro, pelo simples fato de ver ele, algo pelo qual ela ansiava durante as estações que eles não se viam. E ela sabia o que significava aquela saudade e o desejo, era o sentimento que Coran afirmou que ela não deveria ter até certa idade, o qual seu pai disse que ela um dia sentiria e que seria maravilhoso, e que Allura cultivou com água em abundância.

Allura achava maravilhoso, porém igualmente desagradável. Ela não sabia que quando se amava, não se podia ficar longe da pessoa amada, porque seu peito doía nas estações mais frias do ano.

Era angustiante olhar para os mesmos arrecifes, os antigos conhecidos fazendo as mesmas coisas que faziam há uma eternidade, por tanto tempo. Algumas vezes, era até, ironicamente, sufocante debaixo do mar, ou como se Allura apenas respirasse sob a água, como um humano qualquer. Mas seu amor não a fazia mais humana, sua cauda não desapareceu durante todos aqueles anos, e Allura se manteu apenas esperando o próximo verão, o seguinte, e todos os que vieram depois, com sua melancolia aparente até o 30º verão, no qual Allura finalmente pôde fazer Shiro ficar para sempre.