Entre beijos e mentiras escrita por Alice Alamo


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Fic feita para Mary Olosko ♥



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Que feio, Near... Era isso que os olhos de Matt ao longe lhe diziam, mas Near não ligava para a opinião de Matt, nem amigos eram, então por que deveria levar em conta o que pensava de si? Além do mais, duvidava que ele fosse contar algo a Mello. Não... ele definitivamente não iria. Podia conhecer pouco Matt, mas sabia o bastante para entender que possuíam um único objetivo em comum naquele orfanato: fazer Mello feliz.

Certo, Near falhava (e muito) nessa missão, mas, minha nossa!, era difícil, ok? Mello parecia o odiar com todas as forças, e como ele podia então o fazer feliz? Tudo que fazia só parecia servir para irritá-lo, era como pisar em ovos e, ainda assim, quebrá-los a cada passo! Não havia como... a não ser o que estava fazendo agora, nesse exato momento: mentindo.

Não era a primeira vez que tinha que mentir, sendo sincero, em seus dezesseis anos, era bem comum que tivesse que se utilizar desse recurso na Wammy's House. Muitas pessoas não o entendiam, outras apenas não ligavam, então, quando vinham lhe questionar se precisava de alguma coisa, se estava bem, ele apenas enrolava uma mecha do cabelo branco entre os dedos e buscava na mente se valia mesmo a pena falar a verdade. Quase sempre, a resposta era não. Optava por mentir, assim não seria incomodado, continuaria brincando sozinho com seu castelo de dados e ainda teria tempo para quem realmente importava: Mello.

Só tinha um problema: Mello não o estava mais procurando como antes. Depois de L anunciar que escolheria entre ele, Mello e Matt o seu sucessor, as coisas mudaram, drasticamente. Não apenas se afastaram, como Mello criara em sua mente infantil uma competição acirrada; Near não era mais um amigo, era um rival, e rivais não são amigos, não perguntam como o outro está, não brincam juntos, rivais se odeiam. E como Mello sabia incorporar algo quando estava decidido...

Near sentiu em cada empurrão o peso da palavra rival, ele sentiu toda vez que Mello o ignorava ou então que vinha derrubar seu castelo de cartas, chutar seus dados, gritar consigo para que desistisse do posto de L. Havia mais, conseguia ver os sentimentos confusos nos olhos azuis, mas Mello era tão difícil de ser entendido! Ora achava que era querido, ora tinha certeza que tudo não passava de uma ilusão sua. Para Mello, ele era um rival a ser derrubado e só isso... e rivais eram incapazes de se fazerem felizes, a não ser perdendo.

Ou quase isso...

Não dava para perder; perder significaria entregar o posto a Mello, e L ainda estava vivo, então não aconteceria tão cedo.  Mas dava para mentir...

O diretor do orfanato havia mudado as aulas deles, estavam em classes avançadas e a quantidade de estudo era absurda. Bem, para eles, nem tanto, mas aposto que qualquer adulto infartaria ao ver a lista de leitura obrigatória que possuíam. Enfim! O fato era que havia achado uma área em que Mello se destacava mais que os demais, quase mais que ele até... quem diria que literatura seria o forte de alguém tão explosivo e inquieto como Mello... Aliás, mesmo com anos de observação, julgando-se conhecer tão bem o outro, nunca adivinharia que Mello, a pessoa que folheava livros com os dedos sujos de chocolate e um olhar entediado, que dormia com um livro sobre o rosto na sala de jogos e que odiava passar mais de duas horas na biblioteca, fosse ser tão exímio leitor.

— Near, você está entendendo ou não? — sobressaltou-se ao ouvir Mello perguntar ao seu lado, parcialmente inclinado sobre si.

Ah, o cheiro de chocolate dele era tão gostoso... lembrava-lhe de que estava com fome. Suspirou, precisava disfarçar seu tédio ou Mello, assim como Matt, perceberia que havia mentido ao pedir sua ajuda por uma suposta dificuldade na matéria.

É, ele poderia ter pensado em algo melhor, mas não dava... Mello o olhara com tanta expectativa quando o professor anunciara o primeiro teste, que Near não quis arruinar aquele momento de felicidade. Então, aproveitou-se para completar a cena, fingiu ter dificuldade e... certo, não dava para ir mal na prova, mas ele podia sim esquecer parte de algumas respostas, somente aquilo que não lhe faria ganhar o ponto completo de uma ou duas questões.

Nunca se esqueceria do sorriso que Mello havia dado ao verem as notas no mural. De repente, pareceu que só havia eles dois no corredor, nenhum dos outros alunos importava, e Near só conseguia mesmo perceber como Mello ficava bonito quando sorria daquela forma sincera e genuinamente alegre. Até parecia o mesmo de quando eram amigos... E seu erro foi ter se esquecido dos demais naquele momento, de Matt por exemplo, que o observava com um pirulito na boca e a sobrancelha arqueada. Não demorou até que o gamer ligasse os pontos e compreendesse o sorriso mínimo que Near não havia sido rápido o bastante em esconder.

E podia ter parado ali, devia ter parado!, mas... mas ele não quis. Era feio mentir? Tá, era, mas Near não se importava... tinha gostado tanto de ver Mello sorrir para si, mesmo que fosse porque o tinha "derrotado". Não ligava de perder se sua derrota trouxesse alegria para o chocólatra que tanto amava. Por isso, tinha ido além...

Queria Mello feliz, mas também o queria perto de novo, queria sua atenção, o tempo que tinham juntos. Era tão errado assim sentir falta dele? Era tão errado querer estar perto dele? Pediu-lhe ajuda na matéria e se certificou de fazer isso da forma certa, como Mello gostaria de narrar à noite para Matt antes de dormir:

— Você tinha que ver a cara dele, Matt! — Mello riria. — Ele estava realmente querendo ajuda! Parecia que ia correr a qualquer momento! Aposto que deve ter se doído todo para vir falar comigo. Eu disse, não disse? Eu disse que um dia ia ultrapassá-lo!

E o fato de Mello estar consigo, ajudando-o, significava que Matt não tinha revelado seu plano e que nem tinha intenção de o fazer, apesar de estar ali para assistir a tudo.

— Near, você não está prestando mesmo atenção no que eu to falando! — Mello bufou, trazendo-o à realidade.

— Estou sim, Mello — respondeu e se ajeitou na cadeira, o corpo tocando propositalmente o do outro ao seu lado. Mello era quentinho e tinha cheiro de chocolate, e isso lhe dava saudades da época de quando ainda era um dos poucos com direito a ser abraçado por ele. Amava os abraços de Mello, eram reconfortantes, seguros, um dos poucos contatos que lhe faziam se sentir bem, e que havia perdido. Suspirou, e Mello estreitou o olhar.

— O que você tem? — Mello questionou, irritado, a mão puxando Near pelo colarinho para que ficassem um de frente para o outro. - Está com febre de novo?

Antes que negasse, a mão de Mello já estava na sua testa, os olhos azuis o examinavam com preocupação, ainda que Mello nunca fosse admitir isso e Near soubesse que não deveria falar a respeito. Mello estalou a língua no céu da boca e o soltou na cadeira com descaso, levou a mão ao bolso de trás da calça e tirou uma das muitas barras de chocolate que carregava consigo. Os olhos de Near mantinham-se atentos a cada movimento, e Mello até mesmo conseguiu ver um pouco de surpresa quando partiu a barra ao meio e jogou o chocolate sobre a mesa.

— Come. Vamos, não tenho o dia todo! Come logo e volta a prestar atenção - resmungou.

Near pegou o chocolate, indiferente aos olhos do outro, contudo, isso era porque Mello não conseguia sentir o coração dele batendo forte, não conseguia ler seus pensamentos eufóricos, não sabia o quanto o gosto de chocolate pareceu mil vezes melhor apenas por ter sido compartilhado, por ser Mello quem lhe dava.

Near comeu devagar, Mello voltou a apoiar-se para lhe explicar a matéria, e Near aproveitou que o doce escondia seus lábios para sorrir discretamente. Se fechasse os olhos, poderia imaginar-se puxando o outro para um abraço, sentiria o calor dele, as roupas incômodas cheias de acessórios que Mello agora usava, o perfume cítrico que o chocolate impedia as pessoas de sentirem a menos que estivessem perto o suficiente dele... Se fechasse os olhos, poderia sonhar...

Estava deixando as emoções lhe dominarem, não devia fazer isso, o mundo exigia que fosse racional, que deixasse para trás tudo o que poderia vir a lhe prejudicar, mas... Mello também? Não queria abrir mão dele, sentia com toda a sua alma que não podia se afastar por completo de Mello assim como sabia que esse sentimento era recíproco. Mesmo que fosse para ser o alvo do ódio de Mello, mesmo que só servisse para incentivá-lo, Near sabia que ele também não conseguia se afastar completamente de si. Aliás, não era por isso que ele estava ali, ajudando-o? Mello era e sempre seria uma contradição...

Anotou o que ele falava sobre a matéria, sentia a mão dele em suas costas, o mais próximo de carinho que iria receber, e escondeu a melancolia em seu olhar quando percebeu mais uma vez a atenção de Matt sobre si. Será que nem ficar triste ele podia mais?!

Não era idiota, não era burro, sua lógica e seu raciocínio eram afiados e, apesar de não demonstrar seus sentimentos com frequência e preferir escondê-los, sabia bem classificá-los. Amava Mello, era um fato, uma verdade. Não era correspondido e, se fosse, não havia futuro para eles, outro fato, outra verdade. Talvez fossem essas constatações que o tinham feito saudosista, querendo de novo o que na infância possuíam...

Quis chorar... Enquanto a voz calma, estranhamente suave, de Mello explicava sobre a história e os pontos importantes, Near quis apenas fechar os olhos e ignorar a garganta ardendo. Estava mais sentimental do que de costume, queria culpar o tempo, a época do ano, qualquer coisa!, mas a culpa era unicamente sua por ter percebido que não venceria aquela guerra, nunca teria Mello para si, mesmo o querendo mais do que qualquer coisa, mais do que assumir o posto de L.

— Hey, você tá chorando? — Mello se sobressaltou, assustado.

As lágrimas caíam em silêncio, sem que Near as tivesse percebido, e agora ele as tocava em espanto enquanto Mello girava sua cadeira e se abaixava na sua altura.

— Você tá mal? Eu perguntei se você estava bem antes? Por que não falou droga?! —  Mello exasperou-se, as mãos limpando as lágrimas de Near com a falta de delicadeza que lhe era característica.

Near o observou, a preocupação dele era tão bonita... Apertou a calça, as mãos fechadas e trêmulas se estenderam com hesitação para frente, puxando a camisa que Mello vestia.

Mello piscou sem entender, e o choque não permitiu que raciocinasse e compreendesse que Near o puxava para um abraço. Na sala, só havia eles dois e Matt, e Mello olhou para o amigo carteiras à frente em busca de explicações, mas Matt apenas suspirou como se nada novo estivesse acontecendo e voltou a jogar seu videogame portátil.

A cabeça de Near tocou o peito de Mello, as mãos mantiveram-se firmes na camisa dele. Mello ajeitou-se, abaixando-se de forma automática para que ficasse confortável enquanto uma das mãos envolvia as costas de Near e a outra se infiltrava entre os fios brancos e macios do cabelo dele.

O perfume cítrico estava ali, como Near sabia que estaria, as mãos de Mello eram quentes mesmo, e os acessórios na roupa dele o incomodavam um pouco, mas estava sendo abraçado, Mello não o tinha rejeitado e o coração acelerado que Near conseguia sentir o denunciava: Mello não o afastaria, pelo menos não antes de se acalmar primeiro.

Em silêncio, como se estabelecessem uma trégua muda, Mello o puxou para o chão sem soltá-lo do abraço, acomodou-o em si e fez questão de manter-lhe o rosto escondido em seu pescoço, afinal, Near estava chorando e ninguém além dele podia ver o rival naquele estado.

Os dedos brincavam com as mechas do cabelo, enrolavam-nas, e Near suspirou com o carinho. O coração cobrou-lhe uma confissão, mas a razão foi rápida em calar-lhe. Declarar-se para Mello não mudaria nada, ou não!, até mudaria, mas para pior, não precisava ser um gênio para saber disso. Portanto, apenas fechou os olhos, chorou em silêncio no calor dos braços de quem amava, recebendo o pouco de afeto que tinha direito, e, quando o sinal do orfanato tocou avisando-lhes do horário, sorriu ao sentir Mello segurar-lhe com mais força.

Ergueu o rosto para olhá-lo, os olhos azuis tinham tanta intensidade, tantos sentimentos... enquanto a dificuldade de lê-lo estava na falta de emoções, Mello era difícil exatamente por possuir muitas, todas sempre fortes demais para se saber qual predominava. Esticou-se, com cuidado, e os lábios tocaram o rosto do outro com delicadeza e lentidão.

— Obrigado — sussurrou e preparou-se para se levantar, mas Mello o segurou ainda mais firme.

O barulho da cadeira se arrastando no chão chamou a atenção de Near, que viu Matt se levantar e caminhar até a porta da sala, fechando-a após sair.

— Idiota — Mello resmungou, e Near não soube se ele se referia a Matt ou a ele, e nem teve muito tempo para refletir quanto a isso porque, nos segundos seguintes, seus olhos só puderam se arregalar.

A mão de Mello havia deslizado de seu cabelo até o queixo, erguido-o em sua direção, e os lábios colaram-se aos seus. Firmes, sem medo, sem cuidado, uma decisão com certeza impensada e motivada, mais uma vez, apenas pela impetuosidade de Mello.

Era doce, mas, ao mesmo tempo, amargo, porque Near de repente entendeu que não era o único ciente de seus sentimentos e, além disso, porque os dois sabiam que aquilo não tinha como ir para frente, não enquanto fossem rivais, o orgulho de Mello nunca o deixaria aceitar apenas o segundo lugar, mesmo que fosse em prol do sentimento que nutriam um pelo outro.

Near beijou-o, sofregamente, querendo mostrar a ele que tinha sim sentimentos, que não era indiferente como muitos achavam, que não era um boneco sem emoções! Ao menos Mello tinha que saber a verdade, somente ele poderia saber sobre a intensidade dos sentimentos que mantinha escondidos, somente ele podia sentir seu coração acelerado a gritar o quanto o amava e suas lágrimas que denunciavam o quanto doía não ficarem juntos.

Mello resolveu não pensar, não adiantaria usar o cérebro quando era o coração que sangrava. Aquele era o momento certo, talvez o único que teriam para mostrar em silêncio o que sentiam e reafirmarem suas escolhas. Beijou Near como se nunca mais fossem ter essa chance, secou-lhe as lágrimas admirado por não ser ele a chorar embora a dor com certeza fosse compartilhada. Mas que merda! Por que Near tinha que desabar daquela forma? Por que não podiam seguir fingindo não saberem dos próprios sentimentos? Seria mais difícil agora, muito mais…

—  Seu idiota... —  sussurrou, irritado, os lábios colados aos de Near antes de os beijar de novo e de novo e de novo…

E Near não rebateu a ofensa, era mesmo um idiota, mas, pela primeira em toda sua vida, estava feliz pela idiotice, por ter aquele efêmero momento com Mello… Só lamentava que, como sempre, falhara em fazer Mello feliz, nada além de mais lágrimas resultaria daquela entrega e, ainda assim, o coração parecia quente, alheio a toda e qualquer preocupação.

De fato, apaixonar-se era a maior das idiotices, mas Near preferiu mentir mais uma vez, dessa vez para si mesmo. Entregou-se aos beijos, sussurrou rente aos lábios de Mello o que eles mais temiam ouvir e prometeu nunca contar as respostas que recebeu, ninguém saberia do desespero de Mello ao beijá-lo a cada confissão nem mesmo das lágrimas que enfim escorreram dos olhos azuis. Mergulharam-se um no outro e Near soube que, assim como ele enquanto aproveitavam aquele raro momento, Mello também estava fingindo que tudo ficaria bem...


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Notas finais do capítulo

Voltei ao fandom!! Aeee
Enfim! Gostaram?
Eu confesso que eu amo esse casal de paixão, sério, eles são tão fofos que meu coração derrete por eles ♥
Espero que tenham curtido!
Beijoss



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