Aria escrita por ju_mysczak


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Ideias? Sugestões? Críticas? :)



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Minhas mãos estão calejadas e dói segurar o lápis. Escrevo um pouco de cada vez, com longas pausas para me recuperar. Às vezes começo um parágrafo e logo me esqueço de qual era minha intenção inicial. Tenho muita sorte de Gigi estar aqui para me ajudar.

 

3.Conhecendo Mina

No dia seguinte eu enfiei os pés nas botas pretas, tentei arrumar o delineador quatro vezes até desistir e remover os olhos de panda, chamei o elevador e em menos de cinco minutos me encontrava no tubo. No ônibus eu tentava ler, mas a empolgação suprimia minha concentração.  

A loja era pequena, porém muito organizada. As roupas eram todas femininas e nada modernas. Todos os manequins usavam meias. Via de calças compridas e largas a saias que passavam do joelho. Era tudo muito bonito e elegante, porém como ela pretendia encontrar algo do meu estilo ali?

“Você veio!” Ela exclamou, surpresa. Incrédula, na verdade.

“Sim, você disse que me ajudaria a encontrar algo para mim.”

“Hum.” Ela teve que refletir por alguns instantes antes de responder. “Por que não começamos por esta arara? Tenho algumas camisas que combinam com você.”

Após cerca de meia hora provando camisas com rendas, laços, plissados, golas, ela pareceu se convencer de que a loja não tinha nada a ver com meus gostos, apesar de eu imaginá-la usando cada peça provada, o que me fascinava.  Mina sentou-se, sua assistente também desacreditada ofereceu-lhe água.

“Olhe, para ser sincera eu sequer imaginei que você viria. Você é bastante moderna, nada a ver com o que eu tenho aqui. Só posso te oferecer as camisas básicas de seda.”

“Levarei a azul. Mas por que me convidou para vir se sabia que não era meu estilo?” Ela me olhou profundamente.

“Apenas algo para falar no momento… E uma desculpa para te dar meu contato.” Mina disse, simplesmente, com um dar de ombros. “Vamos tomar um suco?”  Ela pareceu não perceber que eu me encontrava estática, tentando processar o que ela falara.

Mina flutuava sobre o chão e eu me sentia flutuando junto. Meus olhos quase nunca saíam dela, eu me encontrava hipnotizada pela beleza exótica e misteriosa da mulher. Mulher. Somos  ensinadas a invejar, desejar e odiar mulheres, todos nós. Por que será a surpresa então quando as coisas se misturam? Naquele momento, observando o corpo dela ondulando à minha frente, me olhando de soslaio, percebi que eu a desejava também. Queria tocá-la com as pontas de meus dedos e descobrir sua pele, assoprar seu pulso e observar a reação.

Cada uma pediu um suco e sentamos. Eu não tinha palavras naquele momento, algo parecia preso em minha garganta e por isso dei três goles do suco. Me senti de repente uma criança envergonhada, que deveria ser punida por ter pensamentos errados.

“Quanta sede!”  O sorriso dela parecia não ajudar, tão perfeito. “Quantos anos você tem?” “Vinte e dois.” “ Ah, me sinto velha agora. O que você gosta de fazer como hobbie?”

“O que você gosta de fazer como hobbie?” Quis saber antes; estava muito curiosa.

Ela ergueu as sobrancelhas, mas respondeu. “Gosto de pintar. Pintar mulheres e flores e mulheres com flores e mulheres de flores.” Ri de si mesma. “ E flores de mulheres!”

“Eu costumo caminhar bastante e escrever. Estou sempre escrevendo.”

A conversa continuou girando em torno de nossos gostos. Descobri que ela tinha uma gata, Luna, branca e peluda, que gostava de coisas vintage em tudo, que tinha uma irmã mais velha e que preferia Cole Porter e Hitchcock.

“Er… Por que queria falar comigo?” Tentei não soar rude, mas sim curiosa.

“Porque você não parava de me encarar no Peggy Sue e porque te achei interessante.” Ela explicou com a mesma simplicidade com que parecia viver. Eu dei mais um gole, aérea. “Gabriela.” A olhei, assustada. Realmente não estava em meu melhor, mas queria dar toda a minha atenção a ela. “Você sabe por que falei com você, certo?” Sim, eu sabia. Ou queria saber e, naquele momento, eu queria mais do que tudo saber que eu estava certa.

“Acho que sim.” Respondi, tímida, dando outro gole no suco para evitar falar mais. Ela sorriu enquanto balançava a cabeça. “ Parece mesmo que sim. Você tem meu número, me mande uma mensagem mais tarde; agora eu tenho que voltar a trabalhar.” Ela se levantou, ainda com um sorriso de canto, e acenou. Conseguia ouvir o leve bater dos saltos no chão enquanto ela se afastava, lentamente, mas rápido demais.

Voltar para casa foi automático, fui o caminho todo pensando nela, a moça que eu mal conhecia, mas parecia roubar toda a minha consciência. Horas depois reparei que o troco da passagem estava errado.


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