Alomorfia escrita por Silenciosa


Capítulo 3
Capítulo 2-Serenidade




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/762229/chapter/3

(Povs Rose)

04:25 AM-Acordo. Minha visão embaçada se ajeita depois que eu pisco algumas vezes. Eu me lembro muito bem do que aconteceu.

Fico indignada com minha burrice,pra que diabos eu fui perseguir um lobo?

Minhas mãos estão tremendo muito,minhas veias azuis se encontram visíveis em meus pulsos,braços e mãos. Sinto um desconforto no pescoço,seguido por uma ardência infeliz.

Olho para todo o lugar;nenhum sinal de vida. A não ser Max deitado em uma das poltronas,dando um suspiro e se ajeitando na mesma enquanto está adormecido com serenidade. Estou em uma  maca de hospital,apenas penso na máscara de oxigênio sobre meu rosto e o ar condicionado e frio que fazia-me bater os dentes e me arrepiar.

Tudo estava confuso. Foi apenas uma pequena pancada. E eu estou me sentindo forte. Na verdade,forte demais. É inexplicável e talvez um pouco cômico para mim,eu nunca me senti assim antes.

O som do silêncio reina no cômodo. Tudo oque eu quero agora é voltar pra casa,abraçar Max e dizer que foi tudo um mal-entendido. Eu apenas pensava em como Paige tinha razão,em como eu fui burra em não acreditar nas palavras da minha melhor amiga e deixar a minha própria voz falar por ela.

Eu tenho que concertar isto.

Talvez,se eu não estivesse tão nervosa,não teria perseguido aquele pobre lobo. Desde pequena tenho essa mania de perseguir outros seres quando não estou com a cabeça fria,isto é um defeito meu.

Minha barriga protestava por alimento. Senti meus lábios ressecados quando os umedeci.

Logo menos,sinto olhos sobre mim. Ao olhar para a direção de Max,vi seus olhos amarelos e perturbadoramente brilhantes sobre mim.

Os olhos dele estão brilhando... Acesos! Como uma lanterna! Eles brilham no escuro!

Pisco algumas vezes e me ajeito na maca. Ele levanta uma das sobrancelhas sem discernir meus pensamentos.

— Rose. Parece que alguém acordou cedo. - Sorri. Eu balanço a cabeça pensando que aquilo poderia ser um sonho. Ou um pesadelo. Depende da maneira em que enxergo a situação.

— Você está aqui... Agora! A essa hora! - Gritei com minha frustração visível. - Por que não saiu sem mais nem menos como em todas as vezes que ficamos juntos?

Max ficou mudo. Ele franziu a testa sem alterar sua expressão tranquila.

— Tem uma coisa que eu preciso te contar,Rose. - Começou sem o mínimo esforço para ficar calmo. E eu estava uma pilha de nervos.

— Diga. - Murmurei cruzando os braços sem olhar para ele.

— Talvez você ache estranho e diga que estou mentindo. Ou até queira acabar com nosso relacionamento.

— Tem outra? - Interrompi bufando. Ele soltou uma gargalhada alta.

— Não tem outra. Lobos são fieis e leais a suas parceiras.

Eu pisco algumas vezes. Max estava me encarando fixamente.

— Lobos? Fieis e leais? Lobos? - Levantei uma das sobrancelhas. Max ri charmosamente e eu me ajeito na maca.

— Sim. Eu sou um lobo. E agora você também. - Diz se levantando e se aproximando de mim.

— O que? - Indaguei passando a mão no pescoço,sentindo uma certa ardência nele depois. Nesse momento,o sol nasce lá fora. O amanhecer reina sobre o cômodo enquanto eu o contemplava.

Meus olhos queimaram quando olhei para a janela branca que,ao seu lado,havia uma rosa azul. Max ficou olhando para a luz do sol enquanto lacrimejava por ela ser forte e não estar acostumado a dias pelos dias de chuva que tivemos recentemente.

— Eu quero ir pra casa. - Afirmei e voltei meus olhos para ele. - Me leva embora.

— Eu não posso fazer isso. Além de ser expulso do hospital,eles pegariam você de novo.

— Eu estava brincando! - Cutuquei fazendo careta.

— Eu também estava,querida. Mas não estava brincando quando disse que você é um lobo. - Afirma sério,fazendo-me ter calafrios.

— Isso é loucura. - Murmurei.

— Acredite se quiser. - Piscou,indo em direção da porta e saindo depois.

Cretino! Não sei como ele acha que irei acreditar em uma mentira dessas. Lobos tem os genes altamente incompatíveis com os dos humanos. E essas coisas não existem,o rapaz com toda certeza estava brincando comigo.

E eu tenho como provar.

Após levar alta,liguei para Paige. Ela me convidou para ir ao parque,mas eu não aceitei pelo fato de não querer sair de casa,mas ela me convenceu a ir tomar café. Eu me sentia pior depois que saí do hospital,minha dor de cabeça só piorava a cada dia.

— Tente beber um café. Alena me disse que sempre quando a Jayde ou o Max ficam com dor,o café sempre ajuda. - Supôs bebericando a xícara. A cafeteria estava com várias pessoas conversando e comendo doces e coisas mais gostosas e quentes. Naqueles dias,a chuva de primavera vinha com frequência e consequentemente ficara frio.

Eu estava sentindo mais frio que o normal.

— Não me fale sobre o Max. Ele é um megero e mentiroso. - Grunhi mexendo a xícara azul. Paige me olhou sem entender muito bem o motivo disso.

— Por que ele é um mentiroso? Ele fez alguma coisa que faça você pensar isso?

— Ele disse que era um lobo. E que agora eu também era. - Reclamei sem a olhar nos olhos. Paige paralisou.

— Bom... Er... - Olhou para o relógio procurando algo. - Olha a hora! Já estou indo. Espero que você melhore,Rose.

 A garota saiu sem explicar nada,mesmo que eu chamasse pelo seu nome depois. Fiquei sozinha e fechei meus olhos,contando até 10 mentalmente.

1... 2... 3... 4... 5...

5...

Minha cabeça não deixa eu continuar. Parece algo prendendo e colocando limites aos meus pensamentos.

De repente,senti um cheiro bom. Na verdade,vários de uma única vez.

E os sons não passavam despercebidos,meu cérebro não discernia o som de cada automóvel e zumbido que meus ouvidos decifravam,dentro de mim estava a agonia em sentir tudo numa única vez.

Eu estava começando a sentir uma imensa vontade de correr. Me sentia estranhamente presa,incapaz de ficar naquele lugar,desafiadora,anti-cautelosa.

O vento soprava suave,fazendo meus cabelos platinados voarem e se ajeitarem quando o sopro parava. Minhas orelhas estavam geladas e meus olhos quase se fechando pela fumaça do cigarro que vinha da mulher ao lado,fazendo-me lacrimejar e suspirar. O que sobrou depois foi tosse.

Com um certo incômodo,saio da cafeteria. A adrenalina  estava presente em minhas veias,fazendo eu necessitar por diversão e querer fugir das ruas poluídas da Rússia. As coisas estavam ficando embaçadas no meu campo de visão por conta da agonia dos motores,buzinas e pessoas fazendo propagandas com folhetos nas calçadas.

No transporte público,senti agonia por estar com várias pessoas trancando meu ar. Em casa,me senti aliviada porém presa por ter que ficar ali o resto do dia.

Calma garota. Tenha calma. Vai ficar tudo bem,é apenas uma fase.

Borboletas passam por momentos difíceis antes de realizar sua metamorfose. Eu acredito que esse anseio por liberdade seja uma fase antes de mim finalmente sair do casulo.

A melhor amiga cheia de segredos,um namorado que te faz de trouxa e se achar burra por correr atrás de um animal selvagem não me faz bem. Eu precisava de um momento longe de minha vida pessoal,social e amorosa.

Amanhã é um novo dia. Tenho que fazer algo que seja fora de meu cotidiano.

 

 

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Boa leitura!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Alomorfia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.