Uma noite escrita por Another weird writer
Os gritos pareciam música aos seus ouvidos. Ele limpou os últimos vestígios do material plástico, barato e elástico de balões de festa que cismava em estagnar nos tecidos de sua roupa improvisada. Lambeu a lâmina da faca sem se importar com o sabor doce e gélido, recompensa de suas travessuras.
Sua voz era esganiçada tão quanto seu riso, embriagado de hélio.
A noite estava no fim, álgida; silenciosa.
Parado em frente ao espelho, ele começou o ritual do antagônico: rasgou suas bochechas em loucura, desgosto; quase um pedido de socorro. Se sentia sujo, impuro, julgado sobre os olhos da lagarta azul que baforava o velho incenso de mirra. Afagou as olheiras profundas e admirou seu trabalho: suas lindas rosas brancas tingidas do mais puro vermelho. Cada tom de uma pessoa diferente.
Ao se deitar em seu leito, ausente de qualquer emoção ou calor, lembrou-se das consultas ao psiquiatra. Os julgamentos que ele prometeras não fazer; falsário, hipócrita.
Lembrou-se também da blusa branca de mangas compridas, apertada, sufocante, agonizante - entretanto, aconchegante. Trazia consigo a dor e o conforto: memórias da insegurança e de suas companhias duvidosas.
No apogeu de suas memórias visualizou os papéis bagunçados sobre a mesa de marfim; anotações, prescrições, medicações.
Tudo se tornou embaçado com os berros estridentes de todas as sirenes que o aterrorizavam. Mais uma madrugada, enfim terminada.
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