Dusk Till Dawn escrita por dracromalfoy


Capítulo 20
Capítulo Vinte


Notas iniciais do capítulo

Olá!!
Quero pedir desculpas pelo capítulo longo, mas não tinha como separar. Espero que gostem. Desculpa qualquer erro, eu revisei, mas sempre passa alguma coisa.



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DUSK TILL DAWN

Capítulo XX

 

Meus pensamentos estão totalmente desordenados no momento em que entro em casa. Tento organizá-los, desviá-los para outro lugar, mas simplesmente não consigo para de pensar que apenas hoje encontrei James Potter, conversei com ele por horas num bar que costumávamos frequentar dez anos atrás e, ainda, dei meu celular para ele, com esperança de que ele realmente me ligasse.

Penso imediatamente que não era para ser assim, as coisas não deviam ter tomado esse rumo. Eu superei James, me apaixonei de novo, me casei com outra pessoa. James é meu passado, nada além disso. Talvez eu esteja eufórica assim porque vivi muitas coisas com ele, talvez eu ainda esteja emocionalmente instável para saber o que estou sentindo de verdade.

Já se passaram anos, você não devia estar emocionalmente estável, penso comigo mesma. Mas e se eu estiver? E se eu estiver apenas projetando expectativas em cima disso tudo quando na verdade não tenho nem forças para seguir em frente e voltar para minha casa? Além do mais, Hogsmeade não é mais minha casa, pensar em qualquer coisa que possa acontecer envolvendo essa cidade e um antigo amor de anos atrás é inviável, está fora de questão.

Isso não faz com que eu pare de pensar sobre tudo que aconteceu e a forma como me afetou.

James se casou mesmo com Emmeline, eu cheguei a pensar que não iria pra frente aquele lance dos dois, até mesmo pela forma como ela parecia aceitar tão pouco da parte dele, naquela época. Entretanto, no final eles realmente acabaram se casando e ficaram juntos por bastante tempo. Mesmo que estejam se divorciando, ainda assim eles devem ter vivido muitas coisas juntos, passado por coisas que não consigo nem imaginar, assim como eu vivi com Amos. Me pergunto se eles tiveram filhos, será que James mencionaria para mim caso tivessem? Acredito que não, já que ele ficou bem relutante em até mesmo falar sobre ela quando eu questionei. E também James sempre quisera filhos, caso tivesse, ele talvez fosse se mostrar mais entusiasmado para falar sobre eles, assim como eu teria feito caso meus planos tivessem saído como deveriam.

A verdade é que Amos e eu sempre falamos sobre ter filhos, era um plano que eu realmente queria para nossa vida, mas que acabou que não tivemos tempo. Penso se James também não teve tempo, será que o casamento acabou antes que planejassem isso? Ou será que Emmeline não queria filhos? Ela nunca me pareceu alguém que almejasse ser mãe, mas também, mesmo antes, nunca me pareceu alguém que almejasse um relacionamento sério, imagine um casamento de anos!

Entro em casa em silêncio, esperando encontrar tudo escuro e silencioso, mas assim que abro a porta, encontro minha mãe sentada no sofá da sala assistindo televisão pacientemente, como se já não fosse tão tarde – e ela nunca dorme tarde.

— Pra quem só ia comprar um presente, você até que demorou bastante. — Comenta ela, abaixando o volume da TV e me encarando. — Tudo certo?

— Eu encontrei James. — Conto, sentando-me ao lado dela. Não sabia se iria abordar esse assunto com ela, mas quando vejo já estou falando. Sua expressão não muda, como se aquilo fosse algo tão banal e cotidiano. — Ele na verdade é dono dessa loja que a senhora me falou. — Ela balança a cabeça e estreita os olhos. — Ele não mudou em nada, né?

— Eu não saberia dizer, não o vejo há muito tempo. — Diz ela, encostando-se no sofá e olhando num ponto fixo à sua frente. — Vocês conversaram?

— Ah, sim. Nós bebemos juntos, ele me trouxe até aqui.

Minha mãe volta a sentar ereta e me encara com uma expressão engraçada que, inicialmente, não consigo decifrar.

— Isso é muito mais do que eu esperava! E então? Sobre o que conversaram?

— Sobre nada demais. — Minto, porque para mim conversamos de forma mais íntima do que eu esperava. — Ele me contou sobre a cidade, nossos antigos amigos. Foi isso.

— Ele ainda está casado com aquela Emmeline? — Questiona ela, num tom quase desagradável.

— Estão se divorciando.

Ela até tenta disfarçar, mas eu percebo um sorriso a traindo e dançando sob seus lábios.

— Eu sabia. Ouvi alguns boatos, mas não sabia se eram verdadeiros. — Ela conta,  balançando a cabeça. — Eu achei mesmo que eles não combinavam muito, Emmeline tem um gênio muito forte, pelo menos na época que a conheci. E James, bem, você o conhece...

— Conhecia. — Corrijo na mesma hora. — Se passaram dez anos, mãe. O James que eu conheci era um adolescente.

— Não pense que ele mudou muito, ainda é o mesmo doce rapaz de sempre. Um amor de pessoa, gentil, cuidadoso, prestativo.

— Para quem não o vê há tanto tempo a senhora sabe bastante a respeito dele, né? — Minha mãe crispa os lábios e não responde nada, voltando a atenção para a TV que ainda está ligada num filme antigo. — Vou dormir então, boa noite.

— Boa noite, querida.

Eu até tento dormir, mas minha cabeça continua desperta com mil coisas se passando nela. Será que James vai me ligar mesmo em algum momento? E o que vai acontecer? Vamos conversar mais sobre as pessoas de Hogsmeade, contar sobre como foi nossas vidas durante os anos que se passaram e depois o que? Será que tem um depois? Ou será que eu vou finalmente entender que tenho que voltar para a minha casa em Nova York e seguir com a minha vida da forma como Amos tinha dito que eu deveria fazer? Até porque eu prometera a ele que iria seguir em frente, então o que eu estava fazendo acordada numa madrugada em Hogsmeade pensando sobre o passado? Pensando em James que, até ontem, era uma figura inalcançável e agora está em meus pensamentos? 

Eram muitas perguntas sem respostas certas, sem meios de chegar a uma conclusão concreta. Eu preciso parar de pensar nisso e apenas deixar as coisas acontecerem, porque planejar demais tem me tirado do sério e eu não aguento mais ficar nessa pressão de saber cada passo que devo dar de cada vez.

Pego meu celular e fico encarando a tela até adormecer.

&

Duas semanas se passaram, Marlene chegou aqui ontem à noite e agora estamos sentadas no chão com Henry, que está atento na TV assistindo um desenho. Ela está diferente, não de um jeito ruim, continua a mesma Marlene de sempre, mas cortou o cabelo na altura do queixo e parece mais bronzeada. Henry cresceu muito nos últimos meses, está lindo.

Eu havia dito para Marlene que seria um prazer acomodá-los em casa, pois tínhamos um quarto vazio onde ela poderia dormir com Henry, mas ele insistiu que ficaria num hotel mesmo.

Estou contatando para ela sobre os últimos meses, mas a verdade é que não tenho quase nada para falar. Tirando a padaria que cresceu bastante e tem tido cada vez mais clientes, não sobra nada de interessante para eu falar. Ela me fala sobre Mary, sobre Henry e sobre coisas que aconteceram nos últimos meses, mas é um pouco entediante, porque sempre nos falamos no telefone, então ela acaba me contando tudo que já havia contado em algum momento.

Henry está concentrado na TV, então nem presta atenção quando eu acaricio seu cabelo e o elogio, dizendo que está um menino grande e forte. Marlene sorri e me lança um olhar empático. Sei que quer falar alguma coisa, mas provavelmente está ponderando sobre como abordar o assunto.

— O que tem feito além da padaria? — Ela questiona, mudando sua posição e encostando-se no sofá, deixando as pernas esticarem-se. — Tem estudado? Se atualizado para voltar a ativa?

Marlene acha que eu devo voltar a estudar até me sentir confiante para voltar a advogar. Eu não sei se realmente quero fazer isso, se conseguiria voltar a ser advogada, mas ela também não sabe sobre essa minha insegurança, porque todas as vezes que falamos nisso, eu dou a entender que é isso que vou fazer em breve. Gostaria que ela não falasse tanto nesse assunto.

— Tenho lido algumas coisas. — Minto, ainda com as mãos nos cabelos de Henry. — Mas ainda não sei quando volto para Nova York. Gosto daqui.

— O mercado não vai te esperar para sempre, Lily. — Ela diz sutilmente, me encarando. — Eu entendo que aqui seja confortável, com sua mãe e tudo mais, mas uma hora você precisa voltar para a realidade. Ou pelo menos decidir se é isso mesmo que você quer. Tudo bem se não quiser mais ser advogada, mas precisa tomar uma decisão, entende?

— Sei disso, só não quero pensar nisso agora. — Dou de ombros, ainda sem olhá-la. Sei que ela não faz por mal, apenas toca nesse assunto porque se preocupa comigo, mas quero mudar de assunto a todo custo sempre que falamos sobre isso. — Ficar aqui também seria uma decisão, em todo caso. Eu tenho dinheiro para continuar assim.

Marlene olha para o outro lado, mas se mantém em silêncio. Não sei o que isso quer dizer, mas é verdade, de qualquer forma. O dinheiro que recebi de Amos é suficiente para eu continuar com essa vida. No começo, eu odiava saber disso, porque não queria aquele dinheiro, não queria aqueles bens. Tentei convencer os Diggory a ficar com tudo, mas no fim eles não quiseram nada, pois disseram que essa era a vontade do filho. Me pergunto se Marlene me julga por estar vivendo com aquele dinheiro ao invés de trabalhar como eu fazia antes, mas não acho que esse seja o caso.

— Quero levar Henry a um lugar mais tarde. — Digo para aliviar as coisas. Marlene me olha novamente e concorda com a cabeça. — Acho que ele vai gostar.

Penso na Zonko’s e em como tenho certeza que Henry irá amar o lugar. James não me ligou nessas duas semanas que se passaram, não sei o motivo. De repente ele não queria ter contato comigo desde o início e eu apenas forcei as coisas, mas também não acredito nessa hipótese. Não quero pensar que estou usando meu afilhado apenas para vê-lo novamente, mas essa é a sensação que sinto quando percebo que estou torcendo para que ele esteja na loja.

— Onde é? — Pergunta Marlene.

— No Shopping. É um lugar para crianças, onde comprei os presentes. Acho que ele vai gostar.

Eu havia contado para Marlene sobre James. No começo, quando ela chegou, eu não achei que fosse uma boa ideia falar disso, mas sinceramente, ela é minha melhor amiga, não há nada no mundo que eu não conte para ela. Em todo caso, ela apenas comentou sobre como era engraçado que eu o tivesse encontrado depois de tantos anos e, depois, mudamos de assunto. Eu omiti a parte que dei meu número a ele e torci tanto para que me ligasse.

A minha resposta parece chamar a atenção dela, porque ela franze o cenho e morde o interior da bochecha.

— É na loja do James.

Não é uma pergunta. Ela provavelmente relacionou as duas coisas agora. Eu mordo o lábios e faço que sim com a cabeça, olhando para Henry, porque não quero saber qual expressão ela tem agora.

— Lily — Ela me chama, com um tom brando. —, você não quer voltar para Nova York por causa de James Potter?

— De onde você tirou isso? — Pergunto levemente indignada.

— Só estou perguntando.

— Eu vi James uma única vez, que foi quando contei a você, James não tem nada a ver com a minha decisão de continuar aqui por enquanto. Eu não decidi ainda, lembra?

— Só estou perguntando porque achei que você estava me escondendo algo. — Ela se justifica, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. — Como se eu fosse te julgar, ou algo assim. Se esse fosse o caso, e ele tivesse alguma coisa a ver com essa sua indecisão... — Ela faz uma pausa, depois continua: — Só quero que saiba que não precisaria esconder isso de mim, se fosse o caso. Eu iria te apoiar.

— Eu sei. — Sorrio e coloco minha mão sobre a sua que estão apoiada no chão. — Obrigada por isso, Lene.

Quando chega o momento de levar Henry para a Zonko’s, eu fico ainda mais nervosa. Eu sei que ele vai adorar, que vai se divertir muito e apenas por isso eu não desisto da ideia. Uma parte de mim quer muito que James esteja lá, mas a outra parte está tremendo de nervosismo.

São duas da tarde e está fazendo um calor agradável. Visto um short de algodão azul e uma camiseta branca. Henry está muito animado para ir e se despede de Marlene dizendo que irá contar tudo quando chegar. Marlene me lança um olhar que não consigo decifrar.

— Ligue quando for pra buscar. — Pede ela, na porta. — Ele vai ficar cansado demais para voltar andando.

O shopping não é tão longe da minha casa, então vamos andando e no caminho compro um sorvete para Henry, tomando cuidado para que ele não se suje antes de chegarmos. Demoramos um pouco para chegar, porque ele anda devagar, mas assim que ele vê a loja com luzes coloridas e aquele barulho de diversão, fica totalmente animado e quer logo entrar.

Logo na entrada, uma mulher que aparenta ter a minha idade vem em nossa direção e apresenta a loja, perguntando se queremos olhar as vitrines ou se “aventurar” nos brinquedos. Henry responde por mim, dando gritinhos e dizendo “brinquedos!”. Ela coloca uma pulseira vermelha de papel no pulso dele e eu pago o valor equivalente a uma hora de diversão.

— A Nicole vai acompanhá-lo durante esse tempo, você pode acompanhar também, mas precisa ficar atrás dessa linha azul o tempo todo, para não lotar demais a área dos brinquedos. — Explica ela, indicando a linha de tinta azul pintada no chão preto. — Caso queira dar uma volta no shopping enquanto ele está aqui, nós temos esse dispositivo — ela me entrega um retângulo azul com luzes piscando. — Assim que terminar o tempo dele, o dispositivo vibra para você vir buscá-lo.

— Obrigada, vou ficar por aqui mesmo.

Vejo Henry junto com um grupo de crianças mais ou menos da mesma idade ao redor de uma mesa que vibra e cheia de botões. Em frente tem uma TV, parece ser algum tipo de jogo, porque as crianças apertam os botões e as imagens no televisor mudam e piscam. Nicole parece estar explicando a ele como funciona e eu fico tão entretida com ele se divertindo e sorrindo que não noto quando alguém para ao meu lado.

— Então ele é o Henry? — Pergunta James Potter, parado ao meu lado.

— Em carne e osso. — Respondo.

Olho de soslaio para James, que está sorrindo para mim. Sou dominada por uma onda de descontentamento por vê-lo ali, porque me lembro de ficar duas semanas esperando por uma ligação que nunca veio e agora aqui está ele, sorrindo para mim de forma casual e cotidiana. Até mesmo esqueço que eu estivera ansiando tanto para vê-lo.

— Eu ia te ligar. — Começa ele. Eu estou olhando para Henry ainda, que claramente esqueceu completamente que estou aqui e agora está indo em direção a uma mesa com outras três crianças. — Eu não te liguei porque...

— Esteve ocupado? — Completei, fingindo indiferença. Não vejo qual sua reação, mas ainda não o olho.

— Talvez um pouco.

— Mas você queria ligar?

James não responde imediatamente, então olho para ele, que parece ligeiramente nervoso e já não está mais com aquele sorriso nos lábios. Ele coloca as mãos no bolso e abaixa a cabeça.

— Todos os dias.

Não sei o que responder à isso. Sinto que qualquer coisa que eu diga não irá chegar perto dessa revelação. Também não sei se é totalmente verdade, até porque se ele queria ligar, por que não ligou?

— Pensei que seu interesse em me ver fosse se sobressair. — Digo sentindo minhas bochechas esquentarem e tenho certeza que estou corando, então torço para que ele não note.

— Tive esperanças que talvez você me ligasse. — Ele diz, mas não sei se está brincando. — Você tem meu número.

— Ah, James.

— Eu queria te ver sim. Desculpa não ter ligado.

Eu dou de ombros e olho para Henry, que está se divertindo à beça.

— Eu queria te ver também. — Confesso, engolindo em seco.

Da última vez que nos vimos, foi um encontro casual, falamos mais sobre os outros do que sobre nós. Não falamos sobre passado, acho que depois de tantos anos, o passado se tornou irrelevante. Está tudo bem querer estar aqui com ele? Está tudo bem gostar da sua companhia dessa forma?

— Bom, você está aqui agora. — Ele tomba a cabeça para o lado e eu sorrio. Ah, meu Deus, nós estamos flertando? — Podemos fazer alguma coisa depois que terminar aqui, o que me diz?

— Eu estou com Henry. — Digo mordendo a bochecha. Tenho certeza que peguei essa mania de Marlene. Olho para James e ele ainda me encara. Quero tocar seu rosto. — Mais tarde podemos sim.

— O que você quer fazer?

— Não sei. Você me diz. Nada muito... Público.

Não sei porque digo isso, já que dias atrás estávamos sentados num bar cheio de gente, mas hoje não sei se gostaria de repetir aquilo. Fico pensando na possibilidade das pessoas nos verem, mesmo que não haja motivos para eu me preocupar com isso.

— Podemos ir para minha casa, se não for estranho para você. — Sugere ele. — Cozinho para você.

— Muito gentil da sua parte.

Alguém chama James perto da entrada e ele me diz que já volta. Pede que, se não nos vermos até eu ir embora, para que eu ligue depois quando pudermos nos ver. Tem um brilho diferente no seu olhar, certa ansiedade, talvez. Eu volto a prestar atenção em Henry depois que James se vai, mas ainda sinto minhas mãos trêmulas. Não sei o que eu deveria ter feito, estava ansiando para vê-lo, então é correto dizer que estou no caminho certo, não é?

Decido que não vou pensar em Emmeline e no fato deles estarem se separando, não vou pensar em tudo que aconteceu dez anos antes e não vou pensar em Amos. Limpo minha mente e foco apenas no que quero fazer nesse momento.

&

Estou na casa de James.

Ele me passou seu endereço por mensagem e eu dirigi até aqui por volta das sete da noite, quando Marlene e Henry já tinham ido embora. Não disse a ela que viria aqui, minha mãe não me fez perguntas quando eu saí.

Assim que cheguei, perguntei onde era o banheiro e agora estou me olhando no espelho, como se o meu reflexo fosse me dar todas as respostas para as minhas perguntas.

Saio do banheiro e estou indo em direção a sala quando ouço a porta se abrir e uma voz feminina chamar pelo nome de James.

Reconheço aquela voz imediatamente.

Mesmo anos se passando, eu ainda acho que reconheceria a voz de cada pessoa que fez parte do meu passado, Emmeline Vance, inclusa. Emmeline Potter, corrijo-me com certo incômodo, pelo menos por enquanto.

James está na sala e sabe que estou aqui, então eu espero que ele não me chame ou que faça algo para Emmeline não me veja. A última coisa que preciso nesse momento é ter que explicar o motivo de eu estar ali com seu ex-marido, depois de tantos anos. Fico parada no corredor, sem saber o que fazer. Se eu voltar para o banheiro, vou fazer barulho, para ir até a cozinha, tenho que passar pela sala, tem duas portas no corredor, mas talvez estejam trancadas e, novamente, eu faria muito barulho e poderia atrair a atenção de Emmeline. Ela pode não se importar ou pode decidir verificar, por isso tento me lembrar de que aquela ainda deve ser a sua casa, mesmo que não esteja morando mais ali.

Começo a achar que tem algo estranho, porque eu sei que James estava na sala quando eu fui até o banheiro e, sendo assim, imagino que ele ainda esteja, a porta se abriu e Emmeline chamou seu nome, mas eles estão em silêncio.

Abruptamente, me assusto quando ouço a voz dela um pouco mais alta do que seria necessário por estarem os dois no mesmo cômodo.

— De quem é essa bolsa? — Pergunta Emmeline. No mesmo momento praguejo contra mim mesma. É claro! Eu deixei a minha bolsa em cima do sofá! Obviamente, Emmeline notou que é uma bolsa feminina. — Quem está aqui, James?

Não consigo ouvir o que James responde, pois o único motivo de eu estar ouvindo Emmeline, é porque ela está claramente falando alto demais. Quero ouvir sua resposta, mas temo que se me aproximar mais, serei descoberta.

— Eu só vim pegar algumas coisas, mas imagino que seria muito inconveniente entrar no quarto agora, não é? Quem eu encontraria se fosse lá, James? — Emmeline diz exasperada. — Eu mal saí de casa e você já está bem confortável trazendo uma vagabunda para dentro.

Sinto meu sangue ferver assim que ouço, talvez porque acabei de ser chamada de vagabunda ou talvez porque eu não ache certo o posicionamento que ela está tendo nesse momento.

James disse que ela saiu de casa faz um mês, então eles estão mesmo separados. Balanço a cabeça, lembrando-me de que fazia muitos anos que eu não o via e por isso não posso presumir que eu o conheço, sendo assim, ele pode ter mentido sobre aquilo. E se Emmeline estivesse apenas dando um tempo?

De qualquer forma, eu não devia me preocupar com isso, não é? James e eu não fizemos nada, apenas conversamos, jogamos sinuca e ele me ensinou alguns truques naqueles jogos que tem na sua loja, nada além disso. Assim que Emmeline for embora, eu poderei pensar a respeito do que estou ouvindo.

Eu ouço a porta bater com força, não consegui me concentrar em mais nada, então não sei se ela disse mais alguma coisa antes de ir embora. Arrisco espiar e a única pessoa que vejo é James com uma expressão de desagrado.

— Eu sinto muito por isso, Lily. — Diz assim que me vê encostada na parede. — Eu não sabia que ela viria aqui e... Droga, isso foi horrível, né?

— Eu não queria ouvir, mas ela parecia bem nervosa. — James ri nervosamente e enfia os dedos entre os fios de cabelo, suspirando. — Me desculpa, eu não deveria ter deixado a bolsa assim tão à mostra.

— Não, Lily, isso não faz sentido. Como você poderia saber? E também, ela não pode me cobrar nada, ela saiu de casa, estamos nos divorciando.

— Ela pode ter mudado de ideia.

— Bem, eu não mudei.

Ele me encara e eu não consigo manter o olhar, desvio para outro canto e me sinto desconfortável. Sei que não é culpa minha, mas ainda assim eu me sinto deslocada e como se estivesse me colocando entre os dois.

Pego-me pensando em Emmeline e em como éramos amigas. Esse único pensamento me faz perguntar:

— Você se lembra do que me disse da última que nós nos vimos, dez anos atrás?

James me olha surpreso, sua expressão um misto de confusão e nervosismo. Ele parece pensar um pouco antes de falar, como se escolhesse bem as palavras.

— Sim, me lembro.

— Você disse que faria com que nunca mais nos encontrássemos. — Digo, lembrando-me daquela noite e de como eu chorei depois, com Marlene me amparando sem nenhuma de nós tocar no assunto. — Você acredita em destino?

— Já não sei mais no que eu acredito, Lily.

— Bem, eu acredito. Ou pelo menos sou obrigada a acreditar que, já naquela noite, nossos destinos já estavam traçados. — Digo, cruzando as mãos na frente do meu corpo, porque elas estão tremendo.

— O que quer dizer com isso?

— Veja bem, naquela noite, Emmeline conversou comigo sobre você. Ela... Eu não me lembro muito bem de tudo que ela disse, mas eu lembro que ela parecia disposta a tentar algo com você. E parecia achar que eu estava ficando entre vocês dois, mesmo que involuntariamente.

— Eu não fazia ideia disso. — James diz, mostrando indignação.

— Vocês já estavam saindo, eu imagino. E, naquela época, se eu me lembro bem, eu estava saindo com um rapaz chamado Amos Diggory. — Sinto que minha voz falha e eu estou tentando não chorar. Meus olhos começam a arder e ameaçar lacrimejar assim que digo o nome de Amos, mas eu seguro as lágrimas e engulo em seco, engolindo o choro e tentando me manter firme, porque os olhos de James estão em mim e ele está atento. — No outro dia, naquele bar, por algum motivo, eu já sabia o nome que estava na sua aliança, mesmo antes de você me dizer. Eu sabia que você talvez estivesse casado e, se estivesse, era com ela.

— Imaginei que você soubesse.

— Pois é. E alguns anos depois daquela nossa última conversa, eu me casei com Amos. — Fecho os olhos e respiro fundo. Quando os abro, James ainda me olha e, pela sua expressão, não parece notar que estou me segurando tanto para não desabar ali mesmo. — Por isso falei de destino. Só é... Engraçado, não é? Talvez naquela época você não imaginasse que iria acabar se casando com Emmeline. Eu, pelo menos, não imaginava que iria me casar com... Com o Amos. Não se passava pela minha cabeça, mas o destino se encarregou disso.

— O que você acha que isso quer dizer?

— Não sei. — Respondo, balançando a cabeça. — Acho que nada. Foi só uma observação que fiz.

— Uma observação bastante profunda.

Dou risada e ele se aproxima um pouco. Minhas mãos continuam na frente do meu quadril e eu o vejo olhando para elas.

— Bom, você não está mais com sua aliança.

— Não, não estou. — Confirmo, colocando as mãos no bolso traseiro da minha calça.

— Vai me contar por que?

Quero mudar de assunto, porque seria mais fácil se fizesse, mas também quero dizer a verdade e, nesse impasse, não percebo que estou mais perto de James do que estava segundos antes.

— Amos faleceu — digo rapidamente, sem pensar muito a respeito porque sei que se pensar demais, vou desistir. —, ficou muito doente e faleceu antes de completarmos seis anos juntos, isso já faz quase dois anos. Minha mãe me trouxe de volta para Hogsmeade porque ficou preocupada com meu estado, mas não era para eu ficar tanto tempo, eu acho. — Olho para James e vejo que ele está prestando atenção em cada palavra que digo, sua expressão é paciente. — Acho que, no fim, me acomodei aqui. Nova York estava repleta de lembranças dolorosas demais.

Eu poderia me prender somente a verdade sobre o que aconteceu com Amos, mas falo sobre Nova York, por algum motivo. Talvez seja meu subconsciente se justificando com James, quando, na verdade, estou justificando mais a mim mesma.

— É compreensível. Eu sinto muito.

— Compreensível, sim. Recomendado? Talvez não muito. Eu deixei tudo para trás, minha carreira, meu escritório, minha casa. Eu sei que deveria retomar minha vida, seguir em frente, mas eu não... Eu não sei se sou capaz de voltar para aquilo tudo depois de tanto tempo. Fiquei todo esse tempo fora do mercado e... Acho que tenho medo de descobrir que não me encaixo mais.

— Tenho certeza que é completamente capaz. — Ele diz serenamente. Penso que está falando apenas para me encorajar, mas no fundo ele parece realmente sincero.

— Não sou mais a mesma, James.

— Suponho que não seja, mas nenhum de nós continuou o mesmo, não é? Determinação, inteligência, isso não se perde com o tempo, Lily. Se você chegou aonde chegou, tem plena capacidade de voltar de onde parou.

Olho para James e sinto algo dentro do peito que não sei descrever, talvez seja gratidão pelas palavras. Lembro-me das pequenas coisas que fizeram com que eu me apaixonasse por ele antes, essa era uma delas. Essa coisa de fazer com que eu sentisse que estava sempre no caminho certo ou que, de alguma forma, mudar meu pensamento para algo que fizesse bem, era sensato.

Ele está muito perto de mim e eu consigo sentir sua respiração no meu rosto, não sei bem como aconteceu, acho que eu me aproximei demais sem perceber. Noto que minhas mãos estão tocando a suas e meu primeiro instinto é me afastar, mas não consigo.  Subo o olhar até seus olhos e seus dedos passeiam nos meus cabelos, tirando alguns fios da minha face. Sigo no mesmo sentido, tocando seu rosto. Quando percebo, estou beijando-o.

— O que acha que o destino diria agora? — Pergunta James, roçando seus lábios no meu.

Preciso fazer um esforço excruciante para me afastar, para não beijá-lo novamente.

— Eu não deveria ter feito isso. — Digo. Suas mãos estão na minha cintura e sinto quando elas relaxam ao toque. Olho para James e sua expressão é parecida com decepção. — Isso é errado.

— Por que é errado? — Quando eu não respondo, James se afasta de mim e, instantaneamente sinto falta do seu calor. — Desculpa, Lily. Isso... O que eu disse foi insensível. Eu sinto muito pelo — ele pausa e desvia o olhar. — Amos. Sinto muito por isso.

Fico confusa inicialmente, mas então entendo pelo que ele está se desculpando. Não quero que ele diga que sente muito e não quero falar sobre Amos, porque só eu sei o quanto ainda dói.

James está bem aqui, na minha frente e, há poucos minutos, seus lábios estavam nos meus, como há dez anos. Não pareceu que o tempo havia passado quando eu o beijei e, pela primeira vez em anos, eu sinto aquele frio na barriga.

Isso só pode significar uma coisa.

E eu não espero minha mente processar isso antes beijá-lo de novo.

As minhas mãos vão diretamente para seus cabelos e James parece ler alguns segundos para entender o que estou fazendo, mas, quando entende, ele me puxa para mais perto e corresponde à altura do meu beijo.

 


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