Depois - Ernesto e Ema escrita por Anne Liack


Capítulo 1
Na cachoeira




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O sol já caíra, e a tarde já estava se tornando fria. Mas, ele parecia não sentir, algo nele o aquecia, o único frio que sentia era no estômago. Junto com aquela agitação deliciosa que sempre o acometia quando estava na presença dela. Mesmo que agora a tivesse um tanto afastada. Ela tinha seguido na frente enquanto ele procurara um lugar para o cavalo pastar. Agora, a olhava a distancia... linda! Mesmo de costas... linda e delicada. O coração bateu mais forte, e um vento em sua direção que trouxe o cheiro doce dela o fez arrepiar-se. Observar não era mais suficiente.

 

Ema estava sentada numa das pedras das margens da cachoeira, o olhar perdido na cascata das águas, ele viu que ela tinha a ponta do nariz vermelho, assim como os olhos ainda lacrimosos. Sentou-se ao seu lado, abraçou as próprias pernas com os braços e passou a olhar na mesma direção que ela. 

 

Ela suspirou, fundo. O olhou brevemente, ele viu pelo canto dos olhos, depois deu um meio sorriso, triste. 

 

— Como você consegue? - perguntou ela. 

 

— O que?

 

Ela deu de ombros e balançou a cabeça negativamente. 

 

— Está aqui. Agora, depois de tudo.

 

Ele entendeu, como sempre entendia.

 

— Eu poderia dizer que não sei, Baronesinha. Mas, mentir nunca foi o meu forte. 

 

Ela o olhou.  

 

— E também, eu já lhe disse.  - encontrou os olhos dela. - Eu amo você. - disse com simplicidade e depois voltou a olhar a cachoeira. 

 

Ema engoliu a seco. Como era simples para ele! O coração dela tinha despencado para o estômago e ele, que tinha acabado de se declarar, parecia a pessoa mais tranquila do mundo. 

 

"Eu te amo tanto que não cabe no meu peito e sai pelos meus poros, pelos meus olhos e eu explodo." Ela lembrou-se da voz intensa dele lhe dizendo aquelas palavras;  a agitação que havia em seus olhos naquela noite. Agora porém, ele era a calma  em pessoa. 

 

— Ama... Eu... eu não entendo mais nada! - disse, os olhos querendo voltar a molhar-se.

 

Ele sorriu.

 

— Essa não é exatamente uma novidade! - a voz denunciava o riso; ela estreitou os olhos para ele. - Pelo menos em si tratando de sentimentos. Isso você tem que admitir, Baronesinha!

 

Ela bufou, derrotada. Ele riu um pouco mais, e a olhou; coração voltou a acelerar. Levou a mão até a bochecha dela, acarinhando levemente, então a viu tremer. 

 

— Frio? - perguntou a ela, que apenas assentiu com o olhar um tanto defensivo, e ele soube que não era bem frio que ela sentira. - Vem aqui mais perto. - ele estendeu o braço e ela não pareceu pensar duas vezes, aproximou-se mais dele e se aconchegou ali, em seu peito. Ernesto passou o braço pelo seus ombros e começou a afagar-lhe os cabelos. 

 

E ali Ema entendeu um pouco mais, ele era calmo, mas o ouvido dela sobre o peito dele ouvia o coração acelerado. Sorriu. Era controverso, porque agora era o coração dela que batia calmo. 

 

— O que não entende? - perguntou ele, depois de um tempo. 

 

Como explicaria o que não entendia?

 

— Tudo isso! Todos os sentimentos... Você tem razão, sou uma leiga nesse assunto. - admitiu, realmente parecendo frustrada. - Justamente eu...!

 

— Quem? A Ema Cavalcante? A maior casamenteira do Vale do Café? - ele beijou os cabelos dela. -É mais fácil quando é com os outros, Baronesinha. Simplesmente é mais fácil entender o sentimentos dos outros que os nossos. É bem mais fácil observar o amor do que senti-lo. 

 

Ela levantou os olhos para ele. 

 

Ele era lindo, não só na aparência que a fazia delirar em pensamentos nada descentes, fechou os olhos, e tentou concentrar-se; mas também era lindo em alma e sentimentos. Ele tinha razão, era mais rico que muitos nobres por ai.

 

Ela viu quando Ernesto a olhou, e estreitou os olhos parecendo pensar.

 

— Você disse que eu tenho razão? - perguntou ele.

 

Ela assustou-se, era só o que faltava ele poder ler seus pensamentos.

 

— O que?

 

— Você disse:" Você - tem - razão...  sou uma leiga nesse assunto." - ele repetiu e Ema sorriu revirando os olhos. - Estamos progredindo! 

 

— É que eu estou percebendo que sou mesmo. - ela deixou de olhá-lo, concentrou-se em observar sua mão que só agora percebeu desenhava círculos no ombro dele.  - Pensei que sabia os sentimentos que me acometiam... por você... por Jorge...

 

Ele sentiu a voz dela temerosa quando falou o nome do advogado. Mas, Ernesto não podia se zangar, a entendia, ou pelo menos entendia sua confusão. Fora difícil para ele admitir, mas forçou-se a entendê-la. Percebeu que realmente não era fácil para ela, toda aquela avalanche de acontecimentos e sensações tão de repente.

 

— E descobriu que não entende? - perguntou ele, a incentivando a continuar, e ficou feliz por sentir ela suspira aliviada. 

 

— Descobri que quando se trata de sentimentos não podemos rotulá-los taxativamente... eles mudam, são... 

 

— Inconstantes! - dissera os dois.

 

O uníssono, a fez sorrir.

 

— Talvez! - continuou ele. -  Alguns são inconstantes, mas eu diria que são mais para  variáveis.

 

Ela o olhou, e ele a olhou.

 

— Eu amo você. - disse ele novamente, a sentiu suspender a respiração. - Isso é imutável. Porém tem horas que quero matá-la e há outras que quero apenas beijá-la até a morte. - dessa vez ele a sentiu tremer e puxar o ar com força. - O mesmo sentimento: amor, porém com muitas variáveis.  

 

A ela só restou sorrir. Ele era um excelente professor. Pelo menos nesse sentido. Aconchegou-se com mais força ao abraço dele, sentindo o cheiro dele a tomar por completo.

 

O silencio quieto das águas fluindo e dos corações batendo, e apenas.

 

— Eu acho que nunca fui tão humilhada em toda minha vida. - ela disse depois de um tempo, as cenas de seu de noivado voltara a mente; ele novamente beijou-lhe os cabelos. 

 

— Queria tanto que você entendesse - ela o ouviu murmurar, tão baixo que teve certeza que só ouvira porque estava atenta a respiração dele.

 

— O que?

 

Ele esperou um pouco antes de dizer:

 

— Que a males que vem para o bem. - fez uma outra pausa. - Você que tanto se apegava ao destino, já deveria ter visto que aquele não era o seu. Não que eu acredite nessa baboseira de que estamos destinados. Ah, faça-me o favor, nós fazemos nosso próprio destino! - Ema sentia o corpo dele agitar com a intensidade de seus pensamentos, porém a voz continuava contida, ela admirava cada vez mais a vivacidade dele. - De que adianta termos uma vida se não podemos fazer nossas próprias escolhas, baseadas no que sentimos, no que queremos... Mas, para que você entenda, seguindo sua preciosa analogia: você estava lutando contra o seu destino, Baronesinha.

 

— E seguindo a sua? - ela se ouviu perguntar, curiosa; começando a perceber que a maneira dele pensar era mais atrativa que a sua.

 

— Estava fugindo do que sente - respondeu taxativo, e deu um meio sorriso, triste, ela percebeu. - Eu sei que se o doutor não tivesse comprometido você teria ficado com ele. - Ema sentiu a voz dele falhar, e sentiu uma forte dor em seu peito. Ernesto respirou fundo antes de continuar: - Você teria, pra você seria tão mais cômodo. 

 

Ela afastou-se dele, estava magoada e sinceramente não sabia por que.

 

— Não venha me dizer que fora tudo uma questão de conveniência - ele disse a olhando. - Porque não faz sentido, Ema. Então, ou você não ficou com Jorge por causa da noiva dele, ou porque estava confusa, e não tinha realmente certeza do que sentia. Não faria o menor sentido você dizer não ao pedido de casamento tão nobre que o homem que você ama lhe propôs. 

 

Ema não tinha o que falar. Não tinha como se defender, nem defender o que sentia por Jorge. Porque se o que sentia por Jorge era amor, não existia palavra para o que ela sentia por Ernesto. Paixão. Sim, paixão. Mas, ela sabia que não era só isso.  Saiu do sentimentos dela e entrou nos dele. A dor era visível em seus olhos e em sua voz ao falar do que ela sentia por Jorge, era a mesma dor que ela vira quando ele soube que ela se casaria com Edmundo. A mesma dor que ela vira quando disse que não o amava. A mesma dor que ela repetidas vezes infligia nele. 

 

Ele arriou o corpo para trás, deitando-se na pedra, e ficou mirando o céu. 

 

— Porque é muito mais fácil para você amar qualquer outro que amar a mim - completou ele depois de outro silencio.  Ela engoliu aquilo como algo realmente muito amargo na garganta. - E o pior de tudo, pior do que minha revolta em saber disso, é que eu a entendo. Não aceito. Não concordo. Mas, entendo. 

 

Ela deitou-se no peito dele. O que ela podia dizer? O que dizer? Ali era tão confortável, era como está em casa. E ele a entendia. Ele entendia a dor que ela infligia nele. Ele entendia que a amava, e mais que isso, mais do que ela própria, ele entendia que ela o amava.

 

— Você me ama, Baronesinha. - ele suspirou.

 

— Amo. - ela suspirou. 

 

Ela sentiu, ela sentiu o coração dele parar e bater. Um, dois segundos, depois voltou, acelerado como nunca antes. Temerosa, levantou a cabeça em direção a ele. Era o olhar mais lindo que ela já tinha recebido, surpreso, aliviado, brilhava intensamente, os olhos de Ernesto simplesmente sorria. 

 

— O que disse? - ele sussurrou.

 

Ela levantou o tórax, sentando-se, apoiando o corpo numa das mãos, o olhando de cima, bem fundo. 

 

— Disse que amo você! E estou dizendo que o que sinto por você nunca senti em toda minha vida! E que isso me assusta, muito! 

 

Ernesto, segurou os braços dela e inverteu as posições, a deitando, ficando ele a olhando de cima. Ema não assustou-se, do contrario, não parecia que suas costas estavam numa pedra e sim numa nuvem, enquanto olhava os olhos de Ernesto tão fundo que conseguia ver os pontinhos claros na retina escura. 

 

— E o que pretende fazer agora que descobriu isso? - ele perguntou e Ema viu que ele fazia muito esforço para controlar a voz.

 

— Eu já sabia! - confessou num sussurro. 

 

Ele sorriu.

 

— Eu sei! 

 

Ela deu uma risada encaradora. Acarinhou o rosto dele. Ele que ainda sorria, foi fechando os olhos com tal afago, a respiração ficando mais pesada. Porém Ema viu, de repente, a dor cruzar sua face, como um lampejo. 

 

— Eu não vou embora! - ela disse; viu ele abrir os olhos, assustado por um momento, depois um brilho intenso de esperança; adivinhou o pensamento dele, sorriu ao saber que também tinha a capacidade de lê-lo.

 

— O-o que? 

 

— Percebi que não posso mais te machucar, não sem machucar muito a mim mesma. - ela explicou. - Antes, eu não me importava em me machucar, agora, porém... não é justo com você.

 

— O que quer que faça, quero que faça por você. - ele acariciou-lhe o rosto. 

 

— Estarei fazendo por mim, não se preocupe. Aprendi um pouco de egoismo hoje! Eu quero ser feliz, e não por que eu mereço, mas porque a sensação é muito boa.

 

Ela inclinou cabeça e alcançou os lábios dele, roçando de leve nos dela, sentiu-se arrepiar. 

 

— Boa demais. - sussurrou ela, o sentiu estremecer e enfim, ele capturar sua boca. 

 

Ah, o beijo: intenso, suculento...

 

— O que faremos? - perguntou ela, rente aos lábios dele, quando precisou de ar. 

 

Ele a olhou, sorriu, e levantou-se. Ema sentiu frio naquele mesmo instante que o corpo dele se afastou do dela. Ele estendeu a mão para ela que esperou dois segundos para aceitar, ele a puxou levantando-a. 

 

— Lembra do precipício? - perguntou ele, ela assentiu. - Quer saber a sensação de pular? - Ema franziu o cenho para ele, confusa e temerosa. 

 

Engoliu em seco.

 

— Quero!

 

Ele sorriu. Entrelaçou os dedos no dela e pôs-se do seu lado, os olhos mergulhando nas águas do riacho. Ema entendeu. Respirou fundo, estava com frio, mas não se negaria a nada que ele quisesse lhe apresentar, já tinha visto o mundo dele uma vez, e apesar de ser ousado e de inicio desperta certo perigo, depois se tornava extremamente confortável.

 

— No três! - ele a visou. - Um... - ela espirou fundo, - dois... - apertou a mão dele com mais força - três! - sorriu e sentiu-se ser puxada. No outro instante não mais sentia os pés no chão, voou por um momento onde o coração disparou e em seguida sentiu o corpo ser tomado pela água por completo. Ele a segurou pela cintura no minuto seguinte. E ela reconheceu que acertara, o mundo dele era confortável quando se mergulhara nele, a água fria era apenas a da superfície onde o vento a tinha atingido, o interior do rio ainda se atinha morno, e com o corpo molhado grudado ao de Ernesto, frio foi a última coisa que ela sentiu. 

 

Ele a beijou novamente, e Deus! Como podia o beijo ficar ainda mais saboroso... Lembrou-se, mais suculento ainda! Mas, quente por causa do corpo submerso na água morna. Agarrou-se ao pescoço dele. Ernesto pareceu pensar o mesmo que ela, pois passou a língua lentamente por cima de seus lábios, como se saboreando, a fazendo arrepiar-se, lembrou-se das maçãs, o coração pegou fogo. 

 

Na leveza da água, cada gesto era delicado então mal sentiu quando suas pernas entrelaçaram com as dele. Só se deu conta do que fazia quando passeava sua panturrilha para cima e para baixo na extensão da dele. Ernesto voltara a beijá-la, firme e intensamente e nessa mesma intensidade desceu os beijos por seu pescoço. Talvez fosse água, mas ela sentiu que flutuava, o estômago se agitava implorando mais. Mais o que? Ela não sabia. Só sabia que estava gulosa naquele momentos, e arqueou involuntariamente o colo para ele, que atendeu, passou os beijos para lá. E Deus, aquecia-se ainda mais. A perna foi-se para a cintura dele, e naquele momento sentiu um choque em sua intimidade sendo pressionada por algo rijo, ele também pareceu sentir pois parou os beijos e a olhou por um momento. 

 

Ele arfava pesado. 

 

— Acho melhor voltamos - disse ele, a voz rouca indicando a contrariedade do que estava dizendo com o que ele realmente queria fazer. 

 

— Eu não quero voltar - ela disse, sem desviar os olhos do dele, Ema nunca tinha visto tão escurecido, e era muito convidativo.

 

Ernesto engoliu a seco.

 

— Ema... - ela não deixou que ele continuasse, tornou a beijá-lo, sugando seus lábios com sofreguidão. - Ema, - ele parou o beijo, e se surpreendeu com o próprio autocontrole por conseguir fazê-lo, encostou a testa na dela. - Meu amor, minha baronesinha... ela sapecou-lhe outro beijo. - Você precisa entender onde isso vai nos levar. - ela acariciava sua nuca, desceu e subiu a perna na dele novamente. - Não tenho tanto autocontrole quanto deve está imaginando. - ela beijou-lhe rápido novamente, parecia não ouvir o que ele dizia, perdida no próprio mundo de sensações que estava descobrindo. - Não esqueça que eu a amo, mas que também sou extremamente apaixonado por você. - ela finalmente abriu os olhos, e ali ele viu que não mais adiantaria falar nada, os olhos dela tinha um brilho intenso e descomunal, e acima de tudo, tinha uma certeza que o emocionou. 

 

— Eu não quero voltar. - ela repetiu, Ernesto pensou que fora a única frase que ela conseguira formular, porque simplesmente fora a última que ela havia usado. Mas, o desejo e a certeza que ele via em seus olhos...

 

Autocontrole tinha limites. 

 

Tornou a beijá-la. Esquecendo-se de tudo, só existia Ema e seus lábios, Ema e seu corpo, Ema e seu amor, e acima de tudo, Ema e sua paixão transbordando. Pensar mais em quê? 

 

Se amaram, lenta e loucamente. Tudo em outra proporção, tudo em outra medida. A paixão ardia e o amor tentava prolongar o momento, e aquele cabo de guerra dos sentimentos os deixavam mais loucos e sedentos. Os corpos molhados e grudados chegaram ao ápice juntos, como se fosse apenas um só. E como de fato se tornaram. Ema nunca esqueceria da sensação de sentir o ventre explodir e todo o corpo vibrar, fora assustador, mas extremamente prazeroso. E ela sabia que nunca se cansaria daquilo.

 

Passada a euforia da paixão e tomados pela paz do amor, estavam novamente deitados na pedra, apenas sentindo um ao outro. Ela tremeu e ele a apertou mais em seus braços.

 

— Agora é frio de verdade. - ela comentou, a voz risonha. 

 

Ele sorriu também. 

 

— Temos que ir - ele passava as mãos pelos braços dela tentando aquecê-la, querendo retardar aquele momento o máximo possível, mas sabia que era chegado a hora, anoitecera, estavam molhados e no meio da mata. A última coisa que queria nesse mundo era Ema doente. 

 

— Queria poder ficar a aqui para sempre! - ela suspirou. - Sem ter que enfrentar meu mundo. O seu é tão mais... aprazível. 

 

Ele deu um meio sorriso. 

 

— Mas, não pode fugir do seu para sempre. - Ela levantou a cabeça para olhá-lo. - Se você não se arrependeu - a voz dele falhou por um momento. - Eu vou está com você a todo momento enquanto você enfrenta os dragões de seus mundo, a ajudarei a prendê-los um a um. E depois prometo, a trago de volta ao meu mundo de amor, de paixão e de ... aprazividade! 

 

Ela sorriu alto, os olhos brilhando. 

 

— Me arrepender? De você? Ernesto, por mais que eu saiba que em muitas vezes terei vontade de matá-lo, como já tive inúmeras outras. Me arrepender de você é algo que nunca fiz e sei que nunca farei.  - ela pigarreou. - Mesmo quando doeu intensamente, nunca me arrependi, nunca!

 

Ele a beijou, e ela sentiu-se aquecida do frio. Levantaram-se e enquanto tomavam o caminho de volta através da penumbra da mata, algo a preocupou. 

 

— Quando nos casaremos? - perguntou.

 

Ele parou de supetão, virando-se pra ela. 

 

— O que? 

 

Ela alçou as sobrancelhas para ele. 

 

— Ah, eu... - ela continuava a encará-lo, esperando a resposta. - Agora mesmo! - ele olhou ao reder parecendo procurar algo. - Aqui... - ele murmurou, por fim, abaixou-se pegando a barra da saia dela, e com um movimento rápido rasgou um pedaço do tecido.

 

— Ernesto! - ela guinchou. - Isso é seda!

 

— Prefere sua preciosa seda a nosso casamento? -  ela estreitou os olhos.

 

— Mas o que diabos pensa que está fazendo? - peguntou, observando ele com maestria rasgar mais dois pedaços do tecido em sua mão, em tiras mais finas. 

 

— Dei-me sua mão esquerda. - ele pediu, e ela mais curiosa que brava estendeu a mão para ele, que  pigarreou e quando voltou a falar sua voz era solene - Srta Ema Cavalcante, minha baronesinha, meu amor com essa aliança, de fios de seda, a desposo, prometendo aqui, diante da lua brilhante, como uma testemunha fiel, que a amarei, cuidarei, protegerei para todo o sempre, ou pelo menos até meu último suspiro nessa bendita vida! 

 

Ema por um momento achou que ele estivesse troçando dela, mas a medita que ele falava a voz ficava mais forte e intensa, num determinado momento embargou-se, e então ela começou a sentir o coração bombeando forte em seu peito. Ernesto alcançou o seu dedo anelar e laçou-o com a tira de seda, amarrando-a delicadamente ali. Ema arfou. Ás lágrimas nos olhos já desciam pela face. Ele estendeu para ela a outra tira. Ela sorriu em meios ás lágrimas. Precisou respirar fundo varias vezes e pigarrear antes de começar a falar. 

 

— Ernesto Pricelli - ela começou e ele sorriu para ela. - Meu amor, minha paixão, maior loucura da minha vida. - eles sorriam. - Com essa linda aliança, que assassinara meu mais belo e caro vestido, eu feliz lhe tomo como marido. - ela pigarreou; a voz embargando. - E prometo com todo meu coração, aqui em meio ao nosso Vale do Café, diante da lua mais linda que eu já vira, que amarei o senhor pra todo sempre, que estarei sempre ao seu lado nas melhores horas e nas piores, nas brigas e nas reconciliações... eu sinto, que sempre o amarei.

 

Ernesto não esperou ela enlaçar a aliança em seu dedo, puxou-a pena nuca e lhe deu um beijo, avassalador. Quando se soltaram finalmente ela pôde colocar nele sua então "aliança". 

 

— Enfim, minha marida! - ele sussurrou e sorriram, mais feliz e divertidos impossível. 

 

Tomaram o caminho de volta, montaram no cavalo e Ema novamente se aconchegou aos braços de Ernesto sentindo-se flutuar enquanto ele os guiava a onde quer que fosse.

 

— Acho que nunca estive mais feliz em toda minha vida. - murmurou ela, em determinado momento. - Mas, escute-me... - Ema sentiu o corpo de Ernesto retesar. - Este sempre será nosso casamento de verdade, mas...

 

Ele sorriu, aliviado.

 

— Assim que chegarmos em São Paulo procurarei um padre. 

 

Ela sorriu, feliz por ele conseguir ler seus pensamentos. E que a vida os levasse para viver de amor, de paixão, brigas e de muita, muita felicidade!

 

 

 

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Eu realmente fiquei feliz e chocada com o resumo!!
Enfim, foi o que eu consegui fazer com a cena "vazada" do script!! Espero que tenham gostado e me digam qualquer coisa..

PS: Perdão por algum erro no texto, tive que postar pelo celular pois meu PC deu pau.

Beijo e até a próxima ❤