Chiquititas - Revenge escrita por Geovanna Danforth


Capítulo 22
Mama




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/762153/chapter/22

— Renatinha? Adriana?

Só então as meninas perceberam que ela estava ali à nossa frente e rapidamente levantaram sorrindo para cumprimenta-la.

— Mama! _ exclamou Renata _ Quanta saudade...

— Nem parece que se passaram todos esses anos, a senhora continua tão jovem... _ disse Adriana, sendo ela mesma como sempre.

— Nossa, como vocês estão lindas! Nunca pensei que as veria novamente, nem todas as crianças desejam ver pessoas dos orfanatos que frequentaram...

— Mas nós não somos como elas. _ falou Adriana com um sorriso, se ela fosse um pouquinho mais esperta seria como eu.

— Sente com a gente, por favor. _ pediu Renata.

Só quando Mama se acomodou em sua cadeira foi perceber que eu estava ali.

— Olá...

— Laureen. Prazer. _ falei estendendo minha mão. Ela segurou devolvendo o cumprimento.

— Mama. É amiga das meninas?

— Sim... _ concordei, mas fiquei indecisa sobre o que dizer. Não tinha conversado com as meninas sobre isso e ainda não confiava em Mama, precisava ter certeza de que ela poderia nos ajudar.

— Amiga de escola. _ interviu Adriana dando uma piscadela.

— E então Mama, como tem andado seu trabalho? _ perguntou Renata.

— Ah querida, me aposentei a uns três anos atrás. Apesar de que ainda realizo alguns trabalhos voluntários...

Bom coração ou Fachada Hipócrita?

Mama falava demais, ficou desabafando sobre sua vida, seus dois filhos, um dentista e outro soldado na aeronáutica, fiquei sabendo que ela era divorciada a bastante tempo e não queria saber de outros relacionamentos. Falou tanto de sua vida que eu sentia que podia escrever um livro sobre aquilo. E eu que estava à procura de confiança naquela mulher desconhecida pra mim entendi porque as meninas acreditavam tanto nela, ela era como uma mãe que nunca tivemos, enjoada, exigente mas toda ouvidos, faladeira sem dúvida mas que defenderia qualquer um que precisasse de sua ajuda.

CH

Mama ficou se queixando da longa viagem que fez e reclamou dos preços da alimentação do shopping, convencendo Renata a retornar pra sua casa e almoçarem juntas, mais tarde poderíamos nos encontrar pra tomar um chá, ela disse que tinha que ir à cidade vizinha antes de anoitecer, tinha conhecidos por lá e queria aproveitar a viagem.

Enquanto elas entravam num táxi, eu e Adriana acenávamos da calçada do shopping.

— Ela sempre foi muito próxima de Renata?

— Sim, eu era a mais revoltada e sempre vivia de castigo ou então armando planos com Tiago e Railsom, Renata vivia escondida e debaixo da saia dela.

— Ela parece ser bem compreensiva.

— E é. Sei que você não confia tão facilmente Laureen, mas garanto que se você contar pra ela quem é e o que procura, ela vai te ajudar. Eu lembro que ela enfrentou Soraya algumas vezes por causa de nós, por isso não ficou tanto tempo no orfanato.

Balancei a cabeça concordando, eu deveria realmente aproveitar tudo que Mama pudesse me dar, afinal eu não tinha tantas pessoas ao meu lado quanto Soraya parecia ter, afinal de contas, ela ainda permanecia intocável.

CH

Enquanto voltava pra casa de carona com Adriana meu celular tocou.

— Oi amor. _ falei.

— Oi minha linda, onde você está?

Adriana arqueou as sobrancelhas pra mim.

— Eu estou indo pra casa.

— Queria que você viesse num lugar aqui comigo.

— Aonde?

— É um restaurante, anota o endereço.

Enquanto eu anotava tudo Adriana tentava conter o sorriso.

— Os pombinhos vão almoçar juntos, é?

— Pelo visto sim. _ falei depois de desligar o telefone. _ Se nem um de nós faz uma comida digna, temos que pagar por uma... você pode me levar a esse lugar?

CH

O restaurante parecia aconchegante desde a entrada, tinha alguns vasos de plantas pendurados e bastante entradas de luz ambiente, era meio exótico mas ao mesmo tempo familiar. Tiago estava sentado em uma mesa perto da parede analisando o cardápio, assim que me aproximei ele ergueu o olhar e sorriu. Meu coração veio à boca e voltou. Shit.

CH

— Aquele professor me tira do sério, e sabe o que mais me revolta?

— O quê?

— Todo o conhecimento que ele possui não sendo compartilhado como deveria, por causa da ignorância dele.

— Realmente. Não aprendemos muitas coisas que poderiam ser fáceis por causa dos professores que temos.

— Sim, mas me conta de você, onde passou a manhã?

— Ah... fui ao shopping com as meninas.

— Fizeram muitas compras?

— Na verdade, só fui acompanha-las.

Permaneci com meu olhar no prato, Tiago parecia ler meus olhos.

— Tem alguma coisa que quer me contar?

E agora lia minha expressão corporal também. Aff.

Meneei a cabeça.

— O jeito que você sabe das coisas é...

— O quê? Estou certo?

O encarei.

— Desculpa. _ ele disse e deu de ombros.

— Mama veio visitar Renata.

— Mama?

— Sim, não lembra dela?

— Claro que lembro. Ficou algumas semanas no orfanato. Eu pensava que ela seria nossa nova diretora.

— E você gostava dela? _ falei e bebi um pouco de suco.

— Sim, ela parecia ser uma mulher correta no que fazia.

— Diferente de Soraya.

— Isso não vem ao caso. _ disse ele dando uma garfada no prato.

— Claro que vem, elas trabalharam juntas e por algum motivo, que não foi a incompetência de Mama, acabaram demitindo ela do cargo.

— Ela estava ali temporariamente.

— Mas não era essa a ideia inicial, acredito eu. Ela deve ter sido prejudicada também.

— Escuta aqui, você foi atrás de Mama pra encontrar provas contra Soraya?

Suspirei e coloquei uma bocada da comida deliciosa do restaurante na boca.

— Acho que não quero estragar nosso almoço, mas só quero que você tome cuidado. _ disse Tiago, calmamente.

Respirei fundo.

— Eu entendo. Não quero estragar nada também. Só odeio a forma como essa mulher interfere no nosso relacionamento.

— Eu só quero proteger você.

Fiquei sem palavras pra Tiago, mas apesar de ele me tirar do sério por tentar defender Soraya, eu entendia suas intenções, ele realmente parecia ter um pedaço do meu coração.

CH

— Você quer ir pra algum lugar? _ perguntou ele.

Estávamos no carro em um silêncio que reinava desde o restaurante, pelo menos não era desconfortável, quando éramos crianças tínhamos o costume de sentar juntos para desenhar e nenhum comentário era feito.

— Não, podemos ir onde você quiser, mas que não tenham muitas pessoas...

— Ah... eu sei de um lugar.

Minutos depois eu estava dentro de um elevador em direção a um apartamento que eu já suspeitava de quem era, eu já tinha passado em frente àquele prédio, tinha uma boa memória.

Tiago abriu a porta para mim e entramos.

— Sinta-se em casa. Mi casa, su casa.

— Uau.

O apartamento de Tiago era incrível, todas as suspeitas que eu tinha de que sua família era rica evaporaram, apesar de que eu ainda nem tinha me dado conta disso, até aquele momento.

— Você quer beber alguma coisa?

Tiago virou a esquerda enquanto eu observava a sala pequena mas aconchegante com os sofás brancos que se destacavam em meio às cores azuis do tapete e das paredes, ouvi ele me chamar e segui sua voz até uma pequena cozinha com tudo que poderia caber ali pra preparar uma refeição decente, não sei porque ele era um péssimo cozinheiro.

— Se você entrar naquela porta aqui ao lado vai encontrar meu quarto, está cansada? Vi que você comeu muito no restaurante.

— Eu não tinha como resistir... a comida estava deliciosa.

— Sabia que você ia gostar.

O telefone de Tiago tocou. Ele levantou o indicador para mim e parecia estar falando com a mãe, concordei com a cabeça e segui para o quarto. Logo que entrei percebi que dormir ali deveria ser um sonho, a cama era tão macia, fiquei pensando se realmente era necessário eu morar em um prédio em péssimo estado no fim de um bairro... então lembrei de Soraya, sim, era necessário.

Em uma portinha ao fundo descobri um banheiro de dar inveja e algo que fez meus olhos brilharem: uma banheira. Não perdi tempo e me apossei do espaço.

Tiago apareceu minutos depois e nem ficou surpreso ao ver minha intromissão.

— E aí, gostou?

— Amei. _ respondi com um sorriso, ele se aproximou e fez o mesmo percurso que eu entrando na banheira. Nossos joelhos nus ficaram se esbarrando.

— Então você quer alagar o banheiro todo hoje? _ perguntei.

— Se isso significar que você vai estar no meu colo daqui a alguns segundos... sim.

Arquejei e soltei uma gargalhada, depois lembrei de algo importante.

— Como são os seus pais?

Tiago me olhou com surpresa, ele não esperava por aquela pergunta.

— São como deveriam ser. Preocupados comigo, com meu futuro... um pouco exigentes.

— Você os ama?

— Aprendi com o tempo.

— Que bom... queria que meus pais tivessem conhecido você, as meninas... eles eram muito amáveis, por isso não fugi de volta. Eles me deram segurança.

— Fico feliz por isso. Eu lembro do dia em que eles vieram buscar você, e aquela mulher parecia... sei lá... encantada quando te viu.

— Eu descobri depois que ela perdeu uma filha ainda bebê, e ela era parecida comigo. Mesmo cabelo, mesmos olhos.

— Nossa. Isso não te incomodou?

— Um pouco no início, mas depois percebi que não tinha como substituir a outra, e Ellen também entendeu isso. Ela teria adotado todos nós se fosse possível.

— Acho que ela seria uma ótima sogra. _ ele deu uma piscadela.

— Também acho. E será que eu seria uma ótima nora?

— Aí depende de você...

— Sei que posso estar sendo precipitada mas, queria conhecer seus pais qualquer dia desses. Só se você quiser.

— Bem...

— Não precisa ser logo.

— É, vamos deixar passar mais uns dias.

— Tudo bem, mas tem algo de errado comigo? Tipo, pra eu melhorar até lá.

— Não Laurinha, você é perfeita.

Forcei um sorriso mas senti a insegurança em suas palavras.

— E o que impede isso de acontecer logo, então?

— Não sei, é só que... não queria envolver meus pais nisso ainda, eu preciso apresentar a eles uma pessoa que queira uma vida ao meu lado, e sei que você ainda está dividida entre o seu passado e o futuro, ou presente, não sei ao certo, então não me sinto seguro pra isso ainda.

Concordei com a cabeça.

O silêncio voltou a reinar mas Tiago não aguentou dessa vez e se levantou da banheira. Depois retornou trazendo uma toalha pra mim.

Quando saí do banheiro ele estava sentado na cama mexendo no celular e fiquei procurando palavras certas pra dizer pra ele que eu sentia por ele mais do que atração ou uma amizade genuína. Me pus em sua frente e acariciei seu cabelo.

— Ei, eu sinto muito por ter colocado você em uma posição desconfortável, entendo sua insegurança. Me desculpa.

Tiago pegou minha mão que estava em seu cabelo e depositou um beijo.

— Está tudo bem.

— Tudo não, algumas coisas, mas um dia tudo vai ficar bem e nesse dia eu espero que você esteja comigo porque eu não me imagino mais sem você, sério.

Tiago me olhou nos olhos e eu sabia que ele queria falar as palavras mágicas mas pensei que ainda estava cedo para aquilo. Lhe dei um beijo e tirei o celular da sua mão porque ele precisaria de mão livres agora. E com elas ele tirou minha toalha e a dele e me puxou pra seu colo como ele queria desde o início, colocando suas mãos atrás dos meus joelhos e nos encaixando como peças de um móvel sendo montado. E me mostrou com ações e gestos o que ele tanto queria me dizer minutos atrás.

CH

Tiago dormia repousado em meus seios como um bebê recém-nascido, tive que ser sutil pra sair da cama sem acordá-lo, fui ao banheiro e encontrei um roupão azul, me enrolei nele e fui admirar a vista da janela enorme do quarto de Tiago, a cidade parecia ser bonita dali, até que era um pouco mas eu já tinha conhecido lugares de tirar o fôlego, as férias em família eram cheias de viagens incríveis desde que me mudei pra casa de Ellen e Jordan fora do país. E naquele momento com o vento batendo em meus cabelos a alguns metros acima do piso térreo, meu coração se apertou de saudade, saudade da minha família, não daquela que eu tive quando mal sabia falar, e nem dessa que estava me acolhendo agora, mas a família que me deu um nome e um lugar pra chamar de casa, e mesmo tendo ido a sessões com o psicólogo pra lidar com a morte repentina dos meus pais adotivos, de vez em quando eu sentia aquela tristeza se aproximando, o luto nunca nos abandona de fato, algumas pessoas só são mais rápidas para entender o processo da separação, e eu era uma delas, tantas pessoas já tinham partido da minha vida que a cada perda eu me tornava menos sensível.

Fiquei pensando no que Ellen e Jordan iriam pensar do meu retorno, acho que não aprovariam a ideia, eles não gostavam quando eu falava algo sobre o orfanato ou Soraya, as vezes escutavam eu contar os pesadelos que tive com as lembranças do passado e depois me diziam pra esquecer.

Eles nunca permitiriam que eu retornasse para a fonte dos meus traumas, iam querer me proteger a todo custo, até de mim mesma, porque eles sabiam que Soraya despertava um lado meu, irreconhecível.

CH

Senti a presença de Tiago atrás de mim minutos depois, seu corpo envolveu o meu num abraço e ficamos olhando a cidade, ele beijou meu cabelo e perguntou:

— Está tudo bem?

— Está sim.

— Você parece triste. Não gostou do apartamento?

— Claro que gostei. É muito confortável.

— A cama é ótima não é?

— Sim. _ respondi sorrindo e me virei para beijá-lo. _ Só estou com saudades de casa...

Tiago me olhou com ternura.

— Eu espero que um esse lugar se torne sua casa um dia. _ e colocou minha mão em seu peito voltando a me beijar.

Meu celular tocou dentro da bolsa que eu tinha jogado em algum canto dali.

— Argh... quem será?

Eu tinha perdido a noção do tempo ali dentro, só queria ficar com Tiago e sua cama confortável.

Atendi a ligação e ouvi a voz de Renata do outro lado me avisando que tínhamos problemas.

— O que foi? _ perguntou Tiago percebendo minha expressão confusa.

— Mama foi embora.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Chiquititas - Revenge" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.