Chiquititas - Revenge escrita por Geovanna Danforth


Capítulo 1
Retorno




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/762153/chapter/1

O sol despontava entre as nuvens e eu o observei surgir glorioso naquela manhã pela janela do avião, geralmente eu acordava de manhã bem cedo só pra vê-lo imaginando que outras pessoas também poderiam estar vendo a mesma coisa que eu a quilômetros de distância.

Suspirei lentamente e me olhei no espelho do meu estojo de maquiagem, passei a mão por meus cabelos loiros, retoquei o batom e o rímel, e me encarei no espelho, meus olhos verde-esmeralda pareciam ter um brilho diferente. Guardei minhas coisas na bolsa e senti o avião se inclinar aterrissando.

Então, o avião pousou. Eu estava de volta.

CH

Estava atolada de bagagens e fui rapidamente à procura de um táxi, enquanto o taxista dava um jeito nas minhas malas eu certifiquei minhas mensagens enquanto bebericava um café. Seguimos pelo endereço indicado por meu celular e que até agora eu nem acreditava ser verdade.

Durante a minha vida inteira eu tive feridas que demoraram muito pra sarar, eu cresci sabendo que tinha uma promessa a cumprir, uma dívida; e desde que tive meu primeiro celular comecei a procurar meios que facilitassem meu trabalho, busquei em todos os cantos pela internet até que a encontrei: Adriana.

E agora estava com o endereço dela em minhas mãos. Seu apartamento ficava em um bairro perto do centro da cidade, enquanto seguíamos pra lá coloquei meu óculos escuro e organizei meus documentos na carteira, meus documentos... agora eu tinha outro nome: Lauren Mckessie. 24 anos.

Suspirei novamente e percebi que o táxi havia parado.

Depois de descer na calçada em frente a um prédio que parecia aconchegante com duas malas enormes mais uma mala pequena e minha super bolsa no ombro direito fui cambaleando até entrar no prédio. Adriana já havia avisado ao porteiro sobre mim e autorizou minha subida.

10º andar. Dentro do elevador repleto de espelhos me observei de cima a baixo. Blusa branca de botões e sem manga e uma calça social creme, sapato de salto... pronta.

Caminhei lentamente até encontrar a porta do apartamento dela, suspirei novamente e apertei a campainha.

Uma mulher com um xort preto e uma camiseta GG abriu a porta, estava descalça e com uma frigideira vazia na mão esquerda.

Tirei o óculos e sorri para ela, eu conheceria sua cara de espanto em qualquer lugar, a frigideira caiu no chão e ela deu um passo na minha direção. Nos abraçamos com receio mas depois percebemos que não estávamos sonhando.

— Você é real? _ falou ela olhando em meus olhos marejados.

— Sim! Eu sou! _ falei sorrindo.

Depois de Adriana ter gritado meus dois nomes e ter demonstrado sua alegria de todas as formas possíveis, ela me ajudou a colocar as malas pra dentro e me mandou sentar num sofá preto enquanto foi pegar algo pra comermos. Ainda bem que ela ainda usar a frigideira, caso contrário, coitado do tapete.

— Ai Laurinha, espera só quando a Renata chegar!

— Lauren... _ murmurei.

— Ah, sim; eu preciso me acostumar com isso...

O apartamento de Adriana era muito bonito, tirando a bagunça era bem legal. Na sala havia uma tevê num hacker, uma mesinha de centro e o sofá preto. De onde eu estava dava pra ver a pequena cozinha e ao fundo duas portas. Imaginei que seriam o quarto e o banheiro.

— E a viagem foi boa? _ Adriana perguntou da cozinha.

— Foi confortável...

Primeira classe não era nada mal...

— O seu apartamento é bem bonito.

— Não é só meu ... _ Adriana surgiu com um suco e torradas acompanhada de um sorriso bobo na cara _ Eu moro com o Railsom.

— What?

— Para com isso que eu sou péssima em inglês.

— Pensei que só era enrolação de vocês...

— Não acreditou quando eu te contei né?

Adriana se juntou a mim no sofá.

— Nem eu acreditei também! _ falou ela. Eu ri.

— A gente estava ficando e enrolando a quase um ano, mas nos mudamos pra cá a pouco mais de um mês...

— Nossa.

— Pois é, eu queria comprar um apartamento e ele sempre foi louco por mim, você sabe... _ ri mais ainda, Adriana era convencida que doía. _Então nós decidimos comprar um juntos. _ disse ela com um brilho nos olhos.

— Legal... _ bebi um pouco de suco.

— E você?

— Eu o quê?

— Me conta de você!

— Você já sabe... te contei pelas mensagens...

— Sim, mas eu sou meio esquecida... _disse ela mordendo uma torrada _ Como estão seus irmãos.

— Estão bem, obrigada. Bem felizes com suas namoradas.

— Ah... qual é Laurinha! Você sabe que eu só estou curiosa...

Apenas a encarei.

— Tá, parei. Como é o nome deles mesmo.

Suspirei.

— Max e John.

— Nossa, seus pais tiveram bom gosto. _ disse ela balançando a cabeça. _ E por falar neles, saiba que senti muito por eles terem ido tão cedo...

— Eu sei Adriana, também queria que eles ficassem ao meu lado por mais tempo...

Antes que a tristeza se instaurasse completamente Adriana levantou rapidamente do sofá como se tivesse lembrando de algo super importante.

—Preciso ligar pra Renatinha.

Bem... era algo bem importante mesmo.

CH

Depois de Adriana ter ligado pra Renata e não ter dito nada sobre mim – queria fazer surpresa – ela foi trocar de roupa enquanto eu atualizava minhas redes sociais.

Quando a campainha tocou me senti um pouco nervosa, apesar de gostar de dar susto nos outros fiquei pensativa em relação a reação de Renata, ela não era muito amante da internet, então só falei com ela por meio de recados passados por Adriana, e ela só falou comigo da mesma forma. Em um instante pensei em como o mundo era pequeno e como uma garotinha baixinha parecida com uma índia estaria a minha frente depois de anos de separação.

Quando Renata cumprimentou Adriana ela me viu e simplesmente congelou. Depois deu um passo e tirou o óculos escuro, boquiaberta ela me encarou até que sua voz saiu.

—Laurinha?

— A própria. _ falei sorrindo e me levantando.

Fui até ela e nos abraçamos, percebi que ela ainda estava em estado de choque mas mesmo assim reconheci a menina que eu tanto amara quando criança em seus olhos escuros.

— Quando você chegou?

— Hoje mesmo, não faz muito tempo.

— Você é a segunda pessoa a saber. _ falou Adriana.

— Meu Deus... _ suspirou Renata e me abraçou de novo _ E aí, quanto tempo você vai ficar por aqui?

Sentamos no sofá.

—Pelo tempo que precisar...

— Precisa de lugar pra ficar? Em casa tem um quarto de hóspedes.

— Não precisa se preocupar, eu pretendo alugar um apartamento.

As duas se entreolharam.

— Daqueles bem luxuosos né? _ disse Adriana _ Conheço um top de linha, o Antônio mora lá e o...

— Não Adriana, muito pelo contrário, eu quero um apê bem simples e discreto.

— Porquê? _ perguntaram juntas.

— É que... eu não quero que muitas pessoas saibam que estou na cidade e...

— Mas quem saberia? _ perguntou Renata

Alguns rostos vieram à minha mente.

— Os meninos por exemplo... ainda não estou muito a fim de vê-los, preciso me acostumar ao clima e...

— Laurinha, está escondendo algo de nós? _ perguntou Adriana.

— Hum... _ balbuciei _ nada que vocês precisem saber.

As duas se entreolharam.

— Tá legal, mas você não vai poder se esconder deles pra sempre.

— Sim, sim, sei disso... mas espero que não seja tão cedo.

Um minuto de silêncio se seguiu. Terminei meu suco de uma só vez.

— E então, vocês poderiam me ajudar a encontrar um bom apartamento?

CH

Depois de eu ter comprado meus móveis e eletrodomésticos básicos fui ao endereço que as meninas me disseram e encontrei um prédio que parecia bem velho, parecia não, era. Até que por dentro ele era aconchegante, agradável.

O pessoal da loja veio trazer minhas compras e depois eu fui almoçar com as meninas em um restaurante ali perto.

Quando terminamos de comer voltamos no carro de Railsom, nesse dia ele o havia deixado, Adriana tinha pedido a ele com certeza. No trajeto para meu novo apartamento eu fiquei pensando sobre meus planos, quando seria a hora certa para colocá-los em prática?

— Tudo bem Laurinha? _ perguntou Adriana me olhando pelo retrovisor.

“Ela percebeu”, pensei, “droga”.

— Estou bem sim. _ me ajeitei no banco de trás.

— Está estranha... _ murmurou ela.

— Quem? Eu?

— Somos suas amigas Laurinha, _ disse Renata no banco do passageiro. _ pode conversar com a gente caso algo a perturbe.

— Não é nada Renata, não se preocupe, eu só...

—Já chega. _ disse Adriana diminuindo a velocidade do carro.

Revirei os olhos.

— Laurinha, eu te conheço muito bem apesar do pouco tempo que convivemos e sei que tem alguma coisa te preocupando.

—O que está escondendo de nós? _perguntou Renata baixinho.

Elas estavam magoadas, antigamente não havia segredos entre nós, porque haveria agora?

— Meninas, é um assunto muito delicado...

Porque elas estariam em perigo se soubessem.

— Nós somos grandes o suficiente pra saber, _ retrucou Adriana_ não somos mais meninas Laurinha.

Suspirei.

— Não queria meter vocês nessa história... mas...

— É ela não é? _ Adriana me encarou pelo retrovisor e eu não consegui desviar o olhar. _ É a Soraya não é Laurinha?

Bufei e passei a mão pelos cabelos.

— Eu sabia! _ exclamou ela batendo a mão na coxa.

Permaneci em silêncio.

— Tudo bem, _ Adriana continuou _ eu não posso fazer nada porque não sou sua mãe mesmo e... _ ela parou_ Mas afinal Laurinha, o que você pretende fazer?

— Quero que ela pague por tudo que já fez comigo, com a gente.

— Hum... boa ideia, e como você pretende fazer isso?

— Tenho algumas coisas em mente mas ainda não pretendo compartilhar com ninguém, me desculpem.

— Tá legal, vamos esquecer isso por hoje.

Renata havia permanecido calada desde então mas de repente perguntou.

— Você vai querer fazer alguma coisa hoje?

— Eu não, mas vocês vão.

Elas se olharam e eu continuei.

—Preciso que comprem uma peruca pra mim.

Dei um sorriso amarelo quando as duas viraram de seus assentos me encarando, me fuzilando com os olhos.

CH

Fiquei no apartamento de Adriana esperando enquanto as duas foram fazer a compra que pedi, Railsom só chegaria à noite, ele trabalhava como advogado.

Quando Renata e Adriana passaram pela porta fui na direção delas e peguei as sacolas de suas mãos passando direto para o banheiro.

CH

Pisquei novamente para as lentes se ajustarem mais, as meninas não só compraram a peruca como também lentes de contato escuras e um óculos fajuto.

Quando saí do banheiro elas estavam sentadas no sofá me esperando e instantaneamente viraram seus rostos na minha direção, arquejando juntas, como se tivessem ensaiado.

Eu ri.

— Oh. Meu. Deus. _ disse Renata _ Eu sabia que esse preto ficaria lindo em você!

— Eu gostei do óculos, _ Adriana comentou _ mas esses olhos castanhos... _ ela desaprovou franzindo a testa.

— Faz parte do processo. _ falei.

— Tudo bem, _ continuou ela _ você não está mais loira, seus olhos que sempre te entregam estão escondidos, você já tem algumas roupinhas básicas pra que ninguém perceba que você não é daqui, mas... e agora? O que vamos fazer?

— Bem, _ sentei ao lado delas no sofá passando a mão pela calça jeans nova que cobria minhas pernas_ em relação à Soraya não vamos fazer nada no momento, antes preciso arrumar meu apartamento que deve estar uma bagunça. Preciso me acostumar por aqui primeiro e não quero que mais ninguém saiba da minha volta.

As duas concordaram.

— Então, quer dizer que você não vai passar a noite comigo? _ Adriana disse, com cara de ofendida.

— Já falei que não quero que ninguém saiba que estou por aqui, isso abrange o Railsom também, Adriana. _ a encarei. Ela arqueou as sobrancelhas. _ E você quer que eu durma aonde? Na cama que não vai ser...

Nós rimos.

— Bom Laurinha, se você quiser eu posso te ajudar a organizar seu apartamento. _ disse Renata.

— Eu quero sim Renata, obrigada.

— Então eu vou também, _ disse Adriana se levantando, _ e não estou pedindo.

Ela foi em direção à porta e a abriu. Era o sinal pra nós sairmos.

— Missão de hoje: transformar um castelo medieval na mansão do presidente.

— Ei! _ exclamei_ meu apartamento não é medieval não!

— Ai Laurinha, desculpa, ele não é mas parece...

— Eu vou te cassetar, isso sim!

Enquanto discutíamos entramos no elevador. Três morenas dessa vez.

CH

Quando terminamos nosso trabalho estávamos exaustas, Adriana não ficou até o final pois Railsom já ia chegar do trabalho e ele não poderia desconfiar de nada, enquanto isso, eu e Renata nos matamos arrastando móveis de um lado para o outro.

Meu novo apartamento só tinha três cômodos, um quarto que podia ser chamado de sala, uma cozinha e um banheiro. Demos um jeito e colocamos a cama o mais distante possível da porta pra que houvesse um espaço pra uma “sala de estar” mas o guarda roupa ficou atrapalhando.

Na mesma direção da porta do apê havia a porta do banheiro mais adiante. A cozinha ficava escondida do lado esquerdo da porta, nela enfiamos uma pequena geladeira, um fogão de duas bocas ao lado da piazinha e uma mesa redonda ficou marcando a divisória entre a “sala de estar” e o lugar onde eu prepararia minhas refeições nos próximos dias (apesar de eu ser uma péssima cozinheira).

As paredes possuíam a cor de um bege claro meio morto, eu precisava comprar tinta também mas não fazia ideia da cor, deixaria isso pra depois. Renata começou a procurar sua bolsa que devia estar em algum lugar por ali, eu já sabia que era hora de ela ir embora, o céu já estava escuro.

Nos despedimos, uma mais cansada que a outra e ela partiu. Já eu, tomei um banho e me deitei no colchão macio, adormeci.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Opiniões...?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Chiquititas - Revenge" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.