Um rinoceronte escrita por Lorita de M


Capítulo 10
Epílogo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/762110/chapter/10

Tratava-se de uma manhã comum numa cidadela incomum. Uma cidadela incomum, para o leitor que não imagina que características uma possa ter, trata-se de uma cidade pequenina, cheia de casinhas coloridas amontoadas sobre uma encosta como se algum gigante as houvesse distribuído ali, assim como um jardineiro distribui sementes ao solo. Por entre as casinhas, distribuem-se veredas e caminhos tortuosos, uns de finura e outros largos, por onde passam transeuntes caminhando, carroças, cavalos, carrinhos barulhentos, uma criança correndo. Ao topo da encosta, uma igrejinha amarelada com as paredes já desgastadas pelo tempo marca as horas todo dia com o badalar de seu sino desafinado. Algumas das casinhas fizeram-se escombros, e a igrejinha não vê mais ninguém. Fora o que já foi dito, há uma praça central. Nessa praça central, que ocupa um espaço gigantesco, inúmeros rinocerontes passam seus dias caminhando sobre os escombros do que antes havia sido uma cidadela comum, habitada por cidadãos comuns.

De todo modo, tratava-se de uma manhã comum numa cidadela incomum. Numa manhã comum, a maioria dos rinocerontes já estava desperta e caminhando, os rabos balançando e os olhinhos escuros e serenos a procura de qualquer coisa minimamente interessante, como comida.

Naquela manhã comum, o último homem, adormecido ao lado dos escombros de um bar e abraçado a uma garrafa, abriu os olhos devagar e levantou-se com esforço. Olhou ao seu redor e não viu ninguém. Com um gesto mole, levantou a garrafa e procurou pingar na boca as últimas gotas de bebida que ali havia. Conseguiu recuperar uma ou duas garrafas dos escombros do bar e as enfiou uma debaixo de cada braço. Cambaleante, dirigiu-se até a praça central e sentou-se entre os rinocerontes. O último homem. O bêbado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Um rinoceronte" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.