Como (não) se apaixonar por Danilo escrita por Ahelin


Capítulo 4
Canela


Notas iniciais do capítulo

Sim, eu tava DOIDA pra postar esse ahaha sem querer me gabar, mas ele tá compensando o anterior qq

O PRIMEIRO BEIJO AEEEE



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No auge dos meus dezessete anos, a euforia de viajar desaparecera. Era só o mesmo lugar, a mesma hospedagem, o mesmo cheiro de pão com margarina de manhã. Não que eu não gostasse de lá — gostava muito, e ainda gosto —, mas não havia novidade alguma.

Minha mãe, apaixonada pelo frio, trocara a sagrada praia de dezembro pelo aconchego julino na pequena pousada. Minha irmã, já em seu segundo ano da faculdade, não conseguira voltar a tempo de viajar conosco, enquanto meu irmão não tirava os olhos de seu novo videogame portátil nem por decreto.

Era também o auge da minha fixação pelo romance; não só por garotos, nem mesmo um garoto em específico, apenas pelo ato de amar. Devorava filmes, livros e contos na internet com a voracidade que devoraria um bolo de chocolate. Os efeitos desta época na minha alma permanecem comigo até hoje, afinal, não consigo escrever sobre ela sem que pareça uma novela juvenil.

Perdoe-me a linguagem vitoriana; terá que que aguentá-la até o fim, meu caro.

Estes dois fatores — a total desatenção de minha família em relação a mim e meus sonhos enamorados — foram por si só os responsáveis por este motivo número quatro.

Voltemos, porém, ao início da história.

Naquele ano, não fui a primeira a sair do carro, tampouco subi saltitante a colina como fizera nos outros. Segui atrás de todos, com a calma de quem sabe o que encontrará. Chegando à porta, tive duas agradáveis surpresas: as paredes tinham sido pintadas de um sóbrio azul escuro e um sorriso agradável me esperava atrás do balcão.

— Bom dia — cumprimentou Danilo. Poucas frases foram ditas antes que meu pai pegasse as chaves, uma vez que a reserva já fora previamente feita por telefonema, mas fomos parados logo que demos o primeiro passo. — Ah, se tiverem um tempo, poderiam preencher uma página de avaliação sobre a hospedagem? — pediu ele, olhando diretamente para mim.

— Eu faço, podem ir subindo — ofereci casualmente, talvez rápido demais, mas nenhum dos três se opôs. Esperei até que estivessem fora do meu campo de visão e virei-me para o balcão. — Você tem uma caneta?

— Claro. — Ele agarrou uma na gaveta e estendeu-a para mim, mas puxou-a de volta quando fiz menção de pegá-la. — Então, eu preciso confessar que não tem folha de avaliação. Foi só uma tentativa de te fazer ficar mais um pouco.

Ri e comemorei internamente.

— E se meu pai tivesse aceitado preencher? — Ergui uma sobrancelha.

— Bom, então eu teria que imprimir qualquer coisa em dois segundos. — Ele coçou a bochecha, deixando um pequeno rastro vermelho. Estava mais alto (finalmente maior que eu, o que aconteceria hora ou outra), e a penugem em seu queixo era quase uma barba rala.

— Bela voz — elogiei. Não perderia a oportunidade de fazer referência a seus gritinhos agudos do último ano.

— Pós-puberdade! — Sorriu ele. — Belo cabelo.

— Pós-puberdade — devolvi, levando involuntariamente as mãos às pontas do meu cabelo, que mal passava das orelhas.

— Não, é sério. Você tá bonita.

— É porque agora você me vê de um ângulo diferente. — Ri. Ele pareceu gostar da piada.

— Então... — recomeçou, após um segundo me olhando. — Tem essa bombonière aqui perto e ela fica fechada aos domingos à noite, mas, pra sua sorte, eu conheço um cara que conhece um cara que tem um primo cuja namorada...

— Sim — interrompi, rindo. — Eu dou um jeito.

— Que bom, eu já ia ficando sem fôlego. — Riu Danilo, esbanjando aquele português delicioso de ouvir. — É só descer aqui quando puder. Use roupas quentes, você se lembra de como são as noites aqui — completou ao exibir um sorriso fofo.

Mal pude aguentar a euforia durante o que restava da tarde. Analisei as roupas na mala, a maquiagem discretamente surrupiada do quarto da minha irmã e o relógio do celular cerca de vinte vezes antes de decidir que usaria o que houvesse de mais quente, não de mais bonito.

Foi mais fácil que eu imaginava convencer meus pais a me deixarem sair. No fim das contas, disse apenas a verdade, que depois de jantar no hotel queria visitar uma bombonière ali perto e comprar chocolates, tomando o singelo cuidado de omitir Danilo da história — o que se mostrou inútil quando minha mãe sugeriu que eu o convidasse a me acompanhar para não ter que ir sozinha.

Nossos olhares se encontraram logo que coloquei os pés no térreo, e ele sorriu. Acenei com a cabeça e ele disse algo para a mãe antes de vir até mim.

— Que frio — comentei.

— Os únicos pontos turísticos de Campos do Jordão são o frio e a arquitetura alemã, e eu imagino que vocês não venham pra cá interessados nas casas. — Danilo ergueu uma sobrancelha, ao passo que comecei a rir.

— Não — concordei. A essa altura, já estávamos caminhando pela calçada. — Meus pais são viciados em frio. Moramos numa cidade com média anual de trinta e seis graus, eles ficam malucos.

— Por que não saem de lá?

Dei de ombros.

— Já se acomodaram, eu acho. Empregos, família, escola, temos tudo lá. É difícil arriscar tudo pra ir embora.

— E quanto a você? — Ele parou na minha frente. — O que vai fazer?

— Estudar. — Puxei a touca para que ela cobrisse minhas orelhas. — Tentar passar numa faculdade legal, estudar engenharia. Só tenho planos até aí. E você?

— Ficar aqui, eu acho. — Voltamos a andar. — Gosto da cidade e da pousada, todos os dias tem alguém novo na cidade. São tantas histórias diferentes... Quero terminar os estudos, fazer um curso aqui por perto, quem sabe virar escritor. Agora, somos só minha mãe e eu, não dá pra deixar ela aqui.

Olhei em volta. Realmente, parecia uma vila alemã, não uma cidade turística dentro de São Paulo. As luzes, as casas, até o comércio. Mais verossímil que isso, só com neve.

— Esse seria um lugar onde eu gostaria de me acomodar.

— É... — Sorriu ele. — Seria legal. E olha, chegamos!

Parei. A tal bombonière era simplesmente uma fábrica de chocolate com uma vitrine de filme. Bolos, pães de mel, biscoitos e todos os meus sonhos estavam exibidos logo ali, ao alcance da mão.

— Acho que você me trouxe na sede da Nestlé por engano! — Enfiei as mãos nos bolsos, começando a sentir frio.

— Que nada, é só uma lojinha — ironizou ele, guiando-me pelo braço até uma porta lateral que destacou com a chave em seu bolso. — Voilà!

Entrei, seguida de perto, e não pude deixar de ficar boquiaberta. Dez minutos ali dentro seriam minha amostra grátis do céu.

Danilo foi até o balcão e tirou um saquinho de papel, depois o depositou na minha mão.

— Pra quê isso? — Era meio óbvio, mas eu estava maravilhada demais para pensar.

— Pega o que quiser.

— Sério? O que eu quiser?

— Sério, o que quiser. Tudo o que você pensar em comer, e não se preocupe com o preço. Já tá tudo pago.

Parei, segurando um brigadeiro de quase quatro reais na mão.

— Danilo, quem foi que você matou pra me trazer aqui? — questionei. — Tô um pouco preocupada.

— Você não faz ideia — replicou ele, misterioso.

Não nego que quis me abastecer com chocolate suficiente para um mês, mas evitei que a loja fosse à falência e peguei só o que mais tinha vontade de provar. No fim, estávamos os dois sentados num cantinho com as costas na parede, eu cheia de doces nas mãos e ele se esticando pra pegar outro toda vez que eu terminava um.

— Danilo, se você for me dar chocolate toda vez, vai acabar falindo — recusei quando ele ofereceu uma trufa com recheio de maracujá acenando com a cabeça.

— Não, mas você tem que provar essa! — Ele praticamente a enfiou na minha boca. Não que eu esteja reclamando, claro. — E aí?

Não respondi. Tinha encontrado meu pedacinho de céu bem ali.

— Nossa — limitei-me a dizer.

Ficamos um tempo em silêncio, ele me observando devorar o que tinha nas mãos e me segurar para não atacar o estoque.

— Diz de novo — pediu, de repente.

— O quê? "Nossa"?

— Não. — Ele riu. — Meu nome. É diferente quando você fala.

— O nome disso é sotaque, Danilo — pronunciei com cuidado e sorri. Ele estava ali, me encarando sem dizer uma palavra. — Pelo menos diz que lembra o meu nome!

— Não, desculpa. São muitos nomes pra guardar. — Ele sorriu de lado.

Num impulso, segurei suas bochechas e o beijei antes que tivesse tempo de me arrepender. Tinha gosto de abraço, de carinho e de canela.

— Deu pra lembrar? — perguntei, me afastando.

— Larissa?

— Resposta errada. — Desta vez, nada de impulsos, só mais um beijo e as mãos dele no meu cabelo, bagunçando os poucos fios que escapavam da touca. — E agora?

— Letícia?

Balancei a cabeça negativamente e dei beijinhos em sua bochecha, no queixo e nos cantos da boca.

— Vamos, se esforce.

Ele pensou um pouco.

— Se eu acertar, você vai parar? — questionou.

— Provavelmente não.

— Melissa. — Neguei de novo e voltei a beijá-lo. Não queria mais parar. — Tudo bem, tudo bem, Lis! — Ele riu e fez carinho na minha bochecha com o polegar.

— Finalmente! — Ri. — Não foi tão difícil assim, foi?

— Não, mas acho que preciso de ajuda pra não esquecer mais. — Desta vez, ele tomou a iniciativa.

Por mais que tenham sido apenas beijos e mãos dadas, eu não queria que a noite tivesse terminado.


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Notas finais do capítulo

Tell me what you think, what you really really think
*tem que ler cantando q*
Beijão!