Ecos de Amor escrita por Maria Gabriella


Capítulo 3
Filmes Franceses


Notas iniciais do capítulo

Olá, gente! Eu recomendo que vocês comecem a ler já com um fone de ouvido por perto, porque no capítulo vai tocar uma música muito amorzineo e seria muito bom se vocês escutassem.
É isso, espero que gostem! E agradecimentos especiais a HKChase ♥



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Filmes franceses, comédias românticas e livros jovem adultos nos fazem acreditar que todo casal, de vez em quando, vive momentos fofos, cozinha junto, surpreende com uma grande declaração ou coisas desse gênero. Bem, a verdade é que eu e William quase somos uma exceção a isso, muito provavelmente porque não somos adolescentes em seus primeiros amores. Se eu tento me lembrar de uma vez em que dividimos o fogão só me vem uma situação, quando já éramos namorados. Mas a intensidade dela compensa qualquer ausência de outras iguais.

 Tudo começou por causa de Joseph. Ele e a recém esposa saíram em Lua de Mel e deixaram a Sally por alguns dias comigo. É claro que eu aceitei, imaginando que poderia até ser uma experiência divertida. Mas você só sabe realmente como é difícil cuidar de um bebê de três anos quando passa mais de vinte e quatro horas sendo totalmente responsável por um, até pensei em chamar meu namorado, poderia aproveitar e apresenta-lo à família, coisa que, na verdade, demorei mais de um ano para fazer, porém imaginar William lidando com uma criança é quase assustador.

 A experiência toda foi bastante agradável, eu admito. Não lembro com clareza de muitos detalhes daqueles fatídicos, apesar de prazerosos, dias. Só recordo que, por algum motivo até hoje inexplicável, Sally cismou que queria comer Summer Pudding. Isso se tornou mais do que uma vontade, se tornou uma necessidade, e a garota me pediu, me implorava, para comer, o tempo todo. Eu poderia ter simplesmente comprado, no entanto quando ouvi o comentário de que Joseph sempre fazia um maravilhoso para ela, algo despertou do meu interior e decidi que faria também. Eu não sabia explicar o que era, porém sentia a  ideia como sendo tremendamente estúpida. Eu nunca tinha feito pudim, ainda mais Summer Pudding.

 É aí que Liam entra na história. Quem se recorda de que ele comia quase diariamente numa lanchonete vai dizer o quão óbvio era que ele, provavelmente, não saberia cozinhar. No entanto, eu já conhecia que esse doce era sua comida favorita, então resolvi pedir ajuda. Deixei a menina na escolinha sob a promessa de que, quando ela retornasse, seu desejo estaria realizado, lhe esperando dentro da geladeira.

 A primeira reação do meu namorado, ao ouvir meu problema por ligação, foi dar risada e insistir para que eu comprasse um já feito e poupasse qualquer transtorno. Mas, novamente, eu ignorei o que era nitidamente o melhor a ser feito. No final das contas ele veio à minha casa, com um monte de sacolas com pão de forma, sorvete de creme, cerejas, amora, morango, framboesa e creme de cassis, que eram todos os ingredientes que eu não tinha em casa.

 —Okay, Sadie, eu trouxe o que você pediu — disse pouco tempo após entrar, ao que me lembro, possivelmente usou outras palavras, mas esse era o sentido. — Mas infelizmente não vou poder vender minha mão de obra.

—Por quê? — O meu celular estava com a receita cuidadosamente escolhida e a decepção pela negativa dele foi cristalizada na minha face.

—Eu... eu tenho ocupações hoje. — Mordeu o lábio inferior. — O Pauly vai fazer um negócio e queria me ajuda.

—E que tal você avisar o Pauly de que a Sadie vai fazer um negócio e precisa da sua ajuda? Por favor, Will, é importante para Sally e eu não sei se vou conseguir sozinha.

 Um pouco mais de chantagem emocional e ele acabou aceitando, mas deixou claro que ajudaria a preparar rapidinho e depois iria embora. Eu aceitei. Coloquei uma música para tocar, se bem lembro foi In Time, do Robbie Robb, e o resto foi acontecendo. William, inicialmente, fez cara feia para toda a situação e reclamou da música. Porém, em poucos instantes, estávamos rindo e fazendo piadas sobre o nosso pudim.

“Sem medo, sem perda, sem lágrimas

O tempo está aqui

Nossos sonhos serão realidade, eu prometo”

 A começar que a tigela não tinha o tamanho correto pedido na receita e como decidimos fazer tudo sem demorar, acabamos por tentar usar aquela que tínhamos mesmo, que era maior do que a normal. Ali que tudo desandou, provavelmente. Não tínhamos frutas suficientes para um pudim feito com mais de oito pães de forma (na receita era necessário forrar a tigela com pão), então uma parte do pudim ficou praticamente vazia de recheio e foi um desastre total.

“Porque eu posso ver por milhas e milhas.

Com o tempo nós dançaremos na rua a noite inteira (a noite inteira, a noite inteira).

Com o tempo, sim, tudo vai dar certo (tudo bem, tudo bem).”

 Mas, pensando bem, não foi um fracasso, não poderia tê-lo sido de qualquer maneira. Aquela música, com aquela pessoa... Foi uma ótima situação, um momento mágico. Eu me lembro de dançar um pouco no refrão, não estava usando um vestido florindo, meus pés não tocavam suavemente um campo cheio de margaridas e provavelmente o dia era o oposto de ensolarado... E mesmo assim, foi como se o tempo corresse em câmera lenta. As risadas do meu namorado me vendo toda entusiasmada...

“Levará tempo, mas nós iremos longe,

Você e eu, sim, eu sei que somos nós.

Com o tempo, nós dançaremos na rua a noite inteira”

 Não precisei cantarolar mais do que isso para que ele entendesse que eu o chamava para bailar ao meu lado. Eu já comentei que William não gosta de dançar quando falei a respeito do meu aniversário, no nosso primeiro encontro. Ainda assim, com um pouco de resistência, ele começou a mexer os ombros e o tronco de um lado ao outro, rindo envergonhadamente.

“Oh Sim, oh sim, oh sim

Oh Sim, oh sim, oh sim

Com o tempo, nós dançaremos na rua a noite inteira

A noite inteira”

 Eu peguei um morango e depositei nos lábios dele, que logo me puxou pela cintura e depositou um beijo-amorangado na minha boca. Eu me afastei brevemente, encostando nossas testas para que pudéssemos olhar-nos profundamente, respirando o mesmo ar, sentindo o mesmo amor. E então sussurrei tão baixo quanto a música.

“Um coração, uma alma, uma mente,

Nossos olhos não ficarão cegos.

Vamos ver essa chuva cair, sem este som,

Todos nós podemos, todos podemos ser livres.”

 —Você gosta mesmo dessa canção, não é? — Will deu risada e se afastou, voltando a se concentrar no pudim, antes de perguntar aquilo.

—Você não? — Peguei algumas laranjas que tinha em casa e comecei a preparar um suco que acompanharia o alimento.

—Se você gosta, eu também. — Dei risada. As frutas vermelhas, com o creme cassi e o açúcar, já haviam sido brevemente cozinhadas e agora meu namorado a despejava na tigela forrada. Eu só conseguia pensar como o amo.

—Diga o que você realmente gosta de escutar.

—Sua voz — soltou de uma vez.

“Vai levar tempo, mas nós iremos longe,

Você e eu, sim, eu sei que somos nós,

Com o tempo nós dançaremos na rua a noite inteira.”

 Eu apenas sorri e o abracei o mais forte que podia. Will hesitou um pouco, mas acabou me segurando também. Depois complementou no meu ouvido:

—E rock’n’roll. Qualquer dia eu te apresento música. — Eu dei um tapa leve em suas costas, me afastando. Sabia que era brincadeira, até porque desde aquele dia In Time se tornou a nossa canção. Então ele desligou o som. — Mas agora eu preciso ir.

 No final das contas o pudim não deu certo, eu acabei comprando um como inicialmente era tão claro que deveria ser feito. Acontece que, de repente, eu entendi porque tamanha foi minha resistência. Eu queria fazer, não por competição com Joseph, não somente por teimosia, mas porque eu queria viver aquilo, eu queria me aventurar com meu amor, como nos filmes franceses e nos romances jovem adultos que nos fazem acreditar que o simples ato de cozinhar pode ter tanta emoção quanto um filme hollywoodiano de heróis. A questão não é o que você faz, mas quem você é e com quem você está. A grande sacada é o que você sente.

 E foi assim que, para satisfazer a manha da minha sobrinha, eu cozinhei a primeira (e a última) vez com William, em um dos nossos melhores momentos juntos. A título de curiosidade, a garotinha amou o suco que de laranja e comer Summer Pudding todo primeiro domingo de agosto se tornou nossa tradição.


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Notas finais do capítulo

Eu realmente amei escrever isso, espero que também tenham sentido a emoção! Essa música é uma das minhas favoritas desde que a ouvi na terceira temporada de Mr. Robot :3
Até mais!



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