Deus Salve a Rainha. escrita por Anabella Salvatore


Capítulo 24
Pesadelo com sonhos.




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—Afonso! -Exclamou Amália, adentrando a sala de reunião sem nenhuma educação. 

Ele suspirou, cansado, e passou a mão no rosto. 

—Sim, Amália. 

—Eu... Percebeu o quanto minha barriga cresceu? 

Ele suspirou novamente, sentindo uma pequena dor de cabeça começar a se formar, ele sabia onde ela queria chegar. 

—É o mais normal, dada a sua condição, por favor eu... 

Antes que ele pudesse expulsa-la dali, ela continuou:

—Afonso, minha barriga está crescendo e o casamento não ocorreu! -Disse desgostosa

—Diga-me, Amália, como pode haver um casamente se o patriarca da fé está doente? Por favor, me diga qual ideia passa pela sua cabeça. -Disse ironicamente. 

—Eu... 

—Por favor, saia daqui. -pediu com o resto de paciência que tinha. 

Ela saiu resmungando algo, sem notar a presença de um homem atrás do lado de fora, ele a observava.

Afonso não voltou a participar de eventos destinados a nobreza, não esteve presente em casamentos ou aniversários, ou até bailes, promovidos em comemoração as ótimas colheitas. Nada. Ele estava mais focado na economia de Montemor e em garantir que o povo tivesse comida e água, para isso era necessário que a mina estivesse produzindo. Sua imagem começava a se transformar em lenda. O rei fantasma. Rodolfo e Lucrécia, mesmo tendo sido expulsos de Montemor, tomaram partido e representavam o reino. A mulher estava prestes a dar a luz, mas tinha a energia de mim cavalos em si. Uma pena para o jovem Rodolfo que já apresentava alguns cabelos brancos. 

—Catarina!!! -Exclamou afoito, entrando na sala do trono. 

Catarina se virou, sorrindo. 

—Sim, Rodolfo. 

Ela já sabia do que se tratava. 

—Por favor, eu lhe suplico, conforte meu coração e me diga que Lucrécia não saiu de cavalo para ir ao orfanato. 

Catarina sorriu sapeca. 

—Ela não saiu a cavalo... -Rodolfo suspirou em alivio. -Ela foi na carruagem. 

As feições dele mudaram rapidamente e sua cara de preocupação voltou, ele até mesmo ficou vermelho. Com uma rápida reverencia, ele se virou e saiu correndo pelo castelo, provavelmente indo em direção ao estabulo, pegar algum cavalo, para ir à procura da esposa.

Essa mulher não percebe que está gravida! -Catarina ouviu ele resmungar. -Deus protejas os Roldofinhos e Roldofinhas! 

Ela soltou uma risada.

—Por favor, não me diga que esse será o nome dado aos futuros herdeiros de Montemor. -Disse uma voz masculina atrás dela. 

Catarina sentiu todos os pelos do seu corpo se arrepiar ao ouvir aquela voz. Após sua coroação a rainha se tornou ausente quando o assunto era o príncipe de Brunis, da mesma forma que, ele teve que retornar ao próprio reino. Afinal, ambos gerenciavam reinos. Contudo, tal fato, somado com as inúmeras tarefas acumuladas, não foi o bastante para fazer com que eles deixassem de se ver. Seja em bailes ou visitas "diplomáticas", sempre havia uma forma dos lábios se encontrarem e as declarações soarem. Aquele tinha sido o mais longo período de tempo que permaneceram separados. Dois meses inteiros. Sem cartas ou qualquer outro contato. Sem beijos. 

Ela se levantou do trono e se jogou nele, o qual a acolheu saudoso. 

—Henrique! -Exclamou. 

—Como senti sua falta, meu bem. -Sussurrou no ouvido dela. 

—Não mais que eu. -Disse sorrindo, o olhando diretamente nos olhos. 

Aqueles olhos que.... Ah, Deus. Como Catarina amava aqueles olhos! E o clima foi se intensificando. Parecia que eles respiravam o mesmo ar e que seus corações batiam no mesmo compasso.

—Vamos discutir a respeito disso? -Questionou ela, apaixonada.

Ele abriu aquele sorriso.

—Devo admitir que tenho medo de atiçar seu lado competitivo, minha senhora.

—Sua senhora? -Ela levantou o nariz, desafiando-o.

Em resposta, ele apertou a cintura dela.

—Sim, minha!

—Vossa? Na mesma proporção que o senhor me pertence?

Ela aproximou o rosto do dele e deixou que os narizes se tocassem, tão perto da boca dele... O nariz dela percorreu a extensão do dela, ao ponto que o queixou dela encostou na barba dele. Ela suspirou. Os olhos dele estavam fechados, apenas sentindo o carinho que tanto desejou. Até que ela se afastou e encarou o rosto dele e, fechando os próprios olhos, aproximou as bocas. Ele logo pediu permissão para invadir sua boca, a qual foi concedida imediatamente. 

Eles ficaram assim, entre beijos e caricias, por tempo suficiente para só se afastaram ao ouvir a voz de Rodolfo e Lucrécia. Afinal, nenhum funcionário iria atrapalhar aquele momento da amada rainha de Artena. 

Durante o jantar, no qual todos se reuniram em torno da mesa, Henrique lhes contou as noticias. 

—Ah, então esse é o motivo da demora. -Comentou Catarina. 

—Sim, aparentemente, o patriarca da fé encontra-se com a saúde debilitada. 

Lucrécia sorriu. 

—Então, a criança nascerá bastarda? 

—Por favor, Lucrécia, essa criança não terá direito a nada que não seja um pedaço de terra, se houver generosidade. Não importa o que Afonso faça, aquela mulher não possui sangue nobre e o povo não aceitaria, muito menos o concelho. -Disse Catarina. -Quando disse aquilo na minha coroação não falava para provocar, mas para alertar. 

—Catarina está certa. -Disse Henrique. -Vossos filhos devem receber a educação adequada para, se possível, reinarem em Montemor. 

Rodolfo e Lucrécia se olharam.

—Assim será. -Disseram ambos. 

Nem todos estavam tendo um jantar tão amistoso quanto aqueles em Artena. No reino de Córdona o príncipe herdeiro nem ao menos tinha descido para se alimentar socialmente. Não, não, o príncipe Ciro parecia está pagando por suas frases irônicas e incomodas e por todas as patadas já dados em seres humanos... Droga, era o que exclamava o príncipe toda vez que olhava para àquele rosto e sentia uma, incomum, vontade de correr e fugir para as montanha, sim, aquelas mesmas montanhas que não existiam em Córdona. Contudo, aquela família estava ali graças à negócios, negócios importante para ambos os reinos.

—Droga! -Exclamou novamente. 

Ele se tinha vontade de sair daquele lugar e pegar sua espada para fazer alguma besteira, na qual não receberia punição. 

—Deus! Por que comigo, eu... Eu sou um bom servo, devoto ao senhor e, assumo que já proferi palavras forte, mas, Pai Eterno, sabes que tais palavras saíram da boca criada por vos, pela voz concebida em sua gloria... Então senhor, não me condene por dons dados a mim pelas vossas mãos...

Antes que ele pudesse continuar, ouviu uma risada e se virou assustado, pensando, por um momento, que Deus estava rindo dele. Mas não, quando ele se virou teve a certeza que era o diabo o tentando. 

Ela estava ali e, por tudo que é mais sagrado, estava tão bela. 

—Me diga, Ciro, por acaso está culpando Deus por vossos erros? -Perguntou sorrindo, achando graça da situação que tinha encontrado o príncipe. 

—Eu... Ehr... Eu... Vamos... Onde? -Ele se embananava com as palavras e sentia o coração acelerar. 

—Onde vamos? Oras, a lugar nenhum, apenas fiz uma pergunta. -Ela se aproximou dele e passou as mãos por entre os bolsos do casaco que ele usava. Por que ela foi fazer isso? Ciro estava a ponto de surtar e... Nem ele sabia o que faria. -O que está escondendo de mim? -Ela ficou na frente dele e o encarou de igual para igual. 

—Eu... 

Ele não conseguia respirar! 

—Você?

—Eu... 

E, contrariando qualquer pensamento, o príncipe saiu correndo dali. 

Nos dias seguinte aconteceu o mesmo, toda vez que Jade se aproximava, Ciro corria. A rainha Safira observava a situação de longe, mais uma cena acontecia. 

—Eles vão ficar bem? -perguntou Bertholo, rei de Córdona e pai de Jade. 

—Creio que sim. -Ela o fitou. -Sabe por que? 

—Diga-me. 

—Nunca vi meu menino correr por nada, nem medos, guerras... Amantes... Nada. E agora, veja por si só. 

O rei Bertholo olhou. Viu Jade se aproximar e, gentilmente, Ciro se afastar, depois correr. Bertholo riu. Aquela cena lhe lembrava outra que no passava tinha se desenrolado. 

—Creio que o acordo não encontrará obstáculos. 

Safira sorriu. 

—Sim, a união de Córdona e Vicenza ocorrerá!

Longe dali, Jade não sabia o que estava acontecendo e nem os motivos que faziam com que ela pensasse tanto em um príncipe irônico que agora fugia dela como se a mesma tivesse alguma doença contagiosa. Cansada, a princesa se recolheu aos seus aposentos. Após banharsse e trocasse, ela fechou os olhos e deixou-se levar ao mundo dos sonhos. 

Ao abrir os olhos ela estava em Vicenza, mas precisamente, estava no calabouço do castelo. A maioria das mulheres do reino não suportaria ir até ali, mas Jade estava acostumada, as vezes até se permitia fazer o serviço. 

—Senhora. -Reverenciou Neay, um dos homens que eram responsáveis por fazer valer as leis do reino. 

—Senhor Neay, o que temos para hoje? 

O homem sorriu.

—Posso observar que a princesa está necessidade de uma boa dose de vermelho. -Disse ele. 

Jade sorriu, vermelho era um eufemismo para sangue, o sangue dos prisioneiros. 

—Está certo. 

Ele adentrou uma das celas e de lá tirou um homem encapuzado. 

—Qual o motivo para está aqui? 

Ele não respondeu. Neay, irritado com a audácia do homem, lhe deu um tapa. 

—Vossa alteza, ele é o responsável pela morte da camponesa. 

Jade assentiu e encarou a figura. Ele parecia ser um homem forte, robusto... Lhe lembrava alguém. 

—Neay, pode fazer o serviço, irei apenas observar. 

E ele fez, puxou o capuz do homem ao mesmo tempo que enfiava uma adaga no seu peito, Jade gritou. O homem, meu Deus, era Ciro. Sim, aquele menino que cresceu com ela e...  Ela só conseguiu gritar em desespero, observando a vida deixar seus olhos, junto ao sangue que escorria pela sua roupa. Era Ciro. 

Ela gritou tão alto que foi possível ouvir seu grito no corredor real, aquele no qual ficava o quarto dela e de Ciro, bem como dos reis e rainhas. E, sofrendo com a insônia, ele não precisou ouvir novamente, sem pudor algum, levantou-se as pressas e correu até o quarto dela. Não houveram cortesias, ele só empurrou a porta e foi ao socorro dela. 

Jade chorava desesperadamente. 

O coração dele se apertou e ele foi até a cama, sentou-se lá e agiu da forma que seu coração ordenou, ele a abraçou. Forte, como se tentasse transferir a dor dela para ele. E ela o olhou e começou a dar tapas em seu peito. 

—Você morreu! Como o pôde?! -Exclamava revoltada e as lagrimas voltavam. 

Ele a apertou contra si. 

—Calma, foi apenas um sonho... Calma... -Sussurrava. -Eu estou aqui. 

Eles passaram alguns minutos ali, daquela forma, ele tentando acalma-la, ela aos prantos. Foi quando, sem entender como, eles perceberam a situação em que se encontravam. E aquele famoso clima começou a surgir, e ela o olhou, seus olhos migrara para a boca dela, ela ficou rubra. Ciro não sentia mais aquela estupida vontade de correr, ele queria ficar ali, com ela. 

Eu estou aqui. -Sussurrou ele.

E, quando menos esperavam, ambos se beijaram. 

Mal sabiam eles que em alguns dias receberiam convites para ir a Artena conhecer os filhos de Rodolfo e Lucrécia, os futuros herdeiros de Montemor. 

Rodolfo não pensou que sofreria tanto ao acompanhar a esposa nesse momento tão bonito e doloroso, mas, bastou ele, por curiosidade, querer ver a passagem da criança, que seu corpo caiu duro no chão. Ele só acordaria com os gritos de Lucrécia ao trazer ao mundo a terceira criança... Três? Sim! Motivo que levou-o ao chão pela segunda vez. Lucrécia só não o esfolou desmaiado porque estava muito ocupada o culpando, por toda aquela dor, e admirando com surpresa a quantidade de crianças que saia dela... Por Deus, teve um momento que ela pensou que nunca acabaria, que sairia da sua vagina toda a população de Alcaluz. 

Henrique não se conteve ao ver Rodolfo sendo carregado para fora do quarto, até mesmo Catarina, que estava muito preocupada com a saúde de Lucrécia, não segurou a risada. 

—Ele desmaiou. -Disse Henrique aos risos. 

—Duas vezes. -Completou Catarina.

Contudo, o sorriso de ambos morreu ao ver a primeira criança sair do quarto e depois outra.

—Dois?

Antes que pudessem se aproximar, mais uma serva saiu carregando outra criança?

—TRÊS! -Exclamaram juntos. 

—É um coelho... -Disse Henrique, abismado. 

Logo eles se aproximaram e foram conhecer aqueles que seriam como sobrinhos. 

TRÊS, pobre lady Lucrécia! —Comentou uma das cozinheiras.  

 


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Notas finais do capítulo

Jade: Phoebe Tonkin
Ciro: Nathan Parsons



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