Romanov escrita por Crna Gora


Capítulo 1
Romanov




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17 de Julho de 1918, Estava nublado o céu na terra dos primeiros moscovitas. Em Moscou, Rússia ou Ivan, como era conhecido por muitos e Rússia pela classe tzarista, pois nem todos da classe aristocrática, sabiam quem Ivan era, a Rússia. O colosso humano estava sentado numa poltrona, numa das salas dentro do Kremlin. Rússia estava cansado de andar, em torno da sala, olhar pela janela, escutar nas portas, os rebeldes vermelhos que conversavam, ora sobre a família Imperial, ora sobre leviandades.

 Estava, portanto sentado com o pé direito, batendo sobre o grosso tapete de pele. Ele apoiara o corpo sobre os cotovelos e esses estavam apoiados nos joelhos e sua cabeça sobre suas mãos, com os dedos cruzados. A ansiedade e o péssimo pressentimento o dominou, desde que foi mandado para Moscou e a família para Ekaterinburgo.

Nunca mais falou com os cinco herdeiros ou seus pais. Que saudades sentia da família real, mesmo quando não pareciam bem. Mesmo com aquele monge, Grigoriy Yefimovich Rasputin, ou mais conhecido como Rasputin. Como o pai, Nicolai II não apreciava suas filhas, Olga e Tatiana, andarem com ele, sozinhas pelo bosque do palácio, mas a Tzarina o chamava de “homem santo”. Ivan nunca opinara, nem quando solicitado. Mas não era em todas as atitudes que Rússia o achava estranho. Até ele sentia algo de inumano no velho monge, mas o que era?

Porém se assim, por que, sentia que estava acontecendo algo? Desde que Rasputin morrera, sentia algo estranho acontecendo, entretanto nada indicava o que era. Ele olhava para o relógio, esperava que algo incrível acontecesse.

Ivan abre seu traje cor bege e bordados cor de ouro, retirando do bolso interno, duas fotos. Na primeira, ele vê as meninas sentadas juntas num sofá. Velikaya Knyaginya Olga Nikolaevna Romanova, Velikaya Knyaginya Tatiana Nikolaevna Romanova, Velikaya Knyaginya Maria Nikolaevna Romanova, Velikaya Knyaginya Anastásia Nikolaevna Romanova. Estavam viradas de lado, com as pernas dobradas. Olga e Tatiana estavam apoiando a cabeça sobre o braço, Maria e Anastásia estavam com a cabeça deitada sobre o encosto do móvel. Postavam-se por ordem de nascimento no sofá, com semblante infantil, mesmo as maiores. Porém claro, elas tentavam assumir um ar superior, não para menos. Elas estavam reluzentes, como isso o alegrou por um tempo. Foto de quatro anos atrás. Lindas. Uma foto que ninguém tinha. Um presente dado a ele por elas.

Na segunda foto, estavam o casal real e o Tzarevic. Nicolai Alieksándrovic Romanov, Alexandra Feodorovna ou o não mais usado Vitória Alice Helena Luíza Beatriz de Hesse e Tzarevic Alexei Nikolaevic Romanov. Lá estavam os três. Nicolai II com seu uniforme da marinha, quepe impecável. Seus olhos imponentes estremeciam a qualquer um e mostrava quem ele era. Ah Alexandra. Sempre linda. Rússia sentia-se sujo quando parava muito tempo observando a beleza da Tzarina. Achava-se um traidor, mas era uma beleza inegável, assim como Olga. O herdeiro estava trajado com o uniforme militar típico, sentado a esquerda da mãe e a direita do pai.

            Novamente Rússia olha para o relógio que marcava 00:50. Cada vez mais ele angustiava-se. Sentia em seus ossos um pavor sufocante. Ele levanta-se da poltrona e guarda as fotos da família no bolso externo e retira da proteção de sua camisa branca, um terço de ouro e prata. Presente de Alexandra.

—Meu senhor, meu pai, não permita que as meninas sofram qualquer tipo de dor. Peço que seus representantes, mesmo com seus pecados, tenham sua proteção e luz. Ao Tzarevic, que nenhum mau o toque.

Dizia ele alto, com fervor, segurando com todas as forças o terço, após ter feito o sinal da cruz.

Logo ele sentiu um silêncio paralisante, gélido, mórbido. O tempo parou e ele petrificara, sentia a morte vindo, mas não era para ele. Ela caminhava a leste, longe, mas parecia que uma parte estava com ele. Algo mexeu em seu bolso onde estavam as fotos. Como se tivesse algo saindo do bolso e quando pôde sentir calor de novo, pensou em colocar a mão no bolso. Um terror sufocante se apoderara dele, ao retirar as fotos e vê-las marcadas de sangue e cada pessoa nas fotos estavam com dois ou cindo buracos pequeninos, poucos maiores dos que os de traça.

 O cheiro do sangue era legítimo e forte.

—Sa-sangue, o-o que...

 Antes que pudesse terminar a frase, Rússia é atacado com dores lancinantes e repetitivos. Em sua mente, agora conseguia entender o que estava correndo. Via os minutos antes do motivo pelo que estava sentindo. Todos estavam dispostos entre si para uma fotografia rotineira como tantos outros, mesmo que não fosse numa ocasião demasiada boa.

            Não demoram seus executores ao avançarem armados e começarem o fuzilamento. Agora Rússia entendia e podia sentir o que acontecia. Durante a execução da família Romanov, Rússia se debatia pelo tranco das balas. Expressava dor e sofrimento, gritava e derramava lágrimas pela tristeza. Na fúria e na agonia, ele rasga a camisa já manchada de sangue. Chora enlouquecido, vendo um a um os membros reais tombarem uns nos outros. Em seu peito, estão sete furos de balas, a mesma quantidade de membros da família real assassinada.

 Rússia gritava.

—Não, meus Tzares, irmãs, meu tzarevic!

Finalmente os “tiros” cessam e ele se abraça após cair de joelhos. Sentia-se culpado por eles, achava que poderia ter feito algo, mesmo que talvez fosse mentira. Mas algo voltava a estar errado. Rússia sentia sua mente anestesiada e nevoada. Seu coração trabalhava mais rápido e teve a sensação de que fosse explodir. Seus olhos, podiam ver. Viu o povo russo, em uma carnificina sem igual. Os bolcheviks atacando e avançando violentamente para o leste do pais. Quem apoiou a águia bicéfala, agora vestia a estrela vermelha.

 E eram essas mudanças que Rússia sentia, que anestesiavam seu corpo e mente. Ele agora tinha idéia, idéias que mesmo Ivan IV, não teria e Rússia o conheceu intimamente.

Rússia se contorcia ainda de joelhos. Tentava se confortar com o tempo em que finalmente sentia-se seguro e querido. Pensava no amor que Nicolai II sempre demonstrou a Alexandra e sua ternura em resposta. Esforçava-se para não esquecer os tempos Tzaristas de Pedro, quando este o mostrou a seu amigo França e solicitou a Famiglia Italiana, como se comportar frente aos outros europeus. Mesmo Katarina, A Grande, A Mãe da Rússia, agora ele queria estar entre seus braços calorosos e não pensar em mais nada.

Porém sentia que toda sua mente estava-lhe fugindo. Ele torna a chorar, mas é por medo. Medo da mudança bruta, violenta que o forçava a esquecer sua história e sua família humana. No desespero, ele busca as fotos que estavam em sua roupa e depara-se com sua visão tornando-se avermelhada. Ele tenta focar os olhos nos rostos das duas fotos e lembrar dos dias em que ele pôde ser Ivan e não só Rússia. Mas era tarde demais, pois neste esforço inútil, ele respirava descompassado e pelo esforço mental, Rússia não sentiu nada.

Então, o silêncio. O mesmo silencio que o petrificara e o congelara antes.

Algo estava morto nele. Então a porta é destrancada e um rebelde bolchevik aparece. Ele não avança pela sala e enquanto perto da porta, ele dá a notícia a Ivan.

—Sua ”familiazinha” foi executada hoje. Agora o amarelo não é mais a cor da Rússia. Agora você é vermelho e pertence a nós, aos bolcheviks. Lembre-se disso, Rússia.

 Então eles sabiam. Alguns talvez. Mas sabiam. Bom, ao menos um não mais saberia. Rússia respirava fundo, afim de recuperar todo o ar que escapara-lhe antes. Ele lutara contra si mesmo, pois afinal o povo formava o que ele era e ele formava o povo russo. Contudo, de nada adiantou. Rússia ergue a cabeça, para melhor ver e quem lá entrasse, poderia ver que a “transformação” fora um sucesso.

Ele ainda senti uma certa ardência nos olhos, mas mais pelo esforço, o que logo passaria. Entretanto por um tempo, talvez suas pupilas permaneceriam avermelhadas, revelando o tirânico e assassino olhar e a face, num sorriso doentio e sangrento, por toda a Rússia.


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Notas finais do capítulo

Eu gosto de história mundial de alguns países e durante a leitura de um livro, imaginei esse ocorrido. Foi a primeira estória que completei, é curta mas acho que ficou legal.



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