Uma coisa para se sentir escrita por MT


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! Desculpe-me por qualquer erro, mas não esqueça de avisar-me sobre eles! Boa leitura!



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A areia quente acordava-me o tato enquanto a fria brisa marítima acariciava ternamente minha face naquela bela manhã na qual meu tempo fora destinado a procrastinação. A viagem não havia sido uma ideia das mais sensatas, mas não adiantava mais reclamar de algo com qual consentira. Observei a maré verde azulada, as encostas rochosas permeadas de vegetação e as pessoas sorridentes banhando-se, por que eu não podia simplesmente deixar-me influenciar por aquilo? Lara, Ester, Lucas, Maria, João, todos divertiam-se tão naturalmente que sentia ter nascido com algum defeito maior do que ´´problema de comunicação``. Mas existia uma forma de fazer algo fluir de maneira similar a felicidade sob minha pele e essa forma era…

Rodrigo vem! A água está ótima! - berrou João a vários metros da faixa de terra da praia.

Ele vestia um calção azul e brincava juntamente aos demais membros do comitê de educadores do colégio estadual Valadares. A cena daqueles adultos jogando vólei imersos até os joelhos sob a água não me sugeria a imagem rígida creditada a eles pelos alunos, no entanto, eu sabia muito bem o quão austera podia ser a nova geração de professores daquela escola, eles não eram simples discentes. Ergui-me do chão e ponderei a oferta. Molhar ou não molhar? Molhar me faria correr o risco de pegar um resfriado, além do de topar com alguma fera perigosa oriunda do mar. Não molhar me manteria seco e com ainda menos chances de pegar um resfriado, mas o calor continuaria sendo um incomodo. Desabotoei a camisa e a removi depositando-a logo em seguida sobre o lençol estendido na areia. Uni-me aos meus colegas de trabalho em sua atividade juvenil.

Horas mais tarde, ligeiramente cansado, conclui que docentes tem um vigor bem elevado para o tipo de atividade laboral ao qual se expõem. O sol já estava se pondo quando Maria levantou e nos fitou. A mulher usava um maio azul e o cabelo negro ondulado solto sobre os ombros, do grupo era a mais velha com 45 anos e se portava como tal, sendo a responsável por nos impedir de fazer grandes besteiras.

Hora de voltarmos para o hotel. - anunciou.

Nem um de meus companheiros ousou questioná-la, seguimos obedientemente sua liderança rumo ao local em que estávamos hospedados. Havíamos nos dividido em duplas para ocupar os quartos e a minha era Ester. Por algum motivo elas me consideravam inofensivo se comparado aos demais rapazes, portanto, nos deixaram juntos, ao menos foi isso o que disseram. Na verdade aquilo era um mal elaborado estratagema para nos unir como um casal, semanas ouvindo Lucas e João dizendo para chamá-la para sair e Maria falando que ela gostava de mim são pistas mais do que o suficiente para concluir isso. No entanto, não sentia absolutamente nada por Ester, o que apenas significava que não tomaria qualquer iniciativa, simplesmente sentaria e a assistiria.

É… - Ester começou quando encontramo-nos a sós no quarto. - O que tem achado da viagem?

B-bom tem sido agradável. - as palavras mal saíram, eu realmente tinha problemas de comunicação. Respirei fundo e mentalizei a mesma cena que imaginava ao dar aulas. - E você?

Tem sido muito divertido. - ela respondeu ainda um pouco constrangida.

Um silêncio incomodo instalou-se no pequeno quadrado mobilhado. Sem interesse algum em mudar a situação deitei-me na cama e fechei os olhos. Logo outra situação incomoda decorreria.

Batidas na porta soaram um bom tempo depois.

Rodrigo – Maria chamou – Eles chegaram.

Penosamente ergui o tronco e observei Maria, ela havia trocado de roupa. Ao invés do biquíni amarelo e a toalha florida amarrada na cintura usava agora um vestido vermelho longo com um decote sutil. Também mudara o penteado, pondo o cabelo preto num coque elegante de onde pendia uma rosa. Suspirei, não tinha nada tão extravagante para a ocasião.

Ainda vai trocar de roupa?

Pensei um pouco nas possibilidades antes de levantar e responder desastradamente ´´Vou assim mesmo.``. Ela abriu a porta e nos juntamos ao restante do grupo. Mesmo tendo passado três dias com aquelas pessoas seu comportamento boêmio ainda foi capaz de estar acima das minhas expectativas. Tive o leve pressentimento de que alguns dos meus companheiros de viagem causariam confusões na festa a qual nos dirigíamos.

A estrada estava escura e as placas de madeira da ponte que levava a praia rangiam a cada passada. Além de nós vários outros também a atravessavam sendo banhados pela luz do luar e das tochas. O frio não tornara-se palpável ainda devido ao fogo, mas com uma leve pontada de arrependimento por não ter posto um casaco lembrei que no nosso destino ele estaria presente. Aportamos na areia branca em poucos minutos.

O local estava repleto de mesas sobre as quais vários tipos de comida e bebida repousavam, havia um palco simples e grande de cor marrom e colunas de madeira onde tochas estavam penduradas nas laterais e no topo. Notei que a pequena multidão a nos acompanhar até ali era de fato pequena ao vislumbrar o número de pessoas reunidas entre os espaços vazios do lugar. Não me agradava muito estar no meio de tanta gente, no entanto, decidi ignorar o desconforto pelo bem do meu livro.

A história que estava a desenvolver teria cenas como aquela e as de mais cedo, um grupo indo viajar para uma cidade como esta e se divertindo ao festejar tal qual adolescentes. Por isso, no intuito de melhor descrever a situação, resolvi aceitar o convite e vir junto aos outros docentes tirar umas férias. Mas até o momento não sentira nem mais nem menos confiança para escrevê-las. Já estava considerando aquilo um equívoco, um erro tosco e desnecessário. Teria sido uma ideia melhor ter focado na vivência da outra parte do meu projeto literário, o…

Ei vamos ficar perto do palco! - disse João ao perceber nosso afastamento do local.

Fizemos de acordo com sua sugestão. De lá notei o quão destoante do meu grupo eu estava e o quão dessincronizado com o restante da festa eles se encontravam. Quase como melodias diferentes os trajes de gala, ternos e vestidos, e as roupas tropicais, camisas e bermudas, teimavam em não ceder a soberania um do outro. Mas nenhum deles comentou nada a esse respeito.

A elegância deles começava a ser motivo de cochichos quando a primeira apresentação começou.

Uma dança acompanhada por música proveniente de tambores. Não a achei algo digno de aplausos, mas acompanhei meus colegas de trabalho quando estes a ovacionaram. Uma outra música, eletrônica se não me engano, começou a tocar e aqueles mais afeiçoados a movimentar-se de acordo com o ritmo musical aproximaram-se do palco. Fui empurrado cada vez mais para longe até me ver sozinho na lateral escura da grande aglomeração de boêmios. A luz da lua sendo a única a contribuir com minha visão, por estar afastado demais das colunas carregando tochas, me permitiu perceber que acabara afastado do meu grupo. Soltei uma risada incrédulo, era muita falta de cuidado não ter ficado com a chave do quarto de hotel, agora não poderia nem desfrutar do colchão fofo pelo qual despendera uma grande quantia.

Dei alguns passos a mais no sentido contrário a festa e sentei-me na areia. O oceano sombrio coberto pelo manto da noite era uma visão intrigante, um pequeno infinito na terra, algo que nenhum homem jamais será capaz de agarrar com suas mãos, um universo, um vazio preenchido. Será a morte a passagem para um lugar como aquele mar? Ou será literalmente as águas a minha frente o local de descanso de todas as almas? Agarrei um punhado de terra, definitivamente era fria como um cadáver, mas de certo também poderia ser quente como um ser vivo, portanto, conclui que não obteria a resposta através do tato.

Então, caindo como um cometa, a mulher de vestido branco e cabelos loiros apresentou-se a mim. Ela despencou a poucos centímetros de onde eu estava de forma pouco sutil e acabou numa posição não convencional. A bunda voltada a lua, a face enfiada na areia e o fato de estar imóvel me levarão a supor que pudesse estar morta. Levantei-me e, cautelosamente, cutuquei o possível defunto. Ele se moveu. Após um momento de ponderação a ajudei a se sentar e em seguida fitei com certa curiosidade o rosto sujo da moça desastrada. Mesmo naquele estado ela irradiava uma beleza desbundante, o que, com certeza, não era normal.

Os olhos castanhos da jovem loira, que aparentava não ter muito mais que vinte anos, demoraram uns bons segundos para focar em mim. Ela estava completamente desnorteada, o álcool fizera um bom trabalho naquela garota.

Where… i am?(Onde eu estou?) - perguntou tropeçando nas palavras.

Mesmo que tivesse dito sobriamente não teria entendido.

Brasil, no english and… - meu repertorio de palavras estrangeiras para aquele tipo de situação havia acabado ali.

Ah, Brasil? - o tom de reconhecimento dela me fez relaxar um pouco. - Pode… me levar pro meu quarto?

Assenti. Carregando-a nos braços como faziam os príncipes dos contos de fada e como fazem os maridos após o casamento transcorri o trajeto até o hotel, com paradas apenas quando ela desatava a vomitar. Lá dentro segui suas instruções para achar o quarto onde ficara hospedada, foram várias idas e vindas, mas conseguimos encontrá-lo.

Desculpe. - ela disse enquanto a colocava na cama. - Meu nome é Marina...

E dormiu me deixando surpreso e agradecido por não ter o feito antes. Sai do quarto e fechei a porta. Ao menos servira para me distrair um pouco, pensei ao retornar a praia. A imagem daquela mulher assombrou meus pensamentos várias vezes aquela noite e eu deduzi que isso se devia a capacidade não natural dela de manter-se bonita. Porém, no fim, só consegui pensar arrependido no número de vezes em que poderia ter manchado o chão com…

O sangue dela.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado!
Se não gostou diz o motivo por favor! Eu nunca te pedi nada!
Volte sempre!