"20 de dezembro, de 2017

Olá,

    Bem, eu não sei ao certo o que estou escrevendo aqui.

    Já faz tempo que você foi embora, mas ainda dói...

    Se já tentei esquecê-la? Talvez, mas nunca deu certo

    Para falar a verdade pensei que poderia parar de sentir o que eu sinto se me distraísse, poderia dar certo, não é?

Só que não deu.

    Continuamos conversando por mensagens, ligações e até chamadas por vídeo, mas ainda dói...

    Tudo que eu tento só me faz lembrar de você...

    Sua música preferida...

    Sua sobremesa preferida...

    Seus lutadores preferidos...

    A dor que sinto é algo que não consigo escrever, mas talvez você a conheça. Ela já é uma velha amiga, se chama saudade.

    Por que isso não vai embora? As coisas pareciam mais simples quando não tentava despejar tudo num papel e só pensava, sem nunca dizer.

    Essa carta pode não ficar tão boa quanto os poemas de Lucy, aliás, foi ela quem deu a ideia, mas posso pelo menos achar que está boa, certo?

Errado.

    Com toda certeza você está lendo e rindo do meu papel de otário, como sempre. Mas, afinal de contas, acho que essa sua forma rude e valentona que me fez gostar de você.

    Argh! Parecia tão fácil quando Lucy leu seus poemas, Lori disse como são sentimentos, Lynn me explicou que o amor é como uma bolada na cara – te acerta quando menos espera –, Luna falou que ás vezes é bom descartar esse sentimento fazendo música, Luan disse para sempre sorrir, mesmo se estiver triste, e saber se o sorriso do outro é verdadeiro, Lisa explicou como funciona o coração – impressionantemente os sentimentos mesmo –, Leni começou falando de garotas e terminou falando sobre focas – não me pergunte –, Lana e Lola começaram a brigar no meio da explicação de como uma garota quer ser tratada e Lily somente... Fez o que sempre faz... Sujou a fralda para o irmão do meio aqui limpar!

    Mas cá estou eu escrevendo isso. Você foi minha melhor amiga enquanto estava aqui, quando nos encontrávamos era ótimo, embora eu sempre acabava levando um soco no braço...

    Me pergunto quando comecei a sentir essa... essa coisa por você!

    Ah, lembrei. Foi quando resolvi dar uma de machão para te enfrentar, já que sempre mexia comigo da escola me fazendo passar vergonha... Parece que até disso sinto falta agora...

    Estranho, não é? Eu aqui formando frases sobre coisas que nem sei o que são... Coisas que, provavelmente, irá ignorar no término dessa carta que sem dúvida acabará no lixo...

    Enrolei demais até aqui, certo? É só que não sei o que escrever! Ou melhor, não sei como escrever... E o Clyde aqui do meu lado falado sobre a Lori está piorando a situação.

    Bom, primeiramente ele veio tentar tirá-la de minha cabeça, pode ter conseguido por algum tempo, mas começou a doer de novo quando peguei a caneta para tentar.

    Ah, essa caneta... Fui idiota o suficiente para pegar justo a caneta que você me emprestou, mas nunca devolvi. Não sabe as lembranças que vêm na minha mente quando a vejo.

    Lembranças tão engraçadas, mas mesmo assim... Ainda dói.

    O que diabos estou escrevendo aqui?! Eu tenho onze anos!

    Vou acabar com isso logo... Deve estra me achando o maior panaca agora....

    Há! Isso é tão engraçado!

    Mas, se é tão hilário assim...

    Por que ainda dói?"

[...]

    Ela desdobrou a carta pela décima vez, a leu pela décima vez, e sorriu pela décima vez...

    Pegou uma caneta qualquer e começou:

    "17 de janeiro de 2018...