Drunk but not in love - SURPRISE escrita por Clara Kairós, QG Dramione


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal!!
Como perceberam, sou nova nessa plataforma, é a primeira coisa que espero aqui e, por isso, espero agradá-los ainda mais! Pretendo passar algumas das minhas fics existentes em outras plataformas para essa, em algum tempo, mas isso pode demorar. No mais...
Aqui estou eu com minha participação no desafio Surprise!! Devo agradecer, primeiramente a minha amiga Sofs, quem me deu a ideia para essa fic quando eu estava totalmente perdida (para variar). No mais, notas longas virão ao final! Tenham uma boa leitura!!



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     As velas crepitavam sobre sua cabeça, e o barulho, tão suave e acolhedor, quase a fazia se esquecer da chuva que caía do lado de fora, castigando as vidraças. Era como se estivesse em casa, aquecida, o rosto morno por conta do fogo corando suas bochechas redondas. A garota sorriu, deixando que os olhos vasculhassem cada pedacinho daquele lugar que ela conhecia tão bem. Sem que conseguisse evitar, lágrimas vieram aos seus olhos grandes.

                - Hermione, não me diga que está chorando. – resmungou o homem atrás dela, passando os braços por sua cintura e depositando um beijo no maxilar fino da garota. Ela levou uma das mãos aos cantos dos olhos, afastando as lágrimas que a importunavam um tanto envergonhada. Os olhos verdes ao seu lado, emoldurados por um emaranhado de cabelos ruivos, estavam secos e brilhantes como sempre. Ela tinha a impressão de que, a qualquer momento, ele faria alguma piada que a desagradaria.

                Negando com a cabeça, a morena desviou-se daqueles braços e sorriu, ajeitando os fios encaracolados atrás da orelha. O tilintar das taças e das louças começava a preencher seus ouvidos vindo de longe, vez ou outra interrompido pelos assobios do vento. – Não, é apenas o calor das velas — ela murmurou entre um sorriso doce e ligeiramente artificial – Vamos, Harry deve estar esperando por nós lá dentro.

                Sem esperar por uma resposta, a menina começou seu caminho pelos corredores de pedra que tanto conhecia, escutando seus saltos baterem contra o chão, silenciando qualquer palavra que Ronald pudesse dizer atrás de si. A verdade era que ela estava muito nervosa com o namorado, pronta para lançar um feitiço a qualquer sinal de zombaria, mas não deixaria que uma briga idiota acabasse com sua noite ali, naquele lugar que sempre fora uma segunda casa para ela.

                Enquanto caminhava, era inevitável não perceber as ruínas, os pedaços de colunas e pontes que ainda não tinham sido reconstruídos sendo encharcados pela tempestade. Ela levou uma das mãos ao peito, sentindo o coração bater com força e as lágrimas surgirem aos olhos outra vez. Não precisava resgatar nenhuma memória, todas estavam bem ali, saltando à sua vista como explosões. Se olhasse bem para os cantos escuros, veria sombras que preferia esquecer rodopiando junto com os assobios cortantes do vento. Por baixo de seu sobretudo negro, ela sentiu os pelos do corpo arrepiarem ao mesmo tempo em que um clarão rasgou o céu, iluminando parte de seu rosto e deixando a outra no escuro.

                Ela parou onde estava, sentindo as vibrações de seu peito por todo o corpo, tremendo. Ao morder o lábio inferior, pensou que talvez não tivesse sido uma ideia tão boa convocar aquelas pessoas, que talvez não fosse a hora, ainda... Outro clarão surgiu no céu, retirando-a de seus devaneios e fazendo com que voltasse a andar com firmeza pelos caminhos que bem conhecia. Nunca havia uma hora certa, ela diria mentalmente, enquanto a chuva tomava conta de seus pensamentos frios.

                Quanto mais andava, Ronald estranhamente silencioso ao seu encalço, mais altos eram os barulhos das taças, da prataria tinindo como se já fosse natal. Um sorriso formou-se em seu rosto, e a menina fez questão de andar mais rápido, impelida por um desejo cego de continuar seu caminho, pulando as ruínas de sua memória e varrendo para longe as gotas de chuva que caíam lá fora. Era hora de recomeçar, é claro.

                De repente, como se seu caminho tivesse encurtado em quilômetros, as grandes portas do salão principal estavam a sua frente, com as aldravas de ferro fundido sorrindo para ela entre dentes escurecidos pelo tempo. Ela engoliu em seco, sentindo a mão do namorado em seu ombro. O calor era familiar, reconfortante. Virou os olhos para ele, encontrando seu rosto um pouco borrado pelo escuro que os cercava. Nem sempre aquelas sombras estiveram presentes no rosto do Weasley, mas a cada dia que se passava pareciam maiores, consumindo-o lentamente. Hermione sentia que o perdia, e brigava com ele por isso, gritava, recebia gritos de volta, e naqueles instantes inflamados ela sentia que vivia de verdade, mas logo o fogo abrandava, e a escuridão tomava lugar entre os olhos esverdeados. Ela sorriu com tristeza, recebendo apenas um aceno de cabeça como resposta. Erguendo o rosto, Hermione espalmou as mãos contra as gigantes portas de madeira, e deixou que abrissem ao seu toque.

                O calor a atingiu em cheio, junto com as cores, as conversas misturadas, e as vozes que seriam mais animadas não fossem às circunstâncias, ela sabia. O cheiro de comida boa e quente atingiu suas narinas e, aparentemente, ativou o estômago de Ronald, que logo fugiu de seu encalço em direção à mesa de assados. Sem conseguir evitar, Hermione revirou os olhos e começou a andar entre a multidão.

                Como esperado, estava atrasada – o motivo inicial de sua briga do dia com o ruivo –, mas as pessoas ao seu redor a cumprimentavam com sorrisos e acenos, uns mais calorosos que os outros. Os rostos que via eram familiares, mas todos pareciam, sem dúvida alguma, tomados pela mesma sombra que ela via cair sobre o rosto de Ronald todos os dias, acumular-se entre as íris esverdeadas, achar espaço nas rugas que se formaram precocemente naquele rosto.

Foi ao cumprimentar pessoas que ela viu, no lugar onde costumava ficar a mesa da sonserina e agora havia uma gigantesca mesa de bebidas, ele. Tomado por uma luz incomum, o homem reluzia em vestes cor de safira, a gravata negra deixando seu peito escuro e servindo de destaque para o rosto anguloso e branco. Sem sorrir, olhos de serpente a fitavam com usual desinteresse, e como se sequer tivesse percebido que ela estacara ali apenas para vê-lo em sua usual quietude, Draco Malfoy levou um cálice de cristal à boca, apreciando o som da chuva.

                Enquanto Hermione se afastava, os olhos cinzentos não deixaram de acompanhá-la até a ponta do salão, onde recebeu um longo abraço da diretora McGonagall. Draco bufou, colocando sua taça brilhante sobre a mesa e voltando a revistar o lugar com total displicência. As pessoas fingiam estar felizes, como ele notou com total desdém. Fingiam estar maravilhadas com aquela festa inútil e cheia de propósitos que nunca seriam concretizados. Festa de aniversário de Hogwarts. Quem desejava aquilo? Aquela data nunca antes tinha sido comemorada, passava em branco por todo e qualquer aluno, mas Granger, como sempre, arrumava um modo de tornar o obsoleto e ridículo no foco de atenção geral. Veja-se o que fez com Potter. Então ali estavam eles, ex-alunos, sobreviventes, comemorando um velório como se fosse um aniversário.

                Enchendo sua taça de vinho tinto com um toque da varinha, Draco sentia-se como um intruso ali. As pessoas lhe lançavam olhares, cochichavam ao passar por ele, e o rapaz sabia muito bem que se perguntavam o que ele, que lutara do outro lado, estava fazendo ali. Bom, ele fora convidado, era um ex aluno, era um sobrevivente, e adorava beber gratuitamente, então ali estava, quieto, conformado com o vento conversando com ele e, vez ou outra, fazendo com que seus fios de platina cintilassem pela mudança na luz das velas.

Ele não tinha nada para comemorar, e sabia que as pessoas ali também não, mas sentia que era o único honesto o suficiente para admitir isso. Quem contrariaria a brilhante Granger, afinal? Olivio Wood, com sua pose de idiota? Lovegood, com seus olhos de lunática? Ou o Santo Potter? Qual deles seria sincero o suficiente para dizer a ela que aquela festa era uma piada, e que as ruínas que tinham dentro do peito não seriam mais refeitas? Nenhum. E era por isso que o Malfoy bebia ali, em silêncio, esperando a hora correta de cortar o ar com suas palavras amarguradas.

                Da outra ponta do salão, Hermione recebia felicitações dos professores e da diretora, sentindo os abraços quentes e os sorrisos mais sinceros possíveis acalentarem seu coração. – Professora McGonagall? — ela murmurou após ser devidamente cumprimentada por todos da mesa docente. A mulher lhe ergueu os olhos por trás dos óculos quadrados, e mesmo que seus lábios não tivessem movido minimamente, Hermione sabia que ela estava sorrindo – A senhora não acha que isso foi um erro? Que deveríamos ter esperado mais?... Quer dizer, dois anos são tão pouco, não acha? Para esquecer tudo o que ocorreu...

                E com isso os dois pares de olhos esquadrinharam o local. As velas estavam dispostas em gigantes candelabros, os vestidos cintilavam e as vestes pareciam perfeitamente alinhadas aos corpos. Havia um clima de tensão, e Hermione podia quase tocar aquela corda prestes a arrebentar, temendo que qualquer um a estilhaçasse com uma palavra errada, um movimento rude, e sem desejar sua atenção voltou-se para o Malfoy e sua quietude. Ela sentiu o corpo arrepiar ao perceber que ele a encarava, e logo mudou o foco de sua atenção. O vento ainda tentava romper o limite dos vitrais, a chuva escorria em prantos do lado de fora. Minerva suspirou longamente – Não vamos esquecer o que ocorreu, Granger... Mas podemos, é claro, começar de novo. E para um começo, é necessário apenas vontade, o que a senhorita tem de sobra.

                Os olhos de Hermione encheram de lágrimas, e a menina assentiu várias vezes, sem coragem de falar coisa alguma. Com uma pequena reverência em sinal de respeito, ela deu as costas à mesa e voltou a andar pelo salão, observando sua decoração primorosa. Haviam flores, candelabros, confetes coloridos e balões por todo lado para comemorar o grandioso aniversário de Hogwarts da forma mais respeitosa possível. Ninguém nunca tinha feito aquela comemoração, então, para Hermione, era uma honra – e um fato a ser esnobado depois, é claro. Com passos confiantes foi em direção a Ronald, que conversava com os irmãos com um grande pedaço de frango entre os dedos. A morena respirou fundo, tentando não se estressar com aquela falta de modos habitual, e aproximou-se do grupo com um sorriso.

                - Hermione! – Percy exclamou com animação nada usual. Passado o susto, a menina reparou o notável tom embriagado em sua voz, e negou lentamente, escutando-o – Ronald estava me contando que... Que... O que ele estava contando mesmo?

                - Inútil. – riu George, dando tapinhas nas costas do irmão claramente confuso em seus pensamentos. Ele, por sua vez, não se encontrava, ou ao menos não aparentava, tão bêbado assim – Ronald estava contando que vai viajar para a Austrália no mês que vem, como você está lidando com isso, huh? Não vai ficar com saudades com ele fora durante seis meses? Gina está inconsolável por causa de Harry, eles não se desgrudam há semanas, tanto é que já sumiram daqui. Deve ser difícil namorar um auror... Que bom que não é meu caso.

                O sorriso que iluminava o rosto da menina foi sumindo pouco a pouco, até que não restou nada senão o farfalhar da chuva e os barulhos indistintos da comemoração ao fundo. Os outros Weasley voltaram a conversar como se ela não estivesse ali, tomados pelo início de embriaguez. Até mesmo a grande placa de aniversário que cruzava o salão, dourada e cintilante, não parecia brilhar tanto. Granger virou-se para o namorado, que estava pálido como a neve, olhos arregalados. Não precisou dizer nada.

                - Mione, eu ia te contar depois da festa. Você estava tão ocupada, tão envolvida com essa comemoração, que eu não queria te atrapalhar... Você entende, não é? – a súplica era evidente em sua voz, e, tomado pela culpa, Ronald não via para onde ir. Aquela desculpa da festa fora esfarrapada, sabia da viagem há meses. Não contara porque... Não havia porquê, e ele sabia que Hermione notara isso desde a primeira palavra que pronunciara. Sem dirigir-lhe a palavra, com medo do que poderia dizer caso abrisse a boca, Hermione deu-lhe as costas, ricocheteando seus cachos no peito do ruivo e sumindo pelas grandes portas do salão. Antes de dar um último passo para fora, suas mãos tomaram uma garrafa de Whisky de Fogo e a apertaram com força, até que seus dedos ficassem brancos. Sentado logo ao lado da mesa, agora devidamente interessado, olhos cinzentos cintilaram, e vestes esmeralda farfalharam como a chuva enquanto lentamente seguiam Hermione para fora do salão.

                Quando as portas fecharam atrás de seu corpo esguio, Draco não conseguia vislumbrar a morena em lugar algum. Como sumira tão rápido? A ideia de que ela poderia ter aparatado veio em sua cabeça, e ele estava pronto para xingá-la de qualquer coisa quando o barulho de saltos contra o chão chamou sua atenção. Um sorriso ferino subiu-lhe aos lábios, e ele seguiu o som enfeitiçado pelo caminho.

Enquanto andava, seus pés faziam barulho contra as pedras, vez ou outra deslizando contra o solo úmido. O vento assolava seu rosto, corando-o com sua força e respingando gotas gélidas de outono em sua face e mãos. Ele tinha de andar rápido, quase correr para alcançar os passos de Hermione, vez ou outra parando para distinguir o barulho dos saltos através do sibilar do vento. Quando estava num corredor deveras distante do salão principal, o silêncio tomou conta de tudo, e apenas o barulho da chuva batendo contra as pedras era audível, assim como as folhas dobrando-se do lado de fora. O rosto de Draco contorceu-se em ódio, e ele bateu um dos pés com força no chão, fazendo com que água empoçada espirrasse na barra de suas vestes.

Ele esperou ali, no silêncio, os olhos arregalados no corredor escuro e vez ou outra iluminado parcamente pela luz de um relâmpago fugidio. Esperou... Esperou... Esperou e o silêncio foi consumindo-o aos poucos, até que se tomasse por vencido e decidisse ir embora. Não iria de volta àquele salão para uma festa de aniversário estúpida. Iria para casa, para o conforto de seus livros e para a alegria de sua solidão. Estava prestes a fazê-lo, virando-se para o lado de onde tinha vindo, quando um barulho, diferente do tilintar da chuva, chamou sua atenção. Estacou onde estava, desviando toda sua atenção para aquele barulho suave, mas existente, de vidro rolando pelo chão. Sem perceber, sorriu em triunfo.

Seguiu o barulho até que ficasse mais alto e fosse certo de que ele vinha de dentro de um dos banheiros. Sem pensar, o menino empurrou a porta com ambas as mãos, entrando no ambiente morno e fechando-o assim que se acostumou com a iluminação intermitente e com o clima diferenciado. Apoiou-se contra uma das paredes, observando a própria cena da decadência. Hermione estava no chão, apoiada contra uma das pias, com os olhos vidrados na garrafa – quase vazia – que rolava de um lado para o outro. Draco soltou um grunhido abafado, cintilando seus olhos para a menina.

— Parece que não é um feliz aniversário, huh, Granger? — ele zombou, observando-a a distância. Sem parecer ter se assustado, quase como se o esperasse ali, Hermione ergueu os olhos escuros para o loiro e, desprovida de cerimônia, pronunciou:

— Vá se foder, Malfoy. – o loiro riu, agora audivelmente, impelido a chegar mais perto daquela figura. Hermione se endireitou onde estava, abraçando-se à garrafa de Whisky de Fogo como se temesse que o menino fosse tomá-la de suas mãos. Revirando os olhos, Draco parou de fronte a morena, observando-a do alto. O silêncio começou a tomar conta do ambiente, trespassado vez ou outra por trovões e pelo barulho de uma torneira de água quente que a menina devia ter ligado, fonte do calor que começava a fazer ali. Incomodada, Hermione ergueu o queixo em sua usual pose desafiadora, os olhos começando a embaçar por conta do álcool – O que é? Mas por Merlin, eu não posso fazer nada que você ou outra pessoa aparecem, querendo tirar satisfações, tenha a santa paciência!

— Olha quem está falando, Granger... Tirar satisfações sempre foi uma especialidade sua. – riu o mais novo, observando-a xingá-lo de qualquer coisa impossível de compreender e, de súbito, acabar com o que restava na garrafa que tinha em mãos. Draco não pôde deixar de ficar surpreso, vendo-a sorver do líquido alaranjado com tanta facilidade e determinação. Os olhos selvagens de Hermione o encontraram no exato momento em que se surpreendia, e um sorriso cortou os lábios ainda úmidos de álcool.

— O que é? Mulheres não bebem, agora? Ou é só porque sou eu, Hermione Granger? Brilhante Hermione Granger... Tão inteligente, tão prestativa, tão doada a tudo e todos. Linda Hermione Granger, adivinhe só, ela prepara uma festa gigantesca, de proporções colossais, apenas para que um bando de idiotas como Ronald Weasley e Draco Malfoy a destruam com sua língua grande e seu desinteresse, respectivamente. Fantástico.

Soltou a menina de uma só vez, as palavras caindo de sua boca como se estivessem presas ali há muito. Draco, com as sobrancelhas erguidas, reparou na ferocidade com que ela dissera aquilo, e em como seus olhos estavam secos, longe de qualquer lágrima. Talvez ela tivesse desaprendido a chorar, depois de tudo. O rapaz estalou a língua após um tempo sustentando o olhar intermitente de Hermione, e ajoelhou-se até que seus olhos estivessem no mesmo nível que os da moça. – Desinteresse? — ele perguntou, sorrindo com astúcia.

Hermione revirou os olhos e tombou a cabeça para trás, apoiando-a no cano da pia, ela soltou a garrafa ao seu lado, encarando a janela molhada pela tempestade enquanto falava com lentidão – Sim, desinteresse. Preciso soletrar? Eu sei que você não queria estar aqui, que não queria estar entre tantas pessoas que te odeiam, ainda mais sabendo que eu sou uma delas, Malfoy, mas eu achei que você merecia uma chance. – ela suspirou, passando as mãos pelo rosto e borrando levemente a maquiagem que tinha nos olhos. Inacreditavelmente, aquele gesto não a deixou desalinhada, pelo contrário, pareceu ressaltar sua beleza. Seus olhos encontraram-se de novo. Ah, ela estava com tanta raiva de outros olhos... – Eu achei mesmo que você merecia uma chance.

Diante àquelas palavras, Draco ficou mudo. Sua boca pareceu subitamente seca, e ele quis bater no próprio rosto para acordar, mas não podia. Estava preso dentro daqueles olhos alcoólatras. Ele nunca estivera tão perto assim de Hermione, não de forma tão pacífica, e aquilo o assustava tremendamente. O vinho em suas veias começava a dar sinais de vida, esquentando seus braços e acelerando seu pulso. Hermione o encarava com o calor do gelo, derretendo lentamente em suas mãos, e ele não fazia nada para deixar de queimar-se. Engoliu em seco, e a menina nada fez, continuou encarando-o até que murmurou, como se lhe entregasse um segredo embriagado – Eu deveria te dar uma chance?

Outra vez, o loiro não tinha palavras, tinha apenas seu coração batendo com força em sua garganta, fato que Hermione pareceu perceber, levando um dos dedos frios contra o pescoço alheio. Um arrepio passou pelo corpo do rapaz que tentou se desviar, em vão. Logo os outros dedos de gelo estavam contra seu pescoço, segurando seu olhar no dela. Hermione não tinha medo daquelas sombras que permeavam o rosto do loiro, elas sempre estiveram ali. Como se falasse com uma criança desobediente, ela repetiu – Eu deveria te dar uma chance? – o hálito quente e doce, pontuado pelo cheio de Whisky, invadiu o espaço que ambos compartilhavam, e aqueles olhos secos, quando piscaram para os olhos de tempestade, continuavam repetindo a mesma pergunta. O coração de Draco pulsava em cada pequeno canto de sua pele.

— Sim. — respondeu, rouco, e foi a única palavra que conseguiu escapar antes que os lábios quentes encontrassem com os seus. Hermione o puxou para perto, fazendo com que ele provasse do gosto amadeirado em sua boca, compartilhasse do fogo que ela ingerira e que, o menino bem sabia, ela era. Hermione queimava por completo, era a labareda errante que não se preocupava em arder, em machucar quem ousasse tocá-la sem permissão, e ali estava Draco, entregue àquele fogo que dissolvia tudo, que arrasava, perdido no sabor alcoólico daquela mulher.

As mãos da Granger logo foram para a nunca alheia, prendendo-o a si, levando-o para seu mundo particular onde tudo queimava, onde tudo eram ruínas. Draco soltou uma exclamação de surpresa quando ela o apertou contra o corpo, querendo um mínimo de atenção ou o máximo de espaço para queimar. De livre e espontânea vontade, o Malfoy permitiu-se entrar em combustão.

Os lábios de Hermione pareciam consumi-lo, levando-o para um mundo onde nada senão aquele calor existisse. Ele suspirou, deixando que sua boca escorresse pelo pescoço macio e adornado por uma fileira de pérolas que por pouco não arrebentou com os dentes, procurando sorver do álcool que escorria por todos os poros da menina sob si. Hermione agarrou-se às vestes esmeralda, os dedos magros puxando o tecido liso e brilhante. Um suspiro sôfrego escapou de seus lábios e foi parar diretamente no sistema nervoso de Draco, que a puxou para baixo em um gesto limpo e fácil, posicionando-a no chão.

Dali, ele viu os olhos brilhantes contra a luz fraca chamando por ele, lábios vermelhos e entreabertos, atônitos pelo que acontecia. Ele respirava com dificuldade, as mãos ao lado do rosto fino e das bochechas coradas. Draco ergueu uma das mãos, deslizando seus dedos quentes pela face de Hermione, que não conseguiu manter seus olhos abertos, tremulando as pálpebras com aquele toque. Os dígitos do Malfoy escorriam por sua pele, mornos, abrindo caminhos de onde parecia escorrer lava. Ela queimava por completo, e o levava junto, entorpecido.

Segurando o rosto da menina com uma das mãos, a outra apoiando-se para não deixar seu peso cair por completo em cima dela, Draco encontrou os lábios fervilhando outra vez, provando de cada centímetro de pele que possuía à sua disposição. Suas vestes esverdeadas serviam como manto para os dois, cobrindo-os quase que completamente, deixando espaço apenas para as mãos agirem. As de Hermione, firmes, embora bêbadas, agarravam-se à cintura do loiro, repuxando o tecido até que encontrassem espaço na pele alva, quase translúcida, que arrepiou-se por completo ao sentir as palmas frias contra a barriga. Granger riu levemente com a reação, deslizando seus dedos pela coluna proeminente de Draco, abrindo vincos com seu calor que vinha de dentro para fora.

Malfoy deixou a boca da morena pouco a pouco, abaixando-se com delicadeza. Sua boca, agora já manchada de batom, marcava o caminho tortuoso da curva do pescoço de Hermione, chegando ao colo, onde demorou-se, respirando sofregamente sobre os seios cobertos pelo tecido fino e incrustado de pequenos cristais. Sua boca provou daquela pele, do gosto amadeirado, agridoce, sentindo o suor se misturar ao perfume delicado que, não estivesse logo ali a sua frente, jamais provaria. Ele mordiscou a pele delicada, fazendo com que Hermione se remexesse debaixo dele. Beijou o início dos seios pequeninos, seus lábios quentes e finos traçando caminhos jamais percorridos.

De olhos fechados, Granger pensava que estava sonhando ou algo do tipo. Seu mundo inteiro girava, parecia fora de órbita. Ela deixava-se levar por cada gesto, cada toque, e pedia por mais com o corpo sem pronunciar uma única palavra, com medo de quebrar aquele universo que criaram dentro das próprias ruínas. O ambiente morno trazia o suor para sua pele, fazendo com que seus fios encaracolados perdessem os cachos e começassem a grudar em seu pescoço. Não que isso fosse algum problema para Draco, que habilmente tirava-os do caminho e beijava sua pele como se ela fosse sagrada. Ele quase bebia o álcool que escorria dela, e lentamente percebia-se tonto de tanta paixão e desejo.

Um trovão ribombou por todo o espaço, fazendo com que tudo tremesse ao redor dos dois. Abriram os olhos, encontraram-se na embriaguez um do outro, um sorriso indecifrável passou pelo rosto de Hermione e ela emoldurou o rosto agudo com as mãos, puxando-o para mais um beijo com gosto de vinho e Whisky. Draco entregava-se a ela com tudo o que tinha, deixava que suas vestes fossem amassadas, destruídas pela água que empoçava no banheiro ao mesmo tempo em que as pedrinhas do vestido da garota caíam, reluzindo contra a chuva.

O ar, escasso, fez com que o Malfoy se colocasse de joelhos, e a garota apoiou-se nos cotovelos para observá-lo. Os fios de platina e os de chocolate eram emaranhados completos, e os olhos, caleidoscópios. Draco mal respirava, não sabia qual era seu limite de sobriedade, e duvidava que Hermione soubesse o dela. Ele queria fundir-se àquele corpo, beijá-la até que estivessem ambos sóbrios ou até que a tempestade parasse e restasse não mais do que a garoa.

Um clarão estilhaçou o céu, fazendo com que os dois, ali, vissem rachaduras em suas faces. Foi um único instante de choque, luz que quase os cegou. Os rostos quebraram, contorcidos e guturais. Dentro dos olhos de Hermione, tudo queimava. Dentro dos de Draco, não havia nada senão o escuro. No instante seguinte Malfoy estava de pé, trôpego, observando suas roupas encharcadas. Virou o rosto para o espelho mais próximo e não reconheceu seu rosto manchado de batom quando passou os dedos lentamente pelo queixo. Ele deveria ter negado aquela chance. Por um último minuto, observou Hermione no chão, de repente sóbria, encarando-o com o mesmo horror que circulava por suas veias. As palavras não ditas ainda ecoavam com o trovão: eles eram ruínas.

O rapaz, tomado pelo ódio, deu às costas para a menina, os passos nem tão firmes fazendo barulho pelo chão molhado e a capa arrastando pelo chão, tão escurecida pela água que já era negra. Ele vira as sombras, vira as rachaduras. Ah, ele sabia que, naquela noite, não tinham nada a comemorar. Com um estalo seco, já fora do corredor, Malfoy desapareceu nas sombras, certo de que muitos aniversários passariam até que pudesse se reconstruir.

Enquanto isso, levantando-se com dificuldade dos azulejos, Hermione sentia todo seu corpo tremer. Começou a recolher seus brilhantes como se fossem pertences dignos, mas ela se sentia suja, deplorável. O calor do banheiro fazia com que o suor impregnasse sua pele e grudasse em seus cabelos. Sem notar, deixava as lágrimas caírem de seu rosto endurecido, mordendo os lábios com força e ainda sentindo o gosto dele ali, na língua, morno como o álcool. Um soluço chacoalhou seu corpo e quase a fez cair. O que tinha feito? Quanto tempo teria se passado? Quantas pessoas ainda estariam lá em baixo, esperando por ela? E Ronald? O que ele pensaria...

Recompondo-se com dificuldade, a morena ficou de pé, sentindo as pernas cambalearem e o rosto esquentar de vergonha quando viu a situação de sua maquiagem, a situação a qual chegara. Com as mãos em concha, jogou água fria em sua pele e dentro da boca, retirando o máximo possível do gosto de álcool que fluía entre seus dentes, ajeitando os cabelos com toques da varinha e refazendo sua maquiagem na medida do possível com mágica. Lançou um feitiço sobre suas têmporas em vista de aplacar a dor de cabeça que parecia surgir do seu âmago, culpando-a. Seus olhos no espelho eram tristes e escuros como a chuva do lado de fora. Ela respirou fundo, encarando seu reflexo – Você é Hermione Granger. — disse com firmeza, erguendo o queixo, embora sua voz ainda estivesse ligeiramente trôpega – Você é a bruxa mais inteligente da sua geração.

E, com isso, Hermione pôs-se a andar pelo chão escorregadio do banheiro. Antes que pudesse sair, o barulho de uma garrafa vazia rolando chamou sua atenção. Ela observou o cristal gerar arco-íris com a pouca luz que recebia, reluzindo por todo o chão. Engoliu em seco, passando um dos dedos pelos lábios, e estremeceu. Bebera uma garrafa inteira, sozinha, e continuava sóbria como se nenhuma gota tivesse tocado sua boca, mesmo com o sabor quente ainda ali, vívido. Ela negou com a cabeça, espantando os pensamentos e rumando para o lugar de onde não deveria ter saído.

O caminho de volta pareceu mais curto e menos turbulento. A garota não parou para prestar atenção às ruínas ou aos estilhaços que refletiam em seu rosto. Logo estava de volta ao salão, e o barulho de risadas, junto ao calor das velas e dos sorrisos tímidos a abraçou com familiaridade. As sombras sumiriam aos poucos, ela sabia. Suspirou, encantada e orgulhosa de seu trabalho. Uma mão familiar tocou seu ombro e, pela segunda vez na noite, virou-se para encontrar fios ruivos e olhos verdes em súplica. Seu estômago congelou, e a menina temeu que ele visse qualquer coisa, notasse qualquer desalinho que indicasse sua má conduta. Com o coração apertado, ela sabia do tamanho de seu erro, e sabia, igualmente, como não queria pagar por ele. – Hermione, eu... - Com um sorriso triste, ela negou, indicando que ele não falasse nada. Seu coração batia forte, dolorido, mas ela sabia que teria muito tempo para resolver aquele problema. Como pedido de desculpas, aceitou o que o rapaz lhe oferecia tão timidamente. Hermione riu baixinho, logo levando o copo à boca.

Era quente. Seu estômago revirou, e o coração acelerou por todas as veias ao ponto de deixá-la zonza. Os olhos procuraram pela figura austera no canto do recinto, mas o lugar que ela antes ocupava estava vazio e escuro. Com as mãos trêmulas, Hermione deixou o copo sobre a mesa, um filete de álcool molhando seus lábios: o gosto dele na boca. 


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoal! Bom, eu espero que tenham gostado dessa fic!
Fazer parte do QG há um ano foi uma experiência muuuuuuito engrandecedora, que me desafiou como escritora e como fã. A cada desafio eu me desdobrei para fazer uma nova fic, para agradar públicos que eu nunca tinha atingido e para me atiçar como produtora, é claro. Eu só tenho a agradecer a TODAS as integrantes do QG, a todas as pessoas que me incentivaram a cada fic e que estão sempre aqui, depositando tanta confiança em mim. O QG me trouxe conversas maravilhosas, propostas lindíssimas e me permitiu entrar em contato com tantas escritas maravilhosas que eu nem sei explicar o quanto fico agradecida. Bom, então não há nada mais a desejar do que um grandioso FELIZ ANIVERSÁRIO ao QGDramione ♥33333333333333333



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