Era difícil de não reparar a perna sacudindo por debaixo da mesa. Hermione tentava se focar em qualquer coisa para esquecer toda a irritação que passou durante o dia mas sentir a perna de seu namorado tremer por debaixo da mesa não ajudava em nada a situação.

Suspirou fundo e continuou encarando Draco Malfoy que olhava o cardápio.

Ela não acreditava que ele realmente havia esquecido.

Apenas um jantar normal? Sem balões, nem sorrisos?

Hermione sabia que Malfoy não era o ser mais romântico do planeta mas agora se sentia totalmente frustrada. A conversa que teve pela manhã com sua melhor amiga, Gina, ainda rondava a sua cabeça e o que mais queria era ir até ela pedindo ajuda para jogar aquela doninha oxigenada em alguma masmorra até aprender  a não esquecer datas comemorativas.

— Nunca pensei que veria Hermione Granger tão melosa. – Gina falou mais cedo enquanto ambas andavam pelo Beco Diagonal a procura de um lindo vestido verde que a morena sabia que o namorado iria gostar. – O que o amor não faz, não?

— O amor nos deixa tolos. – ela respondeu. – Mas finalmente aceitei me sucumbir a isso.

— Harry e Ron ainda estão com o pé atrás com esse namoro. – A futura Potter comentou. – Um mais do que outros.

Hermione bufou.

— Hoje completamos um ano de namoro e eles ainda não aceitaram completamente que eu amo Draco Malfoy. – disse irritada. – Azar deles, afinal, continuarei com ele e o máximo que poderão fazer é aceitar.

Gina riu.

— Hoje faz um ano? – perguntou. – O que irão fazer?

— Não sei. – a mulher mais velha disse. – Draco ainda não deu sinal de vida, mas sei que ele esta planejando alguma coisa.

— Então acharemos esse vestido para que ele não consiga pensar em mais nada que não seja tirá-lo. – a ruiva brincou.

Com o clima leve elas andaram por todos os corredores a procura de um vestido o que só acharam quase no final da manhã. No momento enquanto encarava o loiro estava com o vestido que sabia que ele iria adorar, mas o maldito não fizeram mais do que um comentário de como o vestido era bonito. O vestido. Não ela. Nenhum agradecimento pelo sacrifício que é usar a cor da casa concorrente.

Hermione bufou e pegou o champanhe que o namorado pediu levando até os lábios.

Como ele era pomposo. A Grifinória agora via que ele nunca poderia parar de ser o antigo Draco Malfoy quando ainda tinha tanto dinheiro. Se fosse para almoçar fora seria nos restaurantes mais caros, roupas tudo de marca. Nada seria inferior em sua vida quando tinha o sobrenome Malfoy.

Se bobear talvez seja até por isso que começou a namorar com ela. Depois da guerra seu nome não saia da boca de toda a população bruxa o que fazia com que Hermione Granger fosse um dos melhores partidos nos últimos anos.

Draco olhou por cima do cardápio para a namorada que cruzava os braços em sinal claro de descontentamento. Deixou o papel do lado e suspirou sabendo que teriam que ter essa conversa uma hora ou outra.

— Hermione...

— Você não apareceu o dia todo na minha casa. – A morena disse uma das coisas que a irritada sabendo que guardar para si era a pior escolha. – Fiquei o dia todo te esperando. Poderia ao menos ter mandado alguma mensagem.

Ela não teria ficado feliz mesmo se ele tivesse informado que só apareceria a noite mas melhor do que ficar o dia todo esperando alguém que não apareceu. Ainda se lembrava das horas que passou no sofá intercalando seu olhar do relógio para a porta ainda a espera do namorado.

— Não vamos brigar por isso. – ele pediu. – Em momento algum eu disse que iria para a sua casa pra começo de conversa.

Hermione se ajeitou na cadeira.

Ele realmente havia esquecido!

Maldito fora o dia que se apaixonou por ele.

Malditos os olhos que a encaravam fazendo sua perna tremer da primeira vez.

Maldito primeiro beijo!

— Não acredito que esta dizendo isso para mim, doninha.

Draco estreitou os olhos.

— Doninha? Olha aqui, sua sabe tudo, você não deveria falar comigo assim quando...

— Eu falo do jeito que eu quiser. – interrompeu-o. – Talvez devemos terminar nossa noite aqui. – terminou. – Estou tão irritada que só brigaremos mais se continuarmos aqui.

O loiro respirou fundo para se acalmar sabendo que teria que fazer isso hoje então sua namorada não poderia ir embora.

— Espere. – pediu. – Eu realmente tenho que falar uma coisa com você.

Hermione soltou o ar pelo nariz e empinou o rosto.

— O que é?

— Granger... Hermione. – ele chamou ficando novamente nervoso o que logo fora percebido pela namorada. – Desde que começamos a namorar tivemos muitas brigas... Na verdade desde que nos conhecemos brigamos muito.

— Porque você era um completo babaca. – ela lembrou.

— O que eu estou querendo dizer é que eu não quero ter uma namorada que eu brigo todo dia... – ele começou a falar mas parou ao vê-la arregalar os olhos e ficar pálida.

Ele estava mesmo terminando com ela?

Foi isso que Hermione tinha ouvido?

Seu coração acelerou e o desejo de não ter saído de casa naquele dia se apossou de suas células. Granger era uma mulher forte mas naquele momento seus olhos se encheram de lagrimas e toda a irritação que sentiu durante todo o dia foi-se embora.

Naquele momento ela só queria que ele falasse que ela havia entendido errado.

— Você está terminando comigo? – perguntou. Draco estreitou os olhos novamente apenas para encarar a reação da mulher a sua frente. Tentou pegar sua mão mas ela a puxou rapidamente. – Não acredito que esta fazendo isso comigo, Draco Malfoy.

— Hermione...

— Fique quieto. – ela pediu e parou por alguns segundos tentando se acalmar.

Sim, ele estava certo. Brigavam muito, mas nunca ao ponto de não se resolverem além que Hermione realmente achava que era algum tipo de preliminar que tinham já que um adorava provocar o outro. Entretanto, ali estava Malfoy prestes a terminar com ela.

— Você não pode estar falando sério. – ela disse já começando a ficar irritada. – Agora que finalmente meus amigos começaram a aceitar nosso namoro? Os jornais finalmente pararam de fazer noticias sobre a gente?

Logo a ideia de que ele só estava com ela pela publicidade veio a sua mente mas em seguida a morena jogou para longe a possibilidade. Não era isso. Tudo que haviam vivido não era mentira.

— Oh Malfoy, não acredito que você realmente fazendo isso com a gente. – ela acusou já deixando as lagrimas escorrerem por suas bochechas.

— Granger, você pode pela’mor de Merlin me deixar falar?

A Grifinória negou com a cabeça e pegou sua bolsa.

— Fale sozinho Malfoy. – disse e se levantou. – Não temos mais nada a conversar.

Saiu do restaurante antes mesmo que Draco conseguisse sair do próprio estupor para impedi-la.

Mesmo que no outono chovesse, Hermione estranhou do tamanho da tempestade que pegou assim que sair do prédio mas aquela era a última de suas preocupações. As gotas de água caiam em seu rosto se misturando com as lágrimas enquanto ela continuava a andar a procura de algum lugar que conseguisse aparatar em casa e se jogar na cama.

Teve que parar por alguns segundos já que não conseguia respirar de tanto que soluçava. Não conseguia realmente acreditar que Malfoy havia escolhido a data do primeiro ano juntos como o dia perfeito para terminar. Pior ainda era que ele nem lembrava que eram seu aniversário.

E naquele instante se perguntou como foram parar ali.

Lembrou-se de como havia reencontrado o loiro há um ano e meio atrás livraria do beco. Estava em um dos corredores mais afastados para que ninguém a visse quando ficou na ponta do pé para pegar um livro, mas ao puxar ela acabou se desequilibrando e caindo em cima de alguém.

— Meu Deus. – exclamou tentando sair dos braços do estranho o que fez ambos caírem no chão. Amorena já estava vermelha de vergonha. – Me desculpa... Malfoy?

— Começou com a mania de se jogar em caras bonitos e gostosos Granger? – ele perguntou enquanto se levantava e acabou estendendo a mão para ela.

Que logicamente recusou e se levantou sozinha.

— Se eu estivesse fazendo isso, Malfoy, eu não teria me jogado em cima de você. Acredite. – ela respondeu.

Draco deu um sorriso arrogante.

— A princesa da Grifinória continua mostrando suas garras. – ironizou. – Até que você fica sexy assim.

Terminando sua frase ele simplesmente começa a andar para longe da mulher que estava ainda parada perplexa com o que ele acabara de dizer.

Demorou muito até eles finalmente concordarem que estavam saindo. Começou apenas com alguns encontros ocasionais ali, outros aqui e aos poucos Hermione notou que onde ela ia parecia que de alguma forma aquela doninha estava. Ela sempre gostou de dizer que foi o destino unindo-os.

Ou talvez não tenha sido.

Preferia pensar que o destino não seria tão cruel para trazê-la naquele momento onde tudo em si doía demais.

A memoria de quando foi pedida em namoro veio e todas as consequências a seguir. No momento que disse “sim” para o pedido sabia que não seria fácil. Primeiro teve que lidar com seus amigos que foram totalmente contra e depois os jornais que especulavam cada absurdo. Mas conseguiram superar. Juntos.

— Ah, Granger, eu não consigo entender o que você vê nesse livro que me pediu para ler. – Ela se lembrou de uma conversa que teve com ele onde ambos estavam deitados no sofá de sua casa, cada um com um livro.

— Você é um completo insensível. – ela comentou. – É claro que não entenderia.

Draco bufou.

— Eu não sou um completo insensível. – ele disse. – Só acho que o protagonista não ama tanto assim a mocinha.

Ela franziu o cenho.

— Por que não?

— Porque eu amo você muito mais. – ele respondeu jogando o livro de lado e subindo sobre o corpo da morena tirando de suas mãos o livro que lia. – E amo ainda mais quando você grita meu nome enquanto transamos. É sexy.

É sexy.

Talvez fossem essas palavras que fizeram todo esse relacionamento começar no final de contas.

E foi naquela noite onde Draco disse pela primeira vez que realmente amava a Grifinória. O coração da mulher se aqueceu tanto que nunca imaginou ser tão feliz na vida. Claro que depois tiveram grandes momentos onde Draco a fizera feliz mas aquela primeira vez ainda aquecia seu peito ao lembrar. As palavras do loiro foram tão sinceras que dava para sentir exalando dele o amor.

Naquela mesma noite enquanto Malfoy estava por cima dela, a levando ao êxtase Hermione também sussurrou em seu ouvido “eu te amo também” fazendo o Sonserino a pessoa mais feliz do mundo.

Quem diria que uma Grifinória e um Sonserino juntos?

Quem diria que aqueles que mais brigavam poderiam ser um casal tão maravilhoso?

— Hermione. – No presente a morena ouve a voz do namorado, ou talvez ex, a chamar. Mesmo querendo parar não o faz. Não queria que ele visse como em poucas palavras conseguiu destruí-la tão profundamente.

Entretanto, mesmo com a chuva atrapalhando e ensopando os dois, Draco conseguiu alcança-la e segurou seu pulso fazendo com que a moça ficasse parada em frente a si.

— Você pode por favor me deixar falar? – ele pediu.

Ela negou com a cabeça acuada parecendo um gatinho assustado.

— Não quero ouvir mais nada.

— Eu não estava terminando com você. – ele afirma.

O peito da morena parece se livrar de um peso enorme e ela começa a chorar novamente mas dessa vez de alivio.

— Mas você é a pessoa mais ansiosa e mandona e irritante que eu conheço. – Draco prossegue. – E existem muito mais “e” que só não vou prosseguir por que não quero ser indelicado.

— Você disse que não queria continuar namorando alguém que brigasse tanto... – sua voz poderia facilmente ser abafada pela chuva se o loiro não estivesse prestando muita atenção.

— Você não me deixou terminar!

— Então termine, diabos.

Draco olhou para cima querendo ver o céu mas a chuva não deixou.

— Eu estava dizendo que não queria mais brigar tanto com uma namorada por que... Eu queria brigar com a minha esposa. – ele termina e abre o casaco encharcado tirando uma caixinha de dentro. Com Hermione ainda em choque, ele se ajoelha no chão e abre colocando uma das mãos em cima para que não chovesse muito nas alianças. – Eu teria me ajoelhado no chão do restaurante, seco, e perguntaria: Hermione Granger, você poderia parar de ser minha namorada briguenta e ser minha esposa briguenta?

Hermione tentou segurar as lágrimas e bufou.

— Você me deixou achando que terminaria comigo! – acusou. – Não acredito que fez isso comigo Malfoy.

— Você que não quis me ouvir em momento algum. – ele respondeu.

— Você poderia ter começado com o pedido de casamento.

— Tudo bem, me lembrarei da próxima vez que quiser fazer uma surpresa pra você. – ele ironizou. – Então, não vai responder a minha pergunta?

A Grifinória olha para a caixa com as alianças.

— É claro que eu aceito, sua doninha sem vergonha.

Draco sorriu e Hermione sentiu borboletas no estomago como todas as vezes que ele sorria para ela. Levantou-se e pegou a mão para colocar o anel de noivado em seu dedo.

— Vou ignorar totalmente a parte da doninha por que eu realmente quero saber uma coisa. – ele fala. – Como diabos você acreditou que eu ia terminar com você justo no nosso aniversario de namoro?

O queixo da morena caiu.

— Você sabia! Eu achei que tinha esquecido.

Draco bufou.

— Como diabos eu esqueceria o dia que você finalmente me deu um sim depois de semanas pedindo para que namorasse comigo?

Ela sorriu e se repreendeu por ter ficado tão irritada mais cedo com o namorado. Não importava os defeitos que ele tinha, apesar de tudo ainda era o amor de sua vida.

— Agora se quiser voltar tem balões, bolos e alguns amigos esperando na sua festa de noivado. – Draco diz apontando com a cabeça o restaurante que saíram agora pouco.

— Como você...?

— AWeasley me ajudou em trazer quem você amava para cá essa noite. – ele confessou. Então a danada já sabia de tudo quando saiu com Hermione naquela manhã? Depois teria que ter uma conversa seria com Ginevra Weasley. – Claro que todo mundo vai encher com você pelos próximos anos já que viram seu ataque histórico achando que eu estava terminando com você.

Hermione cruzou os braços.

Saberia que George Weasley não esqueceria tão cedo.

— Você deveria ter me dado uma dica.

— E acabaria com a surpresa, Granger. – ele diz sorrindo sedutoramente. – Vamos voltar logo pra podermos ir embora o mais rápido possível. A única coisa que consigo pensar a noite toda é em tirar esse seu vestido. Você esta maravilhosa hoje, amor.

Ela sorri e o beija.

Naquele ponto a chuva já havia diminuído mas com a conversa que tiveram nenhum dos dois realmente reparou.

— Eu amo você. – ela sussurra.

— Eu também te amo. – ele responde. – Futura senhora Malfoy.