Olha, eu pensei que não ia aguentar nem 4 meses, mas aqui estamos, quase 4 anos depois que conheci Benjamin e quase 3 anos e meio depois que eu o beijei pela primeira vez. Claro que depois de todo esse tempo ele continua me irritando como se não houvesse amanhã, mas realmente preciso dizer que tudo começou a ficar melhor depois daquele pico de coragem e vergonha na minha cara que criei.

O caso dessa vez é que estou evitando Benjamin há exatas duas semanas. Sei o que você provavelmente está pensando e não, eu não estou grávida. E não é porque nos precavemos bastante em relação a isso, mas sim porque nunca chegamos nesse nível. E não é por minha falta de interesse e, sim, por falta de interesse dele. Benjamin, apesar de ser irritante e de soltar piadinhas de duplo sentido sempre que estamos em público, é um cara completamente conservador e que acredita em toda a besteira do "manter-se virgem até o casamento".

"Mas se você não está grávida por conta do conservadorismo dele, então por que está o evitando?"

Bom, posso nunca ter dito isso antes, mas Deborah é a melhor cunhada de todo o mundo. Duas semanas atrás ela me ligou completamente eufórica me dizendo que viu Benjamin entrando em uma joalheria chique daqui de São Paulo e que eu já podia preparar o meu vestido de noiva porque ele certamente me pediria em casamento em pouco tempo. Não preciso dizer que entrei em um completo desespero e comecei a dar risada mesmo com ela no telefone falando super sério. No mesmo dia, Benjamin pediu para me encontrar no parque de diversões perto da casa dele. Eu me recusei a ir por motivos de sei lá.

Olho para meu celular que está tocando pela terceira vez no dia, a foto de Benjamin brilha com intensidade na tela. Estou sendo infantil. É óbvio que ele não comprou a porra de um anel de noivado, caso contrário seria mais discreto porque sabe que Deborah me ligaria na hora para me contar, independente do momento. Mas a ideia de ser pedida em casamento com apenas 22 anos me assusta e muito e isso ativa o meu lado infantil de me esconder durante dias e evitar todos os lugares possíveis que ele estaria, até mesmo o teatro.

— Não acredito que você tá fingindo que eu não to te ligando tem mais de duas horas, Alice Souza, eu esperava mais de você. — Benjamin exclama entrando na minha cozinha. Cuspo todo o café que estava colocando para dentro e olho para ele com meus olhos arregalados de susto, não por ele estar dentro da minha cozinha esse horário, mas por ele saber que eu estou o evitando de propósito. — O que tá acontecendo, Ali?

Antes de o responder, limpo o café cuspido de meu queixo e de meu celular e é nesse momento que vejo a notificação das 20 mensagens de Deborah me avisando que Benjamin estava vindo para meu apartamento solitário com um buquê de flores e provavelmente alguns balões, mas a única coisa que ele tem em mãos nesse exato momento é o celular e uma caixa comprida, muito grande para dois anéis de noivado.

— Você não vai me pedir em casamento, vai? — Pergunto olhando bem no fundo dos olhos dele.

Benjamin faz uma cara de confuso, olha para a caixa em suas mãos e solta aquele sorriso que eu tanto adoro ver no rosto dele, o sorriso de quem finalmente está entendendo o que acontece ao seu redor, o sorriso que me faz derreter por inteira.

— Ali, eu não te pediria em casamento com apenas dois anos de existência entre nós dois, isso seria loucura. — Ele senta no sofá e dá dois tapinhas no joelho, chamando-me para perto. Largo meu celular em cima da mesa, me aproximo dele devagar e sento em seu colo. Seus braços rodeiam meu corpo e me ajustam em cima das coxas dele. Respiro fundo em pura satisfação. — Sabe por que eu não vou te pedir em casamento agora?

— Por que você não tem um anel? — Pergunto baixinho com a cabeça encostada em seu ombro. Ele solta uma risada e beija o topo de minha cabeça.

— Também, mas não só por isso. É porque você não está pronta, Ali. Você não dá indícios de que quer se casar agora e eu odiaria que você disesse "sim" só pra me agradar. — Meu coração se aquece ao ouvir essas palavras e eu sorrio mesmo sem saber se ele consegue ver isso ou não. — Eu te amo garota, mas não quero te prender a mim só porque é um desejo meu de me casar com você.

— Não! — Grito quando entendo o que ele realmente quis dizer. Benjamin olha para mim assustado, dessa vez sem o sorriso de quem entende das coisas. — Por que você disse isso?! Eu deveria ter dito primeiro, você estragou tudo! Sai do meu apartamento.

— Dito o que primeiro? — Ele gargalha quando começo a bater em seus braços com uma de minhas almofadas. Suas mãos seguram meus braços e me fazem parar no lugar. — Que você me ama? Alice, você não precisa dizer isso porque eu vejo que você me ama, é bem óbvio na verdade.

— Eu preciso dizer sim, Benjamin Caleb Dias! Preciso dizer porque se eu não disser isso agora, talvez eu nunca diga e fique só no "eu te adoro, Ben" e não é isso que eu quero. Você estragou tudo! — Solto meus braços das mãos dele, os cruzo assim como ele fez um tempo atrás e faço um biquinho de criança mimada que aprendi justamente com Benjamin.

 — Então diz. — Ele sussurra e coloca uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha.

Seguro as palavras dentro de minha boca para poder apreciar Benjamin nesse exato momento. As queimaduras do sol em sua pele deixaram suas sardas em maior evidência e seus olhos azuis mais destacados do que antes. Por ser muito branco, Benjamin vira só mais um rostinho no meio da Avenida Paulista com todo aquele povo de olho azul, mas quando inventa de pegar um sol, esses olhos azuis viram a coisa que mais amo nele. Seus cabelos escuros colaboram com as queimaduras de sol, e eu realmente entendo que não poderia existir momento mais propício para ama-lo como eu amo agora.

Droga, o que eu ia dizer mesmo?

— Eu te amo.