Gravidade zero escrita por Jude Melody


Capítulo 1
Capítulo único




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Eu não queria pensar no assunto. Ela sempre foi importante para mim, sabe? A pessoa que esteve lá desde o começo, sempre me apoiando e acreditando que eu conseguiria. Ainda me lembro de quando me abraçou, chorando muito por causa do que o médico havia dito. Eu poderia sentir raiva. Eu poderia gritar e descontar minha raiva nela. Mas eu não queria ser um filho ingrato. E agora estou aqui, sozinho nesta sala de hospital. Mordendo a unha do indicador, tentando não pensar no pior.

Você chega de repente. Está ofegante, mas eu não percebo você até que se aproxime de mim e chame meu nome. Olho para o seu rosto, que está levemente corado do frio que faz lá fora. Você senta ao meu lado e estende a mão como se quisesse me tocar, mas logo a recolhe. Nós somos amigos, mas há tanta estranheza aqui. É muito estranho, sabe? De todas as pessoas, foi só para você que consegui ligar. Eu deveria ter pensado no All Might, no Iida... Talvez no Todoroki... Mas foi o seu nome que veio aos meus lábios quando me vi parado no corredor escuro de casa.

Ela já tinha desmaiado quando eu cheguei. Estava estirada no chão da cozinha. Chequei seu pulso, desesperado. Estava viva! Eu precisava chamar uma ambulância logo! Meu corpo todo estava a mil, como quando eu ativo o One for All. E, naquele momento, eu daria tudo por minha mãe, porque ela é a pessoa mais importante do mundo para mim. Enquanto esperava os médicos conduzirem a maca, apertei forte meu celular. Minha mão tremia muito. Vasculhei os contatos, antecipando uma bronca por atrapalhar o All Might por tão pouco. Foi quando eu vi seu nome... E ele saiu como uma palavra doce de meus lábios.

Agora que você está aqui, eu acho que fiz a escolha errada. Não consigo conversar com garotas, droga! Você ouviu isso mais cedo! Eu estava uma pilha de nervos, tremendo feito um idiota no corredor, enquanto balbuciava palavras sem sentido. Não sei como você entendeu. Mas eu te ouvi pronunciar “sua mãe” e “ela está bem?” E te passei o endereço do hospital. Depois finalizei a ligação sem me despedir e corri para a ambulância. Achei que estivesse sozinho.

Você estende o braço de novo e, desta vez, segura a minha mão. Umedece os lábios, mas não consegue dizer nada. Apenas olha para mim com esses olhos grandes e marejados. E eu sei que meus olhos estão marejados também. O médico disse que vai cuidar dela. Ele disse que fará o possível e que eu posso ficar tranquilo. Mas ela é minha única mãe, e eu não estou preparado para esse tipo de dor, sabe? É pior do que levar surra do Bakugo. É pior do que quase morrer para o Stain. Porque é quase como morrer aos pouquinhos, com cada partícula de razão e sentimento se desprendendo de mim.

Não sei quando começo a chorar para valer. Você chama meu nome outra vez e solta minha mão para afagar meus cabelos. Ninguém nunca fez isso além da minha mãe, e o choro só aumenta. Eu fico assim por não sei quanto tempo. Não sinto vergonha por chorar na frente de uma garota. E você não diz nada. Fica só aí, do meu lado, fazendo carinho em meus cabelos. Eu estou... cansado... Quando dou por mim, percebo que você me puxou para o seu colo. Em condições normais, eu estaria surtando muito agora. Acho até que acabaria desmaiando de nervoso! Mas o seu cheiro é tão bom e suave. E seu calor é aconchegante.

Passo um tempo olhando para seu pescoço, pensando em todas as batalhas que já te vi travar. Em como você lutou contra o Bakugo daquela vez. Em como você está determinada a não desistir. E eu fecho os olhos, porque não quero desistir também. Deixo que, apenas esta noite, você me ofereça o seu colo. E, aos pouquinhos, essa dor e esse medo vão se desprendendo de mim. E é como se eu estivesse flutuando. Aconchegado na gravidade zero.


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