Branco negro escrita por Ráilla Giovanna


Capítulo 1
Capítulo 1




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Inuzuka Kiba deu quase cinco giros na cadeira de rodinhas, jogando as mãos para o ar em um agradecimento sem som. Depois olhou pros lados, pra se garantir de que estava sozinho.
Finalmente! Acabara o trabalho, e podia sair mais cedo no fim de semana! E ele sabia exatamente o que aquilo significava. Mandou, com pressa, a mensagem de aviso para Hana ir buscá-lo, assinou sua frequência e horário (ele acrescentou os minutos que faltavam pra completar sua carga horária diária, era um espertinho) e saiu praticamente voando do escritório, indo postar-se na frente da galeria em que o primeiro ficava.

Só faziam três semanas que estagiava naquele escritório, mas provavelmente iria acabar mudando toda sua rotina (mais ainda) e pedir pra Tsume, sua mãe, que o deixasse ir de moto pra escola. Era cansativo passar todo o dia fora e atrapalhar a sexta-feira a noite da irmã, como ele achava que atrapalhava. Mesmo assim, ele mantinha em mente que as noites mal dormidas e o trabalho a mais seria recompensado.

Em algum momento.

Talvez.

Ainda assim era o único ponto que o mantinha estável, o único hábito que mantinha desde criança: passear com o cachorro antes de chegar a escola – agora, faculdade – e deixar o cachorro com a irmã (a diferença era que agora deixava o melhor amigo na clínica veterinária dela). Passava o dia em aula, e quando não estava em aula ficava andando pela cidade com os amigos, principalmente Naruto. Eram o tipo amigos que não admitem gostar um do outro mas nunca se largavam, mesmo que fosse só pra competir e brigar. Naruto só era mais próximo de Sasuke, coisa de que Kiba sempre sentia ciúmes. E nunca teve vergonha de admitir.

Hana chegou alguns minutos depois, na moto do irmão.

—Hoje eu quero pilotar, anda, desce.

—Fala direito, sou sua irmã mais velha.

—Não.

—Então eu não desço, e vamos logo que a mãe estava bem zangada.

—Por quê?

—Porque ela é ela.

—Aham.

Eles se encararam por longos doze minutos, nenhum queria ceder, e ambos tinham o mesmo orgulho... Mas Kiba pesou as prioridades: assistir filmes com Naruto ou continuar sendo orgulhoso?

—Por favor, melhor irmã do mundo, do Universo e da Galáxia, posso pilotar a minha moto?

E Hana sorriu, vitoriosa, quando desceu e esperou o irmão assumir. Quando segurou no ombro dele, Kiba andou alguns centímetros com a moto. Hana soltou o fôlego, alto.

—Ainda não subi!

—Desculpa.

Kiba esperou que ela tentasse de novo, mas, assim que Hana ergueu o pé esquerdo, Kiba andou mais alguns centímetros. Hana quase tropeçou.

—KIBA!

Ele começou a rir, e Hana já estava irritada. Fez sua última tentativa, e mentalmente se prometeu que não conseguir ali significava um belo murro no irmão, mas ele simplesmente fez de novo. Acelerou quase dois metros, dessa vez, e foi o suficiente pra Hana tropeçar, e a mais velha caiu de bunda no chão.

—EU VOU MATAR VOCÊ!

Orgulho era mais importante que Naruto, ás vezes.

***

—Mãe, o Kiba tá correndo igual um cão no cio atrás de... qualquer coisa, na verdade. Fala com ele. –a mais velha seguiu direto pro quarto, e ao passar, Hana deu uma piscadinha pro irmão. Não era a primeira nem seria a última vez que Hana usava Tsume em suas vinganças. E quando a mãe apareceu no portal da cozinha, Kiba jurava que saía fumaça das orelhas dela.

—COMO É QUE É?

Foi só essa frase que Kiba ouviu. O resto entrava por um ouvido e saía pelo outro, ele já tinha até decorado a fala da mãe. “Você nem tem carteira ainda! Quer parar em alguma blitz? E se você for preso? Acha que eu vou te tirar de lá? Você não tem responsabilidade, não, Kiba?! Quem você acha que vai cuidar do Akamaru?! Vai jogar tudo pro ar em seus últimos semestres?! VAI?! Por que não faz como sua irmã que já tem até clinica própria? VOCÊ QUER ME MATAR DE DESGOSTO, INGRATO?! VOCÊ SÓ TEM A MIM, KIBA, HANA VAI COMEÇAR A FAMÍLIA DELA E NÃO VAI TER TEMPO PRA UM IRMÃO IRRESPONSÁVEL, E QUANDO EU MORRER, COMO VOCÊ FICA? Você não tem pai, SÓ TEM A MIM! SE ESFORCE MAIS! Não, e essas suas notas?! Acha mesmo que vai defender direitos de animais em algum lugar com essas notas? VOCÊ MAL SEGUE SEUS DEVERES, SEU IRRESPONSÁVEL, BEBEZÃO, E-”...

Pelo menos naquela vez não teve o clássico “UMA HORA EU VOU SUMIR DESSA CASA!”, mas só porque antes que tivesse, Naruto bateu na porta e Tsume foi abrir, ainda gritando. O loiro nem se assustou. Aquilo era mais comum do que água ser molhada.

—Boa noite, tia Tsume. Vim dormir aqui hoje, vamos assistir e estudar amanhã pra semana de provas.

—Claro, Naruto, querido. Agora, KIBA, VAI DIRETO PRO QUARTO E ARRUMA AQUELE CHIQUEIRO, NÃO SEI COMO CONSEGUE VIVER LÁ, RÁPIDO! Naruto não vai querer sentar onde você já...

—Deu, mãe! –Kiba correu escada acima, puxando o melhor amigo.

—Continua, tia! O que ele já fez?!

—CALA A BOCA, DESGRAÇ-

Os gritos foram abafados quando a porta fechou e Tsume voltou pra cozinha.

Por mais que brigasse ás vezes (sempre) com o filho, ainda sentia orgulho dele. Mesmo sendo mãe, nunca imaginou que ele conseguiria estudar Direito. Claro, ele tinha aqueles picos de ansiedade, quando virava a noite estudando, mas ainda assim... Não que ela não fosse orgulhosa, claro. Inuzuka Tsume estava sempre se exibindo nos encontros com amigos, uma filha veterinária e o outro quase formado, e eu fiz so-zi-nha!

***

Ninguém na face da Terra, Kiba podia jurar, ninguém, era mais idiota do que ele e Naruto. Estudavam juntos, pois por algum milagre passaram no mesmo curso e faculdade, e Sasuke também, mas depois de algumas provas de (influência Uchiha) inteligência, ele fora adiantado. Bom, mas essa não era a parte importante. Kushina com certeza se juntaria com Tsume pra matar os dois, porque, os idiotas, foram dormir nas casas um do outro pra (supostamente) estudar, e passaram o fim de semana todo assistindo idiotices, sequer foram filmes bons.

Agora, na segunda pela manhã, um olhava pro outro com uma mistura de desespero e preguiça, e a preguiça era maior, tanto que nem tentaram estudar em cima da hora, o que sequer adiantaria. Praticamente ninguém ia bem nas provas de Kurenai, mesmo quando se esforçava, com exceção de Neji.

E a semana só começara.

A quinta-feira foi o pior dia. Talvez até de toda a vida de Kiba.
Akamaru ficara doente, Hana estava trabalhando como uma louca, Tsume estava de plantão na delegacia, e ele estava atolado em provas, trabalhos e seminários, isso fora o estágio no contra turno. Bom, ele lidava com aquilo diariamente, mas naquele dia... O instrutor dele, Iruka, um dos advogados do escritório, estava com um caso muito complicado, e precisou viajar com Kakashi, deixando-o com o último da sala.
O escritório era dividido em trios, somando um total de quase dez grupos, e naquela parte da noite – das seis ás dez –, em todas as quintas, ­só eles três ficavam ali. Ele, Iruka, Kakashi e Kabuto.

Mas Kiba nunca gostou dos olhares estranhos de Kabuto. Pra piorar, Kabuto era o responsável na repartição deles. E pra piorar ainda mais, era o namorado (se é que se pode chamar a relação dele com Orochimaru de namoro) do representante oficial daquele escritório, agora que o antigo, Hiruzen, estava morto.

Foi na quinta-feira que Kiba viu que suas suspeitas não eram infundadas. Fora todo o cansaço da rotina, ele precisou ouvir todas as reclamações, gritos e resmungos de Kabuto. Depois, quando o mais velho pediu que imprimisse alguns documentos, ele se atrapalhou e pegou o tipo errado de papel. Kabuto amassou as folhas e jogou nele, com mais raiva que o normal. E aquilo estava só começando, já que a viagem de Iruka era prevista pra ser longa.

Kiba saiu ainda mais tarde do que devia, e esqueceu de assinar o horário dele. Na sexta, Kabuto não o deixou assinar pelo outro dia, e ele ficou com uma falta. Kiba mal esperava pra chegar em casa, mas não. Kabuto o obrigou a ir “ajudá-lo” no sábado.

Bem, ele não pôs uma arma na cabeça de Kiba pra obrigar o garoto, mas não era preciso. Sempre foi passional, mas Kiba não estragaria completamente seu último ano por um chefe substituto problemático, ele sabia que quando começasse a trabalhar seria ainda pior, então precisava ficar forte, e aquele era o lugar perfeito pra conseguir. Ainda mais considerando que não teria boa fama se desistisse, e ele nunca contaria pra mãe que parou por culpa de Kabuto, pois Tsume faria uma confusão enorme: ou com Kiba, ou com Kabuto, e em qualquer caso ele estaria admitindo fraqueza.

Então ele simplesmente respirou fundo, xingou (mentalmente) Kabuto com todos os palavrões que conhecia, e sorriu pro mais velho, dizendo que estaria lá no outro dia.

Aquela rotina se manteve, e Kiba estava quase acostumado, apesar de que os recentes hematomas eram difíceis de esconder, mas ele os ignorava muito bem.
Na nova quinta-feira, uma semana depois, ele estava pegando os documentos do chão quando alguém irrompeu pela sala.

—Boa noite, eu vim... Ei, tudo bem com você?

Kiba se levantou com pressa e deixou os papéis caírem outra vez. Não precisou olhar a figura por muito tempo pra saber quem era. O filho do responsável pela sessão de direito logístico, Aburame Shibi, exatamente como o pai.
Nosso Inuzuka lembrava que ele era exatamente igual como no ensino médio. Como poderia esquecer, na verdade? Era apaixonado por Shino desde pequeno, quando estudavam juntos. Infelizmente, ele era hétero (ou burro, por nunca notar as investidas de Kiba), e foi cursar faculdade na Austrália, algo relacionado com insetos de que Kiba não lembrava o nome.

—Shino?! Porra, quanto tempo!

No próximo segundo, ele aguçou os ouvidos, procurando saber se alguém tinha escutado.

—Kiba! Eu não sabia que já estava formado, e ainda trabalha aqui!

—Eh... estágio probatório. Mas, e você?

—Entomologia, comecei na semana passada.

—Não... –Kiba riu, mas bem que estava satisfeito de saber mais da vida do outro. –e você, como posso ajudar?

Shino ia falar, quando prestou mais atenção no amigo – ainda podia chamar ele assim? –, e Kiba sempre usava aquelas jaquetas de couro (sintético, nunca teria coragem de usar roupas de pele de animal) idiotas e chamativas, mas aquela cobria mais que o normal. Estava molhada de café, mas não estava aberta. O chão também estava sujo, assim como os papéis que antes ele tentava pegar.

Você passou por um furacão ou o furacão passou por você?

—Diz, como posso te ajudar?

—É assédio moral?

—Shino!

—Eu trabalho com entomologia forense, sabia? Na delegacia, a mesma que sua mãe, cheguei essa semana.

—Não estou pedindo ajuda, não sou uma garotinha indefesa. Posso lidar com meus problemas. Relaxa. Agora, do que precisa?

Kabuto passou pela porta, fechando a mesma, e sequer encarou o estagiário.

—Vim dizer que vou passar na sua casa, mais tarde, beleza?

Shino não esperou resposta, saiu em seguida. Deixou a porta aberta.

E esperto como era, o Aburame aproveitou o fato de que a seção do pai ficava no fim daquele mesmo corredor, então ficou olhando para a porta, sentado do lado de fora da sala.
Não tinha nada a ver com a paixão adolescente que nutria – digo, nutriu – pelo Inuzuka. Só não toleraria esse tipo de injustiça. Pelo resto da noite, Kabuto não fechou a porta.

Kiba sabia que ele estava inventando sobre ir à casa dele, pois até entrar naquela seção, sequer sabia que ele estagiava lá. Mas... lá no fundo, esperava que Shino não estivesse brincando.

***


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