"Eu sinto sua falta."

O peso do mundo finalmente libertou-se dos ombros de Sasuke. A voz grave e baixa e um suspiro aliviado preencheram o silêncio instalado no bosque. O último Uchiha fechou os olhos e desfrutou da paz após grandes temporadas de ansiedade noites mal dormidas, e a causa de tamanho sofrimento era resumida em uma palavra, tão doce como deveria ser: Sakura.

Sasuke nunca fora um homem de palavras, e isso estava no próprio sangue: seu pai, que demonstrava seu orgulho da família com um sorriso quase imperceptível, mas que estava lá; Itachi, que sempre simbolizava o amor que sentia por seu irmão mais novo através de um leve cutucar de dedos na testa, nunca por palavras explícitas. Tudo que Uchihas sentiam se revelavam por atitudes. Porém, raras situações ocorriam que demandavam certeza, tal qual aquela que o moreno tinha sofrido por dias e dias. Segredos tão íntimos que necessitavam de uma confirmação, em alto e bom som. Sasuke precisava dizer, nem que fosse para si mesmo ou para o vento, o quanto sentia falta de Sakura.

Desde que iniciou sua viagem de redenção - na verdade, desde quando saiu de Konoha para treinar com Orochimaru, mas admitir tal coisa já era demais para Sasuke -, a ausência de Sakura estava sempre acompanhando-o, ironicamente. Pequenos ferimentos aqui e ali, uma refeição que poderia ter sido preparada melhor, a insônia que o atacava à noite... Diversas casualidades apontavam ao fato de que a rosada não estava com Sasuke. Contudo, ainda que pouco a pouco o ex-nukenin levasse a vida sem ela, a situação ficou mais difícil quando o inverno chegou.

O Uchiha se alimentava de memórias. Seja em uma cidade ou em uma estrada, na copa de uma árvore ou em uma cozinha vazia, sempre havia algo que o lembrava dela. E eram essas lembranças que o faziam continuar, se levantar e voltar ao caminho proposto a ele - o oculto desejo, a oculta obrigação de se tornar um homem melhor para a kunoichi. A recordação de um leve cafuné que o fazia adormecer, a voz calma capaz de relaxar até os mais rígidos ossos. Sim, essas coisas davam forças a Sasuke toda manhã. Ora, mas como lembrar dela em meio à neve? O que diabos Sakura tinha a ver com o frio, com o gelo?

Embora cada estação tivesse seus dias contados, os dias invernais davam a Sasuke a sensação de estar preso em um genjutsu de seu falecido irmão: um segundo aparentava ser mil anos de dor. O frio lembrava-o do banco frio onde deixara Sasuke, quase uma década atrás; as súbitas brisas geladas, as noites da Floresta da Morte. Cada momento que pensava nisso, era mais uma facada em suas costas, mais uma coisa que ele abandonou. Não havia esperança, não havia nada de bom para se apegar, não havia nenhuma atitude que desse a ele certeza de salvação, de uma chegada no lar.

Só lhe restavam as palavras.

"Sinto sua falta!", repetiu, em um tom mais alto, a fim de fixar na mente.

Por quanto tempo isso vai durar?, perguntou-se. Por quanto tempo ele teria que passar noites acordado, por quanto ele teria que esperar até a primavera chegar?

E quem mais poderia ser tão primaveril quanto Sakura?

Sakura, com a evidência de uma casa; o corpo morno de um sol da manhã; a capacidade de revitalizar os nervos de Uchiha Sasuke. Esse último fez questão de guardar tamanhas atitudes, oferecedoras de esperança, em seu coração magoado mas carente.

Ah, para reviver sentimentos como aqueles, valia a pena ficar acordado por mais algumas noites ou falar certas coisas em voz alta.

"Até que o inverno acabe

Fique aí, Sakura

Espere por mim ."