O dia dos namorados estava chegando muito mais rápido do que Ele gostaria... Na verdade, as horas passavam muito mais rápido do que Ele gostaria. O tic toc incessante que soava em sua cabeça não lhe permitia esquecer em segundo algum que Ela queria rosas vermelhas.

Era tarde da noite e a brisa assobiava sem cessar enquanto a lua brilhava veemente e cheia em um branco que poderia cegar quem tirasse mais de alguns segundos para apreciar sua beleza. Foi nesse cenário que Ele, com passos rápidos e silenciosos, achou uma floricultura aberta.

Não acreditava em deus algum mas, naquele segundo em que viu a placa com "Aberto" escrito em Arial e negrito, era como se todas as suas preces tivessem sido ouvidas. Ele podia jurar conseguir ouvir o riso esganiçado e trovejante de Deus, Javé, Alá, Rá, Zeus e Odin enquanto sua faceta mudou de um pequeno sorriso para um olhar fechado. Eles só tinham rosas brancas.

Bem, Ele teria que dar um jeito naquilo.

Levou a mão que não segurava aquele horrendo buque de rosas brancas até perto da face e olhou o relógio com desdenho, era tarde demais para achar qualquer papelaria ou loja de tintas aberta. Entre suspiros cansados, Ele se pegou pensando no que mais poderia usar para pintar rosas brancas de vermelho.

Não conseguiu pensar em muitas outras opções, então... Bem, Ele daria um jeito.

Os espinhos lhe rasgavam a pele e o vermelho pingava levemente nas rosas, desgostoso com seu próprio tom de rubro, Ele saiu na caçada de outras tonalidades e degradês.

O vermelho do florista que lhe sorria com todos os dentes era muito carmesim.

O da moça que andava rápido na rua era rosado demais.

O do guarda da esquina que lhe desejou uma "Boa noite" era quase magenta.

Mesmo que estivesse infeliz e insatisfeito com sua atual aquarela, Ele colocou-se a pintar. Rosas brancas misturavam-se com as mais diversas variantes de vermelho. Enquanto pincelava suas flores nos mais rúbeos escarlates, conferia os arredores com frequência temendo que alguma "Alice" enxerida viesse bisbilhotar sobre sua obra de arte e, no fim, contasse tudo para Ela.

Não precisou de pequena menina loira que dá uma mordida para crescer e um gole para diminuir alguma para que Ela o descobrisse no meio de seu capricho... Ele ajoelharia ali mesmo e lhe entregaria o buque, mas sua criação ainda estava longe de ser finalizada.

Um riso nervoso e um grito de horror e Ele descobriu que o vermelho Dela era o mais perfeito tom que Ele encontraria naquela vida. Aquele colorido tão único lhe lembrava do batom favorito Dela, de um suculento morango e da mais bela rosa.

Bem... Ele daria um jeito.