Thalia nunca imaginou que veria Nico de vestido branco, véu, grinalda e all stars vermelho, mas ali estava ele, vestido de noiva. Não só ele, como também Bianca, Leo, Jason, Piper e… bem… ela mesma. Às vezes, Thalia odiava seu irmão mais velho, no entanto, se ele queria passar a despedida de solteiro assim, não iria lhe negar.

Todavia, ela tinha que admitir que estava se divertindo desde o momento em que haviam entrado na boate lotada. E, tanto os noivos, quanto as madrinhas e os padrinhos, destacaram-se na multidão com seus vestidos rendados cheio de strass e pérolas, cada um em um modelo tão variado que poderiam muito bem estar em um desfile.

Aliás, eram vestidos de desfiles, Thalia lembrou. Piper era modelo, com uma carreira sólida e muita influência, bastou alguns telefonemas e os amigos ficaram mais do que felizes em contribuir com aquela ideia estranha.

Agora eles já estavam suados, bêbados e cansados, sentados no camarote privado e jogando verdade ou consequência, apesar de alguns casais já terem ido embora e outros ainda estarem dançando na pista.

— Sério, de onde veio essa ideia? — Bianca perguntou, o sotaque ainda mais arrastado por causa do álcool. — Todos nós de noiva?

Jason e Piper trocaram um olhar cúmplice, sorrindo um para o outro antes de responderem juntos: — De Thalia!

— Ei! — Thalia se defendeu, sentindo Nico, ao seu lado, passar os braços por sua cintura e a puxar.

— Então a culpa é sua?! — O italiano questionou e agora todos os olhos se voltavam pra Thalia, enquanto ela cruzava os braços se sentindo mais exposta com o decote em “v” do vestido.

— Eu só disse que eles iam acabar se casando na primeira vez que vi Piper! — Thalia se defendeu, olhando para o casal no banco ao lado, a forma como Jason estava deitado com a cabeça no colo da noiva, recebendo carinho nos fios loiros tão diferentes dos da irmã. — E eu estava certa.

— E Piper disse que só casaria se eu fosse a noiva. — Jason complementou, rindo. — E acho que agora eu sou!

Piper apenas balançou a cabeça, seus olhos multicolores focados no noivo e transbordando amor ao se inclinar sobre ele, deixando-lhe um beijo na testa.

— Acho que você já bebeu demais, querido. — Piper brigou, mas sem deixar de lado o tom terno com que sempre falava.

Thalia concordava com a cunhada, nunca havia visto Jason tão bêbado em toda a sua vida. Não que ele estivesse em um estado deplorável, longe disso, mas também estava longe de ser o irmão chato, careta e super certinho que ela estava acostumada. Para começar, ele havia tirado o vestido de noiva há meia hora e tudo o que vestia agora era uma cueca boxer vinho, um contraste forte com a pele clara, mesmo na luz colorida da cabine privativa, e parecia adormecer a cada dez minutos, os olhos azuis fechados enquanto respirava profundamente absorvendo os carinhos da noiva.

— É minha despedida de solteiro. — Jason resmungou. — Hoje eu posso.

— Só espero que esteja no casamento amanhã. — Piper reclamou. — E como também é minha despedida de solteira, eu vou dançar. Levanta, anda!

Ela ordenou, já empurrando o noivo para que pudesse se levantar. Eles formavam um casal adorável, Thalia pensou, diferentes nos pontos certos para se completarem, seja na personalidade com a forma descontraída de Piper tão oposta ao modo extremo-protetor de Jason, seja fisicamente com os traços tão garoto-de-ouro-americano diferentes dos traços cherokees de Piper. Thalia mal podia esperar para ver como seus sobrinhos seriam!

— Quem vai comigo? — Piper questionou, as mãos na cintura ao olhar para os amigos, analisando-os.

— Eu já estou morta de cansaço. — Thalia ergueu as mãos se defendendo.

— Eu não consigo me mexer com esse vestido. — Nico também replicou, o queixo apoiado no ombro de Thalia, ainda a abraçando. — me pergunto quem escolheu um tão grande.

Thalia apertou os lábios para conter o sorriso mais divertido do que culpado, sabendo que se entregaria se Nico visse seu rosto.

— Eu estou com Thalia. — Bianca retrucou, tirando as sandálias de salto. — Mal consigo sentir minhas pernas.

— Eu vou! — Leo foi o único a concordar, já colocando-se de pé animado. — Mais pessoas precisam ver esse vestido maravilhoso.

Thalia riu ao vê-lo girar, mais uma vez exibindo o vestido de noiva que, de longe, era o mais sensual (ou vulgar) de todos. Pra começar, o decote em coração era super baixo, deixando a mostra mais do que deveria pela ausência do volume que deveriam ser os seios, e o modelo sereia era muito justo, delineando o corpo de Leo de uma forma que Thalia quase teve inveja. Tudo isso com uma grinalda rendada que ia até abaixo da cintura e jóias falsa espalhafatosas. Leo era tão discreto quanto afinado.

Thalia apenas balançou a cabeça, recostando o corpo contra o de Nico e sentindo as costas pinicarem pela renda do vestido dele. No entanto, ignorou quando sentiu o italiano deixar beijos por seu pescoço, apertando mais o abraço.

— Que tal continuarmos a jogar? — Bianca chamou, sorrindo maliciosa ao olhar para o irmão e Thalia. — Verdade ou consequência, fratello?

— Vindo de você, sorella? — Nico retrucou. — Nenhum. Já estou traumatizado o suficiente.

Antes que Bianca pudesse retrucar, Jason se sentou no banco, sorrindo implicante: — Verdade ou desafio, Nico?

Thalia de afastou para olhar o melhor amigo, que parecia tão confuso quanto ela. Jason não conseguia esconder o sorriso quando ia aprontar e parecia bem óbvio que ele faria aquilo.

— Vamos, é minha despedida de solteiro. — O loiro argumentou. — Achei que fosse meu amigo.

— Verdade. — Nico suspirou e Thalia olhou para o irmão, que parecia ter conseguido o que queria.

— Então, a pergunta de um milhão de dólares: — Jason entoou, apoiando os cotovelos na mesa de centro e se inclinando na direção deles. — Você e Thalia já se beijaram?

Thalia abaixou os olhos para o copo que tinha na mão direita, girando o que restava do líquido âmbar sem coragem de encarar o irmão ou Bianca. Ela ouviu a risada rouca de Nico e, em seguida, ele respondia:

— É claro que já. Não viu o vídeo?

— Vídeo? — Jason questionou, erguendo a sobrancelha loira, ate que entendesse e revirasse os olhos. — Selinho não conta.

— Você não especificou nada. — Nico retrucou, pegando o copo de Thalia e levando-o aos lábios, finalizando a pergunta.

Thalia sabia exatamente a qual vídeo ele se referia, havia o encontrado há cerca de um mês no computador de Nico, intitulado “o primeiro beijo Thalico”. Era também o primeiro reencontro deles, alguns meses depois de se conhecerem, se morderem e Thalia reivindicá-lo para si, antes de terem sido separados por um oceano de distância.

No vídeo, a pequena Thalia estava mais do que feliz em ver o amiguinho italiano, mas o mesmo não poderia se dizer dele: estava confuso com os Graces falando em inglês e ele só queria saber da cachorrinha de pelúcia em seus braços, Sra O’Leary.

Então, quando os adultos colocaram as duas crianças no chão, a primeira coisa que Thalia fez foi correr na direção do amiguinho, que pareceu se lembrar de como ela adorava roubar seus brinquedos, então o pequeno Di Angelo apenas correu, choramingando em italiano. No entanto, Maria mais uma vez interveio, acalmando o menino e segurando a pelúcia, dizendo que ele a teria de volta assim que abraçasse Thalia, que agora tinha um bico nos lábios ao ser rejeitada mais uma vez.

Depois de muita insistência, Nico aceitava a barganha e envolvia e menininha em seus braços, olhando para a câmera confuso enquanto os adultos aplaudiam e incentivavam ele dar um beijinho nela. Thalia até sorriu quando ele se aproximou, mas parecia incomodada com o abraço e ainda mais confusa com os Di Angelo falando em italiano, então não demorou a se irritar.

Foi quando Nico enfim conseguiu entender que ele deveria dar um beijinho nela, no entanto, não entendeu muito bem que deveria ser na bochecha, então acabou por pressionar seus lábios em um “selinho”, confuso com tudo. Thalia fez uma careta, mas, por causa do incentivo dos adultos, resolveu agradecer do jeito que mais gostava: mordendo a bochecha de Nico.

E, como se praxe, o vídeo acabava com Nico chorando e Thalia confusa e irritada com mais broncas.

— Thalia e suas mordidas. — Bianca balançou a cabeça, franzindo o nariz como se também lembrasse do vídeo. — Se Nico fosse revidar cada uma…

— Não é minha culpa se ele é gostoso. — Thalia riu, se virando para o melhor amigo e o mordendo na bochecha até que ele reclamasse.

— Não sou mais de reclamar de suas mordidas, amore, até gosto. Mas não precisa arrancar pedaço, né?

O italiano resmungou e Thalia respondeu distribuindo mais mordidas pelas bochechas e descendo pelo queixo com uma barba bem aparada, depois pelo pescoço onde sabia que era o ponto fraco.

— Thalia… — Nico avisou, mas ela o ignorou deliberadamente, soprando-lhe na nuca e percebendo que ele se arrepiava, virando-se para ela com os olhos estreitos, mas um sorriso malicioso nos lábios.

— Não é minha culpa. — Ela respondeu novamente, deixando um beijo no canto da boca do melhor amigo. Ela se afastou poucos centímetros, ainda perto o suficiente para sentir o hálito de Nico e seus narizes se tocarem.

— Talvez eu devesse ouvir Bianca e me vingar. — Nico retrucou, tocando-a no queixo em um carinho, aproximando-se ainda mais, seus lábios roçando os de Thalia a cada palavra.

— Vai me morder? — Thalia perguntou em um sussurro, em dúvida se olhava para as pupilas dilatadas de Nico ou para seus lábios tão próximos.

— Talvez mais tarde. — Ele retorquiu, sorrindo malicioso. — Existe alguém que merece minha atenção especial agora.

Ele se afastou lentamente, virando-se para Jason e Bianca que os assistiam sorrindo, sem dúvida tirando conclusões de tudo aquilo.

— Agora é a minha vez, Jay. — Nico continuou, sorrindo mordaz ao olhar para o Grace. Vingança deveria ser seu sobrenome, e não anjo. — Verdade ou desafio?

— Como eu tenho que me casar em poucas horas, acho que é melhor a verdade. — Jason resmungou, apoiando as costas no sofá ligeiramente preocupado e arrependido. Alcançou mais um copo na mesa e encheu de Turmalina, uma bebida especial da boate, como se soubesse que precisaria de álcool para responder a próxima pergunta de Nico.

— Então responda, Jay: — O italiano começou e até Thalia temeu pelo irmão. — Com quem você perdeu a virgindade?

Thalia quase engasgou com a pergunta. Jason ficou vermelho e estreitou os olhos, como se estivesse calculado quais problemas teria se matasse seu padrinho na noite antes do casamento.

— Isso é pesado, fratello. — Bianca interveio.

— Concordo com Bianca. — Thalia comentou, tentando dissuadir o melhor amigo. — Eu não preciso saber da vida sexual do meu irmão.

No entanto, Nico parecia impassível ao soltar a cintura de Thalia e se recostar no sofá, cruzando os braços atrás da cabeça com um sorriso presunçoso. — E então, Jason?

Jason apenas virou o copo, solvendo todo o líquido púrpura de uma vez antes de devolver o copo à mesa com uma careta: — Bianca.

Thalia primeiro achou que o irmão estivesse chamando a italiana, mas ao olhar para a amiga, conseguiu entender: Bianca era a resposta. Jason Grace havia perdido a virgindade com Bianca Di Angelo.

— Eu realmente bebi demais. — Thalia resmungou, incrédula com a informação e optando por tomar outro copo de Turmalina para processar a ideia.

— Você já sabia disso. — Jason acusou e Thalia olhou de soslaio para o melhor amigo que apenas deu de ombro, sorrindo vitorioso.

— Apenas desconfiava. — O italiano replicou e Thalia quis bater nele por nunca ter mencionado nada.

— Ok, minha vez. — Bianca anunciou, sorrindo como o demônio.

— Eu não vou jogar com você, sorella. — Nico a lembrou, mas tardiamente Thalia percebeu que ela não encarava o irmão mais novo e sim Thalia.

— Verdade ou consequência, Lia? — Bianca Di Angelo questionou e a Grace sabia que deveria ter fugido naquele momento.

— Que seja a verdade. —  resmungou, tal como o irmão enchendo mais um copo com turmalina ao decidir que só assim poderia responder a pergunta que viria.

— Eu pensei seriamente em repetir a pergunta de Jason, detalhando exatamente que tipo de beijo. — Bianca começou com os olhos negros brilhando. —  Mas, duas coisas me fizeram mudar de ideia: Primeiro, meu adorável fratello mudou o nível do jogo. E, depois, duvído muito que a resposta seja “não”.

Thalia sorriu com ironia, sem se dar ao trabalho de negar ou confirmar a hipótese de Bianca. Apenas estreitou os olhos, se perguntando quão complicada e embaraçosa seria a próxima pergunta.

— Se Bianca estive certa, você me deve cinquenta pratas, Di Angelo. — Jason resmungou, deitando-se no banco estofado e cobrindo  o rosto com o braço direito, a tatuagem de águia que havia feito aos dezoito chamando atenção junto aos músculos definidos pela carreira militar.

— Nosso acordo terminou quando você e Bianca terminaram. — Nico apenas deu de ombros, deixando Thalia confusa sobre o tal acordo. — E não seja chato, sabe que vou um ótimo cunhado.

— Faça logo a pergunta Bianca, ou eu farei. — Thalia reclamou, virando o copo de Turmalina e decidindo acabar logo com aquilo.

A italiana apenas sorriu maliciosa, jogando os cabelos para trás com um brilho de desafio nos olhos.

— Diga apenas a verdade, Thalia. — ameaçou, a voz um tanto rouca, mas audível mesmo com a música da boate abafada pela cabine. — Você pretende quebrar aquela sua regra estúpida de “sem sexo” por causa de Nico?

Thalia sentiu um arrepio na espinha, mas conseguiu manter o sorriso de desafio. Talvez fosse o álcool, ou talvez fosse porque já não queria esconder mais seus sentimentos e desejos, ela apenas olhou para Nico, que a analisava com um sorriso interrogativo, esperando uma reação.

A Grace apenas se voltou para a amiga, sorrindo sapeca ao dar de ombros: — Eu já disse que ele é gostoso.

Bianca apenas riu, balançando a cabeça incrédula ao pegar o que restava na garrafa de Turmalina e levar aos lábios.

— Acho que agora é a minha vez de fazer as perguntas, não? — Thalia questionou, erguendo a sobrancelha e evitando olhar para o melhor amigo depois daquela declaração. — E nem pense em escolher desafio, Bia, apenas responda: Quando foi que você e Jason tiveram algo?

— Lembra daquela vez que a gente foi no parque e você não queria ir na roda gigante porque achou que a gente fosse se beijar? — Bianca murmurou, olhando para a garrafa quase vazia em mãos. — Então… Ainda bem que vocês não foram.

— Como foi que eu nunca percebi? — Thalia perguntou  um tanto incrédula, rindo por tudo soar tão estranho, como em um sonho.

— Eu pagava Nico pra te distrair. — Jason quem respondeu, ainda escondendo o rosto, seu tom tão natural quanto o de alguém embriagado poderia soar.

— Você era pago pra me distrair? — Thalia virou-se pro melhor amigo, sem saber como reagir aquilo. Talvez devesse se sentir irritada ou magoada, mas o álcool a fazia apenas erguer a sobrancelha, achando graça na história.

— Eu já queria ficar sozinho com você, então eu juntava o útil ao agradável. — Nico deu de ombros, sorrindo ao afastar os cachos de Thalia para poder beijá-la no ombro.

— A única regra é que ele não deveria contar pra ninguém e nem te beijar. — Jason suspirou dramaticamente. — Mas quando foi que Nico me obedeceu?!

— Ei, eu não contei pra ninguém! — O italiano resmungou, ainda distribuindo beijos pelo ombro de Thalia e depois subindo por seu pescoço, provocando mais risos já causados pelo álcool.

— Ah, Jay-Jay. Dessa vez ele te obedeceu.  — Thalia o defendeu, piscando por sobre o ombro para o amigo, que apenas parou os beijo, desviando o olhar em seguida.

— Na verdade, eu até tentei te beijar. — O italiano resmungou, suas bochechas em um adorável tom rubro que estava se tornando de praxe. — Muitas vezes. Muitas. Muitas mesmo. Tantas vezes que perdi a conta. Eu tenho até dó de mim.

— Você….? — Thalia ergueu a sobrancelha, pensando em todas as vezes em que jurava que Nico só estava brincando.

— Tá, nem tantas vezes... — O italiano admitiu. — Mas toda vez que eu falava que ia te beijar,  você me dava um soco. E quando você me disse que não estava pronta, eu não ia te forçar, então...

Ele deixou o final no ar e a lembrança vaga daquela noite surgiu, bem como de várias vezes em que Nico a perguntava porque ela não ia ficar com algum menino que a havia pedido. E Thalia sempre respondia o mesmo, que não estava pronta, que queria ainda ser criança mais um pouco, que não ia ficar com nenhum menino daquela forma. E quando ela se viu pronta, Nico foi para a Itália.

Thalia não sabia bem o que dizer e ele apenas sorriu, deixando claro que não precisava dizer nada, apenas a beijou no ombro de novo e a puxou para um abraço.

— Por que vocês nunca me contaram? — Thalia questionou em um tom acusatório, virando-se para a amiga.

— Não dá pra namorar em segredo se todo mundo sabe. — Bianca retorquiu, revirando os olhos. — Nico descobriu porque é enxerido e quando ameaçou contar pra mamãe, Jason subornou ele e concordamos que era melhor não contar pra mais ninguém.

— Não acredito que perdi a chance de te subornar. — Thalia resmungou, cruzando os braços. — Jason sempre foi tão certinho, sabe quantas vezes eu tive essa chance?!

Bianca apenas riu, deixando a garrafa vazia sobre a mesa e se enrolando no sofá, o melhor que o vestido longo permitia. Ela sorriu um pouco melancólica, talvez não tão bêbada quanto os outros.

— Era até fácil esconder, todos estavam tão ansioso pra vocês dois namorarem que ninguém olhava pra nós.

— E por que namorar escondido? — Thalia continuou, encaixando-se melhor nos braços de Nico ao perceber que estava ficando zonza. — Nossos pais entenderiam.

— Nós não queríamos a pressão, nenhum de nós tinha namorado antes. — Jason quem confessou, tirando o braço de frente do rosto, mas ainda permanecendo deitado. — Tínhamos medo de não dar certo e depois ficar estranho. As coisas foram acontecendo e era mais divertido ficar só entre a gente.

— E isso ajudou quando terminamos. — Bianca completou. — Até tentamos continuar à distância, mas não dava certo, mesmo como amigos é difícil. Vocês devem saber disso, não é?

Thalia assentiu e se perguntou se o fato de Nico também não ter tentado nada com ela nos últimos dez anos era porque também tinha a certeza que não daria certo em países diferentes.

— E ficou estranho? Quando vocês terminaram? — Thalia perguntou, parte de sua mente comparando sua relação com Nico com a de Bianca e Jason.

— No começo… — Bianca admitiu. — Não sabíamos mais ser apenas amigos, mas a distância ajudou nesse caso. Não é como se nos encontrássemos sem querer no mercado uma vez por semana.

— Mas as coisas foram se arrumando. — Jason concordou. — Bianca é muito especial pra mim, Piper saber disso. Nós fomos os “primeiros” um do outro em vários pontos e isso nunca vai mudar, mas tudo ficou no passado, hoje somos apenas amigos.

Thalia apertou os lábios, tentando entender aquilo tudo. Imaginou-se um dia casando e convidando algum ex para ser seu padrinho, mas a ideia parecia muito estranha. Talvez porque nunca havia tido uma amizade com nenhum deles da forma como Bianca e Jason tinham, e todos os seus poucos relacionamentos haviam acabado pelo mesmo motivo: não achava justo estar com alguém quando ainda tinha sentimentos por Nico.

Ela até se dava a chance de se envolver, de se apaixonar, de começar um namoro, contudo, no final, tudo se resumia à algo unilateral que ela não achava justo continuar.

— Gente, que cara de enterro é essa?! — Piper reclamou entrando na cabine, trazendo mais garrafas.

— Só estamos cansados, Pips. — Bianca sorriu. — acho que a festa já acabou pra gente.

— Não, não, não, mamacita! — Leo retrucou, erguendo uma garrafa e uma bandeja em cada mão. — Ainda temos muito o que nos divertir! E, pra começar, body shot!

Thalia gemeu, logo pensando na brincadeira onde se bebia um shot de tequila usando o body, ou seja, o corpo de alguém.

— Ai não. — Jason resmungou, se levantando apenas pra noiva sentar e ele poder deitar a cabeça no colo dela novamente. — Leo e body shot nunca dá certo.

— Não seja chato! — Piper ralhou. — A ideia foi minha. E você não se lembra que foi justamente assim que nos conhecemos?!

— Que isso, hein Jay? — Nico brincou. — Os detalhes sórdidos você não conta!

— Eu não conhecia essa história. — Thalia comentou. — Só sabia que tinham se conhecido numa festa do Leo.

— Minhas festas são afrodisíacas, amor. — Leo retorquiu, já enchendo os copinhos com tequila. — Mas até eu fiquei surpreso quando Jason se candidatou pra ser o body de Piper.

— E ele foi o copo, só pra constar. — Piper sorriu maliciosa quando o noivo afundou o rosto em sua cintura, tentando se esconder dos amigos.

— Acho que não conheço mais meu irmão. — Thalia suspirou dramaticamente, balançando a cabeça em reprovação. — Leo realmente corrompeu ele.

— Tudo é sempre culpa do Leo. — Leo ralhou fazendo um bico. — Seu irmão não é nenhum santo não, dona Thalia!

— Eu estou descobrindo isso hoje. — A Grace concordou baixo, sentindo os braços de Nico a apertarem.

— Ok, eu e Bianca vamos começar porque esse decote maravilhoso foi feito pra isso! — Leo retomou, puxando o próprio decote mais para baixo, chegando a revelar os mamilos.

Bianca apenas riu quando Leo se sentou à sua frente e não demorou a polvilhar sal pelo peito do rapaz. Ele conseguia sorrir malicioso mesmo com parte de um limão da boca, principalmente quando a italiana lambeu o sal no namorado, tomou o shot e depois puxou o limão, deixando-o o cair e decidindo beijar Leo em vez de terminar o jogo.

— Eu tenho quase certeza que não é assim que se faz. — Thalia brincou, vendo o casal aprofundar os beijos, lembrando-os que aquela não deveria ser uma festa inocente, e sim uma despedida de solteiro.

— Enquanto eles se pegam, é a sua vez, Thalia. — Piper ordenou. — Duvido que nesse estado Jason consiga, então…

— Ei! — Jason retrucou deitado. — Ainda sirvo como body…

Piper riu, beijando o noivo levemente: — Tudo bem, mas Thalia vai antes. Talvez ela possa no ensinar como se joga…

Ela lançou um sorriso malicioso pra cunhada, que apenas revirou os olhos.

— Vamos logo com isso, mia bella. — Nico se pronunciou, afastando-se de Thalia apenas para pegar o que precisava na mesa. — Como diz o Valdez, esse decote maravilhoso foi feito pra isso.

Thalia revirou os olhos novamente, observando atentamente enquanto Nico colocava o sal sobre a parte dos seios que estava exposta pelo decote, felizmente não muito fundo, mas em um ‘v’ provocado pelas alças finas do vestido de noiva. Ela encaixou o limão nos lábios e segurou o copo de tequila,contudo, não desviou os olhos enquanto Nico se abaixava sobre seu decote.

Seu corpo se arrepiou quando os lábios gélidos tocaram a pele quente, sua respiração arfante fazendo seu peito se elevar quando Nico primeiro beijou o alto dos seios, depois lambeu lentamente, sorrindo malicioso quando enfim ergueu o rosto, já pegando o copo e bebendo tudo em um único gole, seus olhos fixos em Thalia.

Seus lábios se tocaram quando ele chupou o limão, ainda na boca de Thalia, antes que ele pudesse o puxar e terminar o jogo.

Thalia sentiu seu rosto esquentar com o sorriso malicioso dele e preferiu desviar o olhar, dessa vez para Leo e Bianca que, enfim, haviam parado de se beijar.

— Agora é Piper e Jason antes de ir pra próxima rodada invertendo. — Leo comandou sorrindo. — E eu prometo tentar resistir ao lábios de Bianca.

— É uma tarefa muito difícil. — Bianca brincou.

— Consegue fazer sua parte, meu amigo? — Leo continuou, virando-de para Jason. — Ou vamos ter que arranjar um noivo de emergência para Piper?

— Você sempre me subestima, Valdez. — Jason retorquiu, sentando-se de frente para a noiva.

— Jason começa. — Piper comandou numa clara malícia na voz. — Quando for a minha vez, podemos repetir a noite que nos conhecemos.

Jason riu ficando vermelho, mas acatou o desafio. Logo ele fazia todo o ritual, também escolhendo o decote bem generoso de Piper para polvilhar o sal e, quando enfim tomou o copo de tequila de uma vez, celebrou puxando Piper para seu colo e a beijando, provando que estava mais que acordado.

— Isso está se tornando constrangedor. — Thalia murmurou logo depois de Bianca e Leo repetirem, o latino beijando a namorada assim que também esvaziou o copo.

— Enquanto eles se pegam, esquecem da gente. — Nico sussurrou no ouvido de Thalia e ela apenas riu, já sentindo o rosto esquentar ao pensar que logo seria a vez dela usar o corpo dele.

— Eu tenho duas ponderações a fazer antes de Thalia e Nico começarem. — Piper pontuou, com o sorriso de quem ia aprontar. — A primeira é que Nico está muito vestido, não tem nem onde colocar o sal!

Thalia olhou para o melhor amigo, e até que Piper tinha um ponto: o modelo do vestido tinha uma renda que cobria os braços até os pulsos e não tinha nenhum decote, deixando pouco de Nico exposto.

— No pescoço. — Thalia opinou, temendo onde aquilo tudo daria.

— Isso pode estragar o vestido. — Bianca opinou, também sorrindo cúmplice com Piper.

— E nem ousem estragar esses vestidos. — Piper ameaçou, seus olhos multicoloridos assustadores. — A segunda ponderação é que essa é uma despedida de solteiro! Vocês já viram um despedida de solteiro sem strep-tease?

— Dio Mio…. — Nico resmungou, já temendo onde daria. — Eu não vou fazer isso!

— Não seja chato, Nico! — Piper pediu. — Considere um presente de casamento.

— Por que eu?!

— Porque eu estou muito sexy nesse vestido pra tirar antes do final da noite. — Leo brincou, ajudando as meninas.

— E porque a boate não admite topless, então não acho que eu, Bianca ou Thalia poderíamos tirar os vestidos. — Piper continuou. — E quanto a Jason, espero não ver ele tirar mais  nada antes da nossa lua de mel.

— Sobrou pra você mesmo, Nico.  — Jason comentou, abraçando a noiva pela cintura, ainda em seu colo.

— No, no, no. — Nico retrucou, fechando a cara. Thalia sorriu, mesmo sabendo que se arrependeria depois, e o beijou na bochecha, incentivando-o sem usar palavras. Ele revirou os olhos e suspirou. — Não esperem que eu dance!

Mesmo se quisesse, Nico não conseguiria fazer um streap-tease sexy. Além da saia do vestido de noiva ser volumosa demais, todos os botões perolados ficavam nas costas, então Thalia teve que abri-los um a um, vendo o tecido rendado deslizar pelo braços do melhor amigo e revelar mais da pele dourada.

— Quer que eu te ajude a tirar mais? — Thalia sussurrou no ouvido dele quando o tecido caiu, revelando a calça jeans preta que ele usava por baixo, junto com o par de all star vermelhos.

— Talvez mais tarde, amore. — Ele retorquiu no mesmo tom, pegando o vestido e guardando-o no canto.

— Agora sim podemos fazer um body shot de verdade! — Leo exclamou animado ao olhar para Nico.

— Não roube minha ideia, Leo. — Piper reclamou. — Era pra ser o grand finale.

— Ah, vamos, Pips! — o Valdez retorquiu sorrindo malicioso. — Todos queremos saber se eles vão ter coragem.

Thalia tentou se manter impassível, pensando no que pediam: que ela não bebesse da tequila no copo e sim no corpo de Nico. Ela não era dada a evitar desafios, mas aquele não seria fácil, principalmente com as mudanças gradativas que estava tendo em seu relacionamento com Nico.

Talvez, se fosse há três meses, ela não o recusaria, mas agora…

Olhou para o melhor amigo que sorria, deixando toda a decisão nas mãos dela, a melhor forma de Nico dizer que ele queria, mas não a forçaria. Thalia hesitou, apertando os lábios antes de se obrigar a relaxar, exibindo um sorriso:

— Posso usar seu corpo dessa forma? — Flertou, erguendo a sobrancelha e tentando acalmar seus batimentos acelerados.

— Solo tuo. — Nico retrucou, beijando-a na bochecha antes de se deitar no banco, a pele dourada do tórax completamente exposta.

Thalia sabia que poderia se arrepender daquilo, mas, ainda assim, subiu no sofá, encaixando-se sobre as coxas de Nico, pegando o sal e salpicando na curva do pescoço do italiano, não demorando a lambê-lo. Em seguida, derramou a tequila sobre o tórax, vendo-a deslizar até o umbigo.

Sem perder tempo, Thalia levou os lábios até a área, sentindo o líquido queimar em sua boca quando ela o chupou, mas continuou subindo a boca por todo o rastro, sua atenção focada em quão quente a pele de Nico parecia estar contra o líquido, até que não houvesse mais tequila e ela erguesse mais o corpo.

Dessa vez, sua boca alcançou o limão preso nos lábios de Nico, não tão ácido quanto ela esperava depois da dose.

Quando enfim ela soltou o limão, os olhos de Nico estavam fixos nela, nos lábios dela, e Thalia não pode deixar de se perguntar qual seria o gosto da boca de Nico depois do shot. Ele a tocou com cuidado no rosto e Thalia se viu aproximando, até ouvir a risada de Bianca e se lembrar de onde estava.

Rapidamente ela rolou, deitando-se ao lado de Nico no banco apertado, parte do seu corpo ainda sobre o dele, apoiando o rosto sobre o tórax do amigo e agradecendo pelos cachos esconderem seu rosto rubro.

— E pensar que fizemos isso no dia que nos conhecemos. — Piper brincou com Jason e até Nico riu, acariciando os cabelos de Thalia.

— Sua vez agora, Piper. — Leo tomou a palavra. — Vamos ver se ainda é tão incrível no body shot.

Ainda deitada sobre Nico, Thalia observou enquanto o irmão e a cunhada se divertiam, Piper bebendo duas doses de tequila pura direto do corpo de noivo antes de puxá-lo para um beijo que deveria ter sido guardado para a lua de mel.

Como Bianca e Leo seguiram o exemplo, Thalia apenas riu, escondendo novamente o rosto no peito de Nico, um tanto embaraçada.

— Está com frio? — Ela sussurrou, percebendo um tremor leve no corpo de Nico e a forma como ele parecia arrepiado.

— Um pouco, mas eu ‘tava cozinhando naquele vestido. Melhor assim. — O italiano comentou e Thalia se moveu um pouco, tentando aquecê-lo com seu corpo que ainda estava quente depois do body shot. — Aliás, pergunto quem escolheu esse maldito vestido.

— Você ficou lindo de noiva. — Thalia riu, levantando o rosto e encontrando o semblante acusatório e divertido do melhor amigo. Ironicamente, ela falava a verdade, havia ficado encantada com Nico vestido de noiva, a renda tinha combinado com a pele dele e, mais do que nunca, ele parecia um anjo. Por outro lado, a saia volumosa não havia lhe valorizado.

— Não, você ficou linda de noiva. — Nico corrigiu, tocando-a no queixo no carinho que sempre fazia. — E vai ficar ainda mais quando for nosso casamento.

— Você vai estar vestido de noiva também? — Ela brincou, seus dedos traçando padrões no peito de Nico, uma parte dos seus pensamentos imaginando o dia em que entraria numa igreja de vestido, véu, grinalda e saltos, tudo para dizer o ”sim” que confirmaria o que sonhou e desejou nos últimos dez anos.

— Se você assim quiser… — O italiano sussurrou e logo Thalia erguia o rosto para olhar em seus olhos, um brilho de sonho nas íris escuras. — Eu faço tudo por você, mia bella.

Thalia apenas sorriu, ciente que ele falava a verdade, que não era um flerte inofensivo. Nico a beijou na testa, acomodando-a em seus braços, seu coração batendo tão alto que Thalia podia ouvi-lo ao o abraçar mais forte.

— Neeks…. — chamou depois de um tempo, erguendo novamente o rosto para observá-lo. — Acha que se não der certo entre a gente… Acha que poderíamos ser como Bianca e Jason? Que poderíamos voltar a ser como antes?

Nico apertou os lábios pensativo, seus olhos passando pelo rosto de Thalia e ela quase podia vê-lo analisar cada pintinha que ela tinha ao redor dos olhos azuis. Por fim, ele sorriu,o sorriso favorito dela, de canto, meio tímido e meio travesso.

— Acho que sim. — Nico entoou, tocando a ponta do nariz dela com o indicador. — Mas  não quero ter que descobrir.

Thalia apenas riu, afundando a cabeça no pescoço de Nico, sentindo o cheiro do perfume misturado a Turmalina enquanto ele acariciava os longos cachos dela.

— Sabe qual a melhor parte de ficar assim com você? — Nico ronronou, mordiscando a orelha de Thalia.

— O que? — Ela sussurrou, tentada a fechar os olhos e adormecer ali.

— Essa é uma ótima forma de me vingar…

Antes que Thalia pudesse protestar, Nico os girou no banco apertado, ficando por cima, e logo as mãos de Nico estavam por sua barriga, tentando fazer cócegas sobre o tecido grosso do vestido.

— Você não consegue! — Ela replicou, lhe dando língua e fazendo Nico estreitar os olhos ao sorrir malicioso.

— Não? — Ele retrucou. Seus lábios alcançaram o pescoço de Thalia, não só distribuindo beijos e mordidas, mas também soprando a pele e a fazendo estremecer.

— Isso é golpe baixo! — Thalia riu, sentindo todo seu corpo arrepiar quando Nico desceu os beijos por seu ombro e depois pela clavícula, apertando-lhe a cintura cada vez que roçava os lábios.

— Então devo parar? — Nico sussurrou, beijando o vale entre os seios, exposto pelo decote, olhando-a nos olhos.

Thalia não respondeu, apenas sorriu e Nico voltou a beijá-la e mordê-la, olhando-a nos olhos enquanto subia, até que estivessem frente a frente, seus narizes se tocando e os olhos de Thalia fixos no lábios de Nico.

Ela observou enquanto ele sorria e lhe mordiscava o lábio inferior com cuidado, e Thalia apenas o tocou nos cabelos negros, em um carinho leve enquanto Nico voltava a lhe puxar o lábio com os dentes.

— Morder é uma coisa minha. — Thalia ralhou, mordendo o lábio de Nico para provar seu ponto. — Me beijar é uma coisa sua.

Ela o olhou nos olhos, admirada com quão dilatadas estavam as pupilas de Nico e em como ele parecia ainda mais bonito tão próximo.

— Então siga a tradição, meu amor. — Thalia ordenou, e não foi preciso mais palavras.

Nico a beijou, não como quando eram criança, mas com mais luxúria que carinho. Sequer houve um roçar de lábios antes que a língua dele lhe adentrasse a boca, provocando-a e pressionando seu corpo contra o dela, em busca de mais contato.

Thalia ouviu o grito de Bianca — Eu sabia! —, mas não se importou em retrucar, apenas puxou os cabelos de Nico, trazendo-o mais para si, correspondendo ao beijo sem se importar com a plateia, até que perdessem todo o ar.

Ambos estavam ofegantes e surpresos ao romperem o beijo, olhando-se nos olhos até que começassem a rir, entorpecidos pelo momento e pelos gritos dos amigos.

Nico afundou o rosto na curva do pescoço de Thalia, ainda deitado sobre ela, recebendo afago nos fios negros. Nenhum deles se pronunciou enquanto Bianca perguntava a quanto tempo estavam assim e nem responderam que relação eles tinham no momento.

Eles eram Nico e Thalia, tinham um mundo próprio com regras próprias. Era o que Bianca sempre dizia.

E ali, deitada nos braços de Nico, sentindo ainda o gosto do beijo e ouvindo o ritmo do coração dele se misturando as batidas animadas da boate, Thalia não podia deixar de sorrir e levar os pensamentos para poucas horas atrás...

Thalia havia sido a primeira a chegar ao ateliê das noivas. Ou, pelo menos, a primeira a terminar de se vestir. Havia descido para o salão central, com espelhos nas paredes e toda uma arquitetura romântica em rosê para encantar os noivos.

Ao se ver no espelho, não pode deixar de se sentir como uma verdadeira noiva, rodopiando para melhor apreciar a bainha rodada do vestido semi-sereia e até decidindo cobrir o rosto com o véu rendado, fechando os olhos azuis e imaginando o dia em que estaria entrando em uma igreja, sua família e seus amigos ao redor e Nico no altar. Não era dada a fantasias, mas aquela parecia tão tangível…

Foi quando ouviu passos e abriu os olhos, encontrando Nico, vestindo jeans e camiseta, subindo os últimos degraus perto das portas duplas do grande salão. Ele parou ao vê-la e Thalia sentiu seu coração acelerar pela forma como ele a analisava, os lábios entreabertos, surpreso.

— Thalia? — Ele perguntou em seu sotaque italiano. Não “mio amore”, ou “mia bella”, mas Thalia, numa forma tão adorável que ela sentiu borboletas no estômago e apenas assentiu, o véu branco ainda escondendo seu rosto.

Nico se aproximou lentamente, seus olhos fixos em Thalia e um sorriso entre admirado e surpreso, como se estivesse encantado por vê-la daquela forma. A cada passo, a Grace apenas sentia seu coração acelerar mais, como se, de fato, estivessem se aproximando de um altar.

Quando Nico a alcançou, ele parecia olhá-la com veneração, segurando-lhe as mãos com cuidado, antes de levá-las aos lábios em um beijo delicado, fechando os olhos. Quando abriu-os novamente, os reflexos dourados de suas íris pareciam repletas de emoção. Ele soltou as mãos de Thalia lentamente, que escolheu repousa-las no peito do rapaz, ouvindo o coração dele acelerado.

— Thalia… — Ele sussurrou novamente, tocando-lhe a face sob o véu, um carinho doce no queixo que a fez suspirar e abaixar o rosto, absorvendo as sensações.

Com uma delicadeza surpreendente até para Nico, ele lentamente tocou a ponta rendada do véu, levantando-o aos poucos, acompanhando cada pequeno pedaço do rosto de Thalia que ia sendo revelado. Era como se ele nunca a tivesse visto antes.

Então, quando o rosto de Thalia foi completamente descoberto, revelando os lábios rosados e os olhos azuis elétricos, Nico se aproximou mais, deixando um beijo casto sobre a testa dela, ambos fechando os olhos imersos em sensações, no momento.

Quando novamente seus olhares se encontraram, o amor que haviam construído por tantos anos transbordava em cada traço de seus rostos, em cada olhar adorador, em cada sorriso tímido, em cada toque suave.

Nico a tocou novamente no rosto, erguendo-lhe o queixo com carinho e se aproximando, cada segundo parecendo durar uma vida enquanto abaixava seu rosto, os olhos deslizando pelas sardas de Thalia, pelos olhos elétricos, pela boca macia.

E, então, seus lábios enfim se tocaram, em um roçar tão suave que pareceu parar o tempo, antes que pudessem entreabrir os lábios e se deixar levar por aquele primeiro beijo tão doce e tão apaixonado quanto esperado.