Quem não gostaria de ter um astro do rock em sua casa, ainda mais esse astro sendo Jagged Stone? Claro que fiquei hiper empolgada quando meus pais me falaram que foram procurados para o reality show que ele faria aqui na padaria, fora que seria uma ótima propaganda para o negócio deles. Com tudo isso eu acabei dando a maior força, mas quando eu menos esperava uma tragédia aconteceu, do jeito que sou azarada não era para esperar menos, e foi então que o sonho se tornou pesadelo, o chão de quebrou sob meus pés e a única vontade que eu tinha era de sumir. Não é todo dia que o nosso quarto é filmado e mostrado em rede nacional, com o adendo de ter várias fotos do garoto que você gosta penduradas por toda parte, esse, com toda certeza, foi o pior dia da minha vida.

Mas e aí, dia novo, vida nova? Não, claro que não. Eu mal consegui pregar meus olhos e agora me perguntava: como é que eu iria encarar todos meus amigos? Mas isso não era nada, como é que eu ia encarar o Adrien? Talvez fosse a hora de pedir transferência e mudar de escola, mas aí como eu explicaria tudo isso para os meus pais? Eram questões demais pra minha cabeça processar no momento.

Tudo bem, tudo bem! A gente já até tinha se beijando outro dia, não é mesmo? Mas ele pode achar que eu sou uma louca, stalker, que está seguindo ele para todos os lados e colecionando fotos dele como se estivesse completando um álbum de figurinhas do Adrien Agreste.

Quanto mais eu pensava em tudo isso, mais a minha cabeça doía e agora não me restava mais nada a fazer além de levantar com o peso da derrota sobre os ombros e dar um jeito de ir pra aula e talvez eu pudesse agir como se nada tivesse acontecido.

Meu despertador nem havia tocado, contudo eu já estava de pé e descendo as escadas em direção da cozinha. Quando minha mãe me viu ficou espantada, dava pra ver claramente a surpresa nos olhos dela.

— Bom dia, Marinette. O que aconteceu com você hoje? – E foi aqui que começaram os questionamentos.

— Bom dia, mãe. Acho que as gravações de ontem me deixaram meio assim. – Eu nem conseguiria colocar em palavras tudo isso que eu estava sentindo. — Não consegui dormir direito, então resolvi levantar de uma vez.

— Ai, minha filha, se soubesse que aquela confusão te deixaria assim eu não teria aceitado que gravassem aqui. – Minha mãe estava realmente preocupada comigo e isso só fazia eu me sentir mais pra baixo.

— Tá tudo bem, mãe. – Tentei acalmá-la. — Tenho certeza que essa noite volto aos meus hábitos normais de sono, ou seja, dormir como uma pedra como se não houvesse amanhã.

— Você não toma jeito. – Minha mãe disse enquanto ria da minha piada péssima, pelo menos alguém nesse cômodo estava mais tranquila, porque o meu coração continuava querer saltar pra fora a qualquer momento só de pensar que daqui a pouco eu teria que enfrentar a selva de pessoas da minha sala e, é claro, Adrien.

—X—

O sinal ainda não tinha batido, entretanto todos estavam esperando o começo das aulas no hall de entrada e eu entrei sorrateiramente para não dar de cara com ninguém, chegaria junto com a professora na sala e isso me daria a vantagem para que os outros não conseguissem me perguntar nada, no máximo teria que explicar a Alya, mas essa era a parte mais fácil de tudo isso.

Por fim, consegui passar despercebida por todos e chegar nos armários, respirei aliviada e fui procurar os livros que a hoje e acabei me distraindo enquanto pensava que parte dos meus problemas estavam resolvidos. Só que nada é tão simples quanto parece, e mais uma vez a vida quis me pregar uma peça, assim que eu fechei a porta do meu armário dei de cara com Adrien me observando. Tomar o susto do ano foi inevitável, estava  um gato assustado entre a cruz e a espada.

— Oi, Marinette – cumprimentou ele com certa lascividade.

— Oi, Adrien – respondi numa tentativa falha de não gaguejar.

— Foi muito legal o programa ontem, sabia? – Ele parecia querer me encurralar, mal sabia que eu já estava totalmente entre as paredes e ele.

— Ah sobre aquilo… – eu não tinha ideia de qual resposta lógica poderia dar naquela situação. — Sabe sobre as suas fotos, é que eu gosto muito de moda então…

— Marinette. – me interrompeu, apesar de eu ter conseguido pensar em uma resposta lógica. — Você está mentindo? – Adrien tinha me pegado no pulo, mas eu não ia desistir de tentar me defender.

— Não, é só que…

— Eu tô brincando, Marinette. – O clima mudou totalmente e ele parecia totalmente descontraído, enquanto eu ainda estava de boca aberta e rezando pras minhas pernas pararem de bambear. — Na verdade eu fico muito feliz de ter uma fã como você.

Meu sorriso nervoso veio acompanhado de um rápido suspiro e toda aquela história parecia descendo seca garganta abaixo e, por um momento, me senti decepcionada. Nosso beijo na praça da torre me voltou a cabeça e eu percebi o quão idiota tudo aquilo parecia naquele instante, um pequeno instante lotado de um gosto amargo. E imaginar que tudo o que a gente tinha passado pudesse não significar nada pra ele fez toda a minha preocupação anterior ser só uma bobagem de criança insegura.

Na verdade eu gosto de você, Adrien. Eu te amo. Era tudo que eu queria falar, mas as palavras não saiam, eu estava travada na frente dele mais uma vez na frente do garoto dos meus sonhos.

O tempo pouco a pouco voltou a fluir, entretanto eu ainda permaneci perdida e isolada no turbilhão de pensamentos dentro da minha cabeça.

Lá estava ele, me olhando com aquele sorriso gentil e doce. Adrien estava indo embora mais uma vez, cada passo mais longe de mim e cada passo era mais uma oportunidade que eu perdia de dizer a ele o que realmente sentia.

Mais uma vez a distância fazia eu me sentir estúpida.

— Adrien! – Consegui dizer seu nome e meu coração poderia explodir a qualquer momento enquanto ele se virava novamente para me encarar.

— Oi? – O olhar divertido dele se fixou nos meus olhos e, de repente, passavam o ar de preocupação.

— Eu estou mentindo – admiti.

O semblante no rosto dele se modificou de novo e tornou-se confuso.

— Sobre as fotos. – Não consegui mais encará-lo, já era demais conseguir falar sobre isso. — Elas não estão lá porque eu gosto de moda ou algo do tipo. – Os sentimentos continuavam conflitantes dentro de mim, algo me dizia que eu deveria me sentir vitoriosa, mas eu só conseguia me sentir cada vez mais derrotada. — Elas estão lá porque eu te amo.

Eu não me lembro qual foi o momento em que ele se aproximou novamente, apenas senti os braços dele envolver o meu corpo trêmulo protetoramente. Uma tonelada de peso saiu magicamente de cima de mim e agora eu conseguia respirar normalmente.

— Marinette? – chamou e eu não consegui olhar pra ele, permaneci com a cabeça aninhada em seu peito ouvindo as rápidas batidas de seu coração. — Faz tempo que eu tenho pensado em você – prosseguiu. — Os momentos que a gente passou junto não saem da minha cabeça. — Ele fez uma longa pausa foi então que percebi que nossos corações batiam em sincronia, uma sincronia louca e feroz e me perguntei: será que ele se sente como eu? Ele parecia tão sereno que eu jamais percebi um único pingo de insegurança em suas ações. Eu senti que não estava sozinha, a minha vulnerabilidade também o atingia e mesmo assim fomos capazes de quebrar nossas próprias barreiras. — Eu não deveria ter demorado tanto pra dizer, mas eu também te amo.

E depois de declarado os sentimentos que há muito se escondiam entre nós, permanecemos unidos compartilhando as nossas fraquezas, os nossos sonhos, e todos os nossos momentos.