Dias de Namorados escrita por Urano


Capítulo 1
A primeira vez que nos falamos


Notas iniciais do capítulo

Essa história será tão pequena quanto o desafio propõe.
É um pouco estranho estar escrevendo duas coisas diferentes do mesmo ship, mas realmente vão ser histórias com foco/narração bem diferentes.
Espero que gostem :)



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— Que isso? — Shoto interrompeu a caminhada desde o banheiro até a sala ao notar Izuku sentado na escrivaninha de seu escritório de frente para um papel, enquanto coçava a cabeça e murmurava baixinho.

— Um questionário.— Izuku abriu espaço com a cadeira para que ambos pudessem ler as palavras escritas em metade de uma folha de papel. — Sobre a gente.

Shoto inclinou-se, com uma das mãos em cima da mesa, mas precisou colocar os óculos para enxergar as perguntas enumeradas de um a cinco. Uma das coisas que menos o agradava sobre o avanço da idade era que sua visão estava cada vez pior. Por outro lado o homem sentado logo abaixo de si não parecia sofrer do mesmo efeito, ainda que todos os fios de cabelo cacheados, outrora verde-escuros, agora fossem brancos.

Eram questões genéricas, para as quais franziu o cenho, em partes tentando entender o sentido daquilo, em partes curioso pelas possibilidade de respostas.

— Você já começou a escrever? — Perguntou, notando que as palavras que vinham logo após do número um eram “a primeira vez que nos falamos”

— N-não, eu estava só lendo. — Izuku levantou os olhos na direção do outro, não podendo evitar de se sentir aconchegante com o calor que emanava dele. — Q-Quer dizer, eu vi esse questionário na internet, como um desafio de dia dos namorados, e pensei que seria legal se a gente respondesse junto como uma atividade de memória. N-não que seja alguma crise de meia idade atrasada nem nada, mas é que… bem, depois que as meninas saíram de casa, não temos feito mais tanta coisa além de coçar as costas enrugadas um do outro.

— Eu gosto das suas costas.

— É claro que você gosta das minhas costas. — Izuku sorriu, incapaz de parar o rubor que lhe veio às bochechas, e levantou os olhos na direção do outro, que o encarava completamente alheio. — Agora, o que acha de no primeiro tópico nós falarmos do festival esportivo do primeiro ano na escola?

— Você estava pensando nisso, quando cheguei aqui, não foi? — Os anos juntos haviam dado a Shoto uma ideia de para onde a enxurrada de pensamentos do outro o levava. — Não nos tínhamos dito algumas coisas antes disso?

— Sim, mas… — Izuku se ajeitou na cadeira e observou o papel em branco por um instante. — Sinto que foi a primeira vez que nos falamos significativamente.

— Significativamente, hum... — Shoto pôs a mão no queixo, pensativo. — Eu tinha bem pouca visão de mundo naquela época, você sabe… Imaginava que superar você seria o maior objetivo da minha vida.

Izuku virou-se na direção de seu marido com um sorriso pequeno no rosto. Eles nunca haviam conversado sobre aquele dia, no fim das contas, por mais estranho que a ideia lhe parecesse agora. Era como se tudo tivesse acontecido há apenas algumas semanas, mesmo que já fizessem anos que os dois se formaram na UA, trabalharam juntos como heróis, formaram uma família…

— Amor, — disse por fim, — por que não se senta e deixa essa resposta comigo?

Silencioso, Shoto puxou a cadeira da mesa ao lado e apoiou a cabeça em uma das mãos. Não se lembrava tão bem de como tinha sido aquela conversa além do fato de ter revelado seu passado e sua ambição, talvez fosse o motivo de ter tanta importância para o outro?

Os detalhes sempre foram maior especialidade de Izuku e isso era parte do que o tornava tão especial. O lápis preto se movia com agilidade, enquanto se encarregava da questão 1. As sardas de sua bochecha se mexerem ritimicamente enquanto ele sussurrava apenas para si aquilo que escrevia. Por fim, viu-o levantar a cabeça, satisfeito, mostrando o resultado.

Shoto segurou o papel com as duas mãos e aproximou-o do rosto.

 

“Foi no primeiro ano da UA. Quando o professor Aizawa anunciou o nosso primeiro festival esportivo, achei que fosse explodir de ansiedade, mas também sabia que precisava encarar aquele desafio com bastante determinação. Desde o começo, Shoto-kun saiu na frente na corrida, como o esperado, e também durante a segunda fase, por mais que eu me esforçasse, ele era incrível inteligente e muito ágil.  Por onde quer que eu olhe, nós estávamos em níveis muito diferentes. Hoje penso que eu ter chegado onde cheguei naquela época, foi uma mistura de sorte com ajuda de outras pessoas. Bastante sorte, na verdade.

Então ele me chamou, logo antes da etapa em que lutaríamos entre nós, para uma conversa a sós no corredor do ginásio. Me lembro bem na luz diagonal iluminando seu rosto e de como eu estava assustado e confuso. Naquele momento ele me contou a história de sua família e eu percebi o quão diferentes nossas origens haviam sido, embora na época eu não ainda não pudesse contar a ele sobre o One for All.

Por muito tempo eu matutei essa conversa na cabeça, para ser franco, e talvez nem ele saiba o motivo real. O significado do melhor aluno do primeiro ano vir até mim dizer que seu maior objetivo era ME superar. Poderia ter sido o Kacchan ou qualquer outra pessoa com muito mais experiência e habilidade, mas ele foi até o garoto sem individualidade e esperança de ser alguém até poucos meses atrás, uma bomba sem controle nenhum que tinha quebrado os ossos várias vezes por pura falta de controle. Foi uma ameaça, mas eu saí muito mais contente do que deveria.

Creio que aquele dia foi o começo de tudo o que somos hoje, quando pela primeira vez alguém me olhou nos olhos como se estivessemos no mesmo nível. Como se pela primeira vez eu já fosse alguém digno de ser o que sempre sonhei.

Sou muito grato por ter te conhecido.”

 

— Você nunca me disse… — Shoto encarou, por cima dos óculos, o par de olhos verdes e redondos, onde um lindo sorriso formava algumas rugas. Mordeu os lábios e se aconchegou em um abraço. — No fim das contas, eu nunca superei você.

— Deixa de ser bobo. — Izuku correu os dedos pelos fios ruivos com cheiro do shampoo novo que ele próprio havia comprado na semana anterior. Curtiram o silêncio do toque um do outro por minutos que se estenderam calmamente. — Que tal se a gente continuasse com isso amanhã? Agora eu vou preparar uma janta e mais tarde eu deixo você dar uma boa olhada nas costas que gosta tanto. O que acha?


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Notas finais do capítulo

É como eu costumo dizer, o coração quentinho é primo do angst (mentira, eu nunca disse isso, só agora)

Estou trocando comentários por paçoquita :D



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