Helium escrita por Lady Mataresio


Capítulo 1
1 — Chá Gelado


Notas iniciais do capítulo

Cá estamos com o primeiro capítulo da história do desafio Nyah! Eu fiquei muito animada com essa temática dos namorados, e não podia deixar de escrever. Entãaaaaao eu escolhi contar para vocês um pouco da vida de Bruce Banner nos anos 90, e de como ele se apaixonou.
Espero que gostem da leitura.
Nos vemos nas notas finais!



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Outubro de 1990.

 Era apenas mais uma noite comum de quinta no café da senhora Diana; os clientes entravam e saíam de forma rotineira, como todas as outras vezes em que Bruce Banner estivera ali para presenciar. Sentado em um dos bancos do galpão, Bruce tomava seu típico chá gelado junto de um croissant, pedido que as funcionárias dali já sabiam de cor — afinal, ele frequentava aquele café há anos. Conhecia quase todos que frequentavam aquele estabelecimento, ainda mais por ser perto da faculdade, da mesma forma que todos conheciam o “prodígio científico de Harvard”. Por mais que alguns exagerassem às vezes, ele não negava seu valor; sempre fora um rapaz esforçado e dedicado em criar rumos brilhantes para a humanidade e para o seu próprio futuro.

 Não havia nada que pudesse tirar dos eixos a normalidade daquele instante, se não fosse pela presença dela.

 Ouvindo os sinos da porta de entrada do café, não pôde deixar de fitar a pessoa que entrava ali. Os cabelos dela eram donos do mais vívido tom de laranja que já tinha visto, e seus olhos verdes tinham um brilho incessante; sua pele era clara e macia, e seus lábios eram vermelhos e bem desenhados. Sabia que ela cursava ciências com ele, mas sua desatenção jamais lhe deixara decorar seu nome ou ao menos trocar qualquer palavra com ela. Mas não podia negar: a moça era linda.

— Boa-noite! — A ruiva cumprimentou Stella, uma das mais simpáticas atendentes do local, enquanto se sentava no banco ao lado dele. Ela tinha um tom de voz suave aos ouvidos de Bruce.

— Boa-noite, querida! — Stella respondeu com certo entusiasmo. — O que vai querer?

— Bom, deixe-me ver... — Os olhos dela correram pelo menu principal por alguns segundos. — Um chá gelado e um croissant, por favor.

 Bruce, que tomava mais um gole do chá, não conseguiu deixar de engasgar com a bebida e acabar derramando o copo em suas roupas, o que chamou a atenção das pessoas ao redor. Havia ele deixado de ser o único que fazia aquele pedido exótico em pleno sábado a noite? Impossível.

 Bom, desastrado ele sempre seria.

— Você está bem? — A garota ao seu lado perguntou, não conseguindo deixar de esboçar um sorriso ao ver como Banner era atrapalhado.

— Estou, obrigada. — Ele ajeitava os óculos enquanto gaguejava, envergonhado com a situação na qual se encontrava. Stella não conteve as risadas, mas logo entregou um pano para que Bruce pudesse se arrumar. — Ah, muito obrigada Stella! Me desculpe pela bagunça.

— Sem problemas, Einstein. — Ela brincou como sempre fez, se retirando para encaminhar o pedido da ruiva até a cozinha.

 Terminando de se recompor, os distraídos olhos castanhos dele encontraram as curiosas esmeraldas nos dela por um instante. Abrindo um sorriso, ela olhou para o croissant dele o para o chá gelado que havia feito toda aquela bagunça.

— Parece que você também gosta dessa combinação. — Disse a mulher. Bruce demorou alguns segundos para associar a quê ela se referia, mas logo devolveu um sorriso torto.

— É, eu achei que eu fosse o único estranho que pedia isso em plena quinta à noite. Digo, não que você seja estranha, mas... — Ele se embolava nas palavras enquanto ela ria. — O chá gelado daqui é maravilhoso, sabe?

— É o que irei descobrir! — Respondeu ela. — Aliás, me chamo Moira Laviscount. Mas acho que você sabe, já que estamos estudando juntos na Harvard... Bruce Banner, né?

 Moira Laviscount! A memória dele logo se refrescou, lembrando das vezes em que ouvira o nome dela nas chamadas de classe e nos elogios que recebia dos professores. Sem dúvidas, ele era um tolo por não a ter notado antes.

— Isso! — Bruce confirmou animado.

 O sorriso dela ainda não tinha desaparecido quando ele olhou melhor. Havia algo pacificador no jeito em que ela demonstrava felicidade e em como seus olhos o fitavam, e isso encantava o jovem.

— Vem sempre aqui? — Moira perguntou em uma tentativa de conversar mais com o rapaz. Já havia reparado nele em algumas aulas, fazendo perguntas complexas logo na primeira semana, e sua curiosidade não podia deixar de conhece-lo melhor.

— Na verdade sim. — Banner respondeu. — É um ótimo lugar para se tomar café antes de ir para a aula.

— Vou me lembrar de voltar aqui mais vezes, então. — Comentou a Laviscount, roubando um olhar confuso dele. — Digo, não estou tentando parecer ousada nem atirada... Na verdade, nem falei nesse sentido! O chá daqui parece ser ótimo e...

 Bruce Banner não pôde deixar de rir, fazendo a garota gargalhar com ele também. De certa forma, perceberam que tinham muito em comum; o jeito de se perder nas palavras e não saber o que dizer, o gosto pela ciência e um paladar parecido. Mesmo que se vestissem, portassem e agissem de maneiras diferentes — sem contar o fato de que ela era um milhão de vezes mais bela do que Bruce, segundo ele —, poderiam ser cópias.

 Quando o pedido dela chegou, os dois acabaram ficando em silêncio — mas seus pensamentos não conseguiam se calar: ela, olhava para seu chá e pensava no futuro; ele, olhava para ela e pensava no agora.

 Bruce Banner havia pensado em diversas trilhas infalíveis para o sucesso, fosse ele profissional ou emocional, mas todas elas foram pelos ares quando Moira Laviscount apareceu à sua frente. Bruce sempre fora uma pessoa intuitiva e nunca havia errado nos últimos 20 anos (que era a idade dele, por sinal), então sabia que estava certo em pensar que Moira seria uma pessoa marcante em seu caminho — fosse isso bom ou ruim. A vida já havia lhe ensinado várias coisas, mas a arte do amor ainda era desconhecida aos olhos do futuro cientista. Seria ela a chave para desvendar essa arte? Ou ele apenas estava perdido em seus pensamentos, se iludindo com planos longe da realidade?

 Depois que terminaram suas refeições, Banner e a Laviscount permaneceram conversando até o fim da noite. Desde suas ambições até seus medos, gostos e assuntos totalmente aleatórios, ambos nem repararam quando a senhora Diana, dona do estabelecimento, se aproximou do balcão e lhes chamou a atenção.

— Pombinhos, já passou das dez e eu preciso fechar aqui. — Diana disse. Ela já tinha seus oitenta anos de idade, porém continuava com certo vigor no olhar.

— Ah meu Deus, perdão! — Moira falou, encarando Bruce em seguida e rindo sem graça. — Já vamos nos retirar, desculpe.

 Antes que ela pudesse tirar a carteira da bolsa, ele foi mais ágil e deixou o dinheiro no balcão.

— O dela é por minha conta, Diana. — Banner sorriu e acenou para os demais funcionários. — Tenham uma boa-noite, pessoal!

 Eles acenaram para o jovem de volta e a dona do estabelecimento sorriu, encarando a ruiva que estava sentada; os olhos dela haviam se fixado em Bruce de forma encantadora de presenciar. Sem saber o que dizer no momento, Moira também se despediu dos demais e saiu do local, acompanhada por Bruce. Após ouvir o tintilar dos sinos da porta ao se fechar, ela ficou de frente com o rapaz.

— Você foi um cavalheiro lá. Obrigada! — Timidamente, ela sorriu.

 Moira logo percebeu que havia sorrido mais vezes do que podia contar naquela noite, e então soube: de fato, ela adorara aquelas horas no café e gostaria de compartilhar muitas outras ao lado de Banner. Não pô e deixar de corar com o pensamento.

— Não tem que me agradecer, Moira. — Banner respondeu com carinho. — Você também está alojada no campus?

— Sim, estou no prédio 2. E você? — Questionou ela com interesse.

— Prédio 2? Que legal! Eu estou no 1, fica bem de frente com o seu. — Bruce não sabia bem como amor, cavalheirismo e conquista funcionavam, mas tentou ser o mais cordial possível quando gaguejou: — Posso te acompanhar, se quiser.

— Eu adoraria.

 Os dois caminharam lado a lado por alguns minutos em meio a noite escura, tendo apenas os postes nas calçadas como iluminação. Quando chegaram no campus dos estudantes da Harvard, logo viram que a maior parte das luzes estavam apagadas — o que fez o homem ficar sem-graça. Nunca foi alguém de fazer muitas amizades e com certeza não conquistaria quase nenhuma até o fim da faculdade, mas certamente seu colega de quarto (de nome Frederick) não deixaria seu atraso passar em branco, já que nunca ficava fora até as dez.

 Moira, ainda que de forma sutil, já mostrava ter um efeito entorpecente nele que o fazia quebrar rotinas. Isso era preocupante, mas de um jeito bom.

— Chegamos. — Ela comentou quase num sussurro quando os dois pararam na porta do edifício 2.

 Eles se entreolharam por longos minutos; ele balançava os pés enquanto ela batucava com os dedos no bolso da blusa azul-marinho que vestia, porém não queriam se apartar da presença um do outro. O relógio de Bruce, no entanto, lhe apressava para sair dali.

— Te vejo amanhã na aula? — Perguntou ele, se repreendendo em seguida. Que pergunta estúpida, seu imbecil. É claro que ela vai para a aula! Jumento.

— Claro! — Ela respondeu. — Bom... Boa-noite, então.

— Boa-noite. Até amanhã! — O jovem começou a se afastar lentamente, de costas, sem deixar de olhá-la.

— Até! — Moira disse.

— Se cuide e... Bons sonhos! — Bruce continuava andando, até que sentiu suas costas colidirem com a parede de seu próprio edifício enquanto seus óculos se desajeitavam no rosto. Seu inútil!

 Rindo alto, ela acenou para ele e entrou no prédio, evitando olhar para trás. Se o encarasse novamente, não conseguiria parar de rir. Totalmente desajeitado, ele acenou de volta e subiu as escadarias de seu prédio rapidamente, rindo ao mesmo tempo em que se repreendia por tamanho desastre. Abrindo a porta de seu quarto devagar, percebeu que Frederick já dormia.

  Bruce, porém, não dormiu.

 Apenas ficou deitado na cama, olhando para a janela estrelada e pensando sobre qualquer assunto interessante que pudesse abordar com a ruiva no dia seguinte. Ela não somente havia lhe roubado as palavras, como também o sono.

 Bruce Banner mal podia esperar para vê-la amanhã.


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Notas finais do capítulo

E foi isso! s2
Espero de coração que tenham gostado e até o próximo, que sai semana que vem! Vejo vocês nos comentários?
Beijos!