Peguei um mocha na cafeteria e saí para a varanda aberta do prédio. Eu precisava de uma folga de dez minutos.

Encostei no muro e admirei a vista que tínhamos dali, de parte da cidade. O sol estava fraco e havia uma brisa leve e refrescante mexendo com meu cabelo. Tomei um gole da bebida, sentindo os sabores: café, chocolate, leite e chantilly. Estava hiper quente, do jeito que eu gostava.

Era o que precisava para me confortar.

Minha cabeça estava à mil, cheia de pensamentos sobre o que ainda tinha para fazer naquele resto de tarde. Passei a mão livre no rosto, querendo parar de pensar. Eu não conseguia parar de pensar no trabalho nem quando estava descansando!

Mesmo com muita coisa em mente, procurei por algo que a ocupasse. Então me lembrei de quando tinha tomado um cappuccino com Nathaniel. Tinha sido algo simples, mas ainda conseguia até sentir o gosto da canela, mesmo que não tivesse tal ingrediente no meu mocha. Minha memória gustativa sempre fora ótima, e nessas horas percebia que momentos marcantes para mim vinham em forma de sabor.

Salada caesar... Capputtino... Cuscuz marroquino... Será que terá um próximo?

Faz um tempinho que não conversamos, mais de uma semana, para ser exata. Trocamos alguns “ois”e “tchaus” em alguns dias, e em outros não nos vimos. Só sei que dessas vezes que o vi, parecia que meu coração ia entrar em colapso. Tudo bem, eu estou me sentindo e parecendo uma adolescente. Fazia muito tempo que eu não estava tão interessada em alguém. Tinha até esquecido dessa sensação no fundo do estômago...

— Amelie?

E por falar nessa sensação...

Me virei, vendo Nathaniel se aproximando com uma xícara branca em mãos. — Oi.

— Está tirando uma folga? — Sorriu, ficando ao meu lado e deixando a xícara no muro.

— Sim, estava precisando. Minha cabeça ia explodir.

— A minha também. Os pensamentos não param. — Tomou um gole de seu café puro, pelo aroma que senti. — Precisava de um café para me manter alerta.

Concordei, sorrindo e tomei outro gole, quase acabando minha bebida. Senti minhas mãos geladas de repente e uma ansiedade estranha tomou conta de mim.

Você está exagerando, Amelie.

Mais uma brisa brincou com meu cabelo, e o perfume de Nathaniel veio ao meu encontro, e eu respirei fundo sem perceber.

— Está com frio? — Ele perguntou, colocando sua mão por cima da minha, no muro.

Sua pele estava quente comparada a minha, e aquilo foi outro pequeno conforto, misturado com nervoso e outra coisa que eu não sabia.

— Não — sussurrei, rindo de mim e o olhando.

Nathaniel sorriu. — Acho que tem chantilly no canto da sua boca.

Antes que eu erguesse a mão, ele o fez e passou o dedão delicadamente onde estava sujo, se aproximando um pouco mais. O calor que emanava de seu rosto passou para o meu, e junto de meu coração aumentando o ritmo dos batimentos, ele aproximou-se um pouco mais. Hesitou por um instante, vendo minha reação.

Assim que nossas bocas se encostaram, fechamos os olhos ao mesmo tempo. Brincamos com nossos lábios um pouco antes de tocarmos nossas línguas singelamente. Não durou muito e nos afastamos depois de um último selinho.

Nathaniel suspirou levemente e se afastou. — Acho que limpei. — Lambeu seu dedo.

Senti o rosto queimar e ri. Vi de relance meu relógio de pulso.

— Ai, eu preciso voltar. — Tomei o último gole do mocha. — É... obrigada pela distração.

Ele riu. — Quando quiser de novo, é só avisar.

Me ergui e o beijei rapidamente na boca, e fui devolver a xícara e voltar ao trabalho com a mente relaxada.

E... mocha.