ㄧA senhorita Alicia já está subindo, senhor.

ㄧPerfeito, Francis. Obrigado por avisar.

Não havia muito tempo a perder e ele sabia que a qualquer instante ela já estaria saindo do elevador e invadindo todo o ambiente com sua presença.

Era mesmo um bom momento para um jantar à luz de velas? Ele não sabia muito bem.

Tudo o que ele sabia naquele instante era que o cheiro inebriante que permanecia no seu colchão quando ela o abandonava pela manhã era tudo o que ele almejava naquele momento.

Era errado ㄧ e ele sabia disso ㄧdesejar tanto a presença de alguém em sua vida a ponto de deixar de lado toda a pesquisa da sua vida para passar apenas uma noite ao lado da mulher mais misteriosa de todo o mundo.

Alicia Mars.

Ou melhor: A mulher de um milhão de faces.

Não sabia bem como havia caído no encanto da sereia, mas Aldrich Killian era exatamente como todo bom ㄧou mal ㄧhomem que compartilhava do mesmo contato com Alicia.

Todos, absolutamente todos, caiam em seus encantos e se entregavam ao oceano castanho dos seus olhos e definitivamente era um caminho sem volta.

Quando se conheceram, por intermédio de Justin Hammer, ele jamais imaginara que estaria diante de uma mulher inebriante. Principalmente porque ela se vestia como qualquer outra meretriz que acompanhava empresários nos eventos de vendas e compras de artefatos militares.

Ele ainda recorda do sorriso com o rastro do batom avermelhado que ela lhe presenteara na primeira noite em que se viram. Aquele não era um sorriso qualquer, era um sorriso de vitória que apareceu justamente no segundo em que anunciaram a vitória do império medíocre de Hammer contra minha humilde oferta.

Claro que, aparentemente, ninguém imaginava na época, mas a vitória de Justin só ocorreu graças às ameaças feitas pela sua facilitadora, Alicia. Este fato, Aldrich só descobriu depois de uma longa noite de bebidas e Strip Poker com a dita cuja que, após ingerir álcool o suficiente revelou todo o seu ataque contra sua tentativa de adquirir alguns armamentos militares no evento em que se conheceram.

Aquela fora a primeira e última noite em que eles falaram sobre negócios.

Ela contou que era qualquer coisa que ele desejasse e ele revelou que precisava apenas de uma amiga.

ㄧGostei da camisa. ㄧdedos deslizaram de forma lenta e sensível pelas costas do homem que terminava de abotoar a camisa escura enquanto se olhava no espelho do hall de entrada.

 No reflexo do espelho, ele podia ver o maior presente que o acaso já lhe proporcionara terminar de deslizar os dedos por suas costas enquanto o cheiro inebriante de seu perfume inundava o espaço ao seu redor.

ㄧCombinou muito bem com seu vestido. ㄧAldrich nunca ligou muito para o que as mulheres vestiam, principalmente Alicia, que já teve a oportunidade de vê-la sem nada, mas o vestido preto que ela usava esta noite realmente era algo de se apreciar especialmente quando fazia um contraste perfeito em suas curvas bem delimitadas.

Um sorriso e tudo ficou mais iluminado.

Sim. Aldrich estava apaixonado por aquela mulher.

E sua jogada final seria nesta noite.

ㄧO que preparou para nós hoje? ㄧseu tom de voz era quase que veludo propositalmente e as piscadas lentas de seus longos cílios eram um convite para pularem todos os preparativos e partirem para o que realmente faziam sempre que se viam.

ㄧOuvi dizer que um chefe alemão abriu uma de suas franquias em Washington e como sei que você gosta de comida alemã, encomendei algo especial para esta noite.

O sorriso cresceu e o beijo que estalou em seus lábios fora rápido, porém macio.

ㄧVocê sempre surpreende. ㄧaquilo era uma afirmação cheia de certezas e o ego de Killian gostava disso.

Laçando o braço de Alicia no seu, ele a direcionou pelo hall até alcançarem a sala que já estava totalmente preparada.

Deu uma espiada rápida em sua acompanhante para capturar sua reação ao se deparar com a cena que se seguia.

ㄧLuz de velas e rosas, Al? ㄧhavia um misto de surpresa e deboche em suas palavras que ele não gostou muito de capturar.

ㄧChampanhe e violino de fundo para acompanhar. ㄧapontou para o aparelho de som que tocava um solo de um violinista francês que ele sabia que ela adorava, pois a acompanhou em diversos eventos que ocorreram na cidade de Washington.

ㄧO que acha que vai ganhar com isso? ㄧela questionou enquanto se desvencilhava de seu braço para andar um pouco mais a frente, rumo às portas duplas que, iluminadas por uma série de piscas-piscas, indicava o caminho para a mesa disposta na varanda.

ㄧEstrelas e um ar condicionado natural. ㄧcomplementou sua fala anterior quando finalmente chegou à varanda.

A curiosidade brilhava nos olhos de Alicia que agora eram iluminados pelas diversas velas espalhadas pelo local.

ㄧVocê sabe que não precisa de tudo isso quando eu venho te visitar. ㄧela deixou escapar enquanto apontava para o ambiente a sua volta.

Era isso, não era?

Ela não estava acostumada com este tipo de recepção.

No fundo, sua ironia ㄧa melhor arma que possuía ㄧera apenas um reflexo imediato para este tipo de situação na qual não está preparada.

Definitivamente, Aldrich adorava desvendar os mistérios de Alicia Mars e a cada camada destruída ele se encantava mais ainda com a mulher que estava debaixo daquelas milhares de faces.

ㄧDesta vez é diferente, Alicia. ㄧinstigou Killian enquanto se aproximava mais da mulher que era seu alvo ㄧDesta vez eu quero mais.

Um rubor subiu à sua face e ele considerou uma vitória. Aquele era um dos raros momentos que ele conseguia arrancar da mulher uma reação a altura do que queria. Na maioria das vezes, o que conquistava era apenas alguns sorrisos maliciosos e algumas piscadelas convidativas.

ㄧSenhor. ㄧuma voz chamou ao fundo, interrompendo o clima criado ali.

Alicia encarou curiosa o homem vestindo-se feito pinguim, mas, logo após identificar o motivo de sua presença lançou um sorriso de ponta a ponta para Aldrich.

ㄧUm garçom. ㄧela soltou e, em seguida, revirou os olhos.

ㄧFoi o que eu disse, Alicia. Desta vez eu quero mais.

A presença do jovem rapaz contratado junto do serviço de buffet alemão não quebrou todo o clima, afinal. Ele havia aparecido para indicar que as refeições já haviam chegado e que estavam prontos para servi-la.

O Schnitzel, prato favorito de Alicia, foi o que mais levaram tempo para degustar, graças ao enorme tamanho da vitela que o chefe selecionou para aquela ocasião. O que Aldrich considerou um problema, com medo de que o enorme prato impedisse que ela saboreasse a sobremesa, na verdade, foi um presente, pois eles levaram mais tempo à mesa conversando sobre as trivialidades do mundo e questões não muito relevadoras de ambas as vidas.

O mistério por trás daqueles olhos castanhos eram instigantes demais, então, a cada pequeno detalhe de sua vida revelado, ele sentia-se mais perto de conquistar o troféu final.

ㄧVocê está bem estranho hoje. ㄧsua observação indicou completamente o início de um novo assunto e fim da conversa sobre as finanças colaborativas de duas novas empresas no mercado automobilístico.

ㄧE você é sempre observadora. ㄧKillian sorriu enquanto passava uma das mãos pelo cabelo, forçando-o a ficar parado no lugar.

ㄧO que é esse a mais que você tanto deseja, Al? ㄧsempre direta, esta era Alicia.

Ela cruzou as penas e o seu vestido subiu o suficiente para deixar quase a mostra toda a barra da sua meia-calça rendada. Até então, a parte de seu corpo mais exposta era a linha do ombro, graças ao caimento de seu vestido que proporcionava uma visão agradável e instigante do seu decote

ㄧVocê já parou para pensar há quantos anos estamos neste contrato? ㄧa palavra usada na frase caia muito bem ao momento, já que, no início, a amizade de Alicia foi financiada por um contrato em que Aldrich não questionava e a teria por perto sempre que ela quisesse ou pudesse.

ㄧNão gosto de parar para contar. Isso me faz sentir velha. ㄧencostou um dos cotovelos na mesa e descansou seu queixo na mão esticada enquanto me avaliava ㄧO que você quer de mim, Al?

ㄧAgora? Ou a longo prazo? ㄧuma isca. Aquela frase era uma isca.

Endireitando sua postura, Alicia respirou fundo e descansou suas costas no encosto da cadeira. Tomou para si a taça de champanhe de Aldrich e saboreou todo o restante da bebida que havia restado.

Ele não ia comentar mais nada e ela sabia disso.

 Era a vez dela falar alguma coisa.

Claro que Alicia possuía muitos encantos, contudo, um dos prediletos de Killian era seu hábito de ações-surpresas que desencadeavam uma série de novos elementos em uma conversa e isso, com toda certeza, tornava Aldrich um homem ainda mais louco por ela, pois nunca estava preparado para suas investidas.

Num movimento suave, Mars deslizou do seu assento até colocar-se de pé. Precisou apenas de dois passos rápidos e que quase não tocaram o chão para alcançar seu alvo: o colo de Killian. Sem perder tempo para qualquer investida do homem, ela laçou seus braços em torno do pescoço de Aldrich e roubou-lhe o maior dos beijos.

E é claro que eles não pararam por ali.

✤✤✤

As manhãs de fevereiro eram sempre geladas em Washington, então, de fato, era comum que a lareira do quarto de Killian permanecesse acesa ao longo da noite para aquecer seu corpo quando tivesse que levantar.

Seu desejo, na verdade, era sempre roubado de si, principalmente em manhãs que sucediam uma noite como aquelas.

Mas esta era uma manhã diferente.

Havia um mister, uma razão maior, para ambos os lados de sua cama estarem tão gelados.

Aldrich não pregou o olho sequer uma vez, pois havia cometido um tremendo erro: tentou domar o coração de uma mulher indomável.

E como recompensa, foi abandonado, ainda na madrugada, e tudo o que foi capaz de ganhar em resposta, após sua profunda declaração de amor, fora uma carta, entregue pelo porteiro, logo que amanheceu.

Nela, Alicia declarava que estava se envolvendo além do que deveria e, por este motivo, jamais poderiam ficar juntos. Em diversos trechos ela deixou claro que se sentia incapaz de merecer aquela vida que ele ofertara na noite anterior, pois seu destino sempre fora outro. Acima de tudo, o que mais chocou Aldrich fora sua revelação final: seu nome.

Seu verdadeiro nome.

 Ellizabeth.