Eu não queria ser um super-herói escrita por Maga Clari


Capítulo 1
Okay? Okay




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Olha, você tinha um tom de voz irritante.

Como se a puberdade estivesse demorando demais de chegar.

É sério. Sua voz me dava ânsia.

Ou talvez uma vontade de me jogar da janela do ônibus. Mas você não valia isso tudo, até porque a gente nem se conhecia.

Na verdade, eu demorei cerca de três segundos para chegar à esta conclusão, quando você subiu as escadas, fez alguma piada sem graça nenhuma com o motorista e então, de tooooodos os lugares vagos no ônibus, escolheu justamente o lugar ao lado do meu.

— Oi, punk! — você começou. E a partir daí, eu já sabia que seria uma viagem muito, muito longa mesmo — Pode me dizer que horas são?

— Hora de ficar de boca fechada — foi tudo que eu disse.

E aí, você começou a rir por vários e infinitos segundos.

O que piorou tudo, obviamente.

Já disse que sua voz me irrita?

— Você é engraçada, punk — o titititi da sua voz de pré-adolescente tornou a surgir — Qual o seu nome?

— Se eu disser você promete continuar o resto da viagem calado?

— Posso tentar. É que eu estou muito nervoso. Estou indo encontrar uma pessoa.

— Thalia — cortei-o logo, pra ver se você parava de falar.

— O quê? Não, não conheço nenhuma Thalia. Estou indo encontrar outra pessoa.

— Garoto, não é como se eu me importasse. Thalia é meu nome e nós fizemos um acordo. Agora, shut up!

— Okay.

— Okay.

E eu realmente tinha acreditado que ficaríamos em silêncio. Havia um plano a ser revisado mentalmente por mim, passo a passo. Eu não podia, inclusive, me esquecer de descer um ponto antes. Para ter privacidade. E, principalmente, si-lên-cio.

Mas aí, você começou de novo. Com o riso e o tititi.

— Sabe o que é engraçado? Nós fizemos o “okay, okay”. Agora somos quase um casal.

— Você não consegue mesmo parar de falar, não é?

— E você não entendeu a referência, não é?

O pior de tudo, seu idiota, é que você conseguiu. Você conseguiu me fazer rir naquela hora. Não por seu senso de humor sem graça. Não por seu charme inexistente. Mas porque era, de fato, uma situação cômica. Então eu ri. E você pareceu vitorioso de alguma maneira. Por ter conseguido a minha simpatia.

— Não, eu não entendi a referência.

— O “okay, okay” é de um livro. Tem um casal que usa isso no fim das conversas. Como se fosse “te amo”, “também te amo”.

— Ah. Okay.

— Okay?! Você acabou de flertar comigo, punk?! Eu nem lhe disse meu nome. Sou Peter Parker, à propósito.

— Bom pra você. Aqui é minha parada, Peter Parker. Tenha um bom dia.

E então, quando me levantei, você se apressou em pegar os documentos que haviam caído da minha bolsa. Por curiosidade, seus olhos foram até minha identidade. Thalia Grace¹ dizia ali. Quando me devolveu, seus dentes exibiam o sorriso mais irritantemente engraçado de todos.


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Notas finais do capítulo

¹ O sobrenome de Thalia (Grace) fez Peter rir por ser o sobrenome da personagem que ela havia mencionado durante a conversa com ela. O nome da personagem é "Hazel Grace".