O Homem Sem Nome escrita por Ginty Mcfeatherfluffy


Capítulo 1
Primeira Parte




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Não apague a luz, não feche os olhos

É na escuridão que os medos tomam forma

 

Foram estes versos que me puseram um medo terrível de até piscar. É horrível fazer terapia para lidar com ele, mas tenho vivido bem. Creio que você não conhece aqueles versos; fazem parte de um livro que meu pai lia pra mim, como se chamava mesmo? Ah sim, O Homem Sem Nome. Sua autora fora sobrevivente de uma chacina há muitos anos, ela chama-se Lavínie Dejó; pode-se dizer que virei fã dela, o jeito como descreve os ambientes, que expõe seus sentimentos, pensamentos... Parecia até que vivi tudo aquilo com ela e que dividíamos tudo, principalmente seu medo.

Maya Wilgram é meu nome e, esta... É minha história.

Vivo em uma pequena cidade cujo nome não tem grande relevância, no entanto, eu digo que é Accalon. No dia que completei dezessete anos, o livro que mencionei acima me foi dado; nunca compreendi porque era tão valioso e porque as gerações de nossa família faziam de tudo para merecê-lo e, mais importante, protege-lo. Talvez seja uma forma de proteção, uma espécie de amuleto contra o tal homem ou qualquer perigo que possa rondar-nos. Minha mãe relutava em permitir que papai passasse a relíquia para mim e vocês podem imaginar a razão disto.

Se alguém, tempos atrás, me contasse que o personagem título do livro por mim herdado vinha me observando e planejando uma armadilha, garantindo assim que eu tenha um destino idêntico ao das ladies que caíam em suas garras, eu definitivamente não acreditaria. Porém, infelizmente ele era tão real como eu ou você e, como bem sabemos, não possuía nome ou nada que o identificasse – não que devêssemos chamá-lo de... 21601 ou algo assim – e isto o tornava ainda mais aterrorizante.

Pois bem, nosso primeiro encontro se deu em um baile de máscaras oferecido por mamãe e papai, a melhor festa que já presenciei, devo constar. Depois de duas ou três danças seguidas, fui até a mesa de bebidas me servir de um ponche e me retirei para saboreá-lo lá fora, se eu tivesse a sorte, ninguém me abordaria. Repentinamente fui tomada por um arrepio, uma sensação horrível, virei-me para averiguar se os outros convivas demonstravam sentir a mesma coisa, e me enganei, dolorosamente. A sensação piorou ainda mais assim que olhei para o outro lado do banco onde me encontrava; lá estava um cavalheiro bem... peculiar, perigosamente elegante, mas era tudo que eu podia dizer. – É muita sorte encontrá-la, grande dama, acabei de chegar.

Algo em mim se acendeu assim que ouvi sua voz, era um som irresistível, único, que não pertencia a este mundo e, viria a descobrir mais tarde que realmente não o era. – Ora então, seja bem-vindo, senhor... – Foi então que me ocorreu que não me lembrava de tê-lo visto, mesmo com máscara, no entanto, sua aparência me era familiar. Estranho. – Pode me chamar como quiser, milady.

Um tempo depois

 

Passaram-se alguns meses depois que conheci aquele cavalheiro e, meus sonhos todos eram povoados por imagens dele, sua voz preenchia minha mente de maneira devastadora, como se fosse um sinal de que eu precisava estar perto dele, mas de que jeito? Em primeiro lugar, não fazia ideia de quem ele era, ou de onde vinha... Em segundo lugar, eu não queria estar perto dele.

Meu lugar preferido no mundo era a biblioteca de casa. Ler era um divertimento, digamos, desqualificado, na cidade em que moro, já que é rodeada por árvores frutíferas, cachoeiras, monumentos feitos dos mais diversos materiais, porém eu não podia me importar menos. Por mais que eu adorasse caminhar pelos vales mágicos de Accalon, meus livros eram meu tesouro. Pois então, escolhi um livro qualquer de um homem genial chamado Shakespeare e mergulhei na hora na leitura, até sentir uma presença um tanto quanto indesejada ao meu lado, o gentil estranho cuja gentileza me parecia tão forçada quanto sua descortesia.

— O senhor me assustou. – Foi uma bela maneira de iniciar uma conversa. – Não imaginava que estivesse aqui, não lhe vi entrando. E não é pra menos, estava tão absorta na leitura. – Ele simplesmente me silenciou com um dedo pálido e comprido, fazendo minha voz morrer na garganta e, tranquilamente ajoelhou-se diante de mim, sorrindo feito uma criança, me olhando como se fôssemos velhos amigos. – Lady Wilgram, eu vim buscá-la. – Inconscientemente, me levantei e dirigi-me à porta, esperando fervorosamente que a mensagem fosse clara. – Se isto é uma brincadeira, quero que saiba que não tem graça! Queira, por favor, se retirar.

— É o que pretendo, minha cara, mas a levarei comigo, você querendo ou não. – Ou não, últimas palavras que ouvi antes que minha visão e todos meus sentidos falhassem.

Acordei sentindo uma bruta dor de cabeça, me sentia saturada, ainda mais assustada e com muita raiva; dando uma breve vasculhada no ambiente, pude constatar que realmente... aquele sujeito era doente. O quarto era inteirinho negro, paredes forradas de tecido – cetim, notei – não havia cama, apenas almofadas, um espelho de mão e uma vela envolta em uma fita de cetim igualmente preta e arrematada por uma pérola. Que obsessão pela cor negra, céus! E justamente quando eu acabo de ter este pensamento, ouço uma voz masculina atrás de mim, causando-me arrepios, só não conseguia dizer se era bom ou ruim. – Espero que tenha gostado de teu quarto.

— Pare de dizer absurdos, senhor, lhe peço.

— Diga-me porque lhe desagrada tanto a ideia de ficar comigo.

— Você não é humano!

Tão logo essas palavras saíram de meus lábios, o homem pegou-me pelo pescoço com inigualável força, por pouco não perco o pulso, no entanto, soltou-me antes de dizer – Talvez eu não seja mesmo, senhorita Wilgram. Vejamos, há muitos anos minha família foi morta pela tua; Os Wilgram perseguem os sobreviventes de minha família ATÉ HOJE, e você não está livre da culpa das primeiras gerações, está indo pelo mesmo caminho que eles seguiram. EU NÃO SOU HUMANO, sim, eu perdi minha alma há muito tempo, quando vi minha mãe ser morta pelo teu avô!

Sua respiração era pesada, lágrimas teimosas escorriam até o queixo e caíam até o chão de madeira polida, ele não era capaz de olhar pra mim, mas eu podia, mesmo assim, ver a dor, a amargura, o ódio que havia em suas orbes. Deus, eu o entendia! Mas não conseguia aceitar o que havia feito.

Ele fez com outras garotas o que fez comigo.

Todas da minha família.

 

 


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