O garoto que senta ao lado escrita por Manu
Não é o meu primeiro dia nessa escola, mas como sempre estou chegando atrasada. Meu nome é Sakamoto Yuki e hoje, por incrível que pareça, vou sentar em uma das primeiras cadeiras, próximo ao professor — como sempre, na verdade. É a cadeira que sempre está vaga; ela fica na segunda fileira ao lado da janela.
Hoje a aula é de inglês. Verifiquei minha bolsa, mas parece que esqueci meu livro. Isso não é muito usual.... Vi ele olhando para mim, os óculos um pouco baixos, assim como a cabeça, porque tinha tirado os olhos do seu livro.
— Senta comigo, se não se importar. Você pode ler o meu livro. — Era uma voz abafada e calma.
Os olhos eram escuros, assim como as mechas do seu cabelo e franja. Ele era muito bonito, na verdade.
— Ah, obrigada. — Disse e juntei as nossas cadeiras.
O professor olhou e desviou o olhar. Eu quis corar, mas me controlei. Afinal era só o garoto que se senta ao lado.
Peguei uma folha a parte e anotei os pontos principais da aula. Sem querer deixei minha caneta cair. Ela foi ao lado da parede, bem próxima ao pé dele.
Ele se abaixou e pegou pra mim.
— Obrigada. — Agradeci.
— Não há de quê. — Novamente aqueles olhos. Sua voz ainda era calma. E se voltou à atividade.
Dessa vez corei.
E começamos a responder os exercícios. Eu copiava a letra da alternativa certa na minha folha. Aquelas questões eram legais. Ele também respondia rápido.
— Você gosta de inglês? - Ele perguntou.
— Sim. — Disse de imediato. Eu amava inglês.
— Eu também. — Ele virou o rosto por um ligeiro instante e sorriu. Meu rosto enrubesceu de leve. Eu não deveria corar tanto...
— Aprender com música é o jeito mais legal que tem. — Falei enquanto olhávamos para o livro.
Era como eu estudava.
Ele riu de leve.
— Verdade. - Disse.
Não pude conter o sorriso. Acho que ele também não. E por um segundo ele olhou para mim de novo e depois voltou aos livros. Que fofo. O sorriso estava de leve em seu rosto.
— Exercício 5... — E colocou os dedos no livro. Leu e respondeu.
Quando ele estava no 7...
— Ah... Deve ser ruim eu ficar respondendo direto aqui antes de você terminar de anotar a resposta. Fica parecendo que estou soprando as respostas, né? — Indagou com um sorriso, passando a mão no pescoço.
— Não, não se preocupe. Não estou copiando as respostas nem nada e... - mas ele realmente tinha razão. Eu só comecei a falar isso por educação...
— Não, não é isso que quis dizer... Hã... — Ele coçou a cabeça com a caneta olhando pro lado. — Tudo bem mesmo com isso? Você não prefere fazer isso de outra forma? Afinal... É inglês...
Dentro de mim eu estava reagindo a cada fala dele, sempre me dava vontade de corar, mas é claro que eu não poderia fazer isso. Nem louca.
— Não... Sem problemas. — Falei calmamente, coçando minha bochecha com o indicador.
Eu não via cor nas suas bochechas, mas por algum motivo senti como se a respiração dele tivesse parado por um segundo depois de eu ter terminado de falar.
— Ok.... — Disse e se virou para o livro, abaixando um pouco a cabeça.
Por que cada gesto que ele fazia era fofo?! Isso estava começando a me indignar... Olhei para o lado para disfarçar um pouco.
Finalmente, fui respondendo os exercícios e olhei para os dele. Ele estava fazendo mais rápido do que eu, mas se segurava um pouco durante o processo. Até que fez de uma vez. Eu demorei mais porque tinha que anotar no meu caderno.
Alguém cutucou o garoto.
— Ei, Hiro-kun... Me ajuda com esse exercício! — Chorou o garoto. Ele tinha cabelos loiros. Balançava os ombros de... "Hiroshi-kun", enquanto falava.
Então esse era o nome dele.
Hiro se virou para o loiro levemente.
O loiro olhou para mim, que estava olhando para este sem querer.
— Oi, Sakamoto-san.
— Oi. - respondi.
Quem era esse?
— Meu nome é Sugahara Jun. — disse o loiro apontando para si com um sorriso.
Sorri também.
— Prazer em conhece-lo. — Respondi.
— Meu nome é Nomura Hiroshi... — O garoto que senta ao meu lado disse e coçou a bochecha com o indicador.
Não. core!.
— Sakamoto Yuki. Prazer em conhece-lo... Apesar de sentarmos um ao lado do outro todos os dias. — Ri sem jeito. Ele riu também.
Vou ganhar o Óscar.
— Prazer em conhece-la também. — e houve uma pausa. — Então, Jun... Qual era a questão?
— Essa aqui, eu... — E o Nomura foi o ajudar.
— Essa palavra significa... — Explicou baixinho. Escrevia usando setas para não ter que repetir. Afinal, podia chamar a atenção do professor. Mas não me parecia que o professor ligava muito para isso...
— Ah... Entendi.
Nomura-san... ajeitou seus óculos. Eu realmente nunca nem notei que ele existia?
— Sakamoto-san também é muito boa em inglês. Se você quiser também pode pedir ajuda a ela de vez em quando. — Tinha um sorriso travesso no canto da boca.
Tentei mesmo não corar. Tentei seriamente não corar... Será que é visível a temperatura da minha face ou é só o meu coração batendo mais rápido? Tenho fé que é só meu coração correndo uma maratona de 100 metros subitamente. Ok, acalme-se.
— Ah!... Sério? - Disse o loiro surpreso olhando para mim.
— Não... Nem tanto assim. Eu só gosto.... — Essa foi natural... Algo me diz que meu Óscar ainda está de pé.
— Se ela não tivesse sem o livro.... Ela teria terminado junto ou até antes de mim, não é, Sakamoto-san? - E sorriu gentilmente.
Corei.
— Não... Que isso. — Falei balançando as mãos na minha frente e desviando os olhos para o canto esquerdo do chão.
Ele continuava a sorrir. E eu ainda estava corada.
Sugahara-kun riu e Nomura-kun em seguida. O professor olhou para a gente devido o barulho. Ficamos tensos. Eu achei que o professor não ligava, mas...
O sinal para a próxima aula tocou. O professor tirou os olhos da gente finalmente. Fomos salvos!
— Ah... Ainda faltam seis questões. — Disse Sugahara-kun preocupado.
— Não tem problema... Não é para entregar. — Nomura respondeu gentil. — E o restante é A, B, B, C...
Fui me recuperando da maratona enquanto eles conversavam...
Ouvimos batidas na porta e então a mulher ali disse:
— Intervalo de dez minutos... O professor de História acabou se atrasando por motivos pessoais.
— Ah... Legal! - Sugahara sorriu fechando os punhos.
E fomos ao corredor.
— Ah... Eu vou aqui nessa sala um pouco. Daqui a pouco a gente se fala! — E lá se foi o loiro acenando e saltitando. Queria entender o por quê, mas esse gesto foi...
— Ok. — Dissemos sem jeito.
De repente um aluno passava correndo com uns livros e esbarrou no Nomura-kun, que acabou caindo sobre mim, colocando a mão sobre a parede ao meu lado.
Coramos.
— D-Desculpe... — Me disse.
— Tudo bem... — Recolhi uma mecha.
E ele se afastou sem dizer nada, ficando à minha direita. Pegou o celular e o fone no bolso. Acoplou e..., depois de uma pausa, estendeu-me um dos fones e disse:
— Você quer ouvir música, Sakamoto-san?
— Sim... — Sorri e peguei o fone.
Ele escolheu uma música na playlist.
Eu tinha certeza que era algo que eu conhecia. Quando o vocalista começou a cantar minhas dúvidas foram embora.
— Ah.... Eu conheço essa. É otima!
Ele sorriu.
— Também acho!
Comecei a me acostumar desta vez. Afinal, eu havia gostado daquele sorriso calmo.
— Sério? É que o álbum todo dessa música, na verdade...
— É muito bom!
— Sim!
Rimos e sorrimos um para o outro... Senti algo queimar. E minha bochecha corou. Achei que ia ficar tudo bem e não coraria, mas nem tudo está sempre sobre nosso controle. Escondi minhas mãos na minha jaqueta e fiquei escutando a música. Ele virou seu rosto de volta para a outra direção, longe de mim.
Mais uma pausa. Eu não sabia o que falar. Até que eu tive uma ideia:
— Ei... Nomura-san, posso ver sua playlist? - Estendi a mão.
— Ah... Sim, pode.
Peguei o celular dele e olhei a lista.
Estava muito concetrada quando alguém esbarrou em mim e Nomura me segurou como num abraço.
— Desculpa... — Falei e me afastei recolhendo outra de minhas mechas.
— Tudo bem... — E virou o rosto. — S-sabe, talvez....
— Talvez?
Ele estava corado?
— T-talvez seja melhor a gente andar um pouco... Estou começando a achar que o Jun não vai voltar nem tão cedo, porque... — Ele dizia rapidamente, sem nem olhar para mim.
— Por que?
— Porque... aquela é a sala da menina que ele gosta. — Ele corou olhando para baixo.
— Ah... Entendi. — Corei. —... Vamos então! — E sorri.
— Sim... — Ele disse, de cabeça baixa.
E começamos a caminhar.
— Então você gosta da Banda XXX? — Perguntei.
— Sim... Apesar deles só terem lançado um disco e algumas músicas avulsas. — Disse passando a mão no pescoço.
— É....
Ficamos sem assunto e um silencio mortal quis se pôr.
— Ah!... A biblioteca... Você quer ir? — Me perguntou meio apressado.
— Será que dá tempo?
Ele olhou para um relógio na coluna da parede do corredor.
— Ah... Acho que não... — Disse desapontado.
Continuamos andando ouvindo música, só que de repente os olhos do Nomura-kun se arregalaram e ele nos colocou numa espécime de beco. Sem que esperássemos, uma porta que estava fechada atrás de nós se abriu e nós caímos dentro dela. Eu caí de costas em cima do Nomura-kun e a porta subitamente se fechou.
— Hã?! - Dissemos.
Virei meu rosto e vi o rosto do Nomura-kun muito perto. Corei e me levantei lentamente.
— D-desculpa, Nomura-san...
— T-tudo bem...
De repente senti minhas pernas fraquejarem e caí novamente sobre o Nomura-kun. Ele corou.
— D-desculpa! N-nomura-san... Eu... — Meus olhos começaram a piscar lentamente — É que... Eu... Eu estou me sentindo... — Minhas pálpebras continuaram caindo. Eu via o semblante do Nomura-kun enrubescendo.
Caí com o rosto sobre o peitoral de Nomura.
— S-sakamoto-san....!
— Nomura...san... — Falei... Eu estava com o rosto vermelho e ele também.
Não sei por quê, mas aproximei meu rosto e os meus lábios foram aos dele. Ele estava imóvel. Tomei um susto a tempo e recuei.
Estávamos corados. Por que eu...?! Eu tremia.
— S-sakamoto...san... — Ele estava extremamente corado, olhando para o lado e... de repente... eu... novamente... agarrando sua camiseta e virando seu queixo para mim com a mão, me aproximei e...
Eu não sei que sensação foi aquela. E nem porquê eu tinha feito aquilo. Acabei depois afastando meu rosto.
— D-desculpe... N-nomura-san... — Cobri meus lábios com a mão enquanto desviava o olhar. — Eu não pretendia...
O que eu acabei de...?!
Me afastei, levantei corada e virei para a porta, girando e mexendo na maçaneta.
Nomura-kun também se levantou apesar de corado.
— Está trancada.
— Trancada?! Mentira... — Disse incrédulo.
Balancei a maçaneta mais uma vez.
— Está trancada. — reafirmei.
— Deixe-me tentar também. — Disse.
Saí da frente e fui para trás dele enquanto ele tentava abrir. Ele girava e puxava a maçaneta, mas não havia sucesso. Sem eu nem notar, inconscientemente abracei-o por trás.
Ele corou. Eu corei absurdamente.
Ele mexeu na maçaneta novamente.
— E-está realmente trancada...
Eu ainda estava abraçada a ele. Por isso Nomura-kun estava corado.
— S-sakamoto-san...
Eu o soltei. Então ele se virou.
De repente meu corpo foi empurrado pelas costas, mas não havia ninguém naquele lugar. Era como se o vento ou algo sem corpo tivesse me empurrado. Olhei para as minhas mãos no peitoral do Nomura-kun e fechei os olhos assustada.... "Por que isso... ", pensei.
A minha mão direita começou a ir para o rosto do Nomura-kun.... Então fechei meus olhos novamente. Eu me tremia toda por dentro... Mas meu corpo se movia sozinho.
Nomura-kun olhou para mim com o seu rosto corado. Meus olhos estavam fechados e a minha mão no seu rosto.
— Não! — Gritei.
Eu estava assustada. Muito assustada. Nomura-kun engoliu em seco.
— S-Sakamoto-san... Abra seus olhos.
Eu continuei hesitante.
— Acalme-se... Por favor. — Disse baixinho e calmamente. — Eu nao vou te fazer nada. Eu prometo.
Abri-os lentamente. Então olhei diretamente para o Nomura.
Minhas bochechas estavam coradas. Mas as dele também. Ele parecia mais tímido do que eu. Só não demonstrava.
— D-desculpe... — E desviei o olhar.
— Não mintam um para o outro. — Uma voz ecoou. — Vocês estão aqui porque precisam de ajuda. Seus sentimentos não foram implantados. Só foram amplificados.
O quê?!
Fechei meus olhos novamente, agarrando-me na camiseta de Nomura.
— Não contendam contra os seus sentimentos. Sejam sinceros. Se não, nunca vão sair daqui. Especialmente você... Nomura-kun. — A voz disse.
— O quê... — Disse Nomura-kun.
— Se não... — A voz ecoou.
Me segurei nele.
Ele virou os olhos para o lado corado. Mas tinha de fazer algo. Eu sentia seu coração bater. Suspirei e disse:
— Nomura-san... — Ele me ouviu. — Tudo bem. Não se assuste... Eu sei que parece cedo, mas... Tudo bem. Seja sincero comigo.
Nomura-kun então, corado e relutante, abaixou sua cabeça, tocando sua testa na minha, e disse:
— Eu gosto de você. — Abri meus olhos e vi seu semblante. Ele dizia a verdade.
A porta se abriu e eu estava sobre Nomura-kun novamente. Ele estava corado, olhando para o lado. Entao, também corada, girei meu corpo e sentei ao lado dele.
— Desculpa... Pelo que eu disse. — Falou. O olhar envergonhado dirigido para o chão e o braço cobrindo parte do rosto.
— Não precisa se desculpar... — Também olhei para o chão.
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