I'm Not Okay escrita por Lyes


Capítulo 4
Foto Um - Aterrissando Longe de Casa


Notas iniciais do capítulo

Ooooi gente ♥
Aqui estou com mais um capítulo hehe
Espero sinceramente que eu consiga continuar postando e escrevendo rápido, porque eu tô adorando isso ♥
Esse é o primeiro capítulo, tipo, de verdade xD
Espero que gostem :p



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Tudo estava indo, no mínimo, mais ou menos bem.

Até que você entrou correndo e atrapalhou o meu ritual sagrado de cochilar no terraço. Não te dei muita atenção no começo porque estava muito ocupado revirando os olhos para o seu drama desnecessário, afinal, eu não tinha nada a ver com os seus problemas.

Até que você começou a chorar.

Fala sério. Por mais que eu estivesse cagando e andando, não poderia ignorar uma garota chorando e falando coisas incompreensíveis (mas confesso que estava dividido entre rir e ficar preocupado, porque seu surto foi até meio engraçado).

No fim, lá estava eu, encostado na mureta te escutando reclamar sobre a Ambre, um assunto que sempre gostei de evitar, e sobre seu namoradinho, um assunto que futuramente eu também iria evitar com todas as minhas forças. Olha só como esse filho da puta do destino gosta de bancar o engraçadinho.

Não sei se foi o ursinho, o choro ou o desespero, mas… naquele momento, eu senti um pouquinho de empatia (bem pouco, porque essa palavra não existe no meu dicionário). Então, me sentei e fingi estar dormindo para ver se você finalmente calava a boca. Que é? Eu já estava ocupado demais lidando com as minhas merdas, não tinha espaço para as de mais ninguém e ao contrário de certas pessoas, prefiro não me meter na vida alheia.

Só voltei a prestar atenção em você momentos depois, quando aparentemente se cansou de choramingar e ficou olhando o céu, que estava começando a ficar nublado, feito retardada, com a câmera em cima do rosto. Fiquei tentado a perguntar se você tinha algum problema mental além daqueles que eu pude notar durante os três excruciantes minutos de “conversa” unilateral, mas não falei nada porque poderia parecer rude da minha parte, sabe?

Mas voltando ao que realmente interessa...

XX

Vamos, Parish… vamos, você consegue. Falta pouco, você está quase na escada. Não chora agora, o corredor tá cheio demais pra isso. Não chora. Em três dias você já passou vergonha o suficiente pra duas décadas e meia.

Respira fundo. Respira, inspira, sem surtar. Você passou do primeiro andar, é só continuar em frente. Está tudo bem. Quase no segundo andar. Sempre em frente, vamos. Falta pouco, muito pouco.

Ah, fala sério. Cansei. Simplesmente estou farta de ter que me segurar por meras questões de preferir não passar vergonha. Bem? Isso é realmente uma piada com a minha cara, né? Tudo bem?! O caralho que está bem.

Não, nada bem. Longe de bem, a kilômetros de bem. É sério que eu ainda tô mentindo pra mim mesma falando que tá tudo bem? Escancarei a porta que levava ao terraço, cansada de segurar toda a dor, raiva, tristeza e vontade de socar a cara de alguém.

Ou melhor, a vontade de socar um determinado nariz e quebrá-lo em 3 lugares diferentes.

Já foi um chute na cara saber iríamos nos mudar. Certo, os pais de Ken também viriam e eu passaria mais tempo com a titia, mas… tinha que dar errado pela segunda vez, claro. Porque só na primeira nunca é o suficiente.

Graças a falta do que fazer de nossa prezada e estimada Ambre, Ken foi obrigado a ir pra uma escola militar que fica, vejamos… na puta que pariu. É quase saindo do país!

Em resumo, graças a Ambre, eu sou uma piada na escola, meu namorado foi obrigado a ir embora e estou, nesse exato momento, matando a aula de matemática aqui no terraço enquanto tento, em vão, não chorar.

O problema é que eu não conseguia tirar da cabeça o momento em que Manon me disse que Ken teria que mudar de escola… foi tão repentino. Sempre fomos muito próximos, sempre dividimos nossas incertezas e dores, é um costume. Mas dessa vez, ele decidiu guardar tudo pra si mesmo pra não me fazer sofrer mais que o necessário e ainda trouxe um ursinho de pelúcia quando veio até a porta da escola se despedir de mim. Por quê, mundo? Por quê?!

Para completar toda a felicidade, a nossa última foto foi completamente arruinada por alguma presença indeterminada que passou por mim e me fez olhar pra outro lugar, bem quando a foto foi tirada. Enquanto Ken abraçava minha cintura, eu estava olhando para o outro lado, completamente fora de mim.

Manon não deve ter percebido na hora, por não ser muito boa com tecnologia e por que Gil estava, pela milésima vez, apressando os dois. Mas agora que peguei minha câmera e percebi que aquela foi a nossa última chance, só tenho vontade de apagar a foto, esse dia e talvez, quem sabe, me apagar desse planeta. É a solução menos dolorosa e que não envolve assassinato (esse é um aspecto muito importante, porque estou a ponto de esfregar a cara da Ambre pelo chão do corredor até que ele fique brilhante… brilhante vermelho sangue).

— Será que dá pra você calar a boca? Estou tentando dormir. Você não deveria estar na aula?

Calar a boca? Mas eu estava só… pensando, e… não. Não me diz que eu estava pensando alto… era só o que me faltava.

— Eu… desculpa, é que… sabe, eu…

— Deixa pra lá. Só vai surtar em outro lugar, beleza? Cheguei aqui primeiro.

Estava tão concentrada tentando não morrer de vergonha, que nem percebi com quem estava falando. Mas de que adiantaria eu olhar pra saber quem é se eu não conheço ninguém aqui? Ótimo. E mesmo se eu tentasse, só consegui ver um longo par de pernas e a barra da camiseta, já que o rosto estava coberto por uma jaqueta de couro preta.

E, ei… surtar em outro lugar? Será que ele não percebeu que estou no meio de uma crise? A palavra “empatia” não existe no dicionário dele?

Foco, Parish, você não é assim. Não se pode perder-se de quem você é na primeira dificuldade que surgir.

Tenho certeza que minha mãe não me ensinou isso prevendo que eu fosse usar pra justificar o fato de que estou prestes a xingar um desconhecido, mas em minha defesa… ele pediu.

Meu discurso estava em 99%, quando… salvo pelo gongo! Ou melhor, salvo por meu celular tocando.

Você tem uma nova mensagem:

“Me perdoa. Eu queria ter te dito antes, eu juro. Eu queria, na verdade, não ter que ir embora, mas… se não sou capaz de cuidar de mim, como posso cuidar de você? Prometo que volto quando eu finalmente for capaz de te proteger.

Já estou com saudades,

O idiota do seu namorado.”

Sabe quando você sente aquela dorzinha gelada dentro do coração? Que aos poucos vai se espalhando por suas veias junto com o sangue e força pra fora do seu corpo tudo aquilo que você estava tentando esconder?

Por trás da minha revolta, eu escondia toda a dor de perdê-lo. Toda a dor do desconhecido, de ter que lidar sozinha com um lugar completamente novo, distante de tudo aquilo que eu conhecia. Porque as coisas nunca param de mudar, não é? Porque as coisas não podem ser só simples, justas e descomplicadas. Porque por trás de todos aqueles palavrões e de todo o fingimento, eu estava com medo. Tremendo. Medo de não vê-lo mais, medo de ficar sozinha, medo de que as coisas nunca mais sejam como antes, medo de olhar pra frente, medo de que as coisas mudem de novo. Eu não posso lidar com isso, não agora em que todas as pessoas que amo foram pra longe de mim.

Agarrei meu urso, minha câmera, minha bolsa. Agarrei-me a tudo que era realmente meu… e chorei.

Chorei porque precisava daquilo. Chorei porque é difícil demais ser alguém. Chorei pra expurgar todo aquele medo de me perder de mim mesma e nunca mais me encontrar em ninguém ou em lugar nenhum. Acima de tudo, chorei por mim. Chorei de dor, tristeza e saudade pelo que pareceu ser uma semana, que na verdade foram só sete minutos e meio.

Até que parei.

Talvez por não ter mais lágrimas, talvez porque tudo doesse… ou talvez porque zero pessoas se importavam com minha tristeza (inclusive o carinha que estava tentando dormir finalmente tinha conseguido, mesmo com meu choro super alto) e ninguém me consolaria até a dor cessar. Estava sozinha, afinal. Eu tinha que ajeitar as coisas sozinha, como os adultos faziam… mas eu não sou adulta, mundo. Não sou.

Deitei-me no chão e coloquei a câmera sobre meus olhos. O mundo parecia ser tão bonito através daquela telinha… acalmava meu coração saber que com um clique eu poderia imortalizar o que desejasse. Acalmava meu coração saber que pelo menos em algum lugar eu não teria que lidar com mudanças. O mundo ao meu redor desaparecia e eu era capaz de ficar horas e horas vendo só o que minha câmera me mostrava, eis a minha válvula de escape.

— Parece que o céu também quer chorar… — resmunguei ao perceber o lento e gradual movimento das nuvens acinzentadas.

E então, com a magia que estava ao alcance da ponta dos meus dedos, imortalizei o momento em que o céu, ao contrário de mim, conseguia segurar as pontas.

XX

Você estava tão concentrada analisando o movimento das nuvens que mal percebeu que eu estava te olhando. Desde a primeira vez, estava ocupada demais capturando momentos para perceber o que realmente acontecia ao seu redor. Você nunca notou as mudanças e por mais que reclamasse tanto, só se deixou levar. Assim, nunca percebeu até onde meus olhares, todas as fotos e todas as pistas estavam nos levando e... confesso que isso me deixou frustrado, porque estar ao seu lado nunca era o bastante pra te fazer notar a verdade sobre o que estava acontecendo entre a gente. Mas, por mais contraditório que seja, você aceitou com naturalidade o rumo que as coisas estavam tomando e não tentou impedir que elas acontecessem.

Então, por incrível que pareça... sou grato por você ser exatamente do seu jeito estranho de ser.

Acho que nada disso teria acontecido se não fosse com você.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler e até a próxima ♥



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