Sentada em um dos bancos do Pop's, olhando as pessoas ao redor felizes, e eu ali completamente solitária, eu tive a plena certeza de que eu deveria me esforçar para ser alguém melhor, não só para mim mas com o resto também. Mas é tão difícil mudar algo que construiu por toda sua vida e que se acostumou.

— Pop Tate, um milkshake para viagem... por favor - as últimas palavras saíram quase que como um cochicho.

— É pra já, senhorita Blossom - o homem sorria cordialmente.

— Pode me chamar de Cheryl, se quiser - sorri com vergonha e ele apenas assentiu com a cabeça.

Esperei por alguns poucos minutos e logo estava com meu milkshake de morango em mãos, saí do estabelecimento e fui em direção a um local que não era muito longe dali. Durante a minha breve caminhada, me permiti sentir o vento gelado batendo em meu rosto e por um momento eu me senti livre, de tudo e de todos, poderia sentir aquilo pra sempre. Entrei pelos grandes portões do Riverdale Memorial Cemetery, andei pelo gramado repleto de placas de pedra e logo cheguei aonde queria.

"Jason Blossom, um jovem brilhante"

Era oque dizia a lápide do meu irmão, e eu podia apenas concordar, Jason era brilhante em tudo que fazia. Sentei me ao pé da lápide e logo pude sentir as lágrimas percorrerem meu rosto, desde esse fatídico acontecimento, eu chorava mais do que o normal.

— Oi, irmãozinho - eu disse passando uma das mãos pela pedra gélida - Trouxe milkshake do Pop's, o seu preferido - me virei pra pegar o copo que a pouco deixara na grama - As coisas tem andado difíceis por aqui, mamãe está completamente louca e pra completar ainda temos um tio, tão sinistro quanto papai - me sentia bem e estranha ao mesmo tempo, falando com uma lápide.

Fiquei alguns minutos sentada, tomando meu milkshake e tentando sentir algum vestígio da presença de Jason naquele local, olhei ao redor e com certeza haviam muitas almas, apenas pude torcer pra que a de Jason estivesse em algum lugar melhor.

— Bom, preciso ir, quero que saiba que Polly vai ter os bebês em breve, ela ainda sente muito sua falta, assim como eu - levantei-me ainda com o rosto molhado pelas lágrimas.

Caminhei para casa, e a cada passo que eu dava em direção a Thornhill meu coração ficava acelerado, um calafrio percorria toda a extensão da minha coluna e eu odiava admitir, mas ficava com medo. Desde que Jason e meu pai se foram, minha mãe botou 100% da megera interior para fora de si, meu tio Claudius apenas incentiva a loucura dela, e eu aposto todos meus sapatos que eles estão planejando algo podre. Abri a porta com cuidado para que ninguém ouvisse, mas Nana Rose estava na sala convencional.

— Cheryl, venha cá - ela chamou e eu apenas apertei os olhos com força.

— Oi vovó - caminhei até ela e me agachei a sua frente.

— Menina tola, ainda insiste em voltar para esse ninho de cobras - a fala dela fez com que meu corpo se arrepiasse por inteiro.

— Não entendo oque... - disse tentando sorrir mas ela me interrompeu.

— Tome cuidado, Cheryl, ou acabará como seu irmão - ela disse muito próxima a meu rosto.

— Acho que é melhor continuar tomando seus remédios, vovó - me levantei e sorri, por dentro estava nervosa, pois eu sabia que era verdade.

Subi rapidamente a escada e fui direto para o meu quarto, me certificando de trancar bem a porta ao fechá-la. Naquele dia não desci para jantar, minha cabeça estava cheia demais pensando em alguma forma de descobrir qual era o plano do meu tio e minha mãe.

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Acordei com os poucos raios de sol que entravam pela janela batendo em meu rosto, os dias em Riverdale têm tido esse ar meio europeu, algum vestígio de sol e seus ventos cortantes. Levantei e fui até o banheiro, precisava tomar uma chuveirada antes de começar a encarar mais um dia exaustivo. Alguns minutos depois, sai e vesti uma roupa que já estava separada, costumava deixar as roupas para o dia seguinte estrategicamente separadas tendo em vista que eu demorava para escolher.

Desci as escadas e já estava no hall de entrada quando ouvi uma voz chamar meu nome.

— Onde está indo tão cedo? - minha mãe estava sentada em uma poltrona a poucos metros de mim.

— Bom, pensei em tomar café da manhã com as vixens - sorri fracamente.

— Aquelas que provavelmente estão com as famílias delas? - seu ar era de desprezo e um sorriso maléfico prevalecia em sua feição.

— Ou talvez não, de qualquer forma, preciso ir - abaixei a cabeça e sai antes que ela pudesse dizer qualquer outra coisa.

Riverdale High não ficava muito longe de casa, mas devia admitir que era uma certa caminhada, precisava de algum meio de transporte com urgência. Assim como na vinda para casa, na ida para o colégio eu sentia meu coração mais leve, sabia que estava prestes a entrar no meu mundinho particular por algumas horas.

Ao chegar no colégio já haviam alguns alunos em seus habituais círculos sociais, o meu círculo eram todos, todos queriam uma parte da popular Cheryl Blossom, era algo tão vazio mas que de alguma forma fazia tudo valer a pena.

Fui até meu armário e ao abrir vi uma pequena caixa transparente, dentro havia um cupcake com uma linda cereja vermelha em cima, ao lado um pequeno bilhete, me apressei para pegar o papel e ler.

" Querida Cheryl,

gostaria de me desculpar por te falar aquelas coisas horríveis, estava com raiva. Espero poder reparar meu erro.

Topaz."

Senti meu rosto enrubescer, aquilo era extremamente atencioso.

— Cheryl, oque tem aí? - Danielle disse ao meu lado.

— Não é nada - tentei disfarçar - Mas preciso resolver algo - sorri e caminhei em direção a sala de alunos.

Ao entrar no local, pude ver que estava cheia como sempre, os bulldogs rindo e conversando, e nos sofás estavam Archie, Veronica, Betty, Jughead e ela, Antoinette Topaz. Caminhei em direção a eles, e assim que cheguei a frente da garota joguei o bilhete nela.

— Está tentando me comprar com doces? - falei em alto e bom tom, fazendo com que todos parassem oque estivessem fazendo e olhassem para mim.

— Não, claro que não, Cheryl, estava apenas tentando me desculpar - ela disse envergonhada pela situação.

— Isto é, arrombando meu armário e colocando bilhetes lésbicos lá dentro - nem sabia porque estava fazendo aquilo, mas era comum pra mim confrontar a todos - Bom, isso mostra a marginal que é - todos ainda olhavam pra nós.

— Cheryl, pega leve, a Toni já disse oque estava fazendo - Jughead se levantou bufando.

— Não se intrometa, Jones - o desprezei com o olhar - Espero que isso não se repita, ou serei obrigada a te denunciar, serpente - a encarei uma última vez e saí.

Enquanto andava no corredor, o sinal soou e todos começaram a se dispersar em direção às suas classes, até que fiquei sozinha no corredor, e então senti alguém segurar meu braço.

— Mas oque... - me virei para ver quem era - Me solta - balancei o braço fazendo com que se soltasse das mãos de tal pessoa.

— Cheryl, para de agir feito uma idiota prepotente, eu estou tentando arrumar as coisas, você não é esse monstro, nem de longe - Topaz disse me encarando fixamente.

— Nem me conhece - eu disse bufando, algo naquela garota me irritava profundamente.

— Eu a vi no cemitério, no túmulo do seu irmão - ela disse com um olhar de pena dessa vez.

— Estava profanando algum túmulo? - tentei forçar um sorriso e ela me repreendeu - Ok, desculpa - sussurrei a última palavra e abaixei a cabeça.

— Não aja como se nada estivesse acontecendo, você precisa acordar pra realidade, você é doce Cheryl, sei disso - levantei a cabeça e a encarei, ela apenas sorriu e virou as costas, me deixando sozinha.