Ragnarok escrita por Terra Branford


Capítulo 5
Capítulo 5: Perturbação




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***** Asgard *****

Quando se livrou da irritante presença de Thor e dos olhares inquisitivos de Tyr ele ficou aliviado, nunca foi tão gratificante para ele chegar aos jardins da mansão e perceber que o local estava vazio.

Um pouco de paz, isso era tudo o que Loki precisava no momento.

Estava a menos de 24 horas em Asgard e sua vida já parecia ter saído completamente dos eixos, primeiro a conversa com Odin, depois Sigyn e agora tinha Thor e Tyr.

Inquieto Loki avistou alguns alvos de arco e flecha ao longe e deixou um riso escapar ao se lembrar de sua infância tentando acertar aquelas coisas, sua pontaria nunca foi seu forte e ele acreditava que não era o de ninguém que conhecia, principalmente de Thor.

A lembrança da péssima pontaria do irmão afastou por um momento os pensamentos que o atormentavam e ele se permitiu sorrir.

— Senhor Loki?

Ao ouvir aquela voz o moreno olhou sobressaltado para trás, a visão de Sigyn parada com seu sorriso petulante o deixou inquieto.

— Sigyn... – ele comentou após o momento de surpresa – Pensei que já tivesse ido embora.

Por um momento ele se sentiu um tolo por ter dito aquilo, por ter evidenciado que havia a procurado horas antes quando havia finalmente se livrado por alguns momentos de Tyr.

— Tinha voltado para casa, mas Odin solicitou minha ajuda novamente, acho que Stark voltou a atormentá-lo.

— Ah, claro. – ele respondeu depois de um tempo, voltando a observar os alvos – Stark, o midgardiano.

— Pratica arco e flecha, senhor? – aquela voz doce voltou a atormentá-lo.

— Às vezes, mas não sou muito bom nisso.

— Talvez seja só uma questão de prática, não é muito complicado.

Ele se virou para ela com certa curiosidade, a imagem do irmão tentando acertar em vão aquelas coisas preenchendo a sua mente.

— Questão de pratica? Do jeito que fala parece que conhece algo sobre o esporte.

— Diria que o suficiente. – ela respondeu com confiança.

— Duvido muito. – ele a desafiou.

— Quer apostar? – ela devolveu no mesmo tom desinibido.

Por um momento ele ficou sem fala, ela estava o desafiando? A ousadia dela voltou a surpreendê-lo.

— Aposto que não consegue acertar aquele alvo. – ele apontou para um alvo redondo parado no topo de uma árvore – Thor não conseguiu em anos.

— Espero que não se importe em perder, e com todo o respeito, acho que o senhor Thor não conseguiria acertar nem em cem anos. – ela riu – Concentração e paciência não são os fortes dele.

Ele a observou com certo fascínio, um riso divertido estampava o rosto dele.

Loki acompanhou atentamente cada movimento de Sigyn desde o instante que se afastou para pegar um arco e retornou com a arma em mãos, a viu se preparar para tentar acertar o alvo e por um momento se sentiu um bobo por duvidar dela. Então ela atirou uma única vez, ele acompanhou o movimento da flecha com curiosidade e se surpreendeu ao perceber que a mesma havia atingido o centro do alvo.

— Acho que ganhei a aposta. – ela comentou com seu tom dissimulado, Loki começou a acreditar que aquele fosse o tom natural dela.

O moreno a observou nos olhos.

— Como fez isso?

— Não gosto de perder uma aposta. – ela sorriu para ele.

O sorriso que o deixava inquieto.

 

 

****** Jotunheim *****

Sif era uma mulher extremamente ocupada, se Lothur era um homem dedicado a ciência, ela era uma mulher voltada a política, e graças a isso eram poucos os dias como aquele em que ela podia ser dar ao luxo de ter um dia comum.

Um dia comum onde ela podia dedicar seu tempo para rever velhos amigos. “Dias felizes”, ela pensou com nostalgia, mas aquele não era um dia feliz, o local vazio ao seu lado no carro era um lembrete disso.

Ela soltou um suspiro ao pensar nele.

Por que Lothur tinha que ser tão teimoso? Ela já estava acostumada a viajar sem ele, mesmo para lugares distantes, mas naquele dia era diferente, Sif não estava em nenhuma das missões diplomáticas da qual Lothur odiava participar e se esquivava o máximo que podia, ela estava indo ver um velho amigo, praticamente o pai dele, e Lothur não estava lá com ela.

Teimoso! Ela pensou com certa raiva, amava o marido e faria tudo por ele, mas as vezes tinha vontade de bater nele, e aquela manhã era um desses dias, se lembrar das respostas dele quando tentou convencê-lo a segui-la a irritava.

E por mais que Sif tentasse entende-lo não conseguia compreender o que se passava na mente do marido, ele e Heimdal sempre foram próximos, mas a relação dos dois piorava a cada dia e isso deixava Sif triste, principalmente quando se lembrava do atual estado de Heimdal.

“Como Lot podia se afastar dele?”

Quando o veículo onde estava finalmente chegou ao seu destino Sif ficou sem saber o que fazer, olhou para seu motorista e o sorriso dele a encorajou a se levantar e deixar o veículo. A passos lentos ela se afastou do carro e fez o pequeno percurso até a casa de Heimdal.

No entanto quando chegou na casa hesitou novamente antes de bater na porta, o que diria se ele perguntasse por Lot?

“Droga, Lot”.

Amaldiçoando a teimosia do marido ela bateu na porta.

Ela escutou o som de passos se aproximando lentamente, passos de um homem doente, e teve vontade de voltar correndo para casa e trazer Lothur a força. E se a porta não tivesse sido aberta naquele momento ela teve certeza de que o teria feito.

A visão do homem a sua frente a deixou chocada e por alguns instantes ela ficou sem reação, o homem estava visivelmente abatido e mais fraco, parecia muito mais velho do que era, e em nada lembrava o homem que conhecera anos atrás.

— Heimdal. – Sif o cumprimentou tentando esconder sua reação de surpresa com a aparência dele – Como vai?

— Da mesma forma de sempre... Cansado.  – o homem respondeu com certo humor, a puxando para um abraço.

Sif retribuiu o gesto com ternura.

— Senti sua falta. – ela murmurou.

— Eu também. – ele se afastou, olhando por sobre os ombros dela como se procurasse por algo ou alguém.

Sif viu a decepção nos olhos dele e sentiu-se péssima por não ter convencido Lot a acompanha-la.

— Pensei que ele viria com você... – Heimdal murmurou entrando dentro da casa.

— Me desculpe, eu tentei convencer Lot a vir... Mas você sabe como ele é... Teimoso... – Sif comentou o acompanhando para dentro de casa.

— infelizmente eu sei... – ele se sentou em uma poltrona.

— Eu sinto muito.

— Não é culpa sua Sif, é da natureza dele...

— Vou pedir para ele vir aqui a amanhã, talvez...

— Não perca seu tempo. – Heimdal a cortou – Ele não virá, é orgulhoso demais para isso.

Sif exalou o ar lentamente, sabia que aquilo era verdade, infelizmente.

— Não entendo o que aconteceu com vocês... Lot acha que você o odeia.

— Sabe que isso não é verdade, e ele também. O admiro, só não concordo com alguns atos dele, ou melhor, muitos...

— Como o estudo da magia? – Sif completou.

— Você sabe no que isso resultou para a família dele, todos em Jotunheim sabem, mas ele insiste nisso, em colocar todos sobre a fúria de Asgard...

— Não temo Asgard, e Lot não precisa teme-la também, ele não está fazendo nada de errado. – Sif o defendeu, um pingo de irritação surgindo em sua voz.

Heimdal soltou um riso abafado.

— Você o ama, só enxerga o que ele faz de melhor, mas Lothur não é nenhum santo, ele é ambicioso, você sabe disso.

— A ambição não é algo ruim. – ela rebateu – Gosto disso nele.

— Mas a ambição dele é maior do que você imagina, ele quer tudo... Não se contentara apenas com Jotunheim, e logo ele criara armas mais eficientes como os antigos mages.

— Isso não é verdade. Todos sabemos que Lot só começou a estudar magia por sua causa. – ela fez questão de lembra-lo - Por sua doença, ele sempre quis curá-lo.

— E eu sempre disse que não precisava disso.

— Ele só não quer que você morra. – Sif pegou a mão de Heimdal, o olhando nos olhos – Tente entender.

— A morte vem para todos, ele terá de aceitar isso.

— Não, ele não tem! O que ele faz não é diferente da medicina... Steve, o amigo dele, tinha a mesma doença terminal que você e hoje esta bem graças ao Lot... Deixe-o cuidar de você também...

— Não vou incentivá-lo nisso, cuido dele desde que ele era um bebê, o protejo desde o dia que fui ordenado a mata-lo e escolhi protege-lo, não posso aceitar que ele arrisque a própria vida assim em uma busca por poder e glória, acha mesmo que os asgardianos não sabem o que ele faz? Você deveria deixar de incentivá-lo também, pensar no filho de vocês que logo virá ao mundo em vez de quererem despertar a fúria adormecida de Asgard.

— Não vou deixar de apoiá-lo. – ela respondeu de imediato, demonstrando uma segurança que já não era tão forte em sua mente que ficou muito tempo refletindo sobre as palavras de Heimdal.

 

***** Asgard *****

Loki Odinson nunca foi um homem do tipo leviano, sempre foi discreto e centrado, não se deixava levar por sentimentos como a paixão, mas naquele momento ele não conseguia se reconhecer, se sentia perdido.

E o auge de seus problemas veio no meio da noite, quando a mulher de cabelos ruivos deitada ao seu lado na cama voltou a abraça-lo, ele se sentiu mal por estar nos braços de Glut, por ter feito sexo com a esposa e não conseguir parar de pensar em outra, Sigyn. Aquela mulher parecia estar gravada em sua mente, e apenas pensar no sorriso atrevido dela o fazia ofegar e desejar que a mulher nua ao seu lado fosse a jovem loira e petulante que dominava a sua mente.

Um suspiro frustrado saiu dos lábios do moreno quando se viu imaginando como seria tocar a pele macia de Sigyn, se sentiu traído pela própria mente e concluiu que precisaria sair daquela casa o mais rápido possível, antes que fizesse uma loucura.

Havia tantas coisas para se pensar, mas ele se sentia como um garoto apaixonado, queria pensar nas palavras do pai sobre a conversa que tiveram, mas só conseguia pensar nos risos da jovem e aquela tormenta se prosseguiu durante o restante da noite.

Na manhã seguinte sua mente continuava agitada e tudo piorava quando encontrava Sigyn em algum corredor da casa, ela parecia uma maldição. Loki ficava tenso sempre que a via e temia secretamente que alguém percebesse, ou melhor, que Tyr percebesse algo e ficava nervoso quando notava o irmão direcionar olhares estranhos para ele e Sigyn.

 Cenas parecidas com aquela se repetiram nos dias seguintes, conforme sua estadia se alongava no lugar, e por mais que tentasse evitar Loki sempre acabava conversando com a jovem em algum momento do dia, inicialmente sobre Odin, mas por algum motivo que ainda não sabia ainda explicar ele se via sempre terminando as conversas com perguntas pessoais que não tinham nenhuma relação com o trabalho dela.

Sigyn sempre o respondia da mesma forma altiva e descontraída de sempre, e a curiosidade sempre movia Loki a continuar conversando com ela e ele tinha a sensação de que poderia fazer isso por um dia inteiro se Tyr não aparecesse como sempre fazia para afastá-lo da jovem.

Loki podia não ter feito nada de errado ainda, mas o irmão parecia pressentir haver fogo ali e dia após dia Loki o via implicar com a jovem por algum motivo bobo. Sigyn sempre ficava tensa diante das críticas de Tyr e por muitas vezes Loki teve vontade de estrangular o irmão.

Tyr era o melhor amigo de Glut e Loki tinha certeza que ele transformaria sua vida em um inferno se descobrisse qualquer coisa que indicasse que Loki pretendia trair a esposa, o comportamento dele em relação a Sigyn era uma prova disso.

Apenas lembrar da esposa era motivo de amargura para ele, se sentia frustrado ao pensar nela, não que Glut fosse uma mulher feia, muito pelo contrário ela era uma mulher muito bonita, mas não havia amor naquele casamento, ele havia se casado por interesse, isso era um fato, mas Loki sempre acreditou que algum dia talvez com o tempo passasse a gostar da esposa e ela dele, havia se esforçado para isso, fazia tudo que a fútil esposa desejava, mas Glut era uma mulher fria e mimada, e suas tentativas não deram muito certo.

Loki não se sentia desejado por ela, na verdade não fazia ideia do que se passava na cabeça da esposa em relação ao casamento deles, não sabia se ela se deitava com ele por obrigação ou por acha-lo bonito, o fato era que nenhuma das duas possibilidades o agradava. E Loki já havia desistido da ideia de se apaixonar por ela, àquela altura de seu casamento a única coisa que esperava era que Glut engravidasse, estavam casados há anos e ela nunca havia engravidado e isso o deixava preocupado, principalmente porque Glut não estava sempre disposta ao sexo e ele não queria ficar preso aquele casamento pelo resto de sua vida, mas também não queria abrir mão de tudo o que fizera para ter algum poder em Muspelheim. Precisava de um herdeiro, um vínculo entre ele a esposa, mas a cada dia que passava suas esperanças diminuíam, chegou até mesmo a temer que não pudesse ter filhos, realizou diversos exames temendo tal diagnostico e ficou aliviado ao descobrir que não tinha nenhum problema, pensou em pedir a Glut que fizesse alguns exames, mas não queria pressioná-la, quando ela se irritava, Glut era terrivelmente insuportável.

Talvez tudo aquilo fosse uma praga do velho rei de Muspelheim, seu sogro Sútur. O homem que tanto o odiava e que se pudesse certamente o mataria com suas próprias mãos. Ele suspeitava que o rei nunca havia tentado algo contra a sua vida por causa de Glut, talvez no fundo ela nutrisse algum sentimento por ele, algo que ele não conseguia enxergar. A possibilidade da esposa realmente gostar dele de alguma forma o deixava um pouco zonzo, Loki podia ser um homem frio e até mesmo cruel, mas não queria ser o motivo da infelicidade de ninguém, muito menos da esposa, se ela não gostasse dele seria tudo mais fácil de terminar, mas se ela gostasse...


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