Ragnarok escrita por Terra Branford


Capítulo 1
Capítulo 1: A guerra dos Magi


Notas iniciais do capítulo

Depois de muito tempo, resolvi reescrever essa fic, espero que gostem...



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“Os Magis são a aberração da natureza, o princípio do fim da humanidade e devem ser contidos a qualquer custo.”  Bor, 1970.

“A Magia é uma maldição do mundo antigo e deve ser contida a qualquer custo.” Odin, 2020.

 

***** Asgard *****

Para Odin e boa parte dos asgardianos a Magia era a maldição do mundo antigo, uma herança maldita que aparentemente havia sobrevivido a última grande guerra entre os 9 países e suas colônias.

Odin era o rei do país mais influente do continente Yggdrasil: Asgard, o país localizo ao Sul do continente. Os asgardianos eram um povo temido por muitos, eram os grandes responsáveis pelo fim da última grande guerra que aconteceu há 60 anos.

A guerra da magia.

Magia. Aquela simples palavra era capaz de assustar muitos moradores em Asgard ou qualquer outro país, seu estudo era algo proibido por todos os acordos de paz que sucederam a horrível grande guerra, a chamada Guerra dos Magi, algo nunca visto antes na história do continente Yggdrasil.

Se antes os países duelavam com tanques e bombas, na Guerra dos Magi o que se viu foi o sobrenatural dominar e destruir tudo. A guerra foi a mais violenta de todos os tempos, ceifando milhares de vidas por meio de um elemento estranho controlado por poucos, a magia.

Aquela palavra foi proibida de se quer ser pronunciada em vários reinos, bem como os nomes dos antigos magos que a controlavam e ainda eram conhecidos entre as pessoas. Mas isso não era o que acontecia nos últimos meses, quase todos falavam aquela palavra em algum momento e aquilo preocupava o velho rei de Asgard mais do que tudo.

Depois de usufruírem durante 60 anos de uma paz duradoura o mundo se via novamente próximo ao colapso, haviam boatos por todas as partes de que os jotuns, o povo do norte, estavam estudando a magia. O medo era visível no rosto de todos os moradores de Yggdrasil, a antiga aliança que havia unido os nove países após a Grande Guerra chegara ao fim, substituída pelos desejos e ambições de alguns.

Não eram poucos os que o culpavam Odin pela guerra que se iniciara recentemente entre Asgard e Jotunheim, o povo do extremo norte se via acuado por constantes intervenções da centralizadora Asgard e procuravam sua independência, outros países demonstraram interesse na causa, movidos por interesses próprios também, como Vanaheim.

“Malditos Vanirs traidores”. O velho rei de Asgard resmungava, afinal Vanaheim historicamente sempre fora um país aliado de Asgard, sua esposa inclusive era de lá, mas agora eram apenas mais um inimigo e se dependesse do rei seriam destruídos juntos com os jotuns. A magia jamais deveria ressurgir novamente. Nem que ele morresse para isso.

 

 ***** Asgard *****

Loki Odinson estava de volta a Asgard.

Depois de anos distantes de sua terra natal, o jovem príncipe se via de certa forma obrigado a voltar a enorme mansão no qual viveu a maior parte de sua vida.

Frustrado ele se recostou ainda mais no banco de trás do carro que o levava para o seu martírio particular... Martírio, essa era a palavra certa para descrever aquela situação, e isso nem de longe estava ligado ao inevitável reencontro com seu pai Odin, com o qual mantinha um relacionamento difícil. O que o atormentava era o clima de guerra que pairava por todo lugar, tudo indicava que uma guerra havia começado, os jotuns haviam invadido uma colônia de Midgard liderados por sua líder, uma mulher chamada Sif. E segundo suas fontes haviam tido sucesso na empreitada, com isso passando por cima de qualquer acordo de paz que existisse no momento.

Odin não era o tipo de homem que esperava o seu inimigo ganhar espaço, ele iria reagir de alguma forma e rápido, isso era certo, por isso Loki atravessou metade do continente para voltar para Asgard. Queria estar por perto quando algo grande acontecesse, não deixaria que Thor ficasse com toda a glória dessa vez.

Loki era um homem extremamente controlador, analítico e inteligente, ele gostava de pensar e analisar cada pequena situação do seu dia, estudando todas as possibilidades e eventuais consequências de seus atos e daqueles próximos a si, e naquele momento ele pensava no velho rei. Que tipo de estratégia o velho estaria tramando? Ele nunca foi do tipo que demonstrou piedade, sempre foi do tipo manipulador, arrogante e interesseiro.

Os pensamentos do jovem se gladiavam na mente dele e se não fosse a vozinha irritante que não o deixava pensar com clareza, Loki com certeza teria passado a longa viagem entre as terras tropicais de Muspelheim a Asgard analisando as consequências de seu retorno a Asgard. Mas aquela voz fina e escandalosa não o deixava pensar.

Ele olhou com irritação para a mulher sentada a seu lado no carro e teve vontade de pedir para que ela calasse a boca, mas Loki era um cavalheiro e jamais diria isso, não em sã consciência, pelo menos. Ao invés disso ele passou as mãos pelo rosto, tentando aplacar a irritação que sentia da mulher, sua esposa. Ela por sua vez continuava reclamando de tudo: daquele clima ameno e frio, da indiferença de Loki, do desconforto com aquela longa viagem e tudo que sua mente fútil e pequena conseguia pensar.

Glut era assim, irritante, ele ponderava. E por um momento ele pensou que deveria tê-la deixado em Muspelheim, um suspiro saiu de seus lábios ao perceber isso, mas ele não podia deixá-la, não sozinha. Tyr o mataria por isso, e ele não precisava arranjar mais problemas com sua família, já bastava os que tinha com seus outros irmãos, Balder e Thor.

Assim que o carro adentrou as propriedades da família, Loki observou a vegetação verde e bela com atenção, voltando a ignorar a mulher ao seu lado, e permitindo-se sorrir minimamente quando a enorme mansão dos Odinson surgia em seu campo de visão. Ver aquela enorme casa de três andares depois de tantos anos o fez rever seus sonhos e ambições mais antigas.

Em sua adolescência Loki sempre quis assumir o governo de Asgard, e verdade seja dita ele ainda queria, ele sempre se imaginou administrando aquelas terras, lucrando com suas produções e avanços tecnológicos, tornando-se o homem mais influente de Asgard, seria um sonho, mas ele não seria o rei, não enquanto seu irmão mais velho vivesse. Ou o certo seria dizer seu irmão Thor, o inútil?

Se Loki queria ser reconhecido pela administração, seu irmão Thor sonhava em ser um guerreiro de guerra como o pai.

Loki queria fazer Asgard prosperar, com mais alimentos e recursos, como era no passado. Thor queria o mesmo, mas seus caminhos eram outros, o militar. Thor via em guerras e confrontos a maneira ideal de demonstrar o poder de Asgard sobre os outros reinos, Loki via apenas a destruição.

Não que o filho mais jovem não ligasse para o lado militar, havia passado pelos mesmos treinamentos militares dos irmãos, e se precisasse poderia participar de uma guerra exatamente como Thor, mas sua carreira militar não fora algo muito notável ou interessante. E sair por aí destruindo tudo não era seu objetivo, se quisesse destruir algo ele certamente escolheria um meio mais sútil. Loki gostava de ser discreto.

Assim que o carro parou em frente a enorme mansão, Loki saiu do carro, sua mãe o aguardava ansiosamente no jardim e o abraçou com força assim que ele se aproximou dela. Loki retribuiu o abraço da mesma forma, sentia saudades de Frigga. A mulher tocou o rosto dele com as pontas dos dedos e sorriu analisando o rosto jovem e belo, ela era a única que sabia que ele retornaria para Asgard naquele dia.

— Por que demorou tanto para voltar? – ela sussurrou.

Loki depositou um beijo na mão dela e exibiu seu habitual sorriso dissimulado.

— Porque pelo visto Thor ainda está aqui. – ele respondeu depois de um tempo.

Frigga fez sinal de negação com a cabeça, já esperava por uma resposta como aquela, e não discutiria com Loki por aquilo, não agora. Em vez disso ela sorriu para a jovem de cabelos ruivos e fartos que vinha logo atrás de seu filho.

— Glut, seja muito bem-vinda, minha querida. – Frigga se dirigiu a mulher a abraçando com força – Me digam como foi a viagem?

— Cansativa e chata. – Glut respondeu mau humorada.

Loki revirou os olhos, Glut conseguia ser extremamente desagradável com muita frequência.

— Oh, não fique assim, minha cara, logo verá que a viagem terá o seu lado bom. – Frigga tentou remediar o mau humor da outra.

— Duvido muito. – a mulher deu de ombros – Tyr esta aqui? – Perguntou sem muito interesse.

— Sim, ele chegou de viagem recentemente.

— Então estão todos aqui? Thor, Balder, Tyr? Odin os chamou?  – Loki se intrometeu na conversa.

— Sim querido.

— Menos eu, que não fui convidado pelo visto. -  a indiferença costumeira voltou a voz do moreno.

Entediando Loki seguiu para o seu antigo quarto levando umas das malas que havia trazido do outro reino. Com certa impaciência ele tirou as roupas despojadas que havia utilizado na viagem e colocou um terno escuro.

Loki teria ido procurar pelo pai, mas sua mãe apareceu novamente se colocado em seu caminho, parada bem em frente a porta de seu quarto.

— Receio que esteja procurando o seu pai. – ela comentou o analisando com o olhar acolhedor de sempre.

Loki soube naquele momento que não gostaria da conversa que teria com ela, sempre que Frigga o olhava daquele jeito as notícias não eram boas.

— Sim, onde ele está?

O sorriso no rosto gentil se retorceu um pouco antes de ela o responder.

— Ele está recebendo alguns convidados importantes de Midgard.

— Sei... – Loki respondeu com indiferença, passando ao lado de Frigga.

A mulher o segurou pelo braço.

— Loki, seu pai ele...

Loki suspirou.

— Eu sei mãe, eu sei... – ele se afastou do toque dela, não queria discutir com a mãe, não por causa do pai, já sabia que ela diria algo a respeito do pai não tê-lo chamado quando os problemas com os jotuns surgiram com mais afinco nos últimos dias.

Irritado ele desceu as escadas da enorme mansão, a indiferença de Odin com ele o irritava profundamente, não se lembrava quando fora a última vez que conversara com ele.  Havia mais de 2 anos que tinha se mudado para Muspelheim e Odin nem se quer mandara um simples recado em todos esses anos. Ele só gostaria de saber o porquê.

Não fora difícil encontrar o velho, a casa ainda continuava do mesmo jeito, ele estava em um de seus escritórios no primeiro piso, aparentemente em alguma discussão calorosa dado o rumo da conversa que encontrou ao se aproximar do local.

— ... Não vou esperar que eles se infiltrem ainda mais em meu território! – um homem moreno esbravejou contra seus interlocutores.

— Você os superestima. – Odin rebateu com desdém, sentado em sua poltrona.

— Os superestimo? – o homem pareceu indignado – Em apenas dois dias eles destruíram todas as nossas defesas na colônia e anexaram o território da Bavária ao deles, dois dias, apenas dois dias, e você acha que não devemos temer que o próximo passo deles seja invadir Midgard?

— Eles não passam de um povo ultrapassado Stark, um povo limitado tecnologicamente, o que eles conseguiram foi mera sorte. – respondeu pacientemente.

O moreno riu.

—  Então eles são extremamente ignorantes, tão ignorantes que conseguiram destruir todas as nossas armas de defesa sem se quer um soldado? – sorriu mais ainda – Congelando todas as nossas armas como um passe de mágica.

— Magia não existe mais... – o velho o interrompeu irritado.

— Pode chamar de magia se quiser, mas isso é tecnologia, ciência, da mais elevada e eles possuem enquanto você está sentado aqui tentando esconder o óbvio do mundo e ameaçando o país que represento.

— Eles não vão ameaçar mais ninguém, Stark. – o velho se levantou – Irei exterminar aquela raça de vermes de uma vez por todas.

— Assim espero. – o homem deu de ombros – Essa guerra é culpa sua afinal, você que permitiu que eles criassem a “magia” de novo. – fez aspas com os dedos - Você os forçou a isso.

O velho pensou em responder aquela provocação, mas o homem se retirou do local antes que ele pudesse dizer algo. Irritado ele voltou a se sentar na cadeira, esfregando sua testa com irritação.

— Moleque mimado... – resmungou.

O tal Stark passou por Loki aparentemente sem notar a sua presença, ele não se importou, estava ali apenas para falar com Odin.

— Senhor Loki. – ele escutou seu nome ser pronunciado por uma voz fina e gentil.

Uma mulher de cabelos claros estava lá na sala, ele nem a havia notado antes, parada em frente a uma das enormes estantes de livros ao lado de Odin, anotando alguma coisa em um enorme bloco de notas. Por um momento o moreno tentou reconhece-la, não parecia ser uma das amigas de seu pai, ela estava usando um vestido bege com detalhes negros que acentuavam sua silhueta fina. Ela parecia concentrada e o encarava nos olhos.

— Senhor Loki. – ela o cumprimentou novamente com um sorriso discreto, chamando a atenção do velho Odin.

— Loki? – O velho parecia surpreso com a presença dele.

— Olá,  meu pai. – Loki fez uma mesura exagerada – Há quanto tempo, sentiu minha falta?

O velho rei observou os olhos extremamente frios do filho, e com uma expressão cansada emitiu um longo suspiro.

— O momento não é dos melhores Loki...

— Nunca é. – Loki deu de ombros – Pelo visto não existiam planos para mim em sua guerra.

— Se houver uma guerra quero que fique longe daqui. – o velho foi direto - Nos ajudando a administrar Asgard e...

— O que acha que eu sou? – Loki o interrompeu, a irritação quase visível em sua voz – Acha mesmo que vou me esconder aqui enquanto Thor fica com todo o reconhecimento e a honra só para si?

— Guerra não traz honra e reconhecimento para ninguém. – Odin rebateu.

— A menos que esse ninguém seja Thor, não é? – Loki soltou um riso falso.

— Não seja tolo, Thor é um soldado, um guerreiro, é a função dele, ele está preparado para o que esta acontecendo...

— Está querendo dizer que eu não estou. – o moreno voltou a interrompê-lo com a magoa estampada em sua voz – Você não me conhece, aprendi muito em Muspelheim, coisas que um inútil como o Thor jamais entenderia.

— Thor não tem nada a ver com isso. – Odin se apressou em dizer, tentando desesperadamente mudar o rumo daquela conversa – Só estou tentando te manter vivo, longe daqueles malditos jotuns, será que não consegue entender isso?

— Acho que a questão não seria essa, mas sim por que você está se dando ao trabalho de se preocupar? – Loki deixou escapar uma risada alta – Já sei! Você tem medo que eu morra antes de lhe dar um herdeiro, acertei? – a sombra da confusão surgiu nos olhos do rei e antes que ele tentasse dizer algo Loki o silenciou com um movimento de sua mão - Típico do grande Odin, não é? Os interesses sempre vêm à frente da família, não é verdade? Me pergunto se algum dia amou a minha mãe ou se apenas se casou com ela por interesse, por uma aliança mais solida com Vanaheim, deve ter sido frustrante para o senhor ver seus planos caírem assim por terra – ele riu – fiquei sabendo que os vanirs se uniram aos jotuns, tanto esforço para nada. – Odin fez menção de interrompe-lo, mas Loki não o permitiu  – Não satisfeito o grande Odin queria uma aliança com o reino do fogo, não foi o que você sempre procurou? – um sorriso falso voltou dominar o rosto do moreno – Então de repente você precisou de uma marionete para se casar com a filha do rei Sútur de Muspelheim, me convenceu a fazer isso e a sonhar em governar aquelas terras, mas eu lamento dizer que seus planos não deram muito certo, o rei Sútur me odeia e jamais permitiria que eu alcançasse o trono daquele lugar, ele sabe muito bem porque me casei com Glut.

 - Loki, não é nada disso, eu só...

— Não importa, não faz a menor diferença! – Loki o interrompeu – Não vou ficar me escondendo, como um rato, eu não sou como você.

Aquelas palavras deixaram o rei sem reação, seus planos haviam falhado miseravelmente e uma estranha sensação de incapacidade perante a situação surgiu em seu ser enquanto seu filho se afastava sem olhar para trás.

— Sigyn, fale com ele, o faça entender. – o velho pediu com uma voz cansada.

A mulher assentiu e saiu a passos apressados.

 

***** Jotunheim *****

Todo conflito tem pelo menos dois lados, duas faces de uma mesma moeda, dois grupos querendo provar o seu valor e não necessariamente um lado certo ou errado, porque normalmente tudo depende do ponto de vista.

Se Asgard tinha uma terra ensolarada e acolhedora a seus visitantes, Jotunheim era um lugar gelado e sombrio.

Localizado no extremo norte de Yggdrasil, Jotunheim vivia em seu inverno eterno, onde os dias eram quase sempre curtos e as noites longas e escuras, o que não significava que aquele país não era belo, pelo contrário alguns dos lugares mais encantadores daquele mundo se encontrava no país de gelo.

Seus habitantes não sofriam como os turistas com o frio daquele lugar, os jotuns estavam acostumados com aquele clima, não saberiam viver sem ele, de longe provavelmente eram o povo mais nacionalista do mundo, seus habitantes defendiam e usavam com orgulho o verde, dourado e negro de sua bandeira.

Eles eram apaixonados por aquele lugar, e mais do que tudo queriam ser livres. Na teoria Jotunheim era um país republicano e livre, na prática era um país preso a entraves de antigos acordos selados em tempos de guerras.

As marcas de antigos conflitos ainda estavam enraizadas naquele povo, desde que foram derrotados 60 anos atrás na Guerra dos Magi os jotuns viviam a mercê das vontades de Asgard. Não podiam desenvolver armamentos bélicos sem autorização e muito menos aprovar determinadas medidas internas sem a aprovação de um conselho externo, além de terem perdidos diversos territórios, eram reféns em sua própria terra, nem o direito de falar sobre sua antiga cultura eles tinham, não podiam nem articular abertamente sobre seus antigos heróis de guerra, os “Magi”, a magia era um tabu ali também, mas isso não os impedia de cultuar secretamente aquilo, os jotuns não eram um o povo submisso.

E algumas vezes aquilo havia custado caro, muito caro, e a vinte e cinco anos atrás eles haviam sofrido o último grande golpe de Asgard. O governante da época, Laufey Laufeyson, havia desafiado os tratados com Asgard, incentivando indiretamente a magia entre os jotuns, um erro que custou muito a sua família e seu povo, especialmente para a sua família. Como se estivessem em guerra os asgardianos liderados por Odin marcharam sobre Jotunheim e sem meios para se defender Laufey viu sua família ser brutalmente assassinada antes de encontrar o seu próprio fim. Ele viu o medo no olhar de sua esposa e parentes quando foram mortos por aqueles monstros e ainda pode imaginar com horror o que aconteceria com seus filhos gêmeos, mas não teve tempo de viver para descobrir o que aconteceria com os seus bebês.

Odin não teve piedade daquelas pessoas, com exceção das crianças, e cumpriu as ameaças existentes nas entrelinhas do antigo acordo de paz da Guerra dos Magi, Laufey pagou pelo seu erro, sua família foi apenas uma consequência, e os jotuns voltaram a temer os asgardianos.

O medo durou por anos, mas a submissão não estava no sangue daquele povo, e aquela era de medo já havia durado tempo demais, Lothur Laufeyson, acreditava nisso.

Naquela manhã os cabelos longos e negros dele estavam uma confusão, desgrenhados e sem um formato definido, e verdade seja dita estava assim nos últimos dias, bem como as enormes olheiras em volta de seus olhos, mas Lothur não se importava com isso ou se quer havia percebido, ele estava entretido demais com suas pesquisas para pensar em qualquer outra coisa além daquilo. Para o seu povo ele era um cientista, para os asgardianos seria um feiticeiro.

De certo era que ele tinha uma mente brilhante, e suas últimas descobertas o haviam deixado animado com uma nova perspectiva de futuro, e quando Lothur ficava animado com alguma coisa ele não conseguia parar enquanto não alcançasse o que procurava, visivelmente aquilo não agradava algumas pessoas, uma em especial.

A mulher o procurou ansiosamente assim que entrou na residência, não precisou procurar muito para encontra-lo, ela sabia perfeitamente onde ele estava, um pouco impaciente ela se dirigiu aos fundos da casa, ignorando alguns olhares curiosos, entrando sem aviso na ampla sala que o homem havia transformado em seu laboratório particular.

Ao escutar o som da porta se abrir Lothur se distraiu do que fazia e olhou para a porta atrás de si, viu o rosto da mulher e seu coração parou de bater por um instante. Inevitavelmente aquela visão o fez voltar dez anos no tempo, ao dia em que conheceu aquela mulher incrivelmente bela sorrindo para ele com seus vastos cabelos negros balançando contra o vento. Naquele momento ela sorria da mesma forma, o mesmo sorriso contido e misterioso, quando se deu conta Lothur percebeu que sorria também.

Ficaram alguns segundos se observando até a mulher que trajava roupas militares cortar a pequena distância que os separavam com passos apressados e determinados, ele pensou em dizer algo quando a viu se mover em sua direção mas qualquer pensamento se perdeu no ar quando ela o envolveu em seus braços e tomou sua boca com seus lábios macios e sempre convidativos.

Ao sentir o calor do corpo dela Lothur sentiu o mesmo frio na barriga que o acometeu quando a beijou pela primeira vez, quando descobriu que a amava, ele não tinha certeza se a tal magia que tanto estudava funcionaria, mas certamente o que faziam naquele momento era algo mágico.

Ela se afastou dele com certa dificuldade e observou o rosto levemente corado dele, arqueou as sobrancelhas com o que viu.

— Meu Deus, o que aconteceu com você? Está horrível!

— Senti sua falta também – ele respondeu meio sem graça - Estive um pouco ocupado...

Ela revirou os olhos e observou por cima do ombro dele, para a mesa de estudo.

— Percebe-se. Lot. – ela comentou mal-humorada.

Lot, ele repetiu mentalmente. Adorava o apelido carinhoso que ela havia lhe dado, e ela usá-lo naquele momento significava que não estava tão irritada assim, quando estava brava ou chateada com ele sempre o chamava apenas de Lothur.

— Descobri algumas coisas interessantes nos últimos dias. – ele tentou se defender.

A mulher bufou, sabia muito bem como ele ficava quando descobria alguma coisa.

— A quantos dias está confinado nessa sala?

— É... Bom... – ele não sabia o que dizer.

A mulher fez sinal de negação com a cabeça.

— Desde o dia em que sai para a Bavária, não é? – ela voltou a erguer a sobrancelha – Duas semanas. – pontuou o analisando melhor – E pelo seu estado. – indicou os cabelos bagunçados e as olheiras – Pelo seu estado tem se esquecido de dormir, descansar e comer. Está mais magro do que nunca!

— Estou bem, eu só...

— Por quanto tempo? – ela o cortou – Às vezes você é um idiota, sabia?

— Não brigue comigo, você sabe porque estou fazendo isso.  – ele acariciou o rosto emburrado dela.

A expressão da mulher se suavizou, e ela se permitiu descansar sua cabeça contra o ombro dele.

— Faço isso por vocês dois. – Lothur voltou a falar, acariciando a barriga dela.

— Eu sei. – ela o observou com seus intensos olhos verdes – Eu só...

— Eu não vou desistir, enquanto não formos livres Sif... – ele a interrompeu.

Sif riu.

— Eu sei disso, seu bobo. – ela riu mais ainda – Eu só acho que você deveria dar mais atenção para sua esposa e filho, afinal já fazem duas semanas que não o vejo querido marido. – ela o beijou com urgência – E isso é tempo demais para alguém como eu. – continuou com um olhar cheio de desejo.

Definitivamente duas semanas era tempo demais, Sif voltou a pensar, ela precisava dele, naquele instante.

— Você é muito tarada, isso sim. - Lothur riu.

Sif se fingiu de ofendida.

— Acredite, marido, não me faltaram oportunidades nos últimos dias, não me faça me arrepender de não ter cedido a um loiro que conheci por aí.

A expressão de indignação no rosto do homem a fez rir.

— Estou brincando, seu bobo, mas ainda preciso de você. – fez uma pausa – Aqui e agora.


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Notas finais do capítulo

Guerra dos Magi: Tirei isso do jogo Final Fantasy.



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