Kakashi encolheu-se mais um pouco do inverno rígido de Konoha. Em geral, tinham dias quentes e ele sempre tinha roupas fofinhas e novinhas quando seu pai estava em casa. Mas agora estava sozinho. E precisava se sustentar. Precisava de missões melhores, mas o Sandaime Hokage insistia que ele não poderia. Que era apenas uma criança.

Apenas uma criança.

Será que pensavam assim quando seu pai havia morrido?

Estalou a língua no céu da boca e por pouco ela não ficou colada ali! Precisava comprar algo para comer—talvez o Ichiraku estivesse aberto e assim comesse algo quentinho.

Suspirou baixinho, um sopro de fumacinha saindo por baixo da máscara enquanto esperava embaixo da marquise de uma das lojas fechadas a tal nevasca ceder um pouco.

Por que havia sido tão estúpido de sair naquele tempo?!

Tentou aquecer as mãozinhas, mas estavam duras e frias. Estava tão ferrado.

Se ao menos tivesse esperado um pouco mais...

Bem, talvez pudesse chegar até o Ichiraku sim.

Tentou dar um passo para frente, mas o vento frio o jogou para trás. Por pouco não caiu no chão, sentindo mãos firmes lhe segurarem os ombros.

− Rival! Você vai se machucar assim!

De todas as pessoas da vila, tinha que ser ele.

− Não vou me machucar. – respondeu com certa rispidez, mas espirrou logo em seguida.

Gai inflou uma das bochechas, olhando bem para ele. Parecia mais magro que da última vez... será que estava comendo direitinho todas as refeições balanceadas? E aquela roupa... não era própria para aquele frio!

− Aqui. – Gai ofereceu um pedaço do longo cachecol verde que o pai havia lhe dado.

− Não quero!

− Para de ser teimoso, rival! Tá frio!

Como em resposta, um vento frio soprou, fazendo Kakashi se encolher perto de Gai. Os dois se envolveram nos cachecóis, e Gai entregou uma de suas luvas.

− Calça na mão direita e me dá sua mão esquerda. – disse ele. – Assim vamos nos aquecer com calor humano e o fogo da juventude!

− Não vou sair de mãos dadas com você! – Kakashi bradou, indignado.

− É isso ou morrer de frio.

Kakashi preferia morrer de frio.

Ao menos até um vento mais forte soprar.

− Se a gente correr, chega ao Ichiraku, rival. – sugeriu ele. – E podemos comer um Lamen quentinho!

Kakashi trincou os dentes por baixo da máscara.

− O que está fazendo aqui no frio?

− Treinando, oras! – Gai abriu um largo sorriso. Kakashi revirou os olhos.

− Tudo bem. Vamos então.

Calçou a luva e segurou a mão de Gai, os dois envolvidos pelo enorme cachecol.

− No três! – disse Gai. – Três!

Saíram correndo – ou melhor, patinando pelo gelo – em direção ao Ichiraku.

Anos mais tarde, quando Gai estivesse cobrindo Mirai nas termas onde estavam hospedados, lhe ouviria contar aquela história para a garota já adormecida.

− ... então, eu saí da minha casa ao vê-lo, Mirai-chan, porque Kakashi não tinha mais ninguém.

Kakashi apenas sorriu, observando-o de soslaio. Não diria nada, mas era muito grato por tudo o que Gai havia feito por si.