Ele avisa que está por perto e sua felicidade irradia, expandindo como o sol cujos raios perfuram minha carne.

Eu engulo seca minha mágoa enquanto você parte, tão rápido, nem ao menos se incomodando e me dizer adeus ou olhar para mim uma última vez antes de me deixar questionando se você vai mesmo voltar.

E meus sentimentos me tomam com as marés. Uma onda de medo que você nunca volte, outra de dúvida se o que nós temos – nossa família, nosso casamento, nosso amor – é tão frágil que desaparece da sua mente tão fácil, esquecido. Essa onde não é tão assustadora quando a alimentada pelo medo que foi a primeira, mas me afoga, enquanto eu fico ali, sozinha, apertando com força o nó de pano do bentou tão cuidadosamente embrulhado e que você nunca vai comer.

Mas você volta, pelo menos, você tem sempre voltado. E o oceano em meu coração se acalma até a próxima tempestade, dessas eu estou sempre certa do regresso.

Eu sei que sou egoísta, eu sei que deveria confiar mais em você, eu sei que há outra mulher passando por coisa muito pior. Mas eu não posso evitar se me sentir como me sinto quando a raiva borbulha em meu estômago ao ver você partir, de novo e de novo, nunca ficando, nunca me escolhendo, porque, quando você disse que me amava, quando você me deu seu nome, eu pensei que, pela primeira vez, eu tinha algo para mim mesma, e eu não tenho.

Eu me sinto traída, eu nunca pensei que seria assim, nosso casamento é tumultuado, mas para mim é constantemente solitário. Eu pensei que você havia me dado seu coração como eu lhe dei o meu, mas metade do seu já tinha um dono e, por mais que eu tente segurar com força a parte que me cabe, eu tenho medo de que escape como água por entre meus dedos e retorne para seu verdadeiro senhor.